As eleições parlamentares na Geórgia foram consideradas como um momento existencial para a democracia por ativistas que querem ver o partido pró-russo, Sonho Georgiano, expulso do poder.
"Vê-se isto por toda a cidade de Tbilisi", diz Ana Tavadze, apontando para a bandeira europeia azul e amarela.
A ativista de 27 anos tem estado a fazer campanha para três organizações diferentes no período que antecede as eleições parlamentares de sábado, na Geórgia.
"Estas eleições são um momento existencial na história da Geórgia", disse, refletindo sobre a oportunidade que os georgianos têm de moldar o futuro do país na UE - ou fora dela.
No sábado, quando as urnas abrirem, milhões de georgianos, no país e no estrangeiro, irão votar numa eleição que a presidente Salome Zourabichvili considerou um "referendo" sobre a escolha do país entre a Europa e a Rússia.
O partido no poder, o Sonho Georgiano, enfrentará quatro grandes partidos da oposição: Movimento Nacional Unido, Geórgia Forte, Coligação para a Mudança e Gakharia para a Geórgia.
Todos am a Carta da Geórgia, um apelo à ação lançado por Zourabichvili. Nessa carta, Zourabichvili pede aos quatro partidos que ajudem a retirar o Sonho Georgiano do poder, impedindo-o de formar uma coligação.
Os críticos dizem que a Sonho Georgiano, que está no poder desde 2012, perdeu a confiança do povo graças à controversa lei dos "agentes estrangeiros", também conhecida como a "lei russa", que provocou protestos em massa este ano e congelou o processo de adesão da Geórgia à UE.
Fundado e liderado pelo bilionário Bidzina Ivanishvili, o partido propôs outra legislação que, segundo a oposição, imita as leis introduzidas na Rússia - incluindo um projeto de lei recentemente aprovado que, segundo os seus detratores, restringe severamente a comunidade LGTBQ+.
O Sonho Georgiano rejeitou as alegações, afirmando que pode garantir a paz com a vizinha Rússia, através de políticas pragmáticas, descrevendo as atuais eleições como uma escolha entre "paz e guerra".
Moscovo ocupa atualmente 20% do território do país nas regiões separatistas da Ossétia do Sul e da Abcásia, na sequência de uma invasão em 2008, que o Sonho Georgiano afirma que a sua oposição corre o risco de repetir.
Ivanishili e o primeiro-ministro do país, Irakli Kobakhidze, prometeram restabelecer as relações com a UE, defendendo que a Geórgia deve aderir ao bloco nas suas próprias condições. O partido afirma que está no bom caminho para aderir à UE até 2030.
"Somos claramente pró-europeus enquanto governo, e demonstramo-lo através das nossas acções", disse Kobakhidze à Euronews.
"Somos uma nação cristã e a Europa esteve sempre associada ao cristianismo. Defendia-o, protegendo o cristianismo para a Geórgia. Por isso, a Europa foi sempre uma escolha natural para a Geórgia e para os georgianos", explicou.
"E essa é uma das razões, ou a razão mais forte, pela qual queremos ser um membro de pleno direito da família europeia".
O que dizem as sondagens?
Até à data, as sondagens de opinião têm dado resultados contraditórios, sendo que muitas delas foram encomendadas por partidos políticos.
Uma sondagem realizada pela empresa britânica de estudos de mercado Savanta, na quinta-feira, coloca o Sonho Georgiano na liderança, mas longe da maioria, com 35% e a Coligação para a Mudança em segundo lugar, com 19%.
Marika Mikiashvili, da Coligação para a Mudança, disse que, apesar de estar satisfeita por ver o seu partido em segundo lugar, a prioridade continua a ser destituir o partido do poder.
"Neste momento, estamos a concentrar-nos num governo de coligação que irá promover uma mudança global e abrir as negociações de adesão com a União Europeia", disse Mikiashvili à Euronews.
"É importante que a Coligação para a Mudança, um partido apoiado pela juventude, avance, mas a formação de um governo de coligação centrado na democracia é a prioridade".
