{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/business/2024/11/19/acordo-comercial-ue-mercosul-quem-ganha-e-quem-perde-na-europa" }, "headline": "Acordo comercial UE-Mercosul: quem ganha e quem perde na Europa", "description": "Os Estados-membros europeus est\u00e3o a enfrentar vantagens e desvantagens \u00e0 medida que se aproxima a conclus\u00e3o do acordo estrategicamente importante.", "articleBody": "Ap\u00f3s 25 anos de negocia\u00e7\u00f5es, o acordo de com\u00e9rcio livre (ACL) UE-Mercosul continua a n\u00e3o ter o apoio un\u00e2nime dos Estados-membros, uma vez que os receios quanto ao futuro do setor agr\u00edcola colidem com as necessidades estrat\u00e9gicas do bloco.A 28 de junho de 2019, foi alcan\u00e7ado um acordo pol\u00edtico para abrir o com\u00e9rcio entre os 27 Estados-membros da UE e os quatro membros fundadores do bloco sul-americano, Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. (A Bol\u00edvia aderiu ao Mercado Comum do Sul, vulgarmente conhecido pela sua abreviatura espanhola como Mercosul, em 2024, pelo que n\u00e3o participou nas negocia\u00e7\u00f5es anteriores).O acordo visa estabelecer uma das maiores zonas de com\u00e9rcio livre do mundo, abrangendo 750 milh\u00f5es de pessoas e cerca de um quinto da economia mundial.No entanto, para a Europa, n\u00e3o s\u00e3o os ganhos econ\u00f3micos que tornam o acordo mais atraente, mas sim o seu significado estrat\u00e9gico numa \u00e9poca em que o bloco enfrenta disputas comerciais com os seus dois maiores parceiros comerciais, os EUA e a China.\u0022Penso que uma das principais preocupa\u00e7\u00f5es \u00e9 que muitos dos pa\u00edses sul-americanos est\u00e3o a desenvolver la\u00e7os mais estreitos e a aprofundar as rela\u00e7\u00f5es comerciais com a China, numa altura em que a UE quer diversificar as suas rela\u00e7\u00f5es com a China\u0022, disse s Li, analista da Economist Intelligence Unit, \u00e0 Euronews Business.\u0022\u00c9 um momento cr\u00edtico. E com as potenciais tarifas americanas a entrarem em vigor j\u00e1 no pr\u00f3ximo ano, penso que existe uma press\u00e3o acrescida para que a UE tente um acordo\u0022.O com\u00e9rcio entre os dois blocos n\u00e3o \u00e9 muito significativo.De acordo com os dados da Comiss\u00e3o Europeia, em 2023, as exporta\u00e7\u00f5es da UE para os quatro pa\u00edses do Mercosul ascenderam a 55,7 mil milh\u00f5es de euros (a exporta\u00e7\u00e3o para os EUA no mesmo ano foi nove vezes superior, com 502 mil milh\u00f5es de euros), enquanto as exporta\u00e7\u00f5es do Mercosul para a UE totalizaram 53,7 mil milh\u00f5es de euros.Quais s\u00e3o os produtos mais importantes importados do Mercosul para a UE?Em 2023, a maior parte das exporta\u00e7\u00f5es do Mercosul para a UE foram alimentos e animais vivos (32,4 % do total das exporta\u00e7\u00f5es) e produtos minerais (29,6 %).A abertura de rotas comerciais com os pa\u00edses do Mercosul d\u00e1 \u00e0 UE a possibilidade de diversificar as suas fontes de minerais cr\u00edticos essenciais necess\u00e1rios para a constru\u00e7\u00e3o de baterias e pain\u00e9is solares e para a recolha de energia e\u00f3lica e hidrog\u00e9nio verde - para acelerar a transi\u00e7\u00e3o ecol\u00f3gica. O Mercosul disp\u00f5e de importantes recursos minerais cr\u00edticos, como o l\u00edtio (essencial para as baterias recarreg\u00e1veis), a grafite, o n\u00edquel, o mangan\u00eas e os elementos de terras raras.Atualmente, o bloco precisa de se abastecer de grande parte destes minerais na China, mas os lit\u00edgios comerciais, como o que se prende com as tarifas