{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/next/2016/10/26/as-pernas-bionicas-de-hugh-herr-sera-possivel-acabar-com-a-deficiencia" }, "headline": "As pernas bi\u00f3nicas de Hugh Herr: ser\u00e1 poss\u00edvel acabar com a defici\u00eancia?", "description": "Hugh Herr foi amputado do joelho para baixo e viu-se diante de um novo desafio: aprender a lidar com a defici\u00eancia. Quando recebeu as primeiras pr\u00f3teses ficou chocado porque o sistema era extremamente", "articleBody": "Aos oito anos de idade, Hugh Herr era um alpinista talentoso e aos dezassete foi considerado como um dos melhores alpinistas dos Estados Unidos. Mas, um dia, tudo se desmoronou. Durante uma escalada, no Monte Washington, Hugh Herr e o colega foram surpreendidos por uma tempestade e perderam o norte. Aguentaram tr\u00eas dias com temperaturas de 29 graus negativos. Quando foram resgatados com ferimentos graves, j\u00e1 era tarde de mais. Hugh Herr foi amputado do joelho para baixo e viu-se diante de um novo desafio: aprender a lidar com a defici\u00eancia. Quando recebeu as primeiras pr\u00f3teses ficou chocado porque o sistema era extremamente rudimentar. Hoje, Hugh Herr \u00e9 investigador em biomec\u00e2nica no MIT (Massachusetts Institute of Technology), nos Estados Unidos. Em entrevista \u00e0 euronews, o investigador norte-americano contou-nos o seu percurso extraordin\u00e1rio no mundo das tecnologias bi\u00f3nicas e explicou-nos tudo o que a tecnologia vai poder oferecer \u00e0s pessoas com defici\u00eancias. Hugh Herr: \u201cA primeira pr\u00f3tese que recebi n\u00e3o era muito avan\u00e7ada do ponto de vista tecnol\u00f3gico. Foi em 1982. Fiquei horrorizado e disse a mim mesmo: como \u00e9 poss\u00edvel que as pr\u00f3teses sejam feitas de madeira e borracha? N\u00e3o integravam tecnologia inform\u00e1tica, nem sensores para a atividade dos m\u00fasculos. Eu disse a mim mesmo: devem estar a brincar comigo, tem de haver algo mais. Isso inspirou-me a desenhar um prot\u00f3tipo. Foi a minha primeira tarefa para que eu pudesse voltar a praticar o meu desporto, o alpinismo\u201d. euronews: \u201cJ\u00e1 tinha conhecimentos nessa \u00e1rea?\u201d Hugh Herr: \u201cNa escola secund\u00e1ria, eu tinha escolhido o ensino t\u00e9cnico e sabia construir coisas em madeira e metal. Fui \u00e0 loja, comprei material e comecei a trabalhar. A pr\u00f3tese ficou bem e comecei a fazer alpinismo. E rapidamente atingi um n\u00edvel superior ao que tinha antes do acidente. Ou seja o meu desempenho era melhor com as pr\u00f3teses do que com as minhas pernas biol\u00f3gicas. A dada altura comecei a imaginar um futuro sem defici\u00eancia. Imagine s\u00f3 as ideias que come\u00e7aram a surgir no meu esp\u00edrito e que podiam ajudar toda a humanidade. Pod\u00edamos ter tecnologia avan\u00e7ada para tratar a cegueira, a depress\u00e3o, a paralisia, seria o fim da defici\u00eancia\u201d. euronews: \u201cEram ent\u00e3o pernas bi\u00f3nicas, se me permite usar a analogia de Steve Austin\u201d. Hugh Herr: \u201cSim, bi\u00f3nico \u00e9 uma boa palavra\u201d. euronews: \u201ode dizer-nos como funcionam? Hugh Herr: \u201cAs minhas pernas bi\u00f3nicas s\u00e3o fant\u00e1sticas. Cada perna tem tr\u00eas computadores pequenos, com um chip, e doze sensores que medem as posi\u00e7\u00f5es, a acelera\u00e7\u00e3o, a velocidade, a temperatura e a for\u00e7a. As decis\u00f5es s\u00e3o tomadas com base num algoritmo que controla os movimentos dos m\u00fasculos. Funciona como um atuador. O sistema \u00e9 respons\u00e1vel por cada o que eu dou e funciona gra\u00e7as a uma bateria que \u00e9 recarregada \u00e0 noite. \u00c9 maravilhoso porque permite regularizar o ritmo da caminhada e a tens\u00e3o muscular liga-se ao sistema musculoesquel\u00e9tico. \u00c9 excecional. O sistema tem um intelig\u00eancia pr\u00f3pria. Prev\u00ea os movimentos que eu quero fazer a partir da for\u00e7a que eu exer\u00e7o. No laborat\u00f3rio, estamos a testar o controlo neuronal. Fazemos a liga\u00e7\u00e3o entre os m\u00fasculos e os nervos, os microprocessadores e os computadores. Eu posso controlar de forma volunt\u00e1ria as pernas bi\u00f3nicas e um dia poderei receber o das pernas artificiais atrav\u00e9s do sistema nervoso e sentir as pernas\u201d. euronews: \u201cSentir?