{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/2023/06/12/vera-jourova-sobre-o-combate-a-corrupcao-e-os-novos-pacotes-legislativos" }, "headline": "V\u011bra Jourov\u00e1 sobre o combate \u00e0 corrup\u00e7\u00e3o e os novos pacotes legislativos", "description": "Como vai funcionar o novo organismo de \u00e9tica da UE? Como os 27 se preparam para desafios como o da intelig\u00eancia artificial? A vice-presidente da Comiss\u00e3o Europeia para os Valores e Transpar\u00eancia responde a isso e muito mais em The Global Conversation.", "articleBody": "O esc\u00e2ndalo de corrup\u00e7\u00e3o no Parlamento Europeu abalou a confian\u00e7a na Uni\u00e3o Europeia . Agora, as institui\u00e7\u00f5es est\u00e3o a fazer novos esfor\u00e7os para aumentar a transpar\u00eancia e a sua pr\u00f3pria credibilidade. Neste Global Conversation , falamos sobre este assunto com V\u011bra Jourov\u00e1, \u00a0vice-presidente da Comiss\u00e3o Europeia para os Valores e a Transpar\u00eancia. aram seis meses desde o maior esc\u00e2ndalo de corrup\u00e7\u00e3o da hist\u00f3ria da Uni\u00e3o Europeia. De acordo com as \u00faltimas sondagens, a maioria dos europeus, na verdade 60%, est\u00e1 descontente com a forma como a UE est\u00e1 a lidar com a corrup\u00e7\u00e3o. Est\u00e1 surpreendida? N\u00e3o me surpreende mas, ao mesmo tempo, d\u00e1-me outro impulso para fazer algo a esse respeito. N\u00e3o importa onde o esc\u00e2ndalo apareceu. Foi numa das institui\u00e7\u00f5es e \u00e9, provavelmente, mais o fracasso de pessoas individuais do que do sistema. Mas o que \u00e9 que os cidad\u00e3os podem pensar? Os pol\u00edticos bem pagos t\u00eam privil\u00e9gios imerecidos. N\u00e3o sabemos quais s\u00e3o as normas e se existe alguma \u00e9tica. S\u00e3o demasiadas perguntas e poucas respostas. Foi por isso que cri\u00e1mos o pacote anticorrup\u00e7\u00e3o , que tamb\u00e9m abrange as institui\u00e7\u00f5es da UE. E hoje apresentei o primeiro organismo europeu de \u00e9tica de sempre, que abranger\u00e1 todas as principais institui\u00e7\u00f5es da UE. Vamos falar sobre este novo organismo de \u00e9tica, porque ele ir\u00e1 estabelecer normas futuras para todas as institui\u00e7\u00f5es da UE. Mas as ONG e os deputados ao Parlamento Europeu exigem que o controlo n\u00e3o esteja ligado \u00e0 Uni\u00e3o Europeia, mas que seja independente. Porque \u00e9 que isso n\u00e3o est\u00e1 a acontecer? O organismo de \u00e9tica est\u00e1 a preencher a lacuna porque, imaginemos, cada uma das institui\u00e7\u00f5es tem uma estrutura interna que deve fazer o trabalho. O organismo de \u00e9tica n\u00e3o deve substituir estas disposi\u00e7\u00f5es institucionais. H\u00e1 pessoas que devem investigar as infra\u00e7\u00f5es disciplinares e sancionar esses casos. Assim, o organismo de \u00e9tica preencher\u00e1 as lacunas, o teto sobre todas as institui\u00e7\u00f5es, e o trabalho sobre as normas unificadas refletir-se-\u00e1 no trabalho de cada institui\u00e7\u00e3o. Quanto ao porqu\u00ea de n\u00e3o ser independente, penso que \u00e9 importante que o organismo de \u00e9tica seja composto por pessoas que conhe\u00e7am o trabalho e o papel de cada institui\u00e7\u00e3o. \u00c9 por isso que propus algo que ser\u00e1 muito pr\u00e1tico. Haver\u00e1 dez pessoas sentadas \u00e0 volta da mesa. Refiro-me ao n\u00edvel pol\u00edtico, aos vice-presidentes de cada institui\u00e7\u00e3o ou a qualquer outro funcion\u00e1rio de alto n\u00edvel. E haver\u00e1 cinco peritos independentes convidados a trabalhar em conjunto com os representantes das institui\u00e7\u00f5es. Quero que o organismo de \u00e9tica seja significativo, pr\u00e1tico e transparente, para que as normas que o organismo de \u00e9tica acordar sejam do conhecimento do p\u00fablico. Relativamente \u00e0 sua primeira pergunta e ao que as pessoas podem pensar de n\u00f3s, penso que devem conhecer as regras relativas \u00e0s viagens, aos presentes, \u00e0s declara\u00e7\u00f5es de patrim\u00f3nio e ao que os pol\u00edticos fazem depois do mandato. Penso que as pessoas t\u00eam o direito de ver normas claras. Por exemplo, estas novas normas impedir\u00e3o que, no futuro, o diretor-geral da Comiss\u00e3o Europeia aceite voos gratuitos e quartos de hotel gratuitos pagos por atores estrangeiros como o Qatar. Honestamente, n\u00e3o percebo como \u00e9 que isto pode estar a acontecer, porque ou estou numa viagem de neg\u00f3cios e ent\u00e3o tem de ter o aval da institui\u00e7\u00e3o e ser paga pela institui\u00e7\u00e3o para a qual trabalho, ou se trata de uma viagem privada e, nesse caso, sou eu que a pago. N\u00e3o vejo espa\u00e7o para mais nada. Penso que \u00e9 exatamente isso que o \u00f3rg\u00e3o de \u00e9tica deve esclarecer e que devemos concordar com isso. Agora, nove institui\u00e7\u00f5es t\u00eam de chegar a um consenso sobre as futuras regras de \u00e9tica. Acha que ser\u00e3o suficientemente fortes? O que espera em termos de conte\u00fado? Pode dar-nos alguns exemplos? Ter\u00e3o de ser mais elevadas do que s\u00e3o atualmente. Estou convencida disso. Olhando para estas dez institui\u00e7\u00f5es - contamos tamb\u00e9m