aplicadas \u00e0s importa\u00e7\u00f5es chinesas de ve\u00edculos el\u00e9tricos, podem tamb\u00e9m ensombrar estas rela\u00e7\u00f5es comerciais.Entretanto, os pa\u00edses do Mercosul surgem como atores cruciais na garantia do abastecimento alimentar da Europa. A regi\u00e3o contribui com cerca de um quarto das exporta\u00e7\u00f5es mundiais de produtos agr\u00edcolas e da pesca.Por outro lado, os produtos alimentares sul-americanos, em especial a carne de bovino e de aves de capoeira, constituem uma preocupa\u00e7\u00e3o especial para o setor agr\u00edcola europeu, que receia uma concorr\u00eancia desleal e invoca preocupa\u00e7\u00f5es ambientais, sendo os agricultores ses os mais ruidosos, apoiados pelo seu governo.Que pa\u00edses poder\u00e3o beneficiar mais com o acordo comercial?O acordo de com\u00e9rcio livre \u00e9 visto como ben\u00e9fico para setores como a ind\u00fastria autom\u00f3vel e a maquinaria, mas desfavor\u00e1vel para o setor agr\u00edcola, dividindo assim os pa\u00edses de acordo com os seus principais interesses.O acordo de com\u00e9rcio livre visa eliminar os direitos aduaneiros sobre 100% de todos os produtos industriais importados pela UE do bloco sul-americano. Entretanto, o Mercosul eliminaria os direitos aduaneiros sobre 90% dos produtos industriais importados da UE, incluindo autom\u00f3veis, maquinaria, equipamento inform\u00e1tico, t\u00eaxteis, chocolate, bebidas espirituosas e vinho.\u0022Os direitos aduaneiros sobre os autom\u00f3veis e as pe\u00e7as de autom\u00f3veis para o Mercosul s\u00e3o atualmente de 35%, o que \u00e9 muito elevado. As m\u00e1quinas rondam os 14%-20% e os produtos qu\u00edmicos os 18%\u0022, afirmou Li. \u0022\u00c9 por isso que pa\u00edses como a Alemanha ficar\u00e3o muito satisfeitos com a redu\u00e7\u00e3o de alguns desses direitos aduaneiros\u0022.Numa altura em que o pa\u00eds atravessa uma das suas piores crises, o chanceler alem\u00e3o Olaf Scholz apelou repetidamente \u00e0 conclus\u00e3o do acordo, afirmando que: \u0022O acordo do Mercosul \u00e9 inovador para diversificar e refor\u00e7ar a resili\u00eancia da nossa economia\u0022.O acordo refor\u00e7ar\u00e1 certamente a ind\u00fastria autom\u00f3vel alem\u00e3, que se encontra em dificuldades, incluindo a Volkswagen, a BMW e a Mercedes-Benz, bem como a ind\u00fastria qu\u00edmica alem\u00e3, com empresas como a Bayer.De acordo com os dados da Comiss\u00e3o Europeia, as exporta\u00e7\u00f5es alem\u00e3s para o Mercosul ascendem a 15,4 mil milh\u00f5es de euros por ano, provenientes de 12 000 empresas alem\u00e3s e assegurando 244 000 postos de trabalho na maior economia da Europa.A Espanha, a quarta maior economia do bloco, tamb\u00e9m parece ser uma das vencedoras, com fortes exporta\u00e7\u00f5es no setor da ind\u00fastria transformadora do pa\u00eds, bem como nas ind\u00fastrias qu\u00edmica e farmac\u00eautica.De acordo com um estudo encomendado pela secretaria de Estado do Com\u00e9rcio do pa\u00eds, as exporta\u00e7\u00f5es de Espanha para o Mercosul crescer\u00e3o 37% quando o acordo tiver produzido os seus efeitos, aumentando o PIB em 0,23% e criando mais de 22 000 postos de trabalho.Os apoiantes do acordo de com\u00e9rcio livre afirmam que o acordo vai muito al\u00e9m da redu\u00e7\u00e3o dos direitos aduaneiros, permitindo o o das empresas europeias aos contratos p\u00fablicos nestes pa\u00edses sul-americanos, apoiando os investimentos e abrindo as portas aos prestadores de servi\u00e7os europeus.Que pa\u00edses se op\u00f5em ao acordo comercial?A Fran\u00e7a op\u00f5e-se firmemente ao acordo