O apagão registado recentemente em Portugal, no dia 28 de abril, recordou os cidadãos acerca de necessidade de estarem prevenidos para o caso de ocorrência de situações de crise. No que toca à nutrição, que alimentos deveremos ter em casa para melhor ultraar o caos?
O aumento das tensões na Europa motivaram a Comissão Europeia, no final de março, a apelar aos Estados-membros para que preparem as suas populações de modo a estarem prontas para eventuais situações de crise que possam surgir: desde guerras a emergências sanitárias, não esquecendo possíveis catástrofes naturais e ciberataques.
Portugal viveu, recentemente, um acontecimento que levou os seus cidadãos a levar tais recomendações mais seriamente: o apagão que atingiu quase todo o território da Península Ibérica. E que, em território nacional, motivou uma enorme corrida aos minimercados e supermercados que não encerraram, após falhas nos sistemas e na sequência de apelos do Governo contra o açambarcamento.
Em casos desta natureza, ter em casa um kit de emergência para 72 horas, tal como sugeriu a Comissão, é fundamental para que se consiga ultraar a situação com o mínimo possível de percalços - com vários países da União Europeia a já disporem de orientações nesse sentido.
Um estojo de primeiros socorros e medicamentos, rádios a pilhas e lanternas, carregadores, dinheiro, cópias de documentos importantes, chaves, roupas quentes e ferramentas básicas são, a título de exemplo, alguns dos artigos a considerar. A par, claro está, de comida.
No que toca à alimentação, que tipo de bens são mais indicados para uma situação de emergência, seja pelo seu longo período de validade ou o seu caráter prático, não esquecendo o seu valor nutricional?
Para nos ajudar a tirar todas as dúvidas sobre o tema, questionámos o ChatGPT: “Em caso de apocalipse, quais são os alimentos não perecíveis e mais nutritivos que devemos ter guardados num kit de emergência?”. E pedimos à plataforma, de seguida, que nos fizesse uma lista daquilo que não podia mesmo faltar.
Em resposta, o chatbot indicou imediatamente que “em caso de apocalipse ou emergência prolongada, é essencial ter alimentos não perecíveis, nutritivos e de fácil armazenamento”. E que, de seguida, se propunha a exibir “uma lista” de bens “organizada por categorias, priorizando valor calórico, proteína, vitaminas, minerais e longa durabilidade”. Eis o que incluía:
“1. Proteínas e Gorduras (essenciais para energia e saciedade)
- Atum, sardinha ou salmão em lata (com óleo preferencialmente)
- Carne-seca / charque / jerked beef
- Frango em conserva
- Manteiga de amendoim / pasta de amêndoa / taíne
- Oleaginosas (amêndoas, nozes, castanhas-do-pará)
- Leite em pó integral
- Ovos desidratados ou em pó
2. Carboidratos complexos (energia de liberação lenta)
- Arroz (preferencialmente integral ou parboilizado)
- Aveia em flocos ou farinha de aveia
- Macarrão seco (idealmente integral)
- Quinoa (rica em proteína também)
- Farinha de milho / fubá / cuscuz
- Feijão seco, lentilhas, grão-de-bico
- Batata desidratada (tipo puré instantâneo)
3. Vitaminas e fibras
- Frutas secas (damasco, uva-a, tâmaras, banana desidratada)
- Legumes desidratados ou liofilizados
- Verduras desidratadas (espinafre, couve, etc.)
- Suplementos multivitamínicos (se possível)
4. Extras úteis e versáteis
- Mel (dura praticamente para sempre)
- Sal iodado
- Açúcar mascavado ou cristal
- Chocolate amargo (rico em gordura, açúcar e um pouco de ferro/magnésio)
- Caldo de carne/legumes em cubo ou pó
- Café ou chá (efeito estimulante e conforto psicológico)
- Óleo vegetal (soja, canola, azeite)
5. Água e purificação
- Água mineral engarrafada (mínimo de 3 litros por pessoa/dia)
- Pastilhas de purificação / filtros portáteis.”