\u201d Hugh Herr: \u201cSim, os investigadores est\u00e3o a trabalhar no projeto para que a tecnologia possa em breve ser disponibilizada, para as empresas\u201d. euronews: \u201cEm termos comerciais, trata-se de uma ind\u00fastria enorme capaz de gerar milhares de milh\u00f5es, mas o que se ar\u00e1 com as pessoas pobres, por exemplo com as v\u00edtimas da explos\u00e3o de minas? Ser\u00e1 poss\u00edvel tornar a tecnologia \u00edvel a essas pessoas?\u201d \u201cSim, no meu centro de pesquisa no MIT, um dos eixos da nossa investiga\u00e7\u00e3o \u00e9 tentar manter a qualidade do tratamento m\u00e9dico com custos baixos para aumentar a ibilidade. Uma parte da quest\u00e3o tem a ver com a fabrica\u00e7\u00e3o local, as comunidades dever\u00e3o poder construir essas pr\u00f3teses localmente, o que implica ter em conta o design. Al\u00e9m disso, h\u00e1 outra quest\u00e3o: como ter em conta as economias de escala e a produ\u00e7\u00e3o em massa e ao mesmo tempo desenvolver um sistema personalizado? Queremos criar um corpo digital que poder\u00e1 ser usado quando a pessoa precisa de um membro ou de um implante de neur\u00f3nios. Trata-se de uma representa\u00e7\u00e3o exata de cada pessoa. Esse sistema sofisticado desenhado gra\u00e7as aos computadores dever\u00e1 ser capaz de perceber profundamente o ser humano, saber como se interligar com o ser humano\u201d. euronews: \u201cJ\u00e1 recebeu cr\u00edticas por raz\u00f5es \u00e9ticas?\u201d Hugh Herr: \u201cSim, \u00e9 uma quest\u00e3o frequente. Mas, para mim o mais importante \u00e9 acabar com a defici\u00eancia e com as doen\u00e7as. O n\u00edvel de sofrimento que existe hoje devido aos traumas e \u00e0s doen\u00e7as \u00e9 extremamente elevado. Temos hoje uma grande oportunidade de resolver esses problemas. Claro que h\u00e1 dilemas e riscos \u00e9ticos e temos de refletir sobre esses aspetos. Mas, a prioridade \u00e9 acabar com as doen\u00e7as e a defici\u00eancia. \u00c9 o que devemos fazer. Ao mesmo tempo, temos de desenvolver pol\u00edticas respons\u00e1veis e leis que possam lidar com os usos inapropriados da tecnologia. Estamos a tentar responder a desafios muito interessantes: como fazer a liga\u00e7\u00e3o com os nervos perif\u00e9ricos e com os m\u00fasculos para que a informa\u00e7\u00e3o entre e saia do sistema nervoso, de modo a criar uma mecatr\u00f3nica mais avan\u00e7ada? Queremos melhorar as liga\u00e7\u00f5es mec\u00e2nicas entre os objetos sint\u00e9ticos e o corpo humano. Trata-se de desenvolver as bases da ci\u00eancia bi\u00f3nica e as inter-rela\u00e7\u00f5es entre a fisiologia humana e os sistemas artificiais\u201d.", "dateCreated": "2016-10-26T14:14:57+02:00", "dateModified": "2016-10-26T14:14:57+02:00", "datePublished": "2016-10-26T14:14:57+02:00", "image": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2F347729%2F1440x810_347729.jpg", "width": "1440px", "height": "810px", "caption": "Hugh Herr foi amputado do joelho para baixo e viu-se diante de um novo desafio: aprender a lidar com a defici\u00eancia. Quando recebeu as primeiras pr\u00f3teses ficou chocado porque o sistema era extremamente", "thumbnail": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2F347729%2F432x243_347729.jpg", "publisher": { "@type": "Organization", "name": "euronews", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png" } }, "author": { "@type": "Organization", "name": "Euronews", "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ], "url": "/" }, "publisher": { "@type": "Organization", "name": "Euronews", "legalName": "Euronews", "url": "/", "logo": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png", "width": "403px", "height": "60px" }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] }, "articleSection": [ "S\u00e9ries" ], "isAccessibleForFree": "False", "hasPart": { "@type": "WebPageElement", "isAccessibleForFree": "False", "cssSelector": ".poool-content" } }, { "@type": "WebSite", "name": "Euronews.com", "url": "/", "potentialAction": { "@type": "SearchAction", "target": "/search?query={search_term_string}", "query-input": "required name=search_term_string" }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] } ] }
PUBLICIDADE