comercial, que permitiria aos pa\u00edses do Mercosul exportar mais 99 000 toneladas de carne de bovino para a UE com um direito de 7,5%, para al\u00e9m das 200 000 toneladas atualmente importadas.Para contextualizar, esta quantidade, ap\u00f3s cinco anos de introdu\u00e7\u00e3o progressiva, representaria 1,2% do consumo total de carne de bovino da UE, que \u00e9 de 8 milh\u00f5es de toneladas por ano\u0022, l\u00ea-se no relat\u00f3rio da Comiss\u00e3o Europeia intitulado \u0022O pilar comercial do Acordo de Associa\u00e7\u00e3o UE-Mercosul\u0022.O acordo prev\u00ea a isen\u00e7\u00e3o de direitos aduaneiros para mais 180 000 toneladas de aves de capoeira, 45 000 toneladas de mel, 60 000 toneladas de arroz e 180 000 toneladas de a\u00e7\u00facar.Os agricultores europeus est\u00e3o muito preocupados com as importa\u00e7\u00f5es de carne de bovino, aves de capoeira e a\u00e7\u00facar que, segundo eles, criam uma concorr\u00eancia desleal, uma vez que os agricultores do bloco am custos mais elevados devido \u00e0 necessidade de respeitar as rigorosas normas europeias em mat\u00e9ria de seguran\u00e7a alimentar, bem-estar animal e ambiente e pagam sal\u00e1rios mais elevados do que os dos agricultores sul-americanos.A UE \u00e9 tamb\u00e9m acusada de fechar os olhos \u00e0 degrada\u00e7\u00e3o ambiental no Brasil, onde a produ\u00e7\u00e3o de carne de bovino se tornou um importante fator de desfloresta\u00e7\u00e3o tropical devido aos esfor\u00e7os para obter pastagens.A ministra sa da Agricultura, Annie Genevard, op\u00f4s-se publicamente ao acordo comercial UE-Mercosul, invocando os riscos de desfloresta\u00e7\u00e3o e os problemas de sa\u00fade ligados \u00e0 carne tratada com hormonas.A associa\u00e7\u00e3o de agricultores europeus, Copa Cogeca, tamb\u00e9m manifestou preocupa\u00e7\u00f5es semelhantes, dada a falta de rastreabilidade do gado e a utiliza\u00e7\u00e3o de hormonas, promotores de crescimento e pesticidas nestes pa\u00edses, que s\u00e3o ilegais na UE.O presidente franc\u00eas, Emmanuel Macron, apelou a altera\u00e7\u00f5es no acordo para proteger os agricultores europeus, de modo a garantir que os produtos agr\u00edcolas importados cumprem as mesmas normas que os produzidos na UE.A Comiss\u00e3o afirma que todos os acordos devem estar em conformidade com as normas sociais e ambientais da UE e que o acordo UE-Mercosul renova os compromissos das partes no Acordo de Paris, com um mecanismo de controlo.Mesmo assim, Macron foi firme na atual reuni\u00e3o do G20 na Argentina, afirmando que Fran\u00e7a \u0022n\u00e3o \u00e1 o projeto de acordo com o Mercosul tal como est\u00e1\u0022.It\u00e1lia manifesta as suas reservasA It\u00e1lia tamb\u00e9m est\u00e1 a emergir do lado da oposi\u00e7\u00e3o, apesar de a sua forte ind\u00fastria autom\u00f3vel e de engenharia, a ind\u00fastria da moda e os alimentos regionais, incluindo o queijo parmes\u00e3o, poderem fazer com que o pa\u00eds beneficie do acordo de com\u00e9rcio livre.\u0022O tratado UE-Mercosul, na sua forma atual, n\u00e3o \u00e9 aceit\u00e1vel\u0022, afirmou o ministro italiano da Agricultura num comunicado de imprensa, citado pelo Brussels Times. Na segunda-feira, sco Lollobrigida exigiu que os agricultores do Mercosul fossem sujeitos \u00e0s mesmas \u0022obriga\u00e7\u00f5es\u0022 que os seus pares da UE.A Irlanda, o quinto maior exportador de carne de bovino do mundo, tamb\u00e9m est\u00e1 seriamente preocupada com o acordo, temendo que a concorr\u00eancia reduza para metade os pre\u00e7os nos principais mercados europeus, como a Fran\u00e7a. Os agricultores belgas tamb\u00e9m protestaram contra o acordo comercial.A Pol\u00f3nia, um pa\u00eds com uma modesta exporta\u00e7\u00e3o de 500 milh\u00f5es de euros para o Mercosul, tamb\u00e9m deu sinais de descontentamento com o acordo de com\u00e9rcio livre previsto.