Numa altura em que o presidente dos EUA, Donald Trump, faz uma pausa nos direitos aduaneiros, os aliados da NATO são alertados para sinais que apontam para uma diminuição do empenho dos EUA na aliança.
Os aliados da NATO reúnem-se em Bruxelas esta quinta-feira, mas questionam o nível de empenho da istração norte-americana na aliança transatlântica, inicialmente criada para combater a ameaça do império soviético. Isto apesar dos protestos em contrário do secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, e do secretário-geral da NATO, Mark Rutte.
Os ministros da Defesa ocidentais, organizados à volta de França e do Reino Unido, da chamada "Coligação de Interessados" (Coalition of the Willing) vão reunir-se na sede da NATO para discutir um potencial envolvimento militar e apoio logístico para uma "força de tranquilização" multinacional, a ser utilizada como salvaguarda no caso de um cessar-fogo ou acordo de paz na Ucrânia.
Mas os EUA não vão estar presentes nesta reunião de 30 países para discutir a melhor forma de utilizar as capacidades de cada país para apoiar a "defesa e segurança a longo prazo" da Ucrânia.
Na sexta-feira, o Reino Unido e a Alemanha vão presidir ao Grupo de o para a Defesa da Ucrânia (GCDU), também conhecido como "Grupo Ramstein", que reúne 57 países que apoiam militarmente a Ucrânia, incluindo os 32 membros da NATO e 25 outros países.
Desde a sua criação, o grupo foi liderado pelos EUA, sob a direção do antigo secretário da Defesa Lloyd Austin, durante a istração Biden.
Desde que foi nomeado, o seu sucessor, Pete Hegseth, nunca presidiu ao grupo e nem sequer vai participar na reunião desta sexta-feira, embora os EUA enviem um representante. Fontes ocidentais mostram-se relutantes em dizer que os Estados Unidos se libertaram permanentemente deste papel, mas não há dúvida de que é um reflexo de uma nova abordagem estratégica, item alguns.
A diminuição do apoio da istração ao grupo de o, "ao dizer aos europeus 'tomem conta disto' de uma forma grosseira, não é apenas um estilo, mas também um sinal de uma mudança de conceito estratégico que coloca a Europa numa posição secundária", disse à Euronews uma fonte familiarizada com a situação.
"É evidente que existe um preconceito cultural contra a Europa no seio da istração, as tarifas mostram disso, mas também a linguagem utilizada por Hegseth e Vance no grupo do Signal, descrevendo os europeus como parasitas, etc.", disse a fonte.
"São desdenhosos e desprezam a Europa e, infelizmente, esse sentimento está profundamente enraizado nesta equipa."
O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, tentou dissipar algumas das preocupações que se faziam sentir entre os países da NATO quando participou numa cimeira de ministros dos Negócios Estrangeiros, na semana ada, considerando tudo como uma "hipérbole".
"Os Estados Unidos estão na NATO, neste momento os Estados Unidos estão tão ativos na NATO como sempre estiveram", afirmou.
"Alguma desta histeria e hipérbole que vejo nos meios de comunicação mundiais e em alguns nos Estados Unidos é injustificada", disse aos jornalistas, na primeira viagem à sede da NATO desde que foi nomeado.
Mas as suspeitas são profundas e vários diplomatas da aliança ocidental itiram que estão a preparar-se para uma retirada de 10.000 até 50.000 soldados norte-americanos da Europa, como parte da nova mudança estratégica dos EUA para o Indo-Pacífico.
Para aumentar o nervosismo na Europa, há notícias não confirmadas nos media norte-americanos de que a istração está a ponderar abandonar o papel militar central na aliança da NATO - de comandante Supremo Aliado na Europa, conhecido como SACEUR - um cargo que, desde o início da NATO, foi sempre ocupado por um general dos EUA. Não há qualquer sugestão de que o General Christopher Cavoli, atual comandante do Comando Europeu dos EUA, não venha a ser substituído por um compatriota norte-americano, mas anteriormente seria impensável levantar esta questão.
Os Estados Unidos têm cerca de 100.000 soldados na Europa Central. Os diplomatas europeus dizem que esperam que seja anunciada uma retirada de alguns deles, mas receiam as condições em que isso vai acontecer.
"Esperamos que qualquer decisão seja tomada no âmbito de um processo que inclua discussões com os aliados", disse um diplomata, acrescentando: "E não como parte de qualquer acordo com a Rússia".
"Ouvirmos falar disso nos meios de comunicação social mostra que existe, pelo menos, um processo", disse este diplomata.
O secretário-geral da NATO, Mark Rutte, procurou afastar o espetro de uma redução de tropas por parte dos EUA.
"Não há planos para que os EUA reduzam subitamente a presença na Europa, mas sabemos que, sendo os Estados Unidos a superpotência mundial que são, têm de estar presentes em mais do que um teatro de operações", disse a semana ada. "Temos vindo a ter esse debate há muitos anos".
O secretário de Estado da Defesa dos EUA, Pete Hegseth, disse o mesmo durante a sua viagem inaugural à Europa, afirmando que "não se pode partir do princípio de que as tropas americanas vão ficar para sempre", quando esteve na Polónia, em fevereiro ado.
Mas uma fonte disse à Euronews que é de facto possível haver um movimento de tropas norte-americanas para fora do continente europeu. E a nomeação, na terça-feira, de Elbridge Colby - um dos principais falcões da China - como principal conselheiro do Pentágono, pouco ou nada vai fazer para acabar com esta especulação.
Colby foi conselheiro no último mandato de Trump na Casa Branca e já defendeu no ado que os EUA precisam de retirar tropas da Europa e enviá-las para o Oriente.
"É credível para mim que possa haver uma alteração errática dos níveis de tropas", disse a fonte.
O facto de o SACEUR [nas mãos dos EUA] ter sido, em parte, simbólico em relação ao apoio dos EUA à Europa e à luta contra a União Soviética, mas também uma forma de lidar com o guarda-chuva nuclear, pelo que estes rumores são um sinal preocupante", acrescentou.
O facto de o atual SACEUR ter-se juntado a estas preocupações não vai acalmar os nervos em Bruxelas. Na semana ada, Cavoli, ao testemunhar no Senado dos EUA, afirmou que seria "problemático" se os EUA abandonassem o papel de liderança no comando das forças da NATO na Europa.