O filme estreia a 24 de abril nos cinemas portugueses e dá voz a uma comunidade rural que resiste na montanha ao projeto da empresa mineira Savannah Resources para extração de lítio.
O ativismo da população de Covas do Barroso, concelho de Boticas, em Trás-os-Montes, chega agora às salas de cinema portuguesas no próximo dia 24 de abril, após a estreia mundial na Quinzena dos Cineastas de Cannes.
"A Savana e a Montanha", do realizador Paulo Carneiro, é uma ficção documental, uma história de resistência em forma de western musical.
"As pessoas de Covas do Barroso eram mal representadas por um documentário, porque era preciso pô-las em ação, era preciso tirar a luta do escritório, dos emails, dos papers científicos que têm de ser lidos e relidos e analisados por pessoas especialistas, e pôr em prática a luta, mostrar a luta na sua prática", explica o realizador à Euronews.
O filme dá voz a uma comunidade rural que luta pelas suas terras, após descobrir que a empresa britânica Savannah Resources planeia construir a maior mina de lítio a céu aberto da Europa a poucos metros das suas casas.
"Vivemos numa das regiões mais isoladas do país, mas que em 2018 foi considerada Património Agrícola Mundial, pela maneira como vivemos, como trabalhamos a terra, como nos correlacionamos com a natureza. E quando vemos um projeto destes à nossa porta, em que põe em perigo tudo o que temos, a maneira como vivemos, corrermos o risco de ter de abandonar o nosso lugar...O filme retrata exatamente isso, as nossas dores", refere Aida Fernandes, que integra o elenco do filme e é também presidente da Comunidade Local dos Baldios de Covas do Barroso.
A luta é ampliada pelo registo de intervenção das canções de Carlos Libo e pela autenticidade que os habitantes de Covas do Barroso conferem ao filme. A expectativa, diz Paulo Carneiro, é que encha as salas de cinema do país, não só nas grandes cidades.
Portugal tem as maiores reservas de lítio da Europa. Nos últimos anos, Covas do Barroso tem sido notícia pela luta da sua população contra o avanço da mineração de lítio por parte da empresa britânica Savannah Resources, que detém ali uma concessão para exploração de uma área total de 542 hectares.
Neste momento, a empresa está a fazer prospeções em terrenos de Covas do Barroso graças à servidão istrativa concedida, em dezembro do ano ado, pela ex-secretária de Estado da Energia Maria João Pereira.
É com base no mapa da servidão istrativa que a Savannah Resources paga uma compensação pelo uso do terreno durante um ano, confirmou à Euronews o CEO da empresa, Emanuel Proença, em dezembro do ano ado.
No final de março, a União Europeia fez desta exploração um dos 47 projetos mineiros estratégicos a nível europeu. O argumento para a aposta no lítio, usado na produção de baterias para os carros eléctricos, é a sua importância para a transição energética.
O local de exploração está identificado como a maior reserva de espoduménio de lítio na Europa, com 28 milhões de toneladas métricas de lítio de alta qualidade.
A população continua sem baixar os braços. Ainda esta segunda-feira, cerca de 25 pessoas juntaram-se em Covas do Barroso, solidárias com um proprietário que a GNR teria instado a remover, sob pena de ser detido, um reboque de um terreno do próprio que impede a agem de máquinas da Savannah Resources. Aida Fernandes foi uma das pessoas que esteve presente nesta demonstração de força.
O proprietário, Benjamim Gonçalves, alega que a parcela em causa não está incluída na servidão istrativa que autoriza os trabalhos da empresa mineira em terrenos privados e do baldio. E não é caso único.