A investigação, que concluiu que as forças armadas israelitas não tinham avaliado corretamente as intenções do Hamas, deverá aumentar a pressão sobre o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
O exército israelita itiu o seu "fracasso total" no ataque mortal de 7 de outubro de 2023 perpetrado pelo Hamas, afirmando que subestimou enormemente as capacidades do grupo militante.
Uma investigação do exército israelita divulgada na quinta-feira afirma que as Forças de Defesa de Israel (FDI) "falharam na sua missão de proteger os civis israelitas".
O relatório poderá pressionar o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu a lançar um inquérito mais alargado, amplamente exigido, para examinar as decisões políticas que precederam o ataque mais mortífero da história de Israel, que desencadeou a guerra de 16 meses em Gaza.
As principais conclusões do inquérito são que os militares israelitas interpretaram mal as intenções do Hamas, subestimaram a sua força e não estavam preparados para o ataque surpresa de milhares de militantes fortemente armados nas primeiras horas da manhã de um feriado judaico importante.
Um dos principais equívocos foi o facto de o Hamas, que tomou o controlo de Gaza da Autoridade Palestiniana em 2007, estar mais interessado em governar do que em combater Israel, segundo o inquérito.
"O dia 7 de outubro foi um fracasso total", afirmou um alto funcionário do exército israelita após a publicação do inquérito. "Demasiados civis morreram nesse dia, perguntando a si próprios, no seu coração ou em voz alta: onde estavam as FDI?", disse o oficial, que falou sob condição de anonimato.
Em comentários feitos aos comandantes militares e partilhados com os meios de comunicação social, o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, tenente-general Herzi Halevi, disse que assumia a responsabilidade pelas falhas das FDI.
"Eu era o comandante das forças armadas a 7 de outubro e tenho a minha própria responsabilidade. Também carrego o peso de toda a vossa responsabilidade - que também considero minha", disse Halevi, que anunciou a sua demissão em janeiro e deverá abandonar o cargo na próxima semana.
O ataque matou cerca de 1.200 pessoas, na sua maioria civis, e o Hamas raptou mais 251.
Desde então, pelo menos 48.000 pessoas foram mortas na guerra de Israel em Gaza, segundo o Ministério da Saúde, dirigido pelo Hamas. O ministério não faz distinção entre civis e combatentes.
Planeamento durante anos
De acordo com a investigação, a perceção de que o Hamas não queria a guerra levou os decisores a não tomarem medidas que poderiam ter impedido o ataque.
O oficial militar israelita disse que os serviços secretos mostraram que o falecido líder do Hamas, Yahya Sinwar, morto em outubro ado, tinha começado a planear o ataque já em 2017.
Embora o relatório não tenha atribuído culpas a nenhum soldado ou oficial, espera-se que abra caminho a um ajuste de contas nas forças armadas e a eventuais demissões. Para além de Halevi, outros oficiais de alta patente demitiram-se, como o ex-chefe dos serviços secretos militares.
Muitos israelitas acreditam que os fracassos do 7 de outubro vão para além do exército e culpam Netanyahu pelo que consideram ser uma estratégia falhada de dissuasão e contenção nos anos que antecederam o ataque. Essa abordagem incluiu permitir que o Catar enviasse malas de dinheiro para Gaza e marginalizar a rival do Hamas, a Autoridade Palestiniana.
O governo de Netanyahu tem resistido aos apelos para abrir um inquérito sobre a responsabilidade do governo no ataque, dizendo que deve esperar até que a guerra termine.
A primeira fase de um cessar-fogo em três etapas, que teve início a 19 de janeiro, deverá terminar no sábado. Estão atualmente em curso conversações entre Israel e o Hamas sobre a fase seguinte.