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As a\u00e7\u00f5es do setor da energia solar tamb\u00e9m ca\u00edram devido ao receio de que Trump possa prejudicar o desenvolvimento das energias limpas.Sair do Acordo de Paris pela segunda vezDurante o primeiro mandato, Trump cumpriu a promessa de retirar os EUA do Acordo de Paris, ainda que por pouco tempo.Os pa\u00edses s\u00f3 podiam sair do acordo tr\u00eas anos ap\u00f3s este entrar em vigor, o que levou os EUA a sair do Acordo de Paris no primeiro dia da presid\u00eancia de Biden. Os EUA voltaram rapidamente a aderir, estando fora do acordo durante menos de quatro meses.Trump voltou a prometer que vai retirar os EUA do Acordo de Paris e, desta vez, as regras da ONU significam que s\u00f3 tem de esperar um ano para o fazer oficialmente. O segundo maior emissor mundial de gases com efeito de estufa juntar-se-\u00e1 a apenas tr\u00eas outros pa\u00edses que est\u00e3o fora do acordo: o Ir\u00e3o, a L\u00edbia e o I\u00e9men.H\u00e1 tamb\u00e9m rumores de que os Estados Unidos da Am\u00e9rica v\u00e3o abandonar o tratado fundador das negocia\u00e7\u00f5es da ONU sobre o clima, a Conven\u00e7\u00e3o Quadro das Na\u00e7\u00f5es Unidas sobre as Altera\u00e7\u00f5es Clim\u00e1ticas (UNFCCC).Embora n\u00e3o seja claro se \u00e9 legalmente poss\u00edvel que Trump o fa\u00e7a, uma sa\u00edda da UNFCCC deixaria os EUA impedidos de participar oficialmente nas negocia\u00e7\u00f5es internacionais sobre o clima. 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Com o segundo maior emissor do mundo fora do pacto, a press\u00e3o para que os outros aumentem as ambi\u00e7\u00f5es de combate \u00e0s emiss\u00f5es \u00e9 muito menor.Chegou o momento de a Europa dar um o em frente em mat\u00e9ria de altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas?Laurence Tubiana, diretora executiva da Funda\u00e7\u00e3o Europeia para o Clima e um dos principais rostos do Acordo de Paris, n\u00e3o tem d\u00favida de que o resultado das elei\u00e7\u00f5es nos EUA \u00e9 um \u0022golpe na luta contra a crise clim\u00e1tica\u0022.Uma reviravolta no apoio \u00e0s tecnologias limpas e aos investimentos verdes coloca em risco os ganhos clim\u00e1ticos que estas pol\u00edticas proporcionaram aos EUA. No entanto, \u0022o Acordo de Paris \u00e9 mais forte do que as pol\u00edticas de qualquer pa\u00eds\u0022, diz Tubiana numa publica\u00e7\u00e3o no X.\u0022Penso e espero que nenhum outro pa\u00eds o siga o exemplo, se os EUA se retirarem do Acordo de Paris. 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"Drill, baby, drill": O que a vitória de Trump significa para o futuro, segundo os especialistas climáticos

O vencedor das eleições presidenciais dos EUA, Donald Trump, com JD Vance, à direita.
O vencedor das eleições presidenciais dos EUA, Donald Trump, com JD Vance, à direita. Direitos de autor AP Photo/Evan Vucci
Direitos de autor AP Photo/Evan Vucci
De Rosie Frost
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A vitória de Trump pode ser um "grande golpe" para a ação climática global, mas os especialistas dizem que não deve abrandar o ritmo da transição ecológica.

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Donald Trump ganhou as eleições nos EUA, assegurando um segundo mandato na Casa Branca. Para muitos em todo o mundo, esta vitória traz incerteza quanto ao futuro da ação climática global.

Trump há muito que considera as alterações climáticas uma "farsa", criticando as políticas climáticas de Biden e rejeitando ameaças como a subida do nível do mar. Durante o último mandato, tentou reverter cerca de uma centena de leis ambientais.

Desta vez, Trump prometeu reduzir as despesas com a energia verde, sair de acordos internacionais sobre o clima e provocar uma nova vaga de prospeção de petróleo e gás, a que chamou "ouro líquido".

"A nação e o mundo podem esperar que a nova istração Trump traga uma bola demolidora para a diplomacia climática global", afirma a diretora política e economista principal do programa de clima e energia da Union of Concerned Scientists, Rachel Cleetus.

