A bitcoin atingiu uma série de máximos históricos, depois de ultraar os 99.000 dólares (cerca de 95.000 euros) pela primeira vez durante a noite. A criptomoeda subiu mais de 40% em apenas duas semanas.
O valor de uma bitcoin está às portas dos 100.000 dólares, apenas dois anos depois de ter caído abaixo dos 17.000 dólares na sequência do colapso da bolsa de criptomoedas FTX. Esta recuperação ocorre numa altura em que os investidores esperam que a próxima istração de Donald Trump traga uma abordagem mais amigável em relação às criptmoedas e regulamente a moeda digital.
A bitcoin estava a ser negociada a 98.882 dólares esta sexta-feira, segundo a CoinDesk.
Como acontece com tudo nos voláteis mercados das criptomoedas, o futuro é imprevisível. E enquanto alguns estão otimistas, outros especialistas continuam a alertar para os riscos deste investimento.
Aqui está o que precisa saber:
Voltar atrás. O que são as criptomoedas?
As criptomoedas já existem há algum tempo. Mas é provável que esteja a ouvir falar mais sobre o assunto nos últimos anos.
Em termos básicos, uma criptomoeda é dinheiro digital. Este tipo de moeda foi concebida para funcionar através de uma rede online sem uma autoridade central. Isto significa que normalmente não é apoiada por qualquer governo ou instituição bancária. As transações são registadas através de uma tecnologia designada por blockchain.
A bitcoin é a maior criptomoeda e também a mais antiga, embora outros ativos - como o ethereum, o tether e o dogecoin - também tenham ganhado popularidade ao longo dos anos. Alguns investidores vêem as criptomoedas como uma "alternativa digital" ao dinheiro tradicional, apesar de ser muito volátil, com o preço dependente de condições de mercado mais alargadas.
Por que motivo a bitcoin está a subir?
Muitas destas subidas recentes têm a ver com o resultado das eleições presidenciais nos EUA.
Os investidores mostraram-se agradados com a vitória de Trump, na esperança de que seja capaz de fazer aprovar alterações legislativas e regulamentares que há muito defendem. Alterações que, de um modo geral, visam dar uma maior legitimidade às criptomoedas, sem demasiada burocracia.
Trump, que já foi um cético em relação às criptomoedas, prometeu recentemente fazer dos EUA "a capital das criptomoedas do planeta" e criar uma "reserva estratégica" de bitcoin. Durante a campanha, aceitou doações em criptomoedas e apelou aos fãs durante uma conferência de bitcoin em julho. Também lançou o World Liberty Financial, um novo projeto de familiares para negociar criptomoedas.
Ainda não se sabe como é que isto se vai desenrolar e se Trump vai ou não cumprir estas promessas rapidamente.
"Esta não é necessariamente uma história de curto prazo, é provavelmente uma história muito mais de longo prazo", disse o estrategista do Citi David Glass, à agência Associated Press, na semana ada. "E há a questão de quão rapidamente a política de criptomoedas nos EUA pode causar um impacto sério."
Adam Morgan McCarthy, analista de pesquisa da Kaiko, acha que o setor quer "apenas algum tipo de clareza". Grande parte da abordagem para regulamentar as criptomoedas no ado foi "baseada na aplicação", observa, o que tem sido útil para eliminar alguns maus atores. Mas a legislação pode preencher outras lacunas importantes.
Gary Gensler, que enquanto chefe da Comissão de Valores Mobiliários (SEC) sob o comando do presidente Joe Biden, liderou a repressão do Governo dos EUA contra o setor das criptomoedas, penalizou várias empresas por violarem a lei. Gensler anunciou na quinta-feira que vai deixar o cargo de presidente da SEC a 20 de janeiro, o dia da posse do novo presidente.
Apesar do recente entusiasmo dos investidores em torno de Trump, McCarthy disse que 2024 já foi um "ano extremamente importante para a regulamentação nos EUA", apontando, por exemplo, para a aprovação de ETFs de bitcoin à vista, o que marca uma nova forma de investir neste ativo.
Os ETFs à vista têm sido o motor dominante da bitcoin há já algum tempo. Mas, tal como grande parte do recente impulso das criptomoedas, registaram uma valorização recorde após as eleições. De acordo com Kaiko, os ETFs de bitcoin registaram 6 mil milhões de dólares em volume de transações só na semana das eleições.
Em abril, a bitcoin também registou o seu quarto "halving": um evento pré-programado que tem impacto na produção, reduzindo para metade a recompensa pela mineração, ou seja, a criação de novas bitcoins. Em teoria, se a procura se mantiver forte, alguns analistas dizem que este "choque de oferta" também pode ajudar a impulsionar o preço a longo prazo. Mas outros observam que pode ser demasiado cedo para o dizer.
Quais são os riscos?
A história mostra que se pode perder dinheiro em criptomoedas tão rapidamente quanto se ganha. O comportamento do preço a longo prazo depende de condições de mercado alargadas. A negociação decorre a todas as horas, todos os dias.
No início da pandemia da covid-19, a bitcoin estava em pouco mais de 5.000 dólares. O preço subiu para quase 69.000 dólares em novembro de 2021, durante um período de elevada procura de ativos tecnológicos, mas depois caiu durante uma série agressiva de aumentos das taxas da Reserva Federal. E, no fim de 2022, o colapso da FTX minou significativamente a confiança nas criptomoedas em geral, com a bitcoin a cair para menos de 17.000 dólares.
Os investidores começaram a retornar em grande número quando a inflação começou a esfriar e os ganhos dispararam com a antecipação e o sucesso inicial dos ETFs à vista. Mas os especialistas continuam a insistir na cautela, especialmente para os investidores com poucos recursos. Além disso, uma regulamentação mais leve da próxima istração Trump pode significar menos proteção.
Embora tenha sido um grande mês para as criptomoedas - e particularmente para a bitcoin, que McCarthy observa ter estabelecido recordes de valorização em dez dos últimos 21 dias - há sempre o risco de "correção" ou de os preços flutuarem de novo para baixo. Alguns ativos podem também ter mais restrições do que outros.
"Eu diria para manter as coisas simples. E não assuma mais riscos do que aqueles que pode ar", disse McCarthy, acrescentando que não existe uma "bola mágica" para saber ao certo o que se segue.
E quanto ao impacto climático?
Activos como a bitcoin são produzidos através de um processo chamado "mineração", que consome muita energia. Este tipo de operações, que dependem de fontes poluentes, têm suscitado especial preocupação ao longo dos últimos anos.
Um estudo recente publicado pela Universidade das Nações Unidas e pela revista Earth's Future concluiu que a pegada de carbono da extração de bitcoin em 2020 e 2021 em 76 países foi equivalente às emissões resultantes ao funcionamento de 190 centrais elétricas alimentadas a gás natural. O carvão respondeu à maior parte das necessidades de eletricidade da bitcoin (45%), seguido do gás natural (21%) e da energia hidroelétrica (16%).
O impacto ambiental da extração de bitcoin depende em grande medida da fonte de energia utilizada.
Os analistas do sector afirmam que a utilização de energia limpa tem aumentado nos últimos anos, coincidindo com os crescentes apelos à proteção do clima.