\u0022O Minist\u00e9rio da Agricultura tem s\u00e9rias reservas quanto ao resultado das negocia\u00e7\u00f5es da Comiss\u00e3o Europeia com os pa\u00edses do Mercosul\u0022, refere o comunicado do Minist\u00e9rio.Ao analisar o impacto econ\u00f3mico cumulativo de 10 futuros acordos comerciais na agricultura da UE, a Comiss\u00e3o Europeia n\u00e3o negou a vulnerabilidade dos setores da carne de bovino, da carne de ovino, da carne de aves de capoeira, do a\u00e7\u00facar e do arroz, mas sublinhou tamb\u00e9m que os ACL t\u00eam potencial para beneficiar o sector agroalimentar da UE, especialmente os sectores dos lactic\u00ednios, da carne de su\u00edno, dos alimentos transformados e das bebidas.E se a Europa n\u00e3o conseguir chegar a um acordo?Pa\u00edses como Fran\u00e7a podem n\u00e3o ter poder de veto se uma maioria qualificada de, pelo menos, 15 Estados-membros aprovar o acordo. Nesse caso, o documento ter\u00e1 de ser ratificado pelo Parlamento Europeu.H\u00e1 tamb\u00e9m uma press\u00e3o crescente sobre a Comiss\u00e3o Europeia para concluir as negocia\u00e7\u00f5es, devido \u00e0s preocupa\u00e7\u00f5es crescentes de que os parceiros do Mercosul possam ser cada vez mais favor\u00e1veis ao abandono do acordo com a UE e se concentrem noutros acordos comerciais com pa\u00edses asi\u00e1ticos, em particular com a China.O bloco comercial sul-americano assinou um acordo comercial crucial no ano ado com Singapura e est\u00e1 a procurar ativamente acordos com a Coreia do Sul e o Jap\u00e3o, para aumentar as exporta\u00e7\u00f5es de produtos alimentares para a \u00c1sia.Os peritos afirmam que o principal interesse da Europa, neste momento, \u00e9 diversificar as suas rela\u00e7\u00f5es comerciais e reduzir a depend\u00eancia da China e dos EUA.", "dateCreated": "2024-11-19T03:51:47+01:00", "dateModified": "2024-11-19T14:52:57+01:00", "datePublished": "2024-11-19T14:52:57+01:00", "image": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2Fstories%2F08%2F85%2F97%2F26%2F1440x810_cmsv2_97abcb1b-95fe-5633-97cd-61d7b0c3fa38-8859726.jpg", "width": "1440px", "height": "810px", "caption": "O Chanceler alem\u00e3o Olaf Scholz, \u00e0 esquerda, e o Presidente franc\u00eas Emmanuel Macron ", "thumbnail": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2Fstories%2F08%2F85%2F97%2F26%2F432x243_cmsv2_97abcb1b-95fe-5633-97cd-61d7b0c3fa38-8859726.jpg", "publisher": { "@type": "Organization", "name": "euronews", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png" } }, "author": { "@type": "Person", "name": "Doloresz Katanich", "sameAs": "https://twitter.com/doloreskatanich" }, "publisher": { "@type": "Organization", "name": "Euronews", "legalName": "Euronews", "url": "/", "logo": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png", "width": "403px", "height": "60px" }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] }, "articleSection": [ "Economia" ], "isAccessibleForFree": "False", "hasPart": { "@type": "WebPageElement", "isAccessibleForFree": "False", "cssSelector": ".poool-content" } }, { "@type": "WebSite", "name": "Euronews.com", "url": "/", "potentialAction": { "@type": "SearchAction", "target": "/search?query={search_term_string}", "query-input": "required name=search_term_string" }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] } ] }
PUBLICIDADE