Com as políticas existentes já muito aquém dos objetivos de redução de emissões, Rachel Cleetus diz que podemos esperar que a ação climática federal dos EUA "descarrile" nos próximos quatro anos.

"A ciência sobre as alterações climáticas não perdoa, cada ano de atraso implica mais custos e mudanças irreversíveis e são as pessoas comuns que pagam o preço mais alto", diz Cleetus.

As recentes inundações em Espanha vieram recordar-nos deste perigo. Como afirmou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, na semana ada, "esta é a realidade dramática das alterações climáticas".

Trump pode desmantelar a lei climática de Biden?

Joe Biden direcionou milhões de dólares para a tecnologia verde, através da Lei de Redução da Inflação. Esta lei climática histórica foi assinada em 2022 e desde então tem impulsionado o investimento em energia limpa em todo o país.

Apesar disso, Donald Trump prometeu desmantelar a Lei de Redução da Inflação e impedir que restantes fundos sejam gastos. Chamou mesmo a agenda climática de Biden de "novo golpe verde", prometendo encerrar muitas das políticas postas em prática por esta istração.

Embora as políticas climáticas nacionais estejam longe de estar seguras, diz Cleetus, as disposições relativas à energia limpa da Lei de Redução da Inflação podem revelar-se duradouras "uma vez que estão a proporcionar benefícios económicos significativos a todos os estados e têm o apoio de trabalhadores, empresas e decisores políticos de todo o espetro político".

Peritos económicos sublinham que estes subsídios criaram milhares de novos postos de trabalho, incluindo um número significativo em áreas republicanas.

Dan Lashof, diretor do World Resources Institute, nos EUA, diz que Trump tem "todas as razões para manter as transformações já em curso".

"A eletrificação dos edifícios e dos transportes - incluindo os autocarros escolares - beneficia tanto as comunidades rurais como as urbanas, reduzindo os custos e melhorando a eficiência", diz.

Turbinas no primeiro parque eólico offshore da América, em Rhode Island.
Turbinas no primeiro parque eólico offshore da América, em Rhode Island.AP Photo/David Goldman, File

Lashof acrescenta que quando Trump dá um o atrás na ação climática, os estados, as cidades e as empresas podem intervir para colmatar essa lacuna.

"Graças aos generosos incentivos fiscais e investimentos da Lei de Redução da Inflação e da Lei de Infraestrutura Bipartidária, os atores subnacionais têm mais recursos do que nunca para reduzir as emissões, expandir a energia limpa e o transporte elétrico e lidar com as injustiças ambientais."

No entanto, os investidores não têm tanta certeza, com as ações dos grupos europeus de energia limpa a caírem a pique na manhã desta quarta-feira. As ações do setor da energia solar também caíram devido ao receio de que Trump possa prejudicar o desenvolvimento das energias limpas.

Sair do Acordo de Paris pela segunda vez

Durante o primeiro mandato, Trump cumpriu a promessa de retirar os EUA do Acordo de Paris, ainda que por pouco tempo.

Os países só podiam sair do acordo três anos após este entrar em vigor, o que levou os EUA a sair do Acordo de Paris no primeiro dia da presidência de Biden. Os EUA voltaram rapidamente a aderir, estando fora do acordo durante menos de quatro meses.

Trump voltou a prometer que vai retirar os EUA do Acordo de Paris e, desta vez, as regras da ONU significam que só tem de esperar um ano para o fazer oficialmente. O segundo maior emissor mundial de gases com efeito de estufa juntar-se-á a apenas três outros países que estão fora do acordo: o Irão, a Líbia e o Iémen.

Há também rumores de que os Estados Unidos da América vão abandonar o tratado fundador das negociações da ONU sobre o clima, a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (UNFCCC).

Embora não seja claro se é legalmente possível que Trump o faça, uma saída da UNFCCC deixaria os EUA impedidos de participar oficialmente nas negociações internacionais sobre o clima. Em vez disso, tornar-se-ia um observador, a mesma categoria dos ativistas do clima, as ONG e os lobistas empresariais.

O que significa isto para a ação climática global?

"O resultado desta eleição vai ser visto como um grande golpe para a ação climática global, mas não pode e não vai travar as mudanças em curso para descarbonizar a economia e cumprir os objetivos do Acordo de Paris", afirmou Christiana Figueres, ex-chefe da ONU para o clima e arquiteta do Acordo de Paris, numa publicação nas redes sociais.