com o Banco Europeu de Investimento, por isso somos 10 (e n\u00e3o nove) - \u00e9 claro que depende de todas aderirem e tornarem-se parceiras neste projeto, mas espero que sim. Estabeleceremos padr\u00f5es elevados para o que referi, para as declara\u00e7\u00f5es de bens, para as ofertas, para as viagens, para as atividades p\u00f3s-mandato. Pode acontecer que o organismo de \u00e9tica estabele\u00e7a normas mais baixas nalgumas institui\u00e7\u00f5es. O Banco Central Europeu e o Banco Europeu de Investimento t\u00eam de estar inclu\u00eddos. Existem regras muito rigorosas para os membros dos organismos no que diz respeito \u00e0s declara\u00e7\u00f5es de patrim\u00f3nio. Acha que os 700 eurodeputados tamb\u00e9m est\u00e3o na linha de frente para fortalecer as normas? Se perguntar a todos eles, dir-lhe-\u00e3o que sim. Falei com muitos membros do Parlamento. \u00c9 claro que o Parlamento \u00e9 uma institui\u00e7\u00e3o especial: h\u00e1 pessoas diretamente eleitas. H\u00e1 sempre uma discuss\u00e3o sobre a liberdade do mandato ou sobre as suas imunidades. \u00c9 muito justo que se discutam todas estas quest\u00f5es. Mas, ao mesmo tempo, deve haver padr\u00f5es suficientemente elevados de igualdade para todos no Parlamento. As opini\u00f5es dos diferentes clubes pol\u00edticos s\u00e3o bastante diferentes e estou disposta a discutir com todos. E quanto \u00e0s investiga\u00e7\u00f5es e san\u00e7\u00f5es relativas a estas regras \u00e9ticas? T\u00eam de permanecer nas institui\u00e7\u00f5es, que t\u00eam uma base jur\u00eddica s\u00f3lida para o fazer. Sei que parece demasiado legalista, mas tenho de recordar que este organismo de \u00e9tica ser\u00e1 criado com base num acordo, n\u00e3o est\u00e1 previsto no tratado e n\u00e3o ser\u00e1 criado com base na lei. Quando se trabalha para um organismo criado por lei, est\u00e1-se autorizado a consultar documentos privados e diferentes tipos de materiais. Est\u00e1 autorizado a inquirir as pessoas e a sancion\u00e1-las. Isso requer, de facto, a mais forte autoriza\u00e7\u00e3o legal poss\u00edvel. Isso, este \u00f3rg\u00e3o de \u00e9tica n\u00e3o ter\u00e1. Estamos a um ano das pr\u00f3ximas elei\u00e7\u00f5es para o Parlamento Europeu. Tem receio de que atores estrangeiros tentem influenciar a campanha e possam mesmo fazer descarrilar a campanha antes das elei\u00e7\u00f5es parlamentares, por exemplo, com campanhas de not\u00edcias falsas ou de desinforma\u00e7\u00e3o? Acredito que n\u00e3o v\u00e3o ganhar porque fazemos tudo para proteger as elei\u00e7\u00f5es contra a manipula\u00e7\u00e3o oculta e contra diferentes tipos de interfer\u00eancia. Mas, com certeza, haver\u00e1 uma forte influ\u00eancia e uma grande press\u00e3o de diferentes atores hostis para interferir nos processos eleitorais. \u00c9 por isso que j\u00e1 estamos a alertar os Estados-membros, que t\u00eam a obriga\u00e7\u00e3o de organizar as elei\u00e7\u00f5es, para que, de alguma forma, fortifiquem os sistemas tamb\u00e9m contra ataques cibern\u00e9ticos e contra campanhas coordenadas que utilizem a desinforma\u00e7\u00e3o. Para combater a influ\u00eancia estrangeira, a Comiss\u00e3o Europeia tamb\u00e9m est\u00e1 a propor um novo pacote chamado Defesa da Democracia . Mas as ONG protestaram contra esta legisla\u00e7\u00e3o, afirmando que \u00e9 muito semelhante \u00e0 lei russa sobre os agentes estrangeiros. Depois destas cr\u00edticas, tenciona alterar esta legisla\u00e7\u00e3o para satisfazer as ONG? A cr\u00edtica baseou-se na falta de informa\u00e7\u00e3o sobre o que planeamos, e eu n\u00e3o critico ningu\u00e9m. Penso que cabe-nos principalmente a n\u00f3s informar todos os que possam sentir-se afetados pelo nosso plano. O plano \u00e9 um elevado n\u00edvel de transpar\u00eancia sobre os fluxos financeiros para a Europa. Penso que est\u00e1 longe da lei georgiana ou mesmo da lei americana ou australiana, que \u00e9 de justi\u00e7a criminal. N\u00e3o h\u00e1 rotulagem, n\u00e3o h\u00e1 agentes estrangeiros, n\u00e3o h\u00e1 estigmatiza\u00e7\u00e3o. Queremos at\u00e9 incorporar na lei a salvaguarda contra poss\u00edveis abusos por parte de alguns Estados-membros: n\u00e3o ir al\u00e9m dos pedidos ou requisitos da lei. itimos que precisamos de mais tempo para duas coisas: Para as consultas intensas com todos os que levantaram a voz e manifestaram preocupa\u00e7\u00f5es, especialmente as ONG. Mas tamb\u00e9m ouvimos muitas interroga\u00e7\u00f5es vindas dos gabinetes oficiais dos Estados-membros. Vou aproveitar este ver\u00e3o para fazer consultas com base num texto j\u00e1 muito preciso, para sabermos do que estamos a falar. A segunda coisa que temos de fazer \u00e9 tentar recolher dados que nos deem mais certezas sobre a dimens\u00e3o do problema. A recolha desses dados n\u00e3o \u00e9 f\u00e1cil, porque est\u00e3o principalmente na posse dos servi\u00e7os secretos e das ag\u00eancias de seguran\u00e7a dos Estados-membros. Por isso, estamos agora a explorar a forma de obter dados fi\u00e1veis. Vamos fazer algumas coisas durante o ver\u00e3o e depois, no outono, voltaremos ao assunto. Porque estou convencida