Mas será que, na ótica de um especialista, esta sugestões são as mais adequadas?
Confrontada com a lista, a nutricionista Lia Faria começou por relembrar, à Euronews, a importância de, no momento da elaboração de um kit de emergência, ser importante ter em conta “dois aspetos”. Primeiro que tudo, “devemos garantir que estamos a dar prioridade a géneros alimentícios pouco perecíveis, assim como a algumas opções que não precisam de ser confecionadas para serem consumidas”. Ou seja, “por exemplo, podemos ter leguminosas secas, mas faz ainda mais sentido armazenar leguminosas enlatadas”. E, além disso, “devemos tentar, dentro dos possíveis, garantir alguma variedade do ponto de vista nutricional e assegurar o consumo de todos os macronutrientes”.
Desta forma, a especialista notou que, “de uma forma geral”, as opções fornecidas pelo ChatGPT lhe parecem “adequadas”.
No que diz respeito às fontes de proteína listadas, Lia Faria ofereceu um particular destaque ao “pescado e frango em lata, assim como o ovo desidratado”, enquanto produtos a não esquecer no kit de emergência.
No entanto, “em vez do leite em pó” sugerido pelo chatbot, a nutricionista sugere incluir na lista “algum tipo de suplemento proteico, quer seja proteína whey ou outra, como proteína de soja, por exemplo”. Isto porque esse “tipo de suplemento tem um teor de proteína bem mais interessante do que o leite em pó e acaba também por ser mais versátil e fácil de consumir”.
No que toca ao capítulo das fontes de proteína, alertou ainda: “A carne seca não é algo que se encontre com facilidade no nosso mercado, pelo que também penso que faria mais sentido dar prioridade ao armazenamento de leguminosas enlatadas como fontes de proteína vegetal. Aliás, as leguminosas têm a vantagem de fornecerem um bom teor de proteína, hidratos de carbono e ainda fibra.”
ando para as “fontes de gordura”, Lia Faria indica que as oleaginosas, indicadas na lista, “são sem dúvida uma excelente alternativa, sendo que faz mais sentido optar pela sua versão integral do que pelas manteigas, que tendem a ser mais perecíveis”. Tendo acrescentado que “o azeite e óleos vegetais, assim como o próprio peixe gordo (sardinha, salmão e cavala enlatados) também podem ser boas fontes de gordura”.
Por sua vez, nas opções sugeridas pelo ChatGPT no que concerne às fontes de hidratos de carbono, a especialista considerou que todas elas “são válidas”. Tendo, ainda assim, frisado ser “importante ter sempre alternativas que não precisem de ser confecionadas, uma vez que em casos de emergência podemos não ter o a eletricidade e/ou gás”.
“Sem dúvida que a maior lacuna neste tipo de kits se prende com armazenamento de hortofrutícolas, como seria de esperar”, reparou ainda Lia Faria, que apontou imediatamente que “as opções desidratadas são interessantes, mas a verdade é que, especialmente no que toca aos hortícolas, ainda não existem muitas opções no mercado”. Sendo possível, no entanto, “encontrar algumas opções enlatadas, como macedónias de legumes”, já à venda.
Perante estes factos, apontou a nutricionista, “o armazenamento de um suplemento multivitamínico” pode ser “uma solução interessante”, ao ser “uma boa forma de evitar défices nutricionais caso o o e consumo de hortofrutícolas fosse impossibilitado durante longos períodos”.
Finalmente, face às opções de “extras úteis e versáteis” apresentadas na lista do ChatGPT, a especialista indicou que também essas lhe parecem adequadas. Embora tenha deixado um alerta: “Armazenar alimentos com um maior teor de calorias como açúcar, mel, compotas, pode fazer sentido caso a oferta alimentar seja reduzida. Mas não sei de que forma o armazenamento de chocolate seria interessante, uma vez que a sua durabilidade não tende a ser muito elevada.”
E “a água, sem dúvida, como bem essencial, deve também ser uma das prioridades nestes casos”, concluiu Lia Faria.