As vespas asiáticas, conhecidas por destruir as populações de abelhas, estão a invadir mais países europeus e a espalhar o medo entre os apicultores. Como é que podemos ripostar?
A vespa asiática terá chegado ao sudoeste de França num carregamento de cerâmica proveniente de Xangai, em 2004. Desde então, espalhou-se por toda a França, expandiu-se para os países vizinhos e foi recentemente detetada na Hungria e na Eslováquia.
Eric Darrouzet, investigador na Universidade de Tours, estuda as vespas asiáticas há mais de uma década. Veja a entrevista para saber mais sobre este temível predador.
Porque é que as vespas asiáticas são uma preocupação?
Uma colónia de vespas asiáticas consome cerca de 11 kg de insetos por ano e, em França, estima-se que causam 20 a 50% das mortes de abelhas.
"Para nós, é uma calamidade", disse o apicultor francês Alain Vaillant à Euronews. "Este é apenas mais um problema de uma lista longa que inclui as alterações climáticas, a monocultura, os pesticidas e os parasitas", afirmou.
Em 2014, a União Europeia introduziu o Regulamento sobre Espécies Exóticas Invasoras (EEI), um quadro que aborda 88 espécies invasoras que suscitam preocupação – 41 plantas e 47 animais. Os estados-membros são obrigados a tomar medidas para prevenir e gerir a sua propagação.
Como é que a França está a lutar contra a propagação da vespa asiática?
Em 2017, a França lançou um plano nacional de combate contra as espécies invasoras. Atualmente, as autoridades sas incentivam a colocação de armadilhas para vespas asiáticas e a deteção e destruição sistemática dos ninhos. No entanto, a população continuou a crescer.
Um projeto de lei recentemente apresentado ao Parlamento francês visa reforçar a luta contra este inseto e oferecer uma compensação aos apicultores.
"Muito pouco foi concretamente posto em prática desde que a lista da UE foi elaborada. A cada época perdida, a vespa continua a desenvolver-se", disse o senador francês Michel Masset à 'Euronews'.
"Há pequenas coisas que não são consideradas suficientemente importantes. Mas temos de as resolver porque estão a arruinar vidas", acrescentou o senador.
De acordo com Darrouzet, a espécie costumava espalhar-se 60–80 km por ano em França. Segundo ele, embora as campanhas de controlo tenham abrandado este ritmo, a vespa continua a singrar, por vezes devido ao transporte humano.
"Provavelmente foi assim que atravessaram os Pirenéus para Espanha, acabaram em Inglaterra e, recentemente, na Hungria. Devemos tê-las transportado", disse Darrouzet.
É demasiado tarde para nos livrarmos das vespas asiáticas?
Há locais onde as populações de vespas asiáticas desapareceram com sucesso, como Maiorca em 2020. Mas, segundo Darrouzet, "atualmente, a vespa atingiu proporções demasiado grandes na Europa" e as perspetivas de erradicação são praticamente nulas.
"Se formos eficazes, podemos reduzir a população a um nível socialmente aceitável e limitar o seu impacto na agricultura, na apicultura, na saúde humana e na biodiversidade", afirma o investigador, que está a trabalhar num novo sistema de armadilhas.
O seu trabalho centra-se nas feromonas que as vespas libertam quando são ameaçadas. Ele alerta para o facto de certos métodos de armadilhagem e de destruição de ninhos que utilizam produtos químicos ou técnicas indiscriminadas poderem prejudicar a biodiversidade.
Eric Darrouzet apela a que se retirem lições, numa altura em que foram detetadas outras espécies de vespas, como a vespa oriental perto de Marselha e a vespa Soror em Espanha.
"Precisamos de colocar rapidamente no terreno recursos financeiros substanciais. O que temos de ter em mente é que, se não agirmos, uma população pode invadir toda a Europa".