Condições aeroportuárias difíceis significam que os voos são mais propensos a turbulência, aterragens irregulares e atrasos.
Embora a Madeira seja um destino de férias de sonho, a chegada à ilha pode, por vezes, ser uma experiência inquietante.
O Aeroporto do Funchal é considerado um dos mais perigosos do mundo, com aterragens que podem ser irregulares e voos que podem sofrer atrasos e cancelamentos no caso de condições meteorológicas adversas.
No entanto, tal não o deve dissuadir de viajar para esse local, uma vez que os pilotos são treinados para lidar com as condições difíceis.
Zbigniew Mlotkowski, diretor da formação de tripulantes da companhia aérea lituana KlasJet, especializada em serviços de voo fretados, explica como os pilotos estão preparados para as descolagens e aterragens mais difíceis e o que isso significa para os ageiros.
Pistas curtas e montanhas próximas: o que torna um aeroporto perigoso
Os aeroportos são classificados como perigosos com base em vários fatores. Um dos principais está relacionado com o terreno. As montanhas circundantes dificultam muitas vezes as aterragens, obrigando os pilotos a recorrer a procedimentos especiais.
As condições climatéricas também são importantes porque os ventos fortes, combinados com as colinas e as montanhas, podem causar turbulência local. Os ventos cruzados podem afetar a manobrabilidade e o controlo da aeronave, enquanto as microexplosões criam súbitas correntes de ar descendentes, fazendo com que a aeronave perca altitude.
As dimensões da pista também desempenham um papel crucial. Uma pista curta e estreita exige que o piloto tenha uma capacidade apurada para manter a trajetória de chegada.
Europa alberga dois dos aeroportos mais perigosos do mundo
O Aeroporto da Madeira - Funchal (FNC) é conhecido pela sua pista desafiante. Uma das extremidades está construída sobre pilares de betão, com um terreno próximo com uma subida íngreme. A outra extremidade está perto de falésias, o que obriga os aviões a manterem-se afastados da linha de aproximação central até estarem prestes a aterrar.
Os ventos das montanhas próximas criam turbulência local, o que frequentemente provoca atrasos ou cancelamentos de voos.
No verão ado, ventos fortes obrigaram ao cancelamento ou desvio de mais de 80 voos durante três dias em agosto.
Outro aeroporto conhecido pelas difíceis condições das pistas é o Aeroporto de Innsbruck (IIN), na Áustria. Está situado nos Alpes, num vale rodeado em quase todos os lados por montanhas altas e rochosas.
Tal exige que sejam seguidos procedimentos especiais durante a aproximação e a aterragem. Qualquer pequeno desvio das trajetórias projetadas pode aproximar a aeronave das montanhas, afetando potencialmente a segurança.
Pilotos são sujeitos a formação rigorosa para enfrentar aeroportos difíceis
Cada aeroporto complexo exige um manuseamento hábil da aeronave e cálculos muito precisos para garantir que a segurança do voo não é comprometida em diferentes condições meteorológicas.
“São necessários procedimentos especiais para cada fase do voo, como a aproximação, a aterragem e a aproximação falhada, que devem ser executados pelos pilotos se, por qualquer razão, a aeronave não puder aterrar”, afirma Mlotkowski.
“Normalmente, existem procedimentos especiais concebidos para um aeroporto deste tipo, que permitem continuar a voar em segurança mesmo com apenas um motor a funcionar.”
Para se familiarizarem com aeroportos complicados, os pilotos têm de fazer uma formação em simulador. Isto permite-lhes pôr em prática a experiência anterior e os conhecimentos teóricos em condições de segurança.
“O simulador fornece uma visualização detalhada de todos os objetos naturais e construídos pelo homem nas imediações do aeroporto, preparando os pilotos para o voo para o aeroporto real”, diz Mlotkowski.
“Além disso, nos simuladores, existe a possibilidade de ativar todos os fenómenos meteorológicos possíveis aplicáveis a determinados aeroportos, para que os pilotos possam melhorar as suas competências e estar preparados para realizar um voo seguro nas piores condições meteorológicas.”
Os aeroportos muito complexos exigem que os instrutores obtenham uma certificação especial, que deve ser concluída antes de poderem dar formação a outros pilotos.
Todos os aeroportos complicados requerem que apenas o comandante possa efetuar a descolagem e a aterragem, por serem mais experientes.
“A regulamentação europeia exige que os pilotos recebam formação teórica e prática de 12 em 12 meses. No entanto, para os aeroportos muito complexos, a validade dessa formação é reduzida para seis meses, para garantir que os conhecimentos e as competências estão ao mais alto nível”, indica Mlotkowski.
Deve preocupar-se por voar para um aeroporto perigoso?
Os viajantes podem ter receio de voar para um aeroporto considerado perigoso - e existem algumas questões de conforto e conveniência a considerar.
Os aeroportos rodeados por montanhas são propensos a turbulência, o que pode tornar as aterragens irregulares.
Mlotkowski diz que pistas mais curtas também podem significar que a aterragem nem sempre será suave - o que é chamado de “aterragem positiva” na indústria. Skiathos, na Grécia, Florença, em Itália, e San Sebastian, em Espanha, são alguns dos locais onde os ageiros podem ter esta experiência.
Nos aeroportos mais exigentes, onde as condições meteorológicas são um grande fator de segurança, os atrasos são mais frequentes, uma vez que os horários são temporariamente ajustados para evitar condições potencialmente perigosas.
Os ageiros podem também ser confrontados com situações de “espera”, em que um avião tem de aguardar no ar, durante algum tempo, por uma alteração das condições meteorológicas que lhe permita aterrar em segurança.
Ocasionalmente, se a espera for prolongada e se estiver a ser queimado demasiado combustível de reserva, o piloto pode tomar a decisão de mudar de rota para um aeroporto alternativo.
No entanto, Mlotkowski sublinha que são tomadas todas as precauções possíveis para garantir que as pistas e condições climatéricas difíceis são encaradas com segurança.
“Todos os pilotos têm formação, experiência e estão bem preparados para garantir que o nosso trabalho é efetuado de forma segura e profissional”, afirma. “Este é o nosso modo de vida.”