Acordo comercial UE-Mercosul: quem ganha e quem perde na Europa

O Chanceler alemão Olaf Scholz, à esquerda, e o Presidente francês Emmanuel Macron
O Chanceler alemão Olaf Scholz, à esquerda, e o Presidente francês Emmanuel Macron Direitos de autor AP Photo
Direitos de autor AP Photo
De Doloresz Katanich
Publicado a
Partilhe esta notíciaComentários
Partilhe esta notíciaClose Button

Os Estados-membros europeus estão a enfrentar vantagens e desvantagens à medida que se aproxima a conclusão do acordo estrategicamente importante.

PUBLICIDADE

Após 25 anos de negociações, o acordo de comércio livre (ACL) UE-Mercosul continua a não ter o apoio unânime dos Estados-membros, uma vez que os receios quanto ao futuro do setor agrícola colidem com as necessidades estratégicas do bloco.

A 28 de junho de 2019, foi alcançado um acordo político para abrir o comércio entre os 27 Estados-membros da UE e os quatro membros fundadores do bloco sul-americano, Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. (A Bolívia aderiu ao Mercado Comum do Sul, vulgarmente conhecido pela sua abreviatura espanhola como Mercosul, em 2024, pelo que não participou nas negociações anteriores).

O acordo visa estabelecer uma das maiores zonas de comércio livre do mundo, abrangendo 750 milhões de pessoas e cerca de um quinto da economia mundial.

No entanto, para a Europa, não são os ganhos económicos que tornam o acordo mais atraente, mas sim o seu significado estratégico numa época em que o bloco enfrenta disputas comerciais com os seus dois maiores parceiros comerciais, os EUA e a China.

"Penso que uma das principais preocupações é que muitos dos países sul-americanos estão a desenvolver laços mais estreitos e a aprofundar as relações comerciais com a China, numa altura em que a UE quer diversificar as suas relações com a China", disse s Li, analista da Economist Intelligence Unit, à Euronews Business.

"É um momento crítico. E com as potenciais tarifas americanas a entrarem em vigor já no próximo ano, penso que existe uma pressão acrescida para que a UE tente um acordo".

O comércio entre os dois blocos não é muito significativo.

De acordo com os dados da Comissão Europeia, em 2023, as exportações da UE para os quatro países do Mercosul ascenderam a 55,7 mil milhões de euros (a exportação para os EUA no mesmo ano foi nove vezes superior, com 502 mil milhões de euros), enquanto as exportações do Mercosul para a UE totalizaram 53,7 mil milhões de euros.

Quais são os produtos mais importantes importados do Mercosul para a UE?

Em 2023, a maior parte das exportações do Mercosul para a UE foram alimentos e animais vivos (32,4 % do total das exportações) e produtos minerais (29,6 %).

A abertura de rotas comerciais com os países do Mercosul dá à UE a possibilidade de diversificar as suas fontes de minerais críticos essenciais necessários para a construção de baterias e painéis solares e para a recolha de energia eólica e hidrogénio verde - para acelerar a transição ecológica.

O Mercosul dispõe de importantes recursos minerais críticos, como o lítio (essencial para as baterias recarregáveis), a grafite, o níquel, o manganês e os elementos de terras raras.

Atualmente, o bloco precisa de se abastecer de grande parte destes minerais na China, mas os litígios comerciais, como o que se prende com as tarifas aplicadas às importações chinesas de veículos elétricos, podem também ensombrar estas relações comerciais.

