A Guardia Civil está a investigar os pais de três crianças, de 8 e 10 anos, que estiveram fechadas em casa durante quatro anos em condições insalubres. Foi uma vizinha que deu o alerta: ouviu vozes de crianças, mas nunca as viu.
A imprensa apelidou a habitação de “casa dos horrores”, um nome mais do que apropriado para o que a polícia local de Oviedo encontrou na cidade asturiana de Fitoria. Três crianças, dois gémeos de oito anos e o irmão mais velho, de 10, não viam o sol desde 2021. Foram negligenciados e reagiram com medo quando viram os agentes.
O casal, um homem alemão e uma mulher norte-americana, de 53 e 48 anos, respetivamente, mantinha os filhos fechados à chave sem os deixar sair. As crianças usavam fraldas e estavam proibidas de ter qualquer o com o mundo exterior, apenas tinham um tempo muito limitado para olhar pela janela, que era o seu único entretenimento. Além disso, eram obrigadas a respeitar horários rigorosos, mesmo para ir à casa de banho, e eram tratadas como bebés.
Parece que, após a pandemia de covid-19, os pais ficaram obcecados e fecharam-se com os filhos em casa. Segundo os vizinhos, só abriam a porta para ir buscar as compras e os três irmãos nunca punham os pés na rua. A habitação estava repleta de máscaras e medicamentos.
Foi uma vizinha que alertou as autoridades, pois ouvia vozes de crianças, mas nunca as viu a brincar no exterior da casa. Quando os agentes da polícia chegaram ao local, foi o pai que abriu a porta, em evidente mau estado físico, e pediu-lhes que pusessem máscaras e se mantivessem afastados das crianças.
Quando os agentes entraram, verificaram que as crianças usavam três máscaras e eram alvo de negligência. Além disso, não saíam do lado da mãe e tinham medo de ver outras pessoas perto delas. A casa era também habitada por um gato, que estava rodeado pelos seus próprios excrementos. Os irmãos usavam todos fraldas, apesar de serem já demasiado crescidos para necessitar das mesmas.
Excitação ao ver o exterior e falta de coordenação
Os últimos registos médicos dos menores remontama 2019, tendo sido realizados na Alemanha. A mãe contou ter tido a intenção de fazer com que os filhos fossem vistos por profissionais de saúde, mas que tinha deixado ar o tempo. Quando saíram de casa, os irmãos mal tinham coordenação, mas estavam muito contentes por poderem andar na rua, segundo a imprensa local.
Os polícias que libertaram as crianças ficaram impressionados com a sua reação quando saíram à rua, dizendo que estavam fascinados por tocar na relva, como se nunca tivessem estado ao ar livre. As crianças foram levadas para o hospital universitário de Oviedo para uma avaliação geral.
Gastavam três vezes mais eletricidade do que o habitual numa casa convencional e viviam rodeados de lixo
Segundo o jornal "El Español", a habitação tinha vários aparelhos de purificação do ar e a família “gastava três vezes mais do que o habitual numa casa convencional, ao ponto de a proprietária da casa pensar que tinha uma avaria na rede de abastecimento”. Apesar desta obsessão por respirar ar puro, a habitação estava cheia de lixo. Os relatos referem que foram encontrados pensos higiénicos e tampões debaixo da cama do casal e que a casa de banho dos hóspedes foi transformada numa lixeira para as fraldas sujas das crianças.
Os pais foram detidos pela Guardia Civil e encontram-se em prisão preventiva enquanto as autoridades competentes levam a cabo a sua investigação. Os irmãos foram colocados ao cuidado dos Serviços Sociais do Principado das Astúrias.