de que precisamos de uma lei deste g\u00e9nero. Caso contr\u00e1rio, seremos o \u00fanico espa\u00e7o democr\u00e1tico que n\u00e3o disp\u00f5e de uma lei que, pelo menos, pretende aumentar a transpar\u00eancia e dar-nos a possibilidade de saber quem \u00e9 pago pelos governos de pa\u00edses terceiros. Esta \u00e9 a \u00faltima coisa que quero dizer sobre a mat\u00e9ria de fundo, porque tamb\u00e9m h\u00e1 cr\u00edticas em rela\u00e7\u00e3o ao dinheiro que vem do estrangeiro. O que est\u00e1 em causa \u00e9 o dinheiro pago pelos governos de pa\u00edses terceiros e por organiza\u00e7\u00f5es estatais. Acha que as plataformas de redes sociais, as grandes plataformas de redes sociais, est\u00e3o a fazer o suficiente para combater a desinforma\u00e7\u00e3o, uma vez que o atual sistema europeu funciona na base do voluntariado e o Twitter est\u00e1 a abandonar esse sistema? Em breve teremos a Lei dos Servi\u00e7os Digitais em vigor. Ser\u00e1 uma legisla\u00e7\u00e3o juridicamente vinculativa e pesada que procura aumentar a responsabilidade das plataformas. Trata-se de uma rea\u00e7\u00e3o a algo que vimos evoluir ao longo dos anos e que nos diz que as plataformas est\u00e3o a concentrar demasiado poder e est\u00e3o relutantes em assumir responsabilidades relevantes. Antes disso, e paralelamente, temos o C\u00f3digo de Pr\u00e1ticas contra a Desinforma\u00e7\u00e3o , que \u00e9, de facto, um acordo volunt\u00e1rio. Neste momento, temos 44 signat\u00e1rios. Temos todas as grandes plataformas, exceto o Twitter. Podemos fazer muito com este c\u00f3digo, mas \u00e9 claro que ainda tem algumas lacunas. O que pretendo alterar \u00e9, em primeiro lugar, abordar a desinforma\u00e7\u00e3o pr\u00f3-R\u00fassia e pr\u00f3-Kremlin, porque se trata de um caso claro. A palavra \u0022propaganda\u0022 tem de ser eliminada, porque estamos numa guerra de informa\u00e7\u00e3o e pelo que n\u00e3o deve haver concess\u00f5es . Em segundo lugar, queremos que as plataformas sejam consistentemente moderadas e invistam na verifica\u00e7\u00e3o de factos. Isso n\u00e3o pode ser feito apenas em ingl\u00eas ou alem\u00e3o. Tem de ser feito em todas as l\u00ednguas dos Estados-membros. O mais complicado \u00e9 que quanto mais nos deslocamos para o leste da Europa, maior \u00e9 a press\u00e3o da propaganda russa. Por isso, queremos que invistam na verifica\u00e7\u00e3o de factos nesses pa\u00edses. Vemos uma grande influ\u00eancia da propaganda russa na Eslov\u00e1quia e na opini\u00e3o p\u00fablica b\u00falgara. Vemos press\u00f5es crescentes sobre as comunidades alem\u00e3s, em especial, recorrendo a alguns representantes internos. Isto \u00e9 algo novo, quando a propaganda russa est\u00e1 a ser assumida pelos partidos extremistas da UE. Trata-se de uma nova e perigosa fase. Por isso, mais modera\u00e7\u00e3o. A terceira coisa que pretendemos das plataformas \u00e9 permitir que os investigadores tenham um melhor o aos dados. N\u00f3s precisamos dos investigadores para analisar a situa\u00e7\u00e3o. Quando digo \u0022n\u00f3s\u0022, quero dizer n\u00f3s, os legisladores, porque gostaria que a Internet e as redes sociais continuassem a ser uma zona livre para a liberdade de express\u00e3o. Por isso, a minha preocupa\u00e7\u00e3o \u00e9 n\u00e3o exagerar com as regras que estamos a adotar, mas apresentar medidas proporcionais e necess\u00e1rias. Precisamos de saber o que est\u00e1 a acontecer e os investigadores devem ajudar-nos com um tipo de an\u00e1lise s\u00e9ria. A quarta coisa, e esta \u00e9 uma nova agenda, pedi na segunda-feira \u00e0s plataformas que considerassem o novo desenvolvimento da intelig\u00eancia artificial generativa. Tamb\u00e9m aqui, o c\u00f3digo pode ser um ve\u00edculo r\u00e1pido, uma resposta r\u00e1pida. Essa \u00e9 a pr\u00f3xima pergunta, porque o ChatGPT est\u00e1 a levantar preocupa\u00e7\u00f5es sobre not\u00edcias falsas e personaliza\u00e7\u00e3o. Muitas pessoas est\u00e3o preocupadas com a dissemina\u00e7\u00e3o da intelig\u00eancia artificial. Teme que no futuro a linha entre a realidade e a fic\u00e7\u00e3o desapare\u00e7a? N\u00e3o, mas s\u00f3 no caso de as pr\u00f3prias pessoas, aquelas que leem os textos e veem as imagens, serem capazes de ver que aquela coisa concreta \u00e9 produzida por intelig\u00eancia artificial. Temos de ser teimosos nisso. Temos de insistir que a produ\u00e7\u00e3o de intelig\u00eancia artificial esteja a ser feita corretamente e de uma forma clara e compreens\u00edvel. Vou dar um exemplo: Vejamos o sistema de verifica\u00e7\u00e3o de factos que queremos que esteja a funcionar nos Estados-membros. Quando a pe\u00e7a de desinforma\u00e7\u00e3o \u00e9 rotulada e os factos s\u00e3o acrescentados, vemos uma grande mudan\u00e7a no comportamento do utilizador. Na maioria dos casos, essa desinforma\u00e7\u00e3o n\u00e3o \u00e9 enviada para mais lado nenhum. As pessoas refletem sobre o assunto.