O ainda primeiro-ministro em funções fala em "derrota em toda a linha" de uma oposição "concertada e destrutiva do PS e Chega" e acredita que em maio os eleitores vão responder nas urnas como fizeram na Madeira e nos Açores, castigando os partidos que apostam em "tricas inúteis e jogos palacianos".
Nas terceiras eleições regionais em apenas ano e meio, Miguel Albuquerque quase conseguiu o pleno, ficando a apenas um mandato da maioria absoluta que, tudo indica, irá formar com o CDS-PP, o parceiro histórico dos sociais-democratas. Já o Juntos pelo Povo (JPP) tornou-se na segunda maior força política da Madeira, ao o que o PS foi o maior derrotado da noite eleitoral.
Dos partidos que conseguiram representação na Assembleia Legislativa da Madeira, só PSD e JPP cresceram em número de deputados e percentagem de votos. PS, Chega, CDS-PP e PAN recuaram nos dois parâmetros, sendo que este último ficou mesmo de fora do parlamento madeirense. A Iniciativa Liberal caiu ligeiramente na percentagem face ao ano ado, mas manteve um mandato. Já a CDU e o Bloco de Esquerda voltaram a não conseguir eleger qualquer deputado.
Com mais de 62 mil votos, esta foi a votação mais expressiva no PSD desde que Miguel Albuquerque lidera o partido. E, apesar de não ter conseguido a maioria absoluta conquistada em 2015, nesta quinta vitória em legislativas na Madeira deixou o partido à beira desse objetivo – ficou a apenas "300 votos" –, repetindo os 43% e os 23 deputados conquistados nas eleições de setembro de 2023. Há um ano, garantira apenas 19 mandatos.
Com esta vitória, não fica difícil para o PSD encontrar uma solução de estabilidade, bastando para tal retomar um entendimento com o CDS-PP.
"Temos tempo amanhã [segunda-feira] para iniciar conversações com os partidos", afirmou Albuquerque após declarar vitória no domingo à noite, assumindo que irá conversar com os centristas: "Os nossos parceiros privilegiados toda a gente sabe quem são".
O líder do CDS-Madeira, José Manuel Rodrigues, embora tenha perdido um dos dois mandatos que tinha, também já se mostrou disponível para garantir um governo estável na região. "Se [o PSD] desejar, vamo-nos sentar à mesa e aquilo que poremos em cima da mesa são as nossas propostas e as nossas soluções para resolver os problemas das pessoas, das famílias e das empresas".
Resta agora saber que solução será encontrada pelos dois partidos, isto porque, depois de já terem governado em conjunto, após as eleições de maio de 2024 o executivo de Albuquerque era apoiado pelo CDS-PP com base num acordo de incidência parlamentar.
O executivo de Miguel Albuquerque foi derrubado por uma moção de censura do Chega 14 meses depois de se saber que tinha sido constituído arguido por suspeitas de corrupção sem que, desde então, tenha sido ouvido em sede judicial.
De acordo com Albuquerque, os madeirenses não querem "brincadeiras de partidos" e preferem a "estabilidade".
Essa foi também a mensagem que Luís Montenegro quis ar: "Esta vitória [do PSD na Madeira] corresponde também a uma derrota em toda a linha de uma oposição concertada e destrutiva do PS e do Chega", atirou, não se ficando apenas pelo arquipélago na sua análise.
"Depois de, juntos, PS e Chega terem derrubado o Governo dos Açores e terem depois perdido nas urnas, terem derrubado o Governo da Madeira e terem hoje perdido nas urnas, terem derrubado o Governo da República, e os portugueses escolherão no próximo mês de maio aquilo que pretendem para o futuro, a verdade é que têm sido os cidadãos a conferir condições de estabilidade quando estes dois partidos, concertados e juntos, põem os seus interesses à frente dos interesses das pessoas."
O ainda primeiro-ministro em funções mostrou-se convicto de que, a nível nacional, nas legislativas antecipadas de maio, os eleitores vão dar a mesma resposta que deram no arquipélago.
Numa leitura nacional dos resultados destas eleições regionais, Montenegro disse ainda que, como acredita que acontecerá em todo o país, "as pessoas põem em primeiro lugar o crescimento da economia, o equilíbrio das contas públicas, as políticas que diminuem os impostos, que aumentam os rendimentos, que resolvem os seus problemas". E criticou as "tricas inúteis", os "jogos palacianos" e os "desvios de atenções sobre o que é verdadeiramente importante" para o país.
Também Nuno Melo, líder do CDS-PP, criticou os "partidos da esquerda" por terem causado a crise política que levou à queda do Governo da Aliança Democrática e sinalizou que as eleições na Madeira mostram que "os portugueses querem estabilidade".
Por seu lado, o secretário-geral do PS tentou descolar-se da derrota inegável dos socialistas na Madeira. "É uma derrota do PS da Madeira, não há como ignorar", declarou Pedro Nuno Santos, refugiando-se no "respeito pela autonomia regional", para evitar fazer leituras nacionais dos resultados.
"Relativamente à política nacional, não tiro nenhuma ilação, não posso tirar, basta fazermos uma leitura destes 50 anos de eleições na Madeira e de eleições no país para percebermos que essa relação não pode ser feita" apontou, lembrando que os socialistas nunca ganharam no arquipélago e são o partido "que ganhou mais eleições no país".
Reconhecendo a derrota do PS-Madeira, que ficou em terceiro lugar, atrás do JPP, o líder socialista também se recusou a comentar a estratégia seguida por Paulo Cafôfo, líder do partido no arquipélago, durante a campanha eleitoral.
Certo é que há algumas semelhanças entre o plano regional e nacional, na preparação das eleições. O discurso de Pedro Nuno Santos tem estado também muito centrado nos ataques às suspeitas sobre Luís Montenegro, a propósito do caso da empresa familiar que manteve quando já era primeiro-ministro. Na Madeira, a situação de arguido Miguel Albuquerque esteve no centro do discurso de campanha da oposição e não teve respaldo no eleitorado.
Com o PS-Madeira a ar de 11 para oito deputados e a cair seis pontos percentuais, Paulo Cafôfo surgiu como o grande derrotado, prometendo desde já "abrir um processo interno para a liderança do partido".
Pedro Nuno Santos também não quis abordar as condições de Paulo Cafôfo, líder do partido no arquipélago, para continuar no cargo. "A escolha dos dirigentes do PS-Madeira é dos militantes do PS-Madeira, não é do secretário-geral do PS", afirmou, sublinhando que o partido "leva a autonomia a sério".