Nos EUA, os principais índices abriram no vermelho na tarde desta segunda-feira, acabando, depois, por recuperar. No entanto, mostram uma grande volatilidade. As bolsas europeias estiveram em forte queda devido à imposição de tarifas por parte dos EUA.
Fortes oscilações dominam a sessão de negociação de Wall Street esta segunda-feira, que recuperou de uma queda inicial que a arrastou 20% abaixo do seu recorde para uma subida repentina, apenas capaz de reverter as perdas, uma vez que permanecem as preocupações sobre se a guerra comercial do presidente Donald Trump irá torpedear a economia global.
O S&P 500 caía 3,2% no início da sessão, que teve a sua pior semana desde que a covid-19 começou a destruir a economia mundial em março de 2020. O índice, que está no centro das contas de muitos investidores, perdeu mais de 20% desde que estabeleceu um recorde há menos de dois meses.
Nas primeiras horas de negociação, as bolsas norte-americanas estão a demonstrar uma grande volatilidade. O S&P 500 ou para terreno positivo, voltando a cair no vermelho pouco depois.
O Dow Jones caía 3,2% pouco depois da abertura da sessão, acabando depois por recuperar. Descia cerca de 0,8% a meio da tarde. Já o Nasdaq começou em forte queda, de 3,9%, mas recuperou e estava ligeiramente no verde por volta das 16:00 de Lisboa.
O cenário alastrou-se aos investimentos de todo o mundo. As ações em Hong Kong caíram 13,2%, equivalendo ao seu pior dia desde 1997. Um barril de petróleo bruto de referência nos EUA caiu brevemente abaixo de 60 dólares pela primeira vez desde 2021, prejudicado por preocupações de que uma economia global enfraquecida por barreiras comerciais queimará menos combustível. O Bitcoin caiu abaixo dos 78 mil dólares, muito abaixo do seu recorde, acima dos 100 mil dólares, estabelecido em janeiro, depois de se manter mais estável do que outros mercados na semana ada.
Uma "bofetada na cara" de Wall Street
Tudo isto é uma "bofetada na cara" de Wall Street, não só por causa das perdas acentuadas que está a sofrer, mas porque sugere que Trump pode não se comover com a sua dor. Muitos investidores profissionais há muito que pensavam que um presidente que se vangloriava dos recordes alcançados sob a sua alçada iria recuar nas suas políticas se estas fizessem o Dow cambalear.
No domingo, Trump disse aos jornalistas a bordo do Air Force One que não quer que os mercados caiam. Mas também disse que não estava preocupado com uma liquidação, afirmando que "às vezes é preciso tomar medicamentos para resolver alguma coisa".
Alguns investidores estão a agarrar-se à esperança de que Trump possa baixar as suas tarifas depois de negociar com outros países, e o presidente norte-americano disse, no domingo, que ouviu líderes “a morrer de vontade para fazer um acordo”. Uma redução das tarifas em breve poderia ajudar a evitar uma recessão, mas se isso poderá acontecer ainda é incerto.
Trump deu várias razões para as suas duras tarifas, incluindo trazer os empregos da indústria transformadora de volta aos Estados Unidos, um processo que pode levar anos. Referiu ainda, no domingo, que queria baixar os valores relativos ao montante que os Estados Unidos importam de outros países em comparação com o montante que exportam para eles.
“As recentes tarifas deverão aumentar a inflação e fazem com que muitos considerem uma maior probabilidade de recessão”, escreveu Jamie Dimon, CEO do JPMorgan, na sua carta anual aos acionistas, esta segunda-feira. Em causa está um dos executivos mais influentes de Wall Street. “Se o menu de tarifas causa ou não uma recessão continua a ser uma incógnita, mas vai abrandar o crescimento.”
As taxas alfandegárias de Trump são um ataque à globalização que remodelou a economia mundial, que ajudou a baixar os preços dos produtos nas prateleiras das lojas dos EUA, mas também fez com que os empregos na produção fossem para outros países.
Também aumenta a pressão sobre a Reserva Federal. Os investidores estão praticamente habituados a esperar que o banco central atue como herói durante as recessões. Ao reduzir as taxas de juro para facilitar a contração de empréstimos por parte das famílias e das empresas norte-americanas, juntamente com outras medidas menos tradicionais para estimular a economia, a Reserva Federal ajudou a economia dos EUA a recuperar da crise financeira de 2008, do crash da covid-19 em 2020 e de outros mercados em baixa.
Mas, desta vez, a Fed poderá ter menos liberdade para atuar, porque as condições são muito diferentes. Por um lado, em vez de um coronavírus ou de um sistema construído com base na crença excessiva de que os preços das casas nos EUA continuariam a subir, esta recessão do mercado deve-se principalmente à política económica da Casa Branca.
Talvez mais importante, a inflação também é mais elevada atualmente do que a Fed gostaria. E embora as taxas de juro mais baixas possam impulsionar a economia, também podem exercer uma pressão ascendente sobre a inflação. As expetativas de inflação já estão a subir devido às tarifas de Trump, que provavelmente aumentarão os preços dos bens e serviços.
“A ideia de que existe tanta incerteza quanto à forma como estas tarifas se irão desenrolar é o que está realmente a impulsionar esta queda nos preços das ações”, disse Rintaro Nishimura, um associado do Asia Group.
Nathan Thooft, diretor de investimentos e gestor de carteiras da Manulife Investment Management, afirmou que é provável que mais países respondam aos EUA com tarifas de retaliação. Dado o grande número de países envolvidos, “na nossa opinião, será necessário um tempo considerável para resolver as várias negociações que provavelmente ocorrerão”.
“Em última análise, a nossa opinião é que a incerteza e a volatilidade do mercado são suscetíveis de persistir durante algum tempo”, afirmou.