Os países europeus com fortes ondulações atlânticas têm o maior potencial de energia das ondas.
Cobrindo 71% da superfície da Terra, os oceanos são um dos recursos renováveis mais valiosos do mundo e, no entanto, o maior ainda por explorar.
A energia das ondas oceânicas é imensa e tem um enorme contributo a dar para a transição para as energias limpas. De acordo com a Agência Internacional da Energia, a produção de energia dos oceanos precisa de crescer 33% por ano para se conseguir um mundo sem emissões líquidas até 2050.
"A energia das ondas e das marés tem potencial para se tornar uma fonte de energia significativa, fiável e sustentável", afirma José Miguel Rodrigues, investigador principal do SINTEF, um dos maiores institutos de investigação europeus.
O Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas (IPCC) estima que a energia das ondas pode gerar até 29.500 TWh por ano. Este valor é quase dez vezes superior ao consumo total anual de eletricidade na Europa e mais do que a eletricidade global anual gerada em 2018.
"A energia das marés tem um potencial global estimado entre 800 e 1200 TWh, especialmente em cursos de água estreitos, como enseadas e em redor de ilhas", afirma Rodrigues. "Regida por ciclos gravitacionais previsíveis e não pelas condições meteorológicas, [a energia das marés] proporciona um fornecimento estável de eletricidade e ajuda a equilibrar a rede".
O dispositivo conversor de energia das ondas inspirado no coração humano
O especialista em cardiologia Stig Lundbäck inspirou-se no bombeamento do coração humano para co-fundar a empresa sueca de energia das ondas CorPower Ocean em 2009.
Ao longo de anos de investigação hidrodinâmica, a empresa desenvolveu o "CorPack" - uma bóia gigantesca feita de materiais duráveis e leves que converte o movimento das ondas em eletricidade limpa e estável.
À semelhança da utilização da pressão hidráulica pelo coração para bombear o sangue numa direção, o CorPack funciona aplicando tensão sobre si próprio para puxar a bóia para baixo, enquanto as ondas a empurram para cima. O movimento das ondas é transformado em rotação, que é depois convertida em eletricidade por geradores.
O mecanismo do conversor de energia das ondas permite a recolha de uma grande quantidade de energia num dispositivo relativamente pequeno e de baixo custo, explica um porta-voz da CorPower Ocean.
Segundo eles, o conversor é capaz de fornecer mais de cinco vezes mais eletricidade por tonelada de equipamento em comparação com a anterior energia das ondas de última geração.
Rodrigues considera a inovação da CorPower Ocean uma conquista significativa. "A CorPower tem progredido de forma constante ao longo das fases de desenvolvimento, assegurando investimento e bolsas de investigação, particularmente da UE", afirma.
"A sua abordagem estruturada permitiu-lhes colocar um dispositivo na água, um feito significativo tendo em conta o financiamento limitado disponível para a energia das ondas e das marés na Europa".
O primeiro conversor de energia das ondas à escala real da CorPower Ocean está instalado ao largo da costa norte dePortugal, perto da Aguçadora (Póvoa de Varzim), onde está a fornecer energia à rede portuguesa.
Há muitas outras empresas e organizações de investigação a tentar aproveitar a onda da energia dos oceanos.
Outros exemplos notáveis incluem a empresa italiana de energia ENI com o seu Conversor Inercial de Energia das Ondas Marítimas, o Nanku, construído na China - um gerador flutuante alimentado pelas ondas - e o WaveRoller da AW-Energy, sediada na Finlândia, constituído por grandes painéis subaquáticos.
Porque é que a energia das ondas recebe menos atenção do que a energia eólica e solar?
A energia solar gerou 7% da energia global em 2024, de acordo com a Agência Internacional de Energia. Nos próximos dois anos, prevê-se que a energia solar satisfaça quase metade da procura mundial de eletricidade, enquanto a energia eólica deverá satisfazer cerca de um terço.
As ondas têm a maior densidade energética de todas as fontes renováveis. E, apesar de estarem intimamente ligadas ao vento, são menos "variáveis" do que a energia eólica. A energia das marés, por sua vez, é considerada a mais previsível de todas as fontes renováveis variáveis.
Apesar deste potencial, a tecnologia das ondas e das marés está a ficar para trás na corrida às energias limpas.
"O principal desafio é a competitividade", explica Rodrigues. "Ao contrário da energia eólica e solar, a energia das ondas e das marés ainda não demonstrou tecnologias comercialmente viáveis à escala. A energia das ondas enfrenta requisitos exigentes em termos de desempenho consistente e de capacidade para resistir a forças oceânicas extremas. Muitos protótipos falharam ou tiveram um desempenho insuficiente, enquanto a energia eólica e solar offshore demonstraram fiabilidade e reduções de custos".
Quais são os países europeus com maior potencial para a energia das ondas?
A avaliação do potencial exige que se considere tanto a disponibilidade de recursos energéticos naturais como a viabilidade de os aproveitar.
"Os países expostos a fortes ondulações atlânticas - Portugal, Espanha, França, Irlanda e Reino Unido - têm as condições mais favoráveis para a energia das ondas à escala dos serviços públicos", afirma Rodrigues.
"A Noruega, com a sua extensa linha costeira e muitas comunidades insulares remotas, apresenta um mercado forte onde a energia das ondas pode ajudar a reduzir os custos da rede e aumentar a independência energética".
Para além da viabilidade técnica, o sucesso depende da viabilidade económica, da aceitação social e de políticas de apoio.