\u00a0 Por isso, creio que a mesma l\u00f3gica funcionar\u00e1 quando as pessoas virem que se trata de uma produ\u00e7\u00e3o de um robot. Podemos levar a s\u00e9rio, podemos n\u00e3o levar, mas gostaria de dizer que estamos num momento cr\u00edtico da hist\u00f3ria e temos de defender as pessoas reais. Como faz\u00ea-lo? N\u00e3o dar aos robots a liberdade de express\u00e3o, n\u00e3o dar aos robots a automaticidade no alcance e n\u00e3o proteger a produ\u00e7\u00e3o dos robots atrav\u00e9s de direitos de autor. Penso que estes s\u00e3o princ\u00edpios muito simples, sempre baseados no mantra de que temos de proteger os direitos existentes das pessoas reais. Quando olhamos para as batalhas em torno do Estado de direito na Uni\u00e3o Europeia com a Pol\u00f3nia e a Hungria, a Uni\u00e3o Europeia est\u00e1 a utilizar ferramentas relativamente novas atrav\u00e9s da Comiss\u00e3o, especialmente no caso da Hungria: A suspens\u00e3o dos pagamentos da UE. Acha que isso vai aproximar os resultados? Vemos na Hungria que a condicionalidade e o congelamento do financiamento trazem resultados, ap\u00f3s muitos anos de estabiliza\u00e7\u00e3o de uma situa\u00e7\u00e3o que n\u00e3o quer\u00edamos ver do ponto de vista do Estado de direito. Agora, vemos que na Hungria est\u00e1 a decorrer uma reforma do sistema judicial e que foram tomadas muitas medidas para aumentar a prote\u00e7\u00e3o do financiamento da UE. Os profissionais h\u00fangaros e os funcion\u00e1rios est\u00e3o a fazer o seu melhor para nos convencer de que tudo ser\u00e1 posto em ordem na Hungria. \u00c9 claro que gostar\u00edamos de ver uma a\u00e7\u00e3o mais ampla. Mas, de momento, devo dizer que a press\u00e3o financeira \u00e9 talvez mais bem-sucedida do que algumas medidas jur\u00eddicas. Mas temos de fazer tudo, tamb\u00e9m recorrendo \u00e0s infra\u00e7\u00f5es e ao artigo s\u00e9timo. Falando de infra\u00e7\u00e3o: A Comiss\u00e3o Europeia acabou de lan\u00e7ar um procedimento por infra\u00e7\u00e3o contra a Pol\u00f3nia porque est\u00e1 a propor uma nova lei que, na verdade, \u00e9 contra a press\u00e3o estrangeira para exercer influ\u00eancia, mas muitas ONG e a oposi\u00e7\u00e3o receiam que esta lei possa ser utilizada como uma arma pol\u00edtica contra eles. Como \u00e9 que v\u00ea esta quest\u00e3o? Reagimos a esta lei atrav\u00e9s de uma rea\u00e7\u00e3o r\u00e1pida sem precedentes, porque vemos esta lei como algo que p\u00f5e em perigo a batalha democr\u00e1tica ou a forma democr\u00e1tica de fazer pol\u00edtica. \u00c9 claro que haver\u00e1 elei\u00e7\u00f5es na Pol\u00f3nia, mas mesmo que n\u00e3o houvesse elei\u00e7\u00f5es t\u00e3o cedo, ter\u00edamos de reagir. Porque se trata de uma quest\u00e3o de princ\u00edpio, digo sempre que temos de proteger melhor as elei\u00e7\u00f5es. Uma das suas perguntas era sobre a possibilidade de as elei\u00e7\u00f5es poderem ser influenciadas por agentes maliciosos. At\u00e9 \u00e0 data, sempre vi o perigo de os advers\u00e1rios pol\u00edticos na campanha terem de jogar o jogo em posi\u00e7\u00f5es desiguais e sem haver um \u00e1rbitro para decidir de forma justa. Mas este \u00e9 um novo cap\u00edtulo, porque a lei polaca diz que algumas equipas e algumas pessoas n\u00e3o podem entrar no campo de jogo. Por isso, independentemente das pr\u00f3ximas elei\u00e7\u00f5es na Pol\u00f3nia, tivemos de reagir, porque foi criado um \u00f3rg\u00e3o puramente pol\u00edtico, que deve ter compet\u00eancias compar\u00e1veis \u00e0s dos procuradores ou ju\u00edzes. De acordo com a forma como avaliamos a situa\u00e7\u00e3o, \u00e9 algo que est\u00e1 a violar a legisla\u00e7\u00e3o da UE. ", "dateCreated": "2023-06-01T11:33:35+02:00", "dateModified": "2023-06-12T19:05:19+02:00", "datePublished": "2023-06-12T18:00:50+02:00", "image": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2Fstories%2F07%2F64%2F55%2F34%2F1440x810_cmsv2_8d375ff9-4de8-5e1a-a272-ebbabe51237a-7645534.jpg", "width": "1440px", "height": "810px", "caption": "Como vai funcionar o novo organismo de \u00e9tica da UE? Como os 27 se preparam para desafios como o da intelig\u00eancia artificial? A vice-presidente da Comiss\u00e3o Europeia para os Valores e Transpar\u00eancia responde a isso e muito mais em The Global Conversation.", "thumbnail": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2Fstories%2F07%2F64%2F55%2F34%2F432x243_cmsv2_8d375ff9-4de8-5e1a-a272-ebbabe51237a-7645534.jpg", "publisher": { "@type": "Organization", "name": "euronews", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png" } }, "author": { "@type": "Person", "name": "Sandor Zsiros", "sameAs": "https://twitter.com/EuroSandor" }, "publisher": { "@type": "Organization", "name": "Euronews", "legalName": "Euronews", "url": "/", "logo": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png", "width": "403px", "height": "60px" }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] }, "articleSection": [ "Mundo" ], "isAccessibleForFree": "False", "hasPart": { "@type": "WebPageElement", "isAccessibleForFree": "False", "cssSelector": ".poool-content" } }, { "@type": "WebSite", "name": "Euronews.com", "url": "/", "potentialAction": { "@type": "SearchAction", "target": "/search?query={search_term_string}", "query-input": "required name=search_term_string" }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] } ] }