Mikiashvili disse que o seu partido pretende realizar eleições antecipadas assim que as reformas essenciais forem efetuadas para reabrir as discussões com a UE, em conformidade com a Carta da Geórgia.
O maior partido, o Movimento Nacional Unido, atualmente em terceiro lugar nas sondagens, com 16%, foi responsável por nove anos controversos no poder. Mikiashvili afirma que o seu partido estaria disposto a formar uma coligação com o Movimento Nacional Unido, a fim de retirar imediatamente o Sonho Georgiano do poder.
Quais são os obstáculos?
O movimento pró-UE da Geórgia é forte há décadas, tendo uma sondagem de março de 2023 revelado que 85% dos georgianos são a favor da adesão ao bloco.
Apesar da grande aprovação, o Sonho Georgiano garantiu um terceiro mandato no poder em 2020. No entanto, alguns especialistas sugerem que a introdução do projeto de lei sobre agentes estrangeiros e o adiamento da adesão à UE prejudicaram permanentemente a popularidade do partido.
A sua popularidade diminuiu desde as últimas eleições, sobretudo devido às medidas catastróficas que tomaram nos últimos anos", afirmou Shalva Dzebisashvili, diretor de Política e Relações Internacionais da Universidade da Geórgia.
"Esta não é uma eleição normal", disse Dzebisashvili à Euronews. "As pessoas sabem que se escolhermos o Sonho Georgiano, isso significa o status quo e a recusa do futuro europeu".
Mas se a popularidade do partido diminuiu de facto, os defensores pró-europeus dizem que ainda estão preocupados com a intimidação dos eleitores no período que antecedeu as eleições.
Dzebisashvili salienta que o Sonho Georgiano controla a comissão eleitoral, o tribunal e milhares de funcionários públicos.
"Preocupa-nos que nas regiões mais remotas e nos municípios locais, as pessoas possam ser direta ou indiretamente influenciadas a votar no Sonho Georgiano.
"Estamos preocupados com os relatos de pessoas a quem foi pedido que apresentassem provas do seu voto e que foram ameaçadas de perder o emprego", afirma Elene Kintsurashvili, coordenadora de programas do Fundo Marshall Alemão.
Elene Kintsurashvili refere a falta de assembleias de voto para a diáspora georgiana em países vizinhos como a Polónia, onde a única assembleia de voto se situa em Varsóvia, a capital do país.
Há ainda receios de que a Rússia tente interferir durante as eleições, como fez na Moldova, quando os cidadãos foram às urnas no fim de semana ado, onde lançou campanhas de desinformação e de compra de votos.
Os especialistas também sugerem que, se o Sonho Georgiano não conseguir a maioria, como preveem as sondagens, poderá não aceitar a sua derrota e permitir a transferência de poder para um partido diferente.
"O facto de o partido não estar preparado para itir a derrota e aceitar uma simples transição de poder cria este tipo de sentimento de tensão na sociedade", disse Dzebisashvili. "Existe uma preocupação válida de que eles possam tentar usar a força bruta".
Kobakhidze rejeitou estas afirmações.
"Posso dizer que a Rússia não tem influência na Geórgia", afirmou. "Não existem partidos políticos nos quais eles possam ter influência. Não existem canais de comunicação social com a sua influência".
"É por isso que a Rússia não pode influenciar as eleições na Geórgia", insistiu Kobakhidze.
O que se segue?
O Parlamento Europeu confirmou que as eleições serão monitorizadas por observadores nacionais e internacionais, incluindo uma delegação do Parlamento Europeu.
As urnas abrirão às 8h00 locais (6h00 CET) de sábado e encerrarão à noite, esperando-se que os resultados sejam conhecidos entre o final de sábado e o início da manhã de domingo.
O partido mais votado terá o direito de formar governo, cabendo ao presidente supervisionar eventuais novas eleições.
Se a Carta Georgiana de Zourabichvili se mantiver, o Sonho Georgiano não poderá formar uma coligação, uma vez que os restantes partidos se recusarão a trabalhar com ele.
Mas, na ausência de sondagens fiáveis, o resultado das eleições continua a ser imprevisível, tal como o próximo o do Sonho Georgiano se não conseguir assegurar uma maioria.
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