Entretanto, os países do Mercosul surgem como atores cruciais na garantia do abastecimento alimentar da Europa. A região contribui com cerca de um quarto das exportações mundiais de produtos agrícolas e da pesca.

Por outro lado, os produtos alimentares sul-americanos, em especial a carne de bovino e de aves de capoeira, constituem uma preocupação especial para o setor agrícola europeu, que receia uma concorrência desleal e invoca preocupações ambientais, sendo os agricultores ses os mais ruidosos, apoiados pelo seu governo.

Que países poderão beneficiar mais com o acordo comercial?

O acordo de comércio livre é visto como benéfico para setores como a indústria automóvel e a maquinaria, mas desfavorável para o setor agrícola, dividindo assim os países de acordo com os seus principais interesses.

O acordo de comércio livre visa eliminar os direitos aduaneiros sobre 100% de todos os produtos industriais importados pela UE do bloco sul-americano. Entretanto, o Mercosul eliminaria os direitos aduaneiros sobre 90% dos produtos industriais importados da UE, incluindo automóveis, maquinaria, equipamento informático, têxteis, chocolate, bebidas espirituosas e vinho.

"Os direitos aduaneiros sobre os automóveis e as peças de automóveis para o Mercosul são atualmente de 35%, o que é muito elevado. As máquinas rondam os 14%-20% e os produtos químicos os 18%", afirmou Li. "É por isso que países como a Alemanha ficarão muito satisfeitos com a redução de alguns desses direitos aduaneiros".

Numa altura em que o país atravessa uma das suas piores crises, o chanceler alemão Olaf Scholz apelou repetidamente à conclusão do acordo, afirmando que: "O acordo do Mercosul é inovador para diversificar e reforçar a resiliência da nossa economia".

O acordo reforçará certamente a indústria automóvel alemã, que se encontra em dificuldades, incluindo a Volkswagen, a BMW e a Mercedes-Benz, bem como a indústria química alemã, com empresas como a Bayer.

De acordo com os dados da Comissão Europeia, as exportações alemãs para o Mercosul ascendem a 15,4 mil milhões de euros por ano, provenientes de 12 000 empresas alemãs e assegurando 244 000 postos de trabalho na maior economia da Europa.

A Espanha, a quarta maior economia do bloco, também parece ser uma das vencedoras, com fortes exportações no setor da indústria transformadora do país, bem como nas indústrias química e farmacêutica.

De acordo com um estudo encomendado pela secretaria de Estado do Comércio do país, as exportações de Espanha para o Mercosul crescerão 37% quando o acordo tiver produzido os seus efeitos, aumentando o PIB em 0,23% e criando mais de 22 000 postos de trabalho.

Os apoiantes do acordo de comércio livre afirmam que o acordo vai muito além da redução dos direitos aduaneiros, permitindo o o das empresas europeias aos contratos públicos nestes países sul-americanos, apoiando os investimentos e abrindo as portas aos prestadores de serviços europeus.

Que países se opõem ao acordo comercial?

A França opõe-se firmemente ao acordo comercial, que permitiria aos países do Mercosul exportar mais 99 000 toneladas de carne de bovino para a UE com um direito de 7,5%, para além das 200 000 toneladas atualmente importadas.

Para contextualizar, esta quantidade, após cinco anos de introdução progressiva, representaria 1,2% do consumo total de carne de bovino da UE, que é de 8 milhões de toneladas por ano", lê-se no relatório da Comissão Europeia intitulado "O pilar comercial do Acordo de Associação UE-Mercosul".

O acordo prevê a isenção de direitos aduaneiros para mais 180 000 toneladas de aves de capoeira, 45 000 toneladas de mel, 60 000 toneladas de arroz e 180 000 toneladas de açúcar.

Os agricultores europeus estão muito preocupados com as importações de carne de bovino, aves de capoeira e açúcar que, segundo eles, criam uma concorrência desleal, uma vez que os agricultores do bloco am custos mais elevados devido à necessidade de respeitar as rigorosas normas europeias em matéria de segurança alimentar, bem-estar animal e ambiente e pagam salários mais elevados do que os dos agricultores sul-americanos.