Věra Jourová sobre o combate à corrupção e os novos pacotes legislativos

Věra Jourová sobre o combate à corrupção e os novos pacotes legislativos
Direitos de autor euronews
Direitos de autor euronews
De Sandor Zsiros
Publicado a
Partilhe esta notíciaComentários
Partilhe esta notíciaClose Button
Copiar/colar o link embed do vídeo:Copy to clipboardCopied

Como vai funcionar o novo organismo de ética da UE? Como os 27 se preparam para desafios como o da inteligência artificial? A vice-presidente da Comissão Europeia para os Valores e Transparência responde a isso e muito mais em The Global Conversation.

O escândalo de corrupção no Parlamento Europeu abalou a confiança na União Europeia. Agora, as instituições estão a fazer novos esforços para aumentar a transparência e a sua própria credibilidade. Neste Global Conversation, falamos sobre este assunto com Věra Jourová, vice-presidente da Comissão Europeia para os Valores e a Transparência.

aram seis meses desde o maior escândalo de corrupção da história da União Europeia. De acordo com as últimas sondagens, a maioria dos europeus, na verdade 60%, está descontente com a forma como a UE está a lidar com a corrupção. Está surpreendida?

Não me surpreende mas, ao mesmo tempo, dá-me outro impulso para fazer algo a esse respeito. Não importa onde o escândalo apareceu. Foi numa das instituições e é, provavelmente, mais o fracasso de pessoas individuais do que do sistema. Mas o que é que os cidadãos podem pensar? Os políticos bem pagos têm privilégios imerecidos. Não sabemos quais são as normas e se existe alguma ética. São demasiadas perguntas e poucas respostas. Foi por isso que criámos o pacote anticorrupção, que também abrange as instituições da UE. E hoje apresentei o primeiro organismo europeu de ética de sempre, que abrangerá todas as principais instituições da UE.

