A mulher que acusou o Príncipe André da Grã-Bretanha e outros homens influentes de a terem explorado sexualmente quando era adolescente e foi, alegadamente, traficada pelo magnata Jeffrey Epstein suicidou-se aos 41 anos.
Virginia Giuffre, que se tornou conhecida por acusar o Príncipe André do Reino Unido de abuso sexual quando era menor, suicidou-se na sua quinta na Austrália Ocidental esta sexta-feira, confirmou a sua assessora. A morte de Giuffre surge menos de um mês após um enigmático post no Instagram em que refere que tinha sofrido um acidente de viação e, como consequência, tinha sofrido danos irreversíveis nos rins e tinha apenas quatro dias de vida.
Mais tarde, soube-se que do acidente não tinham resultado quaisquer feridos e que Giuffre estava de facto hospitalizada, mas sem correr perigo de vida. Os hematomas que apresentava na fotografia nunca foram explicados.
"Profundamente amorosa, sábia e divertida, era um farol para outros sobreviventes e vítimas", disse a assessora Dini von Mueffling num comunicado.
"Ela adorava os filhos e os animais. Estava sempre mais preocupada comigo do que com ela própria. Sentirei imensamente a sua falta. Foi o privilégio de uma vida inteira representá-la".
Giuffre, nascida nos Estados Unidos, viveu na Austrália os últimos anos e tornou-se defensora dos sobreviventes do tráfico sexual depois de emergir como figura central no processo do magnata Jeffrey Epstein, acusado de tráfico sexual de menores.
O rico e bem relacionado gestor financeiro de Nova Iorque suicidou-se em agosto de 2019 enquanto aguardava julgamento por acusações federais de tráfico sexual nos EUA envolvendo dezenas de adolescentes e mulheres jovens, algumas com apenas 14 anos.
As acusações surgiram 14 anos depois de a polícia de Palm Beach, na Florida, ter começado a investigar alegações de que ele abusava sexualmente de raparigas menores de idade que eram contratadas para lhe darem massagens.
Giuffre veio a público depois de a investigação inicial ter terminado com uma pena de prisão de 18 meses na Flórida para Epstein, que fez um acordo secreto para evitar um processo federal, declarando-se culpado de acusações relativamente menores de solicitação de prostituição. Foi libertado em 2009.
Em acções judiciais subsequentes, Giuffre afirmou que era uma adolescente empregada do spa de Mar-a-Lago - o clube de Palm Beach do Presidente dos EUA, Donald Trump - quando foi abordada em 2000 pela namorada e mais tarde empregada de Epstein, Ghislaine Maxwell.
Giuffre disse que Maxwell a contratou como massagista de Epstein, mas o casal transformou-a efetivamente numa criada sexual, pressionando-a a satisfazer não só Epstein mas também os seus amigos e associados.
Giuffre foi levada de avião por todo o mundo para encontros com homens, incluindo o Príncipe André, quando tinha apenas 17 e 18 anos.
Os homens negaram o facto e atacaram a credibilidade de Giuffre, que reconheceu ter alterado alguns pormenores importantes do seu relato, incluindo a idade em que conheceu Epstein.
No entanto, várias partes da história foram apoiadas por documentos, depoimentos de testemunhas e fotografias - incluindo uma dela e de Andrew, com o braço dele à volta do seu ventre nu, na casa de Maxwell em Londres.
Giuffre disse num dos processos que teve relações sexuais com o membro da família real britânica três vezes: em Londres durante uma viagem em 2001, na mansão de Epstein em Nova Iorque quando ela tinha 17 anos e nas Ilhas Virgens quando ela tinha 18 anos.
O suicídio de Epstein em 2019 pôs fim às esperanças de o responsabilizar criminalmente. Giuffre fundou uma instituição de solidariedade e defesa, SOAR, em 2015.
Sigrid McCawley, advogada de Giuffre, disse em num comunicado esta sexta-feira: "A coragem dela levou-me a lutar mais e a sua força era inspiradora. O mundo perdeu hoje um ser humano incrível. Descansa em paz, meu doce anjo".