Poluição e alterações climáticas: especialistas discutem como resolver os problemas da água na Europa.
"Se quisermos garantir um futuro para a Europa, é melhor resolver o problema da água. Caso contrário, esqueçamos o assunto. Não há solução para o clima se não nos centrarmos na água", disse à Euronews Henk Ovink, Diretor Executivo e Comissário fundador da Comissão Mundial sobre a Economia da Água.
Henk Ovink foi um dos convidados do debate sobre a resiliência da água, realizado no dia 29 de maio, no âmbito da Green Week da União Europeia, em Bruxelas.
O animado pelo jornalista Jeremy Wilks contou ainda com a presença de Florika Fink-Hooijer, Directora-Geral do Ambiente da Comissão Europeia, e Arnaud Valleteau de Moulliac, Diretor-Geral da Veolia Water Technologies, uma filial do grupo Veolia, com sede em França, que gere o tratamento da água no valor de 1,65 mil milhões de euros.
Porque é que a água é um tema tão importante neste momento?
Uma sondagem recente da Comissão Europeia revela que a poluição é a principal preocupação dos europeus. 69% das pessoas inquiridas afirmaram-se preocupadas com o efeito da poluição na segurança da água.
A água está a tornar-se cada vez mais escassa. No entanto, a procura de água atingiu o nível mais elevado de sempre. Estima-se que a procura de água duplique até 2030.
A nossa água provém tanto do interior da Europa - a água azul dos rios e lagos - como do exterior do continente – a água verde que viaja através das plantas e da chuva. Por isso, é fundamental garantir a limpeza destas duas fontes de água.
A proteção da água é crucial para o ciclo hidrológico, para a biodiversidade, para a alimentação e para a economia. A água é a base de que depende toda a nossa vida. “Não há alternativa. Não podemos beber areia ou qualquer outra coisa”, frisou Ovink.
Quão poluídas estão as águas da Europa?
Em comparação com o contexto global, a água europeia é relativamente saudável, mas, de acordo com os perito, é preciso manter uma atitude de vigilância.
"Devemos preocupar-nos. A água afeta a nossa saúde, a saúde humana, a saúde dos nossos filhos, se quisermos criá-los num ambiente saudável. A água afeta a saúde dos nossos sistemas alimentares que, por seu turno, são afetados pela industrialização, pela poluição e pelos produtos químicos presentes nas nossas águas", disse Henk Ovink.
Entre as substâncias preocupantes encontradas nas águas, há os chamados “produtos químicos eternos”, conhecidos como PFAS. A água contém também vestígios de antibióticos, hormonas, produtos químicos industriais, cianotoxinas, nanomateriais e muitos outras substâncias.
“O que encontramos na nossa água é o que vem do nosso ambiente. Embora não nos devamos surpreender com o facto de os subprodutos das indústrias europeias acabarem na nossa água, podemos controlar o afluxo desses produtos e tratar a água”, afirmou Valleteau de Moulliac.
A monitorização e tratamento da água
A Diretiva relativa à água potável é um o na direção certa, de acordo com Florika Fink-Hooijer, Directora-Geral do Ambiente da Comissão Europeia.
“Dissemos que os PFAS terão de ser eliminados até 2026, ou separados e monitorizados, e agora estamos a dar orientações sobre como fazê-lo”, afirmou a responsável.
Há também propostas para combater os poluentes das águas superficiais e subterrâneas.
“É por isso que é importante regulamentar e fazer com que os Estados-Membros concordem com essa necessidade”, afirmou Fink-Hooijer.
Relativamente aos PFAS, a Dinamarca, a Alemanha, a Suécia, os Países Baixos e a Suécia estão a trabalhar em conjunto e solicitaram à Agência Europeia dos Produtos Químicos (ECHA) a sua proibição total.
Os PFAS proliferaram devido à sua utilidade em setores como a aeronáutica e a medicina. No entanto, podem demorar milhares de anos a decompor-se e, inclusivamente, poluir longe da sua fonte.
Agricultura intensiva e águas residuais.
Uma das principais utilizações da água é a agricultura. Cerca de 70% de toda a água extraída vai para a agricultura para produzir alimentos. Se essa água estiver poluída, a nossa saúde é afetada.
“Deve ser dada prioridade às políticas que apoiam os agricultores que adoptam métodos mais sustentáveis que reduzem os poluentes libertados na água”, afirmou Ovink.
“Mas o agricultor não é o único culpado pelos poluentes que acabam no nosso ambiente, é o sistema que o rodeia que temos de mudar”, frisou o responsável.
Valleteau de Moulliac afirmou que é possível “criar energia com a poluição”, referindo-se ao potencial de utilização dos resíduos da indústria alimentar para produzir fertilizantes.
Quais são as soluções?
As soluções devem ser adaptadas à dimensão do problema. Fink-Hooijer lembrou a importância da Diretiva relativa ao tratamento de águas residuais urbanas, de 1991.
Inicialmente, a diretiva centrava-se apenas nas grandes aglomerações, permitindo que as mais pequenas continuassem a despejar águas residuais, por não ultraarem o limiar para ter instalações de tratamento de águas residuais urbanas. A diretiva foi alterada para abranger um leque mais vasto de situações.
De acordo com Fink-Hooijer, para garantir a longevidade de um ciclo hidrológico benéfico para o ser humano, é preciso criar soluções naturais escaláveis tanto para os rios como para as paisagens urbanas.
"Temos de encarar a água como um tema local. Há um impacto global, mas é um tema local", afirmou Valleteau de Moulliac.
Para saber mais sobre a Diretiva-Quadro da Água da UE clique aqui.