A produção de aço é uma das indústrias com maior intensidade de carbono, sendo responsável por cerca de 9% das emissões globais de gases com efeito de estufa.
Os planos da Índia para duplicar a produção de aço até ao final da década poderão pôr em risco os objetivos nacionais em matéria de clima, bem como a meta global para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa provenientes da indústria siderúrgica.
Esta terça-feira, o relatório da Global Energy Monitor (GEM), uma organização que acompanha projetos energéticos em todo o mundo, afirma que os esforços para descarbonizar a produção de aço estão a ganhar força em todo o mundo, no entanto, na Índia, o segundo maior país produtor de aço do mundo, a dependência esmagadora de tecnologias baseadas no carvão representa um grande desafio.
"A Índia é agora o termómetro da descarbonização global do aço", afirmou Astrid Grigsby-Schulte, gestora de projeto do Global Iron and Steel Tracker da GEM e coautora do relatório.
"Se o país não aumentar os seus planos de produção de aço verde, todo o setor perderá um marco importante. Assim vai a Índia, assim vai o mundo", lê-se.
Ameaças aos objetivos climáticos nacionais e globais
Atualmente, cerca de 12% das emissões de gases com efeito de estufa da Índia, que vão para a atmosfera e aquecem o planeta, provêm da produção de aço.
Este número poderá duplicar em cinco anos se o aço for produzido de acordo com os planos do Governo, segundo o relatório.
A produção de aço é uma das indústrias com maior intensidade de carbono, responsável por cerca de 9% das emissões globais de gases com efeito de estufa.
A Agência Internacional da Energia estabeleceu o objetivo de que, até 2030, 37% da capacidade global de produção de aço se baseie em fornos de arco elétrico com menos emissões.
As atuais projeções da GEM indicam que o mundo atingirá apenas 36% - um défice que se deve, em grande parte, ao facto de a Índia utilizar muito carvão.
Ao mesmo tempo, a Índia quer produzir 500 gigawatts de energia limpa - o suficiente para abastecer quase 300 milhões de lares indianos - até ao final desta década.
A nação do sul da Ásia ultraou recentemente o marco da instalação de 100 gigawatts de energia solar, a maior parte da qual foi instalada nos últimos 10 anos.
Até 2070, a Índia também pretende atingir o objetivo de emissões líquidas nulas, ou seja, eliminar toda a poluição de dióxido de carbono que emite, ou anulá-la, através de outros métodos, como a plantação de árvores que absorvem o carbono.
Porque é que a produção de aço da Índia é tão rica em carbono?
A Índia planeia expandir a sua capacidade de produção de aço de 200 milhões para mais de 330 milhões de toneladas por ano até 2030. De acordo com os novos dados, mais de 40% da capacidade global em desenvolvimento - cerca de 352 milhões de toneladas por ano - está na Índia, sendo que mais de metade dessa capacidade é baseada no carvão.
"A Índia é a única grande nação produtora de aço que tem tanta capacidade a carvão em desenvolvimento", afirmou Henna Khadeeja, uma analista de investigação da GEM que também trabalhou no relatório.
O setor siderúrgico da Índia liberta aproximadamente 2,6 toneladas de dióxido de carbono por tonelada de aço, cerca de 25% mais do que a média global.
A forte dependência do carvão para a produção de aço deve-se a uma combinação de fatores, como: o carvão tem baixo custo, têm uma frota relativamente recente de altos-fornos que ainda têm cerca de 20-25 anos de vida operacional e a falta de gás natural e de sucata de aço.
O ecossistema de reciclagem de sucata do país continua a ser informal e o minério de ferro de alta qualidade é escasso.
A China, o maior produtor de aço do mundo, conseguiu manter as suas emissões mais baixas por tonelada, produzindo mais aço a partir de sucata e retirando do mercado as antigas instalações a carvão.
Ainda há uma janela para mudar para tecnologias com menos emissões
"A Índia tem potencial para mudar de rumo", afirmou Khadeeja da GEM. "Grande parte da capacidade planeada ainda está no papel. Apenas 8% foi efetivamente iniciada. Isto significa que ainda há uma janela para mudar para tecnologias de menor emissão".
Embora as exportações de aço da Índia representem apenas uma pequena parte da sua produção global, poderão ser afetadas pelo facto de os principais mercados, como a União Europeia, começarem a aplicar impostos sobre as emissões de carbono no próximo ano.
Easwaran Narassimhan, do grupo de reflexão Sustainable Futures Collaborative, com sede em Nova Deli considera que é benéfico para a Índia investir na atualização tecnológica mesmo que isso traga algumas dificuldades. "Talvez seja melhor para a Índia tolerar algumas dificuldades a curto prazo de atualização tecnológica para tornar o seu aço mais limpo, em troca de ganhos de competitividade a longo prazo", afirmou.