Vamos falar sobre este novo organismo de ética, porque ele irá estabelecer normas futuras para todas as instituições da UE. Mas as ONG e os deputados ao Parlamento Europeu exigem que o controlo não esteja ligado à União Europeia, mas que seja independente. Porque é que isso não está a acontecer?

O organismo de ética está a preencher a lacuna porque, imaginemos, cada uma das instituições tem uma estrutura interna que deve fazer o trabalho. O organismo de ética não deve substituir estas disposições institucionais. Há pessoas que devem investigar as infrações disciplinares e sancionar esses casos. Assim, o organismo de ética preencherá as lacunas, o teto sobre todas as instituições, e o trabalho sobre as normas unificadas refletir-se-á no trabalho de cada instituição.

Quanto ao porquê de não ser independente, penso que é importante que o organismo de ética seja composto por pessoas que conheçam o trabalho e o papel de cada instituição. É por isso que propus algo que será muito prático. Haverá dez pessoas sentadas à volta da mesa. Refiro-me ao nível político, aos vice-presidentes de cada instituição ou a qualquer outro funcionário de alto nível. E haverá cinco peritos independentes convidados a trabalhar em conjunto com os representantes das instituições. Quero que o organismo de ética seja significativo, prático e transparente, para que as normas que o organismo de ética acordar sejam do conhecimento do público.

Penso que é importante que o organismo de ética seja composto por pessoas que conheçam o trabalho e o papel de cada instituição.
Věra Jourová
Vice-Presidente da Comissão Europeia para os Valores e a Transparência

Relativamente à sua primeira pergunta e ao que as pessoas podem pensar de nós, penso que devem conhecer as regras relativas às viagens, aos presentes, às declarações de património e ao que os políticos fazem depois do mandato. Penso que as pessoas têm o direito de ver normas claras.

Por exemplo, estas novas normas impedirão que, no futuro, o diretor-geral da Comissão Europeia aceite voos gratuitos e quartos de hotel gratuitos pagos por atores estrangeiros como o Qatar.

Honestamente, não percebo como é que isto pode estar a acontecer, porque ou estou numa viagem de negócios e então tem de ter o aval da instituição e ser paga pela instituição para a qual trabalho, ou se trata de uma viagem privada e, nesse caso, sou eu que a pago. Não vejo espaço para mais nada. Penso que é exatamente isso que o órgão de ética deve esclarecer e que devemos concordar com isso.

Agora, nove instituições têm de chegar a um consenso sobre as futuras regras de ética. Acha que serão suficientemente fortes? O que espera em termos de conteúdo? Pode dar-nos alguns exemplos?

Terão de ser mais elevadas do que são atualmente. Estou convencida disso. Olhando para estas dez instituições - contamos também com o Banco Europeu de Investimento, por isso somos 10 (e não nove) - é claro que depende de todas aderirem e tornarem-se parceiras neste projeto, mas espero que sim. Estabeleceremos padrões elevados para o que referi, para as declarações de bens, para as ofertas, para as viagens, para as atividades pós-mandato. Pode acontecer que o organismo de ética estabeleça normas mais baixas nalgumas instituições. O Banco Central Europeu e o Banco Europeu de Investimento têm de estar incluídos. Existem regras muito rigorosas para os membros dos organismos no que diz respeito às declarações de património.

Acha que os 700 eurodeputados também estão na linha de frente para fortalecer as normas?

Se perguntar a todos eles, dir-lhe-ão que sim. Falei com muitos membros do Parlamento. É claro que o Parlamento é uma instituição especial: há pessoas diretamente eleitas. Há sempre uma discussão sobre a liberdade do mandato ou sobre as suas imunidades. É muito justo que se discutam todas estas questões. Mas, ao mesmo tempo, deve haver padrões suficientemente elevados de igualdade para todos no Parlamento. As opiniões dos diferentes clubes políticos são bastante diferentes e estou disposta a discutir com todos.

E quanto às investigações e sanções relativas a estas regras éticas?

Têm de permanecer nas instituições, que têm uma base jurídica sólida para o fazer. Sei que parece demasiado legalista, mas tenho de recordar que este organismo de ética será criado com base num acordo, não está previsto no tratado e não será criado com base na lei.

Quando se trabalha para um organismo criado por lei, está-se autorizado a consultar documentos privados e diferentes tipos de materiais. Está autorizado a inquirir as pessoas e a sancioná-las. Isso requer, de facto, a mais forte autorização legal possível. Isso, este órgão de ética não terá.

Estamos a um ano das próximas eleições para o Parlamento Europeu. Tem receio de que atores estrangeiros tentem influenciar a campanha e possam mesmo fazer descarrilar a campanha antes das eleições parlamentares, por exemplo, com campanhas de notícias falsas ou de desinformação?

Acredito que não vão ganhar porque fazemos tudo para proteger as eleições contra a manipulação oculta e contra diferentes tipos de interferência. Mas, com certeza, haverá uma forte influência e uma grande pressão de diferentes atores hostis para interferir nos processos eleitorais. É por isso que já estamos a alertar os Estados-membros, que têm a obrigação de organizar as eleições, para que, de alguma forma, fortifiquem os sistemas também contra ataques cibernéticos e contra campanhas coordenadas que utilizem a desinformação.

