Um número crescente de corredores está a transformar os seus calendários de corridas em itinerários de viagem em locais exóticos.
As maratonas já não se limitam a cruzar a marca das 26,2 milhas (42 quilómetros) perto de casa. Nos últimos anos, uma nova tendência tem varrido a comunidade de corredores: as "férias de corrida".
O que antes era um hobby de nicho é agora um movimento internacional.
O relatório Year in Sport Trend da aplicação de monitorização de corrida Strava revela um aumento de 9% na participação em maratonas e ultra-maratonas no ano ado.
Entretanto, o Running USA's 2024 Global Runner Survey revelou que os corredores dão prioridade à localização como o principal fator na escolha de uma corrida.
Transformar os calendários das corridas em itinerários de viagem
Esta tendência, muitas vezes apelidada de "turismo de maratona", vê um número crescente de corredores a transformar os seus calendários de corridas em itinerários de viagem em locais exóticos.
"Precisamos de um objetivo; precisamos de nos sentir vivos, por isso corremos", explica o psicólogo holandês, ultramaratonista prolífico e treinador de corrida Roel Spierings.
"A combinação com viagens é mais popular porque podemos pagar, é divertida e dá-nos a sensação de perseguir um objetivo."
O corredor moderno anseia por experiências que vão para além da medalha de chegada, procurando memórias, transformações pessoais e histórias para contar muito depois de a corrida ter terminado.
À medida que a flexibilidade da vida profissional e pessoal aumenta e os estilos de vida preocupados com a saúde ganham terreno, correr em destinos de lista de desejos preenche subitamente um nicho para aqueles que procuram objetivos e emoção nos seus tempos livres.
Turismo de maratona traz impulso económico aos destinos
Os especialistas do setor e os dados de inquéritos confirmam que o turismo de maratonas veio para ficar. Em 2024, a Maratona de Nova Iorque estabeleceu uma nova referência com mais de 55 000 participantes, ultraando os anteriores recordes das Maratonas de Paris e Berlim no início desse ano.
Três quartos dos participantes no inquérito da Running USA planeiam participar no mesmo número ou em mais corridas em 2025.
As cidades da Europa, Ásia e África estão a capitalizar este desejo de experiências baseadas em destinos, lançando novos eventos concebidos para atrair corredores e os seus companheiros de viagem.
Além disso, as maratonas de destino já não se limitam apenas às "Seis Grandes" de Boston, Londres, Berlim, Chicago, Nova Iorque e Tóquio, que geram centenas de milhões de euros em despesas locais todos os anos.
Mesmo os eventos mais pequenos em todo o mundo registam um aumento dramático do turismo nos dias de corrida, incluindo a Maratona de Médoc, que atravessa as vinhas de Bordéus, onde os corredores se abastecem de vinho.
Os participantes na maratona também raramente viajam sozinhos. Os inquéritos revelam que a maioria dos corredores chega em grupos de dois ou três. Alguns também fazem reservas através de empresas especializadas em viagens desportivas em pequenos grupos cheios de camaradagem.
Em vez de ficarem apenas duas noites, 59% dos corredores ficam três a cinco noites ou prolongam a viagem para outros destinos turísticos próximos.
Por exemplo, em anos anteriores, os corredores que concluíram a Maratona de Londres aventuram-se depois na Ilha de Skye, nas Terras Altas da Escócia, para um par de noites na natureza.
Estas estadias prolongadas realçam o papel da maratona como mais do que um evento de um dia, beneficiando hotéis, restaurantes e atrações locais.
"Está-se literalmente a correr ao lado da vida selvagem": Porque é que as pessoas viajam para as maratonas
Spierings descobriu que os desafios físicos extremos têm imensos benefícios psicológicos, especialmente quando associados à emoção de visitar novos locais.
A corrida em si é um veículo potente para a autodescoberta. Se a isso juntarmos um ambiente desconhecido, como um terreno montanhoso ou o calor do deserto, a transformação é muitas vezes mais profunda.
Uma das experiências mais memoráveis de Spierings foi a For Rangers Ultramarathon, uma corrida por etapas de cinco dias e 250 km através de cinco parques nacionais do Quénia.
"É uma corrida autossuficiente em que estamos literalmente a correr ao lado da vida selvagem", recorda.
Outra prova de destaque é a Eiger 250-km, que leva os corredores ao longo de um percurso de cortar a respiração, protegido pela UNESCO, na Suíça.
Para além da realização pessoal, Spierings acredita que as viagens aumentam as recompensas psicológicas: "É preciso combinar o sofrimento com o ambiente. A aventura dá-nos vontade de jogar o jogo".
Como encontrar o equilíbrio entre férias e competição
Viajar para uma maratona acrescenta camadas de logística e potenciais armadilhas, como o jet lag e as alterações climáticas.
Spierings recomenda chegar alguns dias antes da corrida para se adaptar aos fusos horários e ao clima. No dia anterior, dedique algum tempo a preparar o seu equipamento. Dormir e comer bem antes da corrida, e evitar mudanças drásticas na dieta perto do dia da competição.
O seu melhor conselho? "Beba uma cerveja e não mude toda a sua rotina. O trabalho está feito, as mudanças no último dia não vão servir de nada."
Estes obstáculos de viagem também tornam a conquista final ainda mais gratificante. "É por isso que tem de ser no estrangeiro; tem de ser duro, e precisamos de pessoas à nossa volta com quem o partilhar", explicou.