AD é a vencedora das legislativas antecipadas, ainda que nem um possível acordo com a Iniciativa Liberal garanta maioria. PS é o maior derrotado da noite, o que levou à demissão de Pedro Nuno Santos, e pode ficar com menos deputados do que o Chega caso partido de Ventura volte a vencer na emigração.
A Aliança Democrática (AD) venceu as eleições legislativas antecipadas deste domingo e reforçou a posição do primeiro-ministro Luís Montenegro, sendo que em sentido contrário a forte queda do Partido Socialista (PS) levou à demissão de Pedro Nuno Santos.
Ainda com os círculos da emigração por apurar, a coligação formada pelo PSD e CDS-PP obteve o maior número de votos (32,72%), uma subida superior a 4%, e de deputados (89), mais nove do que no ano ado. Ainda assim, a vitória da AD não foi suficientemente forte para permitir uma maioria na Assembleia da República e maior estabilidade governativa.
"O povo quer este primeiro-ministro e não quer outro"
Para Luís Montenegro, os resultados eleitorais são claros e reforçam a confiança dos portuguesas no governo e nele próprio, reforçando que a responsabilidade é agora dos partidos da oposição, que devem ser "capazes de colocar o interesse nacional" acima de tudo.
“A resposta foi clara: o programa base da governação é o programa da AD. O primeiro-ministro é o atual e todos devem ser capazes de colocar o interesse nacional acima de qualquer outro”, afirmou o líder do PSD.
“Às oposições caberá, igualmente, respeitar e cumprir a vontade popular, honrando os seus compromissos e as suas propostas, mas adequando-os às circunstâncias nacionais e coletivas. De uns e outros espera-se sentido de Estado, sentido de responsabilidade, respeito pelas pessoas e, naturalmente, espírito de convivência na diversidade, mas também de convergência e salvaguarda do interesse nacional”, reforçou.
Sem uma maioria sustentada no Parlamento, Luís Montenegro foi questionado sobre se o "não é não" ao Chega se mantém, algo que não foi, respondido de forma clara por Montenegro, sendo substituído pelo "sim é sim a Portugal".
Rangel rejeita coligação formal com o Chega
Em entrevista à Euronews, Paulo Rangel afirmou que, tal como na legislação anterior, "ficou claro que a AD não irá fazer nenhuma coligação formal com o Chega. Por isso temos que negociar cada dossiê".
Para o ainda ministro dos Negócios Estrangeiros, apesar de a AD não alcançar uma maioria no Parlamento, "os resultados são claros.
"Acho que os resultados são claros. Seria muito estranho, diria até politicamente inaceitável, que não pudessemos formar governo ou ver o nosso programa ar no Parlamento", afirmou, reforçando ainda que anterior legislação foi conseguida através da negociação com as diferentes forças políticas, algo que poderá acontecer novamente.
"Estamos abertos a falar com toda a gente no Parlamento. Isto não é novo", afirmou.
"Eu não poderia nunca ser e deste Governo, acho que o PS também não o deveria ser" diz Pedro Nuno Santos
O Partido Socialista (PS) ficou no segundo lugar com 23,38%, quase menos 5% do que em 2024, o que se traduz em quase menos 420 mil votos e em apenas 58 assentos parlamentares, ou seja, perdeu 20. Trata-se do pior resultado eleitoral dos socialistas desde 1987, ano da primeira maioria absoluta de Cavaco Silva quando o PS granjeou somente 22,2% das preferências dos portugueses.
Não demorou muito até que, na reação, Pedro Nuno Santos anunciasse a saída da liderança do partido.
“Assumo as minhas responsabilidades como líder do partido. Vou por isso pedir eleições internas à Comissão Nacional, às quais não serei candidato”, afirmou socialista. "Como disse Mário Soares, só é vencido quem desiste de lutar". "E eu não desistirei de lutar. Até breve, obrigado a todos", reforçou.
O ainda secretário-geral socialista reconheceu o mau resultado do partido mas garantiu, naquilo que disse ser uma opinião pessoal, que não lhe cabe a si, nem ao Partido Socialista, sustentar um governo da AD, argumentando que "Montenegro não tem a idoneidade necessária para o cargo de primeiro-ministro e as eleições não alteraram essa realidade". Além disso, o socialista explica ainda que o anterior governo falhou a vários níveis e o programa apresentado pela AD vai "contra os princípios e valores do PS".
"A minha posição é muito clara sobre essa matéria e eu não quero ser um estorvo ao partido nas decisões que tiver de tomar. Eu não poderia nunca ser e deste Governo, acho que o PS também não o deveria ser", afirmou.
Segundo avançou o jornal Expresso, José Luís Carneiro tem intenção de se recandidatar à liderança do Partido Socialista, com o anúncio oficial ser feito no próximo sábado, na reunião da Comissão Nacional do PS.
"Podemos declarar oficialmente, e com segurança, que acabou o bipartidarismo", afirma Ventura
Outro dos grandes vencedores da noite é o Chega (22,56%), o terceiro partido mais votado, com mais 175 mil votos do que em 2024 (a menos de 50 mil do PS), e que também subiu mais de 4%, igualando o número de deputados do Partido Socialista (58). No entanto, a formação política liderada por André Ventura pode ar a ter mais mandatos do que o PS caso volte a prevalecer nos círculos da emigração.
Em 2024, o Chega arrecadou um mandato no círculo da Europa e um outro no de fora da Europa, vencendo dois dos quatro assentos conferidos pelos votos dos emigrantes e transformando-se no primeiro partido, neste século, que não PS ou PSD (ou coligação liderada pelo PSD) a eleger deputados nos círculos da emigração.
“O Chega tornou-se nestas eleições o segundo maior partido desta democracia”. “Que bom é olhar para o mapa de Portugal e ver tanta vitória do Chega”, afirmou o líder do Chega aos apoiantes, reforçando que o resultado do partido "acabou com o bipartidarismo".
“Nós fizemos mesmo o que nunca nenhum partido tinha feito em Portugal. Nós hoje podemos declarar oficialmente e perante o país todo e com segurança que acabou o bipartidarismo em Portugal”, sublinhou.
Parlamento volta a ter dez partidos
Subidas na votação tiveram também a Iniciativa Liberal (5,53%), à direita, que conquistou mais um deputado e tem agora nove, embora não consiga maioria com a AD, e o Livre (4,20%), à esquerda, que a de quatro para seis lugares no parlamento.
As restantes forças de esquerda saíram derrotadas. Tanto a CDU (3,03%) como o Bloco de Esquerda (2%) desceram em número de votos e deputados: os comunistas tinham quatro parlamentares e ficam agora com três, ao o que os bloquistas sofrem uma derrota ainda maior, diminuindo de cinco para apenas um.
Já o PAN (1,36%), apesar de perder mais de 45 mil votos, manteve Inês de Sousa Real como deputada. Um assento no hemiciclo tem agora igualmente o Juntos Pelo Povo (0,34%), que se tornou o primeiro partido regional a chegar ao parlamento nacional. O JPP, sediado na Madeira e que teve um aumento de quase mil votos, elegeu Filipe Sousa, presidente da Câmara Municipal de Santa Cruz.
Com estes resultados, o Parlamento a a ter 10 partidos, ainda que três deles representados apenas por um deputado (Bloco, PAN e JPP).