"Freedom", o livro autobiográfico de Angela Merkel, chanceler alemã de 2005 a 2021, reconstituiu a sua carreira política nacional e europeia. É uma oportunidade para analisar o seu legado político na UE.
É o livro político do ano. Numa autobiografia intitulada Liberdade, a ex-chanceler Angela Merkel faz uma retrospetiva dos 16 anos em que esteve à frente da Alemanha. Originária da Alemanha de Leste, a líder democrata-cristã teve um impacto profundo no projeto europeu.
A publicação das suas memórias, com quase 700 páginas, é uma oportunidade para analisar o legado político daquela que foi descrita como a mulher mais poderosa da Europa.
Angela Merkel justifica a sua decisão de rejeitar a rápida adesão da Ucrânia ou da Geórgia à NATO. A chanceler alemã afirma que teria sido uma ilusão acreditar que essa integração teria impedido a invasão liderada pelo Kremlin.
No Parlamento Europeu, Virginijus Sinkevičius lamenta a escolha da antiga chanceler. "Penso que foi um erro. Penso que teria enviado uma mensagem muito, muito clara" a Vladimir Putin, diz o eurodeputado dos Verdes.
"É muito mais fácil responder à questão de saber se ele (Vladimir Putin) estava pronto para atacar a Geórgia ou a Ucrânia. E fê-lo em 2008, atacou durante a abertura dos Jogos Olímpicos. Atacou a Geórgia", acrescentou.
Angela Merkel foi também criticada por ter tornado a Alemanha, a principal potência económica da UE, fortemente dependente do gás russo.
"A política de Angela Merkel revelou-se uma política perdedora porque, apesar do desejo de obter gás barato, permitiu que Putin determinasse as escolhas estratégicas da Alemanha e da Europa", criticou Michele Picaro (Conservadores e Reformistas Europeus).
Entre as crises enfrentadas por Angela Merkel durante os seus quatro mandatos, a antiga chanceler referiu a crise grega e a crise do euro. A sua posição firme foi criticada pelo eurodeputado Jonas Sjöstedt (La Gauche).
"Penso que ela deixou um legado muito mau no que respeita à crise do euro", afirmou o eurodeputado sueco. "O que eles fizeram foi salvar os bancos alemães. Certificaram-se de que eram pagos. E sacrificaram o povo grego, mas também o povo de Espanha, Portugal e Irlanda", continuou.
Mas a ex-chanceler também pode contar com o apoio do plenário. Radan Kanev (PPE) elogiou as escolhas de Angela Merkel na altura.
"A zona euro estava à beira do colapso. E a Grécia, como país, como nação, estava à beira do colapso", recorda o búlgaro.