"Ficar ao lado do petróleo e do gás é o mesmo que ficar para trás num mundo em rápida evolução", escreveu.

Christiana Figueres acrescentou ainda que as tecnologias de energia limpa vão continuar a competir com os combustíveis fósseis.

"Não só porque são mais saudáveis, mais rápidas, mais limpas e mais abundantes, mas também porque reduzem os combustíveis fósseis no seu ponto mais fraco: a volatilidade e ineficiência."

Mas os especialistas temem que a promessa de Trump de "drill, baby, drill" (num apoio ao setor petrolífero) aumente as emissões neste momento crucial de esforços globais para mitigar as alterações climáticas.

Uma delegada segura um cartaz durante a Convenção Nacional Republicana.
Uma delegada segura um cartaz durante a Convenção Nacional Republicana.AP Photo/Nam Y. Huh

Uma análise da Carbon Brief, realizada no início deste ano, concluiu que uma vitória de Trump poderia levar a um aumento de quatro mil milhões de toneladas de emissões dos EUA até 2030, em comparação com os planos do presidente Joe Biden.

Este valor é equivalente às emissões anuais dos países da UE e do Japão ou às dos 140 países menos poluentes do mundo.

A análise salienta que este valor é suficiente para anular todas as emissões poupadas pela implantação de energia eólica, solar e outras tecnologias limpas em todo o mundo nos últimos cinco anos, sendo duas vezes mais elevado.

Os EUA são um dos maiores contribuintes para o financiamento global do combate às mudanças climáticas - um dos principais focos da COP29, que começa em Baku na próxima semana. Este financiamento foi objeto de cortes massivos durante a última presidência de Trump e os negociadores esperam que as promessas anteriores dos EUA não sejam cumpridas.

O facto de os EUA abandonarem o Acordo de Paris pode ter um grande impacto no processo de negociações da ONU sobre o clima em geral. Com o segundo maior emissor do mundo fora do pacto, a pressão para que os outros aumentem as ambições de combate às emissões é muito menor.

Chegou o momento de a Europa dar um o em frente em matéria de alterações climáticas?

Laurence Tubiana, diretora executiva da Fundação Europeia para o Clima e um dos principais rostos do Acordo de Paris, não tem dúvida de que o resultado das eleições nos EUA é um "golpe na luta contra a crise climática".

Uma reviravolta no apoio às tecnologias limpas e aos investimentos verdes coloca em risco os ganhos climáticos que estas políticas proporcionaram aos EUA. No entanto, "o Acordo de Paris é mais forte do que as políticas de qualquer país", diz Tubiana numa publicação no X.

"Penso e espero que nenhum outro país o siga o exemplo, se os EUA se retirarem do Acordo de Paris. Eles sabem que a transição é do seu próprio interesse, para a sua segurança e economia".

Para Tubiana, chegou o momento de a Europa dar um o em frente, não só por dever moral, mas também por interesse estratégico.

"Este é o momento da Europa reforçar a liderança no cenário mundial, em estreita parceria com outros países. Os próximos anos são críticos e a Europa tem de avançar, pelos seus cidadãos e pelo planeta. A COP29 continua a ser importante e acredito que é possível obter um resultado positivo", afirma.

Os próximos anos são críticos e a Europa tem de avançar, pelos seus cidadãos e pelo planeta. A COP29 continua a ser importante e acredito que é possível obter um resultado positivo
Laurence Tubiana
Chefe da Fundação Europeia do Clima

"Os meus pensamentos estão com todos os ativistas incansáveis que se dedicam a construir um mundo mais democrático, pacífico e sustentável", acrescentou.

Este é um sentimento partilhado pelo Partido Verde Europeu.

"Estas eleições são um alerta para todos os democratas e progressistas da Europa", afirma a copresidente Mélanie Vogel. "Temos de estar à altura da necessidade existencial de defender os valores democráticos, de garantir os direitos fundamentais e de proteger o bem comum."

"A Europa deve responder com mais democracia e mais solidariedade global", acrescenta o copresidente Thomas Waitz. "Vamos continuar a resistir à extrema-direita em todo o mundo e continuar a construir alianças para a combater. Num mundo de medo, a União Europeia deve tornar-se um farol de esperança".

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