As pernas biónicas de Hugh Herr: será possível acabar com a deficiência?

As pernas biónicas de Hugh Herr: será possível acabar com a deficiência?
Direitos de autor 
De Euronews
Publicado a
Partilhe esta notíciaComentários
Partilhe esta notíciaClose Button
Copiar/colar o link embed do vídeo:Copy to clipboardCopied

Hugh Herr foi amputado do joelho para baixo e viu-se diante de um novo desafio: aprender a lidar com a deficiência. Quando recebeu as primeiras próteses ficou chocado porque o sistema era extremamente

PUBLICIDADE

Aos oito anos de idade, Hugh Herr era um alpinista talentoso e aos dezassete foi considerado como um dos melhores alpinistas dos Estados Unidos. Mas, um dia, tudo se desmoronou. Durante uma escalada, no Monte Washington, Hugh Herr e o colega foram surpreendidos por uma tempestade e perderam o norte. Aguentaram três dias com temperaturas de 29 graus negativos. Quando foram resgatados com ferimentos graves, já era tarde de mais.

Hugh Herr foi amputado do joelho para baixo e viu-se diante de um novo desafio: aprender a lidar com a deficiência. Quando recebeu as primeiras próteses ficou chocado porque o sistema era extremamente rudimentar.

Hoje, Hugh Herr é investigador em biomecânica no MIT (Massachusetts Institute of Technology), nos Estados Unidos. Em entrevista à euronews, o investigador norte-americano contou-nos o seu percurso extraordinário no mundo das tecnologias biónicas e explicou-nos tudo o que a tecnologia vai poder oferecer às pessoas com deficiências.

Hugh Herr: “A primeira prótese que recebi não era muito avançada do ponto de vista tecnológico. Foi em 1982. Fiquei horrorizado e disse a mim mesmo: como é possível que as próteses sejam feitas de madeira e borracha? Não integravam tecnologia informática, nem sensores para a atividade dos músculos. Eu disse a mim mesmo: devem estar a brincar comigo, tem de haver algo mais. Isso inspirou-me a desenhar um protótipo. Foi a minha primeira tarefa para que eu pudesse voltar a praticar o meu desporto, o alpinismo”.

euronews: “Já tinha conhecimentos nessa área?”

Hugh Herr: “Na escola secundária, eu tinha escolhido o ensino técnico e sabia construir coisas em madeira e metal. Fui à loja, comprei material e comecei a trabalhar. A prótese ficou bem e comecei a fazer alpinismo. E rapidamente atingi um nível superior ao que tinha antes do acidente. Ou seja o meu desempenho era melhor com as próteses do que com as minhas pernas biológicas. A dada altura comecei a imaginar um futuro sem deficiência. Imagine só as ideias que começaram a surgir no meu espírito e que podiam ajudar toda a humanidade. Podíamos ter tecnologia avançada para tratar a cegueira, a depressão, a paralisia, seria o fim da deficiência”.

euronews: “Eram então pernas biónicas, se me permite usar a analogia de Steve Austin”.

