Decisão sobre o próximo governo está muito renhinha com as sondagens a apontarem um empate técnico entre os principais. Tema da habitação dominou a campanha para um ato eleitoral cujos resultados só serão conhecidos nos próximos dias.
Os irlandeses são esta sexta-feira chamados às urnas para decidirem sobre o próximo governo. O cenário mais provável é um governo de coligação, mas as dúvidas sobre o potencial vencedor adensam-se, com as sondagens da revelarem uma corrida muito renhida, com um empate técnico entre as três principais forças partidárias do país, com cerca de 20% das intenções de voto cada.
São eles o Fine Gael, partido político liberal-conservador e democrata-cristão da Irlanda, liderado pelo atual primeiro-ministro, Simon Harris. Os centristas do Fianna Fáil, liderados por Micheál Martin, que fazem atualmente parte do governo de coligação, e o partido Sinn Féin, que foi a ala política do grupo paramilitar Exército Republicano Irlandês (IRA, na sigla inglesa), que lutou durante décadas contra os britânicos na Irlanda do Norte, até ao acordo de paz de 1998.
A dúvida é então se um dos dois partidos atualmente no governo consegue manter o poder ou se os destinos da Irlanda am para a mão do partido da oposição.
Os analistas acreditam que o resultado mais provável é uma nova coligação Fine Gael-Fianna Fail, possivelmente com um partido mais pequeno ou um grupo de independentes que condicionarão as decisões.
O Fianna Fáil e o Fine Gael excluíram a possibilidade de trabalhar com o Sinn Féin, na esperança de o afastar do poder durante mais cinco anos.
Entre os partidos minoritários estão o Partido Trabalhista, os Sociais-Democratas e os Verdes, atualmente no governo, que são os mais prováveis candidatos a participarem numa coligação governamental multipartidária.
Habitação domina campanha
Tal como em muitos outros países, o custo de vida - especialmente da habitação - dominou a campanha.
A Irlanda tem uma grave carência de habitação, herdada do facto de não ter conseguido construir casas novas em número suficiente durante os anos de prosperidade do “Tigre Celta” e da recessão económica, que se seguiu à crise financeira global de 2008.
“Não se construiu nada durante a crise e, quando a crise ou, construíram-se primeiro escritórios e hotéis”, disse John-Mark McCafferty, diretor executivo da Threshold, uma instituição de solidariedade para a habitação e os sem-abrigo.
O resultado é a subida dos preços das casas, o aumento das rendas e o aumento do número de sem-abrigo.
O tema da imigração, questão fraturante em vários países da Europa, também ganhou terreno durante a campanha eleitoral.
O país, que conta cerca de 5,4 milhões de habitantes, tem tido dificuldade em alojar todos os requerentes de asilo, o que levou à criação de campos de tendas e centros de alojamento improvisados que têm atraído tensões e protestos.
Há um ano, um ataque com faca contra crianças à porta de uma escola em Dublin, pelo qual um argelino foi acusado, provocou os piores tumultos a que a Irlanda assistiu em décadas.
Ao contrário de muitos países europeus, a Irlanda não tem um partido de extrema-direita significativo, mas as vozes daquela área política nas redes sociais têm vindo a fomentar a hostilidade contra os migrantes, com candidatos independentes anti-imigração a tentar a eleição em vários distritos.
A questão parece estar a afetar o apoio ao Sinn Fein, uma vez que os apoiantes da classe trabalhadora não apreciam as suas políticas pró-imigração.
Quando serão conhecidos os resultados?
As urnas encerram esta sexta-feira às 22:00, altura em que uma sondagem à boca das urnas dará as primeiras indicações sobre o resultado.
A contagem dos boletins de voto começa no sábado de manhã. Os resultados completos podem demorar vários dias.
Mais de 3,4 milhões de pessoas estão registadas para votar na República da Irlanda.
As eleições legislativas antecipadas no país acontecem depois de Simon Harris ter apresentado a demissão e anunciado o novo escrutínio no início deste mês.