Para combater a influência estrangeira, a Comissão Europeia também está a propor um novo pacote chamado Defesa da Democracia. Mas as ONG protestaram contra esta legislação, afirmando que é muito semelhante à lei russa sobre os agentes estrangeiros. Depois destas críticas, tenciona alterar esta legislação para satisfazer as ONG?

A crítica baseou-se na falta de informação sobre o que planeamos, e eu não critico ninguém. Penso que cabe-nos principalmente a nós informar todos os que possam sentir-se afetados pelo nosso plano. O plano é um elevado nível de transparência sobre os fluxos financeiros para a Europa. Penso que está longe da lei georgiana ou mesmo da lei americana ou australiana, que é de justiça criminal. Não há rotulagem, não há agentes estrangeiros, não há estigmatização. Queremos até incorporar na lei a salvaguarda contra possíveis abusos por parte de alguns Estados-membros: não ir além dos pedidos ou requisitos da lei.

Fazemos tudo para proteger as eleições contra a manipulação oculta e contra diferentes tipos de interferência.
Věra Jourová
Vice-Presidente da Comissão Europeia para os Valores e a Transparência

itimos que precisamos de mais tempo para duas coisas: Para as consultas intensas com todos os que levantaram a voz e manifestaram preocupações, especialmente as ONG.

Mas também ouvimos muitas interrogações vindas dos gabinetes oficiais dos Estados-membros. Vou aproveitar este verão para fazer consultas com base num texto já muito preciso, para sabermos do que estamos a falar.

A segunda coisa que temos de fazer é tentar recolher dados que nos deem mais certezas sobre a dimensão do problema. A recolha desses dados não é fácil, porque estão principalmente na posse dos serviços secretos e das agências de segurança dos Estados-membros. Por isso, estamos agora a explorar a forma de obter dados fiáveis. Vamos fazer algumas coisas durante o verão e depois, no outono, voltaremos ao assunto. Porque estou convencida de que precisamos de uma lei deste género. Caso contrário, seremos o único espaço democrático que não dispõe de uma lei que, pelo menos, pretende aumentar a transparência e dar-nos a possibilidade de saber quem é pago pelos governos de países terceiros. Esta é a última coisa que quero dizer sobre a matéria de fundo, porque também há críticas em relação ao dinheiro que vem do estrangeiro. O que está em causa é o dinheiro pago pelos governos de países terceiros e por organizações estatais.

(Sem o pacote legislativo de Defesa da Democracia) seremos o único espaço democrático que não dispõe de uma lei que, pelo menos, pretende aumentar a transparência e dar-nos a possibilidade de saber quem é pago pelos governos de países terceiros.
Věra Jourová
Vice-Presidente da Comissão Europeia para os Valores e a Transparência

Acha que as plataformas de redes sociais, as grandes plataformas de redes sociais, estão a fazer o suficiente para combater a desinformação, uma vez que o atual sistema europeu funciona na base do voluntariado e o Twitter está a abandonar esse sistema?

Em breve teremos a Lei dos Serviços Digitais em vigor. Será uma legislação juridicamente vinculativa e pesada que procura aumentar a responsabilidade das plataformas. Trata-se de uma reação a algo que vimos evoluir ao longo dos anos e que nos diz que as plataformas estão a concentrar demasiado poder e estão relutantes em assumir responsabilidades relevantes. Antes disso, e paralelamente, temos o Código de Práticas contra a Desinformação, que é, de facto, um acordo voluntário. Neste momento, temos 44 signatários. Temos todas as grandes plataformas, exceto o Twitter. Podemos fazer muito com este código, mas é claro que ainda tem algumas lacunas. O que pretendo alterar é, em primeiro lugar, abordar a desinformação pró-Rússia e pró-Kremlin, porque se trata de um caso claro. A palavra "propaganda" tem de ser eliminada, porque estamos numa guerra de informação e pelo que não deve haver concessões.

Em segundo lugar, queremos que as plataformas sejam consistentemente moderadas e invistam na verificação de factos. Isso não pode ser feito apenas em inglês ou alemão. Tem de ser feito em todas as línguas dos Estados-membros. O mais complicado é que quanto mais nos deslocamos para o leste da Europa, maior é a pressão da propaganda russa. Por isso, queremos que invistam na verificação de factos nesses países. Vemos uma grande influência da propaganda russa na Eslováquia e na opinião pública búlgara. Vemos pressões crescentes sobre as comunidades alemãs, em especial, recorrendo a alguns representantes internos. Isto é algo novo, quando a propaganda russa está a ser assumida pelos partidos extremistas da UE. Trata-se de uma nova e perigosa fase. Por isso, mais moderação.

