"A Europa está sempre pronta para um bom acordo", afirma Ursula von der Leyen, numa altura em que as tensões comerciais com os Estados Unidos atingem o seu ponto mais alto.
A Comissão Europeia propôs aos Estados Unidos (EUA) um acordo para eliminar os direitos aduaneiros sobre todos os produtos industriais, no âmbito das negociações comerciais, afirmou Ursula von der Leyen, sublinhando a sua intenção de retaliar contra as políticas de Donald Trump, caso as negociações falhem.
Trump anunciou a aplicação de uma taxa alfandegária geral de 20% às importações da União Europeia (UE), que entrará em vigor a 9 de abril. O aço, o alumínio e os automóveis estão sujeitos a uma taxa separada de 25%. No total, serão afetados mais de 380 mil milhões de euros de produtos fabricados na UE.
Os produtos farmacêuticos, o cobre, a madeira, os semicondutores e a energia ficaram isentos.
"Estamos prontos para negociar com os EUA. De facto, propusemos tarifas zero por zero para os produtos industriais, tal como fizemos com sucesso com muitos outros parceiros comerciais", afirmou a presidente da Comissão na segunda-feira à tarde.
"Porque a Europa está sempre pronta para um bom acordo. Por isso, mantemo-lo em cima da mesa. Mas também estamos preparados para responder através de contramedidas e defender os nossos interesses".
O acordo "zero por zero" foi proposto no ado "repetidamente" para o setor automóvel, disse von der Leyen, "mas não houve uma reação adequada" de Washington.
A Comissão alargou a proposta a todos os produtos industriais nos últimos dias, à medida que as conversações se intensificavam, disse um porta-voz do executivo comunitário. Não foram fornecidos mais pormenores.
"Preferimos ter uma solução negociada", disse von der Leyen, alertando que o seu executivo usará "todos os instrumentos" disponíveis para retaliar "se necessário", incluindo um instrumento anticoerção que foi introduzido em 2023, mas que nunca foi acionado.
Von der Leyen descreveu as tarifas abrangentes de Trump como um "grande ponto de viragem para os Estados Unidos" que teria "custos imensos" para os consumidores e empresas americanas e daria um golpe "massivo" na economia global.
Enquanto Washington descreveu as tarifas como "recíprocas", Bruxelas rejeitou a sua lógica como "não credível nem justificada".
Para além do impacto imediato nos fluxos comerciais entre a UE e os EUA, que coloca milhares de milhões em risco de serem eliminados, a Comissão está também preocupada com as potenciais ramificações que a decisão de Trump terá no comércio internacional, em particular na Ásia.
Os países asiáticos foram atingidos com taxas mais elevadas do que o bloco europeu: 24% para a Malásia, 26% para a Índia, 32% para a Indonésia, 36% para a Tailândia, 46% para o Vietname, 48% para o Laos e 49% para o Camboja, entre outros. A China foi alvo de uma tarifa "recíproca" de 34%, para além da anterior taxa de 20%, o que perfaz um total de 54%. (Pequim já ripostou).
Os níveis são tão proibitivos que Bruxelas receia que os países asiáticos, cujas economias dependem das exportações, fiquem excluídos do mercado americano e reencaminhem os seus produtos para a Europa como alternativa. A China é particularmente preocupante, uma vez que já está a ser alvo de um intenso escrutínio por inundar o Ocidente com produtos de baixo custo e fortemente subsidiados.
Durante a sua intervenção na segunda-feira, Ursula von der Leyen anunciou a criação de uma nova "task force" para acompanhar de perto as mudanças no comércio mundial.
"Vamos também proteger-nos contra os efeitos indiretos do desvio do comércio. Para o efeito, vamos criar uma 'task force de vigilância das importações'", afirmou. "Analisamos as importações históricas que temos e tivemos e (se) há um aumento específico repentino de um determinado produto ou de um determinado setor em relação ao qual temos de agir".