Hugh Herr: “Sim, biónico é uma boa palavra”.

euronews: “Pode dizer-nos como funcionam?

Hugh Herr: “As minhas pernas biónicas são fantásticas. Cada perna tem três computadores pequenos, com um chip, e doze sensores que medem as posições, a aceleração, a velocidade, a temperatura e a força. As decisões são tomadas com base num algoritmo que controla os movimentos dos músculos. Funciona como um atuador. O sistema é responsável por cada o que eu dou e funciona graças a uma bateria que é recarregada à noite. É maravilhoso porque permite regularizar o ritmo da caminhada e a tensão muscular liga-se ao sistema musculoesquelético. É excecional. O sistema tem um inteligência própria. Prevê os movimentos que eu quero fazer a partir da força que eu exerço. No laboratório, estamos a testar o controlo neuronal. Fazemos a ligação entre os músculos e os nervos, os microprocessadores e os computadores. Eu posso controlar de forma voluntária as pernas biónicas e um dia poderei receber o das pernas artificiais através do sistema nervoso e sentir as pernas”.

euronews: “Sentir?”

Hugh Herr: “Sim, os investigadores estão a trabalhar no projeto para que a tecnologia possa em breve ser disponibilizada, para as empresas”.

euronews: “Em termos comerciais, trata-se de uma indústria enorme capaz de gerar milhares de milhões, mas o que se ará com as pessoas pobres, por exemplo com as vítimas da explosão de minas? Será possível tornar a tecnologia ível a essas pessoas?”

“Sim, no meu centro de pesquisa no MIT, um dos eixos da nossa investigação é tentar manter a qualidade do tratamento médico com custos baixos para aumentar a ibilidade. Uma parte da questão tem a ver com a fabricação local, as comunidades deverão poder construir essas próteses localmente, o que implica ter em conta o design. Além disso, há outra questão: como ter em conta as economias de escala e a produção em massa e ao mesmo tempo desenvolver um sistema personalizado? Queremos criar um corpo digital que poderá ser usado quando a pessoa precisa de um membro ou de um implante de neurónios. Trata-se de uma representação exata de cada pessoa. Esse sistema sofisticado desenhado graças aos computadores deverá ser capaz de perceber profundamente o ser humano, saber como se interligar com o ser humano”.

euronews: “Já recebeu críticas por razões éticas?”

Hugh Herr: “Sim, é uma questão frequente. Mas, para mim o mais importante é acabar com a deficiência e com as doenças. O nível de sofrimento que existe hoje devido aos traumas e às doenças é extremamente elevado. Temos hoje uma grande oportunidade de resolver esses problemas. Claro que há dilemas e riscos éticos e temos de refletir sobre esses aspetos. Mas, a prioridade é acabar com as doenças e a deficiência. É o que devemos fazer. Ao mesmo tempo, temos de desenvolver políticas responsáveis e leis que possam lidar com os usos inapropriados da tecnologia. Estamos a tentar responder a desafios muito interessantes: como fazer a ligação com os nervos periféricos e com os músculos para que a informação entre e saia do sistema nervoso, de modo a criar uma mecatrónica mais avançada? Queremos melhorar as ligações mecânicas entre os objetos sintéticos e o corpo humano. Trata-se de desenvolver as bases da ciência biónica e as inter-relações entre a fisiologia humana e os sistemas artificiais”.

Ir para os atalhos de ibilidade
Partilhe esta notíciaComentários

Notícias relacionadas

Braço biónico que se funde com esqueleto e nervos do utilizador pode fazer avançar os cuidados a amputados

Hugh Herr vence Prémio Princesa das Astúrias de Investigação Científica e Técnica 2016

Mobile World Congress 2025: IA e ecossistemas abertos transformam a tecnologia