Queremos que as plataformas sejam consistentemente moderadas e invistam na verificação de factos.
Věra Jourová
Vice-Presidente da Comissão Europeia para os Valores e a Transparência

A terceira coisa que pretendemos das plataformas é permitir que os investigadores tenham um melhor o aos dados. Nós precisamos dos investigadores para analisar a situação. Quando digo "nós", quero dizer nós, os legisladores, porque gostaria que a Internet e as redes sociais continuassem a ser uma zona livre para a liberdade de expressão. Por isso, a minha preocupação é não exagerar com as regras que estamos a adotar, mas apresentar medidas proporcionais e necessárias. Precisamos de saber o que está a acontecer e os investigadores devem ajudar-nos com um tipo de análise séria. A quarta coisa, e esta é uma nova agenda, pedi na segunda-feira às plataformas que considerassem o novo desenvolvimento da inteligência artificial generativa. Também aqui, o código pode ser um veículo rápido, uma resposta rápida.

Essa é a próxima pergunta, porque o ChatGPT está a levantar preocupações sobre notícias falsas e personalização. Muitas pessoas estão preocupadas com a disseminação da inteligência artificial. Teme que no futuro a linha entre a realidade e a ficção desapareça?

Não, mas só no caso de as próprias pessoas, aquelas que leem os textos e veem as imagens, serem capazes de ver que aquela coisa concreta é produzida por inteligência artificial. Temos de ser teimosos nisso. Temos de insistir que a produção de inteligência artificial esteja a ser feita corretamente e de uma forma clara e compreensível. Vou dar um exemplo: Vejamos o sistema de verificação de factos que queremos que esteja a funcionar nos Estados-membros. Quando a peça de desinformação é rotulada e os factos são acrescentados, vemos uma grande mudança no comportamento do utilizador. Na maioria dos casos, essa desinformação não é enviada para mais lado nenhum. As pessoas refletem sobre o assunto. 

Temos de insistir que a produção de inteligência artificial esteja a ser feita corretamente e de uma forma clara e compreensível.
Věra Jourová
Vice-Presidente da Comissão Europeia para os Valores e a Transparência

Por isso, creio que a mesma lógica funcionará quando as pessoas virem que se trata de uma produção de um robot. Podemos levar a sério, podemos não levar, mas gostaria de dizer que estamos num momento crítico da história e temos de defender as pessoas reais. Como fazê-lo? Não dar aos robots a liberdade de expressão, não dar aos robots a automaticidade no alcance e não proteger a produção dos robots através de direitos de autor. Penso que estes são princípios muito simples, sempre baseados no mantra de que temos de proteger os direitos existentes das pessoas reais.

Quando olhamos para as batalhas em torno do Estado de direito na União Europeia com a Polónia e a Hungria, a União Europeia está a utilizar ferramentas relativamente novas através da Comissão, especialmente no caso da Hungria: A suspensão dos pagamentos da UE. Acha que isso vai aproximar os resultados?

Vemos na Hungria que a condicionalidade e o congelamento do financiamento trazem resultados, após muitos anos de estabilização de uma situação que não queríamos ver do ponto de vista do Estado de direito. Agora, vemos que na Hungria está a decorrer uma reforma do sistema judicial e que foram tomadas muitas medidas para aumentar a proteção do financiamento da UE.

Os profissionais húngaros e os funcionários estão a fazer o seu melhor para nos convencer de que tudo será posto em ordem na Hungria. É claro que gostaríamos de ver uma ação mais ampla. Mas, de momento, devo dizer que a pressão financeira é talvez mais bem-sucedida do que algumas medidas jurídicas. Mas temos de fazer tudo, também recorrendo às infrações e ao artigo sétimo.

Falando de infração: A Comissão Europeia acabou de lançar um procedimento por infração contra a Polónia porque está a propor uma nova lei que, na verdade, é contra a pressão estrangeira para exercer influência, mas muitas ONG e a oposição receiam que esta lei possa ser utilizada como uma arma política contra eles. Como é que vê esta questão?

Reagimos a esta lei através de uma reação rápida sem precedentes, porque vemos esta lei como algo que põe em perigo a batalha democrática ou a forma democrática de fazer política.

Vemos a nova lei polaca como algo que põe em perigo a batalha democrática ou a forma democrática de fazer política.
Věra Jourová
Vice-Presidente da Comissão Europeia para os Valores e a Transparência

É claro que haverá eleições na Polónia, mas mesmo que não houvesse eleições tão cedo, teríamos de reagir. Porque se trata de uma questão de princípio, digo sempre que temos de proteger melhor as eleições. Uma das suas perguntas era sobre a possibilidade de as eleições poderem ser influenciadas por agentes maliciosos. Até à data, sempre vi o perigo de os adversários políticos na campanha terem de jogar o jogo em posições desiguais e sem haver um árbitro para decidir de forma justa. Mas este é um novo capítulo, porque a lei polaca diz que algumas equipas e algumas pessoas não podem entrar no campo de jogo. Por isso, independentemente das próximas eleições na Polónia, tivemos de reagir, porque foi criado um órgão puramente político, que deve ter competências comparáveis às dos procuradores ou juízes. De acordo com a forma como avaliamos a situação, é algo que está a violar a legislação da UE.

Ir para os atalhos de ibilidade
Partilhe esta notíciaComentários

Notícias relacionadas

Líderes do Azerbaijão e da Arménia em entrevista exclusiva à Euronews

Eurodeputados criticam proposta de organismo de ética da Comissão Europeia

“Temos de mudar porque não podemos dar mais das nossas vidas”, dizem estudantes em Subotica