O presidente dos EUA, Donald Trump, confirmou a aplicação de tarifas de 25% aos veículos não fabricados nos EUA, que entrarão em vigor a 2 de abril. As ações do sector automóvel caíram em toda a Ásia na sequência da notícia, esperando-se que o impacto se repercuta na Europa.
O presidente dos EUA, Donald Trump, assinou uma ordem executiva para impor tarifas de 25% sobre as importações de automóveis. Disse também que as taxas recíprocas planeadas para outros países seriam mais baixas do que o esperado. Ambas as medidas entrarão em vigor a 2 de abril.
“O que vamos fazer é aplicar uma tarifa de 25% a todos os automóveis que não sejam fabricados nos Estados Unidos”, afirmou na Casa Branca, na quarta-feira.
Referiu ainda, em declarações aos jornalistas, que irá tornar as taxas recíprocas “muito brandas”, acrescentando: “Penso que as pessoas vão ficar muito surpreendidas. Serão, em muitos casos, menores do que os direitos aduaneiros que nos cobram há décadas.”
Além disso, Trump indicou que as taxas sobre a madeira entrarão em vigor no mesmo dia.
De acordo com a ordem executiva, as tarifas sobre os automóveis não se aplicarão apenas a veículos já completos, mas também a peças de automóveis. Os veículos qualificados ao abrigo do Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA) serão avaliados, e os direitos aplicar-se-ão apenas ao conteúdo não fabricado nos EUA. Anteriormente, Trump tinha concedido uma isenção de um mês às tarifas automóveis ao abrigo do USMCA.
Em 2024, o México foi a principal fonte de importações de automóveis dos EUA, representando 16,2% da quota de mercado, seguido pela Coreia do Sul, Japão e Canadá, com quotas de 8,6%, 8,2% e 7,2%, respetivamente, de acordo com a GlobalData. A Alemanha ficou em quinto lugar, com as suas importações de automóveis para os EUA a representarem 2,7% das vendas totais.
As respostas da UE às tarifas de Trump
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, respondeu numa declaração: “Lamento profundamente a decisão dos EUA de impor tarifas às exportações europeias de automóveis.”
Indicou também que a União Europeia (UE) “continuará em busca de soluções negociadas, salvaguardando, simultaneamente, os seus interesses económicos”.
A UE anunciou, a 12 de março, que o bloco iria impor tarifas sobre 26 mil milhões de euros de bens dos EUA, “que corresponde ao alcance económico das tarifas dos EUA”, em abril. Este anúncio seguiu-se à decisão anterior de Trump de impor tarifas de 25% sobre as importações de aço e alumínio vindas de outros países. A Comissão retomará as contramedidas impostas de 2018 a 2020, durante o primeiro mandato de Trump, contra 8 mil milhões de euros de produtos americanos a 1 de abril, a que se seguirá um novo pacote de tarifas sobre 18 mil milhões de euros em meados de abril.
Na terça-feira, a Comissão reduziu a taxa de liberalização das importações de aço de 1% para 0,1%, “limitando, assim, a quantidade de aço que pode ser importada para a UE com isenção de tarifas”.
Tendo o executivo comunitário declarado ainda: “Os países deixarão de poder utilizar a totalidade dos volumes das quotas não utilizadas de outros países."
A decisão foi tomada numa altura em que “a indústria siderúrgica da UE enfrenta uma pressão intensa devido à sobrecapacidade global, ao aumento das exportações por parte da China e ao aumento das barreiras comerciais em mercados-chave como os EUA”, afirmou a Comissão.
Ações do setor automóvel em queda
As ações do setor automóvel na Ásia caíram acentuadamente na sequência das notícias, com as marcas japonesas, incluindo a Toyota, Honda, Nissan, Mazda Motor e Mitsubishi Motor, a caírem entre 3% e 6% no início da sessão. As ações da Hyundai, da Coreia do Sul, desciam 4% e as da Kia 3,6% às 4:33 (CET). No entanto, os fabricantes de automóveis chineses não foram muito afetados, uma vez que a China não é um grande exportador de automóveis para os EUA, representando apenas 0,6% da quota de mercado em 2024.
Os mercados europeus e norte-americanos ainda não tinham arrancado a sessão no momento do anúncio, mas as ações do setor automóvel já estavam sob pressão após os comentários de Trump na quarta-feira. Os fabricantes alemães de automóveis deverão ser dos mais afetados. As ações da Mercedes-Benz, Volkswagen e Porsche AG caíram 2,1%, 1,6% e 2,7%, respetivamente, na sessão anterior. É provável que o impacto se prolongue até ao dia de hoje.
Os fabricantes de automóveis dos EUA também deverão enfrentar desafios com as tarifas de Trump, uma vez que muitos operam instalações de fabrico fora do país, particularmente no México e no Canadá.
Euro recupera face ao dólar
O Euro recuperou face ao dólar americano durante a sessão asiática desta quinta-feira, com o anúncio das tarifas de Trump a enfraquecer o dólar. O par EUR/USD (Euro/Dólar dos EUA) subiu 0,33% para 1,0775 às 4:45 (CET), recuperando a maior parte das perdas da sessão anterior. No entanto, a moeda comum permaneceu numa baixa de três semanas em relação ao dólar, após perfazer, na quarta-feira, seis dias consecutivos de negociação em queda.