Polícia já deteve cerca de 400 pessoas desde que começaram os protestos, na sequência das eleições legislativas que deram a vitória ao Sonho Georgiano, o partido no poder que mantém ligações estreitas com a Rússia.
Os protestos pró-UE na Geórgia entram na terceira semana antes da eleição presidencial de sábado, na qual se espera que o candidato de extrema-direita Mikheil Kavelashvili seja nomeado - as presidenciais deixaram de se realizar por sufrágio universal por decisão do partido no poder, o Sonho Georgiano, acusado de ter ligações estreitas a Moscovo.
Mikheil Kavelashvili, ex-jogador de 53 anos da Premier League e da seleção georgiana, deverá conquistar os votos necessários do colégio eleitoral georgiano, controlado pelo Sonho Georgiano.
Segundo uma recente alteração constitucional, a eleição do presidente da Geórgia deixará de ser feita por sufrágio universal e ará a ser realizada por um colégio eleitoral com 300 membros.
A data da eleição foi decidida por unanimidade com os votos dos deputados do partido no poder, uma vez que os 61 deputados da oposição se recusam a participar nas sessões parlamentares por considerarem fraudulentos os resultados das eleições legislativas de outubro ado.
Kavelashvili, um ex-avançado que jogou no Manchester City, foi eleito ao parlamento em 2016, representando o Sonho Georgiano. Em 2022, co-fundou o movimento Poder Popular, que ficou conhecido pela sua retórica contra o Ocidente.
Mais de 400 detenções
As manifestações na Geórgia começaram há duas semanas, quando o governo anunciou que as negociações de adesão à UE seriam adiadas. Prevê-se que os protestos se intensifiquem no sábado, com a nomeação do novo presidente. Salome Zourabichvili, a atual presidente - um cargo eminentemente cerimonial na Geórgia - tem-se pronunciado repetidamente a favor dos manifestantes, apoiando a posição defendida pela oposição e ativistas, de que as eleições de outubro foram manchadas por irregularidades generalizadas.
Sob condenação internacional, a polícia utilizou gás lacrimogéneo e canhões de água para dispersar as manifestações diárias, tendo detido até ao momento mais de 400 manifestantes.
Os opositores acusam o Sonho Georgiano, no poder, de sacrificar as relações com a Europa em favor de laços mais estreitos com a Rússia.
Na noite de quinta-feira, uma delegação do Parlamento Europeu esteve em Tbilisi, onde marchou ao lado dos manifestantes. Os seis eurodeputados reuniram-se com a presidente pró-ocidental da Geórgia, Salome Zourabichvili, e com os representantes da oposição, da sociedade civil e dos meios de comunicação social.
Sanções na calha
Os protestos nas ruas tomaram nova dimensão e estenderam-se para além da capital depois de o Sonho Georgiano ter decidido suspender as negociações de adesão à UE até pelo menos 2028, medida tomada em resposta a uma resolução do Parlamento Europeu que apontava o facto de as eleições na Geórgia não terem sido livres nem justas.
O Parlamento Europeu defendeu que as eleições representaram mais uma manifestação do contínuo retrocesso democrático da Geórgia, "pelo qual o partido no poder, o Sonho Georgiano, é totalmente responsável".
Os observadores internacionais afirmam terem assistido a casos de violência, suborno e voto duplo nas eleições, o que levou alguns legisladores da UE a exigirem uma repetição do ato eleitoral.
Na próxima segunda-feira, a nova chefe da diplomacia da UE, Kaja Kallas, deverá colocar em cima da mesa dos ministros dos Negócios Estrangeiros a possibilidade de avançar com sanções contra altos responsáveis georgianos, ainda que a Hungria já tenha vindo garantir que vetará qualquer restrição desse tipo.
"A questão estará em cima da mesa", disse um alto funcionário da UE, que falou sob condição de anonimato devido à sensibilidade do assunto. "Estamos a falar de sanções dirigidas às pessoas que participaram na repressão dos manifestantes".
Kallas não vai chegar à reunião ministerial de segunda-feira com uma lista específica de nomes que pretende punir com o congelamento de bens e a proibição de viajar, como o bloco costuma fazer. Em vez disso, a Alta Representante vai pedir um mandato para dar início aos trabalhos técnicos.
"Vamos discutir o quadro político para decidir se devemos ou não atuar em relação à Geórgia", disse o funcionário. "Não posso entrar em nomes e posições".