A UE é também acusada de fechar os olhos à degradação ambiental no Brasil, onde a produção de carne de bovino se tornou um importante fator de desflorestação tropical devido aos esforços para obter pastagens.

A ministra sa da Agricultura, Annie Genevard, opôs-se publicamente ao acordo comercial UE-Mercosul, invocando os riscos de desflorestação e os problemas de saúde ligados à carne tratada com hormonas.

A associação de agricultores europeus, Copa Cogeca, também manifestou preocupações semelhantes, dada a falta de rastreabilidade do gado e a utilização de hormonas, promotores de crescimento e pesticidas nestes países, que são ilegais na UE.

O presidente francês, Emmanuel Macron, apelou a alterações no acordo para proteger os agricultores europeus, de modo a garantir que os produtos agrícolas importados cumprem as mesmas normas que os produzidos na UE.

A Comissão afirma que todos os acordos devem estar em conformidade com as normas sociais e ambientais da UE e que o acordo UE-Mercosul renova os compromissos das partes no Acordo de Paris, com um mecanismo de controlo.

Mesmo assim, Macron foi firme na atual reunião do G20 na Argentina, afirmando que França "não á o projeto de acordo com o Mercosul tal como está".

Itália manifesta as suas reservas

A Itália também está a emergir do lado da oposição, apesar de a sua forte indústria automóvel e de engenharia, a indústria da moda e os alimentos regionais, incluindo o queijo parmesão, poderem fazer com que o país beneficie do acordo de comércio livre.

"O tratado UE-Mercosul, na sua forma atual, não é aceitável", afirmou o ministro italiano da Agricultura num comunicado de imprensa, citado pelo Brussels Times. Na segunda-feira, sco Lollobrigida exigiu que os agricultores do Mercosul fossem sujeitos às mesmas "obrigações" que os seus pares da UE.

A Irlanda, o quinto maior exportador de carne de bovino do mundo, também está seriamente preocupada com o acordo, temendo que a concorrência reduza para metade os preços nos principais mercados europeus, como a França. Os agricultores belgas também protestaram contra o acordo comercial.

A Polónia, um país com uma modesta exportação de 500 milhões de euros para o Mercosul, também deu sinais de descontentamento com o acordo de comércio livre previsto.

"O Ministério da Agricultura tem sérias reservas quanto ao resultado das negociações da Comissão Europeia com os países do Mercosul", refere o comunicado do Ministério.

Ao analisar o impacto económico cumulativo de 10 futuros acordos comerciais na agricultura da UE, a Comissão Europeia não negou a vulnerabilidade dos setores da carne de bovino, da carne de ovino, da carne de aves de capoeira, do açúcar e do arroz, mas sublinhou também que os ACL têm potencial para beneficiar o sector agroalimentar da UE, especialmente os sectores dos lacticínios, da carne de suíno, dos alimentos transformados e das bebidas.

E se a Europa não conseguir chegar a um acordo?

Países como França podem não ter poder de veto se uma maioria qualificada de, pelo menos, 15 Estados-membros aprovar o acordo. Nesse caso, o documento terá de ser ratificado pelo Parlamento Europeu.

Há também uma pressão crescente sobre a Comissão Europeia para concluir as negociações, devido às preocupações crescentes de que os parceiros do Mercosul possam ser cada vez mais favoráveis ao abandono do acordo com a UE e se concentrem noutros acordos comerciais com países asiáticos, em particular com a China.

O bloco comercial sul-americano assinou um acordo comercial crucial no ano ado com Singapura e está a procurar ativamente acordos com a Coreia do Sul e o Japão, para aumentar as exportações de produtos alimentares para a Ásia.

Os peritos afirmam que o principal interesse da Europa, neste momento, é diversificar as suas relações comerciais e reduzir a dependência da China e dos EUA.

Ir para os atalhos de ibilidade
Partilhe esta notíciaComentários

Notícias relacionadas

Agricultores ses mobilizam-se para protestar contra o acordo comercial UE-Mercosul

Agricultores dizem não ao acordo comercial com o Mercosul

Economia da China abranda em abril por causa de guerra comercial