Eurodeputada não inscrita continua na prisão
Eva Kaili, a eurodeputada grega não inscrita no centro do escândalo de corrupção "Qatargate", que envolve o Parlamento Europeu, não fará uma confissão para sair da cadeia, disse o advogado Sven Mary, insistindo na inocência da cliente e acusando as autoridades belgas de mantê-la atrás das grades como “um troféu.”
"Já é tempo de Eva Kaili ser libertada e da sua presunção de inocência ser respeitada", disse Sven Mary em entrevista exclusiva à Euronews.
"Não há mais razão para manter a sra. Kaili na prisão", acrescentou.
Eva Kaili está em prisão preventiva na cadeia de Haren, localizada nos arredores de Bruxelas, desde a detenção a 9 de dezembro.
Terá sido, alegadamente, apanhada em flagrante e a imunidade parlamentar foi imediatamente levantada.
A eurodeputada de 44 anos foi então acusada de participação em uma organização criminosa, corrupção e lavagem de dinheiro.
A detenção provocou ondas de choque em Bruxelas e trouxe à tona uma investigação extensa num esquema de troca de favores que envolvia "grandes somas de dinheiro" alegadamente pagas pelo Catar e por Marrocos para influenciar a tomada de decisões. Os dois países negam qualquer irregularidade.
Kaili foi, depois, afastada do cargo de vice-presidente do Parlamento Europeu e suspensa do grupo dos socialistas.
“Casos como o de Eva Kaili são considerados um troféu ou um símbolo e são mostrados como uma taça do Mundial de Futebol”, disse o advogado Sven Mary.
“A sra. Kaili é erguida como um símbolo para dizer: mesmo que se tenha uma função importante, fica-se na cadeia. E isto é feito especialmente para dizer aos outros políticos: não se envolvam em corrupção porque vão parar muito tempo à cadeia."
No âmbito da investigação em andamento, cinco pessoas foram presas e continuam criminalmente acusadas pelas autoridades belgas: Eva Kaili e o parceiro sco Giorgi, o ex-eurodeputado italiano Pier Antonio Panzeri, o diretor da organização não-governamental Niccolò Figà-Talamanca e o eurodeputado belga Marc Tarabella.
Todos eles foram ou serão libertados, com condições, da prisão – exceto Kaili.
"Não consigo entender mais o motivo da prisão preventiva, principalmente quando duas pessoas são libertadas: Panzeri, chefe da organização criminosa, e o seu braço direito, sco Giorgi. Essas duas pessoas confessaram ter cometido crimes de corrupção", disse Mary.
“Esta pressão preventiva é um meio de pressão para conseguir confissões. E digo-o claramente: não haverá confissão da sra. Kaili. Não haverá nenhuma confissão porque não houve qualquer delito por ela cometido.
O Ministério Público Federal belga recusou-se comentar as acusações do advogado.
“Vamos tornar os nossos pontos claros no tribunal”, disse um porta-voz.
"Visão de túnel"
Durante a entrevista à Euronews, esta terça-feira, em Bruxelas, Mary defendeu repetidamente a inocência da cliente e disse que a investigação falhou não trazendo novos elementos para justificar a detenção continuada de Kaili.
De acordo com o advogado, Kaili ou as últimas duas semanas a responder a "todas as perguntas" feitas pelos investigadores em sessões com a duração total de 15 horas.
“Eles querem ouvir certas respostas, mas não são as respostas que a sua. Kaili está a dar. E quando a sra. Kaili não dá as respostas que eles querem ouvir, bem, isso não é bom", sublinhou Mary, acusando as autoridades belgas de sofrer de "visão de túnel.”
O advogado de Eva Kaili criticou particularmente Pier Antonio Panzeri, o suposto líder do esquema de corrupção que fez um acordo judicial em que ite a participação criminosa em suborno e concorda em partilhar detalhes “reveladores.”
“Tenho dúvidas de que o senhor Panzeri esteja realmente a dizer a verdade. Ele está a contar a verdade dele. Isso é uma grande diferença", referiu Sven Mary.
A detenção de Kaili, afirmou o advogado, baseia-se em apenas dois elementos: a confissão de Panzeri e o telefonema que Kaili fez para o seu pai, Alexandros Kailis, a 9 de dezembro, quando supostamente pediu para este remover os sacos com dinheiro que encontrou no seu apartamento.
O pai foi apanhado no hotel Sofitel com uma mala com 150 mil euros em dinheiro mas foi posteriormente libertado sem acusações.
Desde a detenção, Eva Kaili teve várias audiências no tribunal de Bruxelas, mas nunca lhe foi concedida a libertação, apesar dos apelos da defesa.
Kaili terá uma nova audiência na quinta-feira, durante a qual o advogado Sven Mary conta pedir a libertação, com condições, embora não necessariamente com pulseira eletrónica.
sco Giorgi, companheiro de Kaili, com o qual tem uma filha de dois anos, foi libertado no final de fevereiro com uma pulseira eletrónica,
Giorgi trabalhou como assistente parlamentar, primeiro para Panzeri e depois para Andrea Cozzolino, eurodeputado socialista que também é suspeito de fazer parte do esquema de troca de favores e que agora luta contra a extradição de Itália para a Bélgica.
“Será que vai viver sob o mesmo teto que sco Giorgi? Ele é seu parceiro, é pai e ambos são donos da casa. Por isso, presumo que viverão na mesma casa", disse Mary, falando sobre a hipotética libertação de Kaili.
"Ele nunca a acusou de nada, ao contrário do sr. Panzeri.”
Questionado sobre como Kaili se sente em relação a Giorgi depois de todas as reviravoltas no escândalo, Mary citou um ditado belga com eco em todo o mundo: “Nunca se lava a roupa suja em público."