{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/2025/02/24/como-e-que-os-paises-do-medio-oriente-e-norte-de-africa-lidaram-com-a-crise-ucraniana" }, "headline": "Como \u00e9 que os pa\u00edses do M\u00e9dio Oriente e norte de \u00c1frica lidaram com a crise ucraniana?", "description": "Desde a eclos\u00e3o da guerra russo-ucraniana em fevereiro de 2022, os pa\u00edses da regi\u00e3o do M\u00e9dio Oriente e Norte de \u00c1frica (MENA) t\u00eam reagido de forma diferente \u00e0s repercuss\u00f5es do conflito, influenciados por fatores pol\u00edticos, econ\u00f3micos e de seguran\u00e7a.", "articleBody": "Tr\u00eas anos ap\u00f3s o in\u00edcio da guerra na Ucr\u00e2nia, qual tem sido a pol\u00edtica da Turquia, do Ir\u00e3o, da Ar\u00e1bia Saudita, do Catar, da S\u00edria, do Egito, da L\u00edbia, da Arg\u00e9lia e de Marrocos?Turquia: o fio da media\u00e7\u00e3o e as cordas dos interessesDesde o in\u00edcio dos acontecimentos, a Turquia procurou desempenhar o papel de mediador no conflito, tirando partido das suas boas rela\u00e7\u00f5es com a R\u00fassia e a Ucr\u00e2nia. Foi anfitri\u00e3 de conversa\u00e7\u00f5es de paz em Istambul e, juntamente com as Na\u00e7\u00f5es Unidas, mediou a Iniciativa dos Cereais do Mar Negro, que ajudou a aliviar a crise alimentar mundial.Embora condenando a invas\u00e3o russa, Ancara absteve-se de impor san\u00e7\u00f5es a Moscovo, refor\u00e7ando os seus la\u00e7os comerciais e econ\u00f3micos com a R\u00fassia. O com\u00e9rcio entre os dois pa\u00edses cresceu significativamente durante o conflito, tendo o presidente Recep Tayyip Erdogan sublinhado o seu empenhamento em aumentar as trocas bilaterais.Por outro lado, a Turquia forneceu \u00e0 Ucr\u00e2nia drones Bayraktar, produzidos pela empresa turca Baykar. Desde o in\u00edcio dos acontecimentos, a Ucr\u00e2nia tem utilizado esta arma contra os separatistas apoiados pela R\u00fassia no Donbass e contra as for\u00e7as russas. V\u00eddeos documentaram a efic\u00e1cia destas aeronaves na destrui\u00e7\u00e3o de tanques e sistemas de defesa a\u00e9rea russos. Numa tentativa de refor\u00e7ar as suas capacidades de defesa, em junho de 2023, a Ucr\u00e2nia anunciou planos para construir uma f\u00e1brica para produzir avi\u00f5es Bayraktar no seu territ\u00f3rio, em coopera\u00e7\u00e3o com a empresa turca Baykar.No entanto, a Turquia continuou a tentar ter um papel equilibrado na crise, sem se envolver numa escalada descontrolada em rela\u00e7\u00e3o a qualquer um dos pa\u00edses, manifestando sempre a sua disponibilidade para a media\u00e7\u00e3o.Numa altura em que o presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, lan\u00e7ou uma nova iniciativa para p\u00f4r termo \u00e0 guerra na Ucr\u00e2nia, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, sublinhou que os esfor\u00e7os dos EUA est\u00e3o em sintonia com os esfor\u00e7os de Ancara. Erdogan afirmou ainda que a Turquia tem estado ao lado da Ucr\u00e2nia desde a anexa\u00e7\u00e3o da Crimeia pela R\u00fassia e que est\u00e1 a trabalhar para encontrar uma solu\u00e7\u00e3o pac\u00edfica para a guerra.Ir\u00e3o: entre a neutralidade declarada e uma parceria mais profundaA diplomacia iraniana \u00e9 inflex\u00edvel ao declarar que n\u00e3o faz alian\u00e7as neste conflito, afirmando que n\u00e3o apoia a invas\u00e3o russa do territ\u00f3rio ucraniano. Ao mesmo tempo, est\u00e1 a desenvolver de forma constante as suas rela\u00e7\u00f5es com a R\u00fassia, como parte de uma estrat\u00e9gia que v\u00ea a expans\u00e3o da NATO para leste como uma amea\u00e7a \u00e0 seguran\u00e7a regional.Nos \u00faltimos anos, durante a crise ucraniana, as rela\u00e7\u00f5es entre Teer\u00e3o e Moscovo refor\u00e7aram-se em v\u00e1rias \u00e1reas, incluindo a coopera\u00e7\u00e3o militar e t\u00e9cnica, culminando com a do Acordo de Parceria Estrat\u00e9gica Global (CSPA) em janeiro de 2025.Al\u00e9m disso, o Ir\u00e3o tem sido continuamente acusado pelo Ocidente de fornecer \u00e0 R\u00fassia m\u00edsseis bal\u00edsticos, o que Teer\u00e3o tem negado, e drones Shahid, que apareceram no campo de opera\u00e7\u00f5es com as for\u00e7as russas sob o nome de \u0022Giran\u0022. Desenvolvidos na R\u00fassia, s\u00e3o eficazes no terreno e a Ucr\u00e2nia tem anunciado repetidamente que alguns deles foram abatidos no teatro de opera\u00e7\u00f5es.No final, o Ir\u00e3o mant\u00e9m uma posi\u00e7\u00e3o oficial apartid\u00e1ria neste conflito, mas, na realidade, desenvolve cada vez mais rela\u00e7\u00f5es com Moscovo que n\u00e3o s\u00e3o compar\u00e1veis \u00e0s que mant\u00e9m com Kiev.Ar\u00e1bia Saudita e Catar: primeiro a energia, depois o equil\u00edbrioTanto a Ar\u00e1bia Saudita como o Catar adotaram posi\u00e7\u00f5es relativamente neutras em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 guerra russo-ucraniana, sublinhando a necessidade de resolver o conflito por meios diplom\u00e1ticos. Os dois pa\u00edses evitaram tomar partido, a fim de preservar os seus interesses econ\u00f3micos e estrat\u00e9gicos, tanto com a R\u00fassia como com os pa\u00edses ocidentais, e, embora sublinhando o respeito pelo direito internacional e pela soberania dos Estados, evitaram emitir declara\u00e7\u00f5es incisivas ou escalar posi\u00e7\u00f5es, o que lhes permitiu manter canais de comunica\u00e7\u00e3o abertos com Moscovo e Kiev.Ambos os pa\u00edses beneficiaram do aumento dos pre\u00e7os da energia em consequ\u00eancia da crise, o que levou a um aumento significativo das receitas provenientes das exporta\u00e7\u00f5es de petr\u00f3leo e g\u00e1s.Para a Ar\u00e1bia Saudita, este aumento impulsionou a sua economia e apoiou os seus planos de desenvolvimento, como a Vis\u00e3o 2030, que tem como objetivo diversificar as fontes de rendimento nacional. Permitiu-lhe igualmente refor\u00e7ar os seus investimentos estrangeiros e aumentar as suas reservas financeiras.Apesar da cont\u00ednua press\u00e3o ocidental para aumentar a produ\u00e7\u00e3o de petr\u00f3leo a fim de compensar a escassez russa nos mercados mundiais, a Ar\u00e1bia Saudita comprometeu-se a respeitar os acordos OPEP+ que celebrou com a R\u00fassia e outros pa\u00edses para manter a estabilidade do mercado e dos pre\u00e7os. Riade tem repetidamente sublinhado que as suas decis\u00f5es em mat\u00e9ria de petr\u00f3leo se baseiam em considera\u00e7\u00f5es puramente econ\u00f3micas e n\u00e3o pol\u00edticas, salientando a necessidade de manter o equil\u00edbrio entre a oferta e a procura nos mercados mundiais.A pol\u00edtica saudita em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 crise ucraniana levou a que o Reino desempenhasse um papel proeminente ao acolher as primeiras reuni\u00f5es de alto n\u00edvel entre russos e americanos em Riade, na terceira semana de fevereiro de 2025, num esfor\u00e7o para contribuir para encontrar uma solu\u00e7\u00e3o pol\u00edtica para a crise e expandir a sua presen\u00e7a diplom\u00e1tica e coopera\u00e7\u00e3o com as duas grandes pot\u00eancias, impulsionada pelas boas rela\u00e7\u00f5es com a R\u00fassia e pelo novo impulso americano ap\u00f3s o regresso de Donald Trump \u00e0 Casa Branca.Por seu lado, o Catar manifestou a sua vontade de fornecer \u00e0 Europa g\u00e1s natural liquefeito a longo prazo, especialmente numa altura em que os pa\u00edses europeus procuram afastar-se da depend\u00eancia do g\u00e1s russo. No entanto, Doha deixou claro que o aumento das suas exporta\u00e7\u00f5es para a Europa exigir\u00e1 enormes investimentos em infraestruturas, incluindo a constru\u00e7\u00e3o de novas instala\u00e7\u00f5es de liquefa\u00e7\u00e3o e a expans\u00e3o das capacidades de produ\u00e7\u00e3o. O Catar tem tamb\u00e9m mantido fortes la\u00e7os com a R\u00fassia no setor da energia, sendo parceiro em grandes projetos de g\u00e1s, como o projeto Yamal no \u00c1rtico.S\u00edria: o lado da R\u00fassia e depois uma mudan\u00e7a radicalDesde o in\u00edcio do conflito na Ucr\u00e2nia, o governo s\u00edrio de Bashar al-Assad apoiou abertamente a posi\u00e7\u00e3o russa, sublinhando a sua estreita parceria estrat\u00e9gica com Moscovo. Declarou o seu apoio \u00e0s a\u00e7\u00f5es da R\u00fassia, argumentando que Moscovo estava a contrariar as tentativas do Ocidente de impor a sua hegemonia na arena internacional. Este apoio resulta dos fortes la\u00e7os hist\u00f3ricos entre os dois pa\u00edses, que se aprofundaram consideravelmente desde a interven\u00e7\u00e3o militar da R\u00fassia na S\u00edria, em 2015, para salvar o regime de Assad do colapso durante a guerra civil.No decurso da guerra, Damasco assumiu posi\u00e7\u00f5es pol\u00edticas de apoio a Moscovo nos f\u00f3runs internacionais, nomeadamente votando contra as resolu\u00e7\u00f5es de condena\u00e7\u00e3o da invas\u00e3o russa nas Na\u00e7\u00f5es Unidas. Tamb\u00e9m apoiou a posi\u00e7\u00e3o russa de que a expans\u00e3o da NATO para leste constitu\u00eda uma amea\u00e7a \u00e0 seguran\u00e7a regional e internacional. Na frente diplom\u00e1tica, a S\u00edria secundou a narrativa russa sobre a guerra da Ucr\u00e2nia atrav\u00e9s dos meios de comunica\u00e7\u00e3o oficiais, argumentando que o conflito era o resultado de pol\u00edticas ocidentais hostis em rela\u00e7\u00e3o a Moscovo.Com a queda do regime de Assad no in\u00edcio de dezembro de 2024 e com Ahmad al-Sharaa a assumir a lideran\u00e7a do pa\u00eds, Damasco n\u00e3o deu qualquer sinal de apoio \u00e0 R\u00fassia na sua guerra na Ucr\u00e2nia, mas a nova lideran\u00e7a s\u00edria declarou que queria boas rela\u00e7\u00f5es com a R\u00fassia e manteve a presen\u00e7a russa em duas bases na regi\u00e3o costeira s\u00edria.Egito: equil\u00edbrio entre neutralidade e interessesO Egito caracterizou-se por um delicado equil\u00edbrio na forma como lidou com a guerra russo-ucraniana: apoiou as resolu\u00e7\u00f5es da ONU que condenavam a invas\u00e3o russa, mas absteve-se de tomar medidas que pudessem afetar a sua rela\u00e7\u00e3o estrat\u00e9gica com Moscovo. Esta atitude comedida deveu-se \u00e0 posi\u00e7\u00e3o econ\u00f3mica sens\u00edvel do Egito, que depende fortemente das importa\u00e7\u00f5es de trigo da R\u00fassia e da Ucr\u00e2nia, o que o torna vulner\u00e1vel \u00e0s repercuss\u00f5es do conflito na seguran\u00e7a alimentar.Com a escalada dos pre\u00e7os mundiais do trigo, o Egito diversificou rapidamente as suas fontes de importa\u00e7\u00e3o, recorrendo a pa\u00edses como a \u00cdndia, a Fran\u00e7a e a Rom\u00e9nia para garantir a estabilidade do seu abastecimento alimentar. Simultaneamente, refor\u00e7ou as suas rela\u00e7\u00f5es comerciais com a R\u00fassia, tendo as trocas entre os dois pa\u00edses registado um crescimento sem precedentes, especialmente nos dom\u00ednios da energia e dos cereais, o que demonstra a efic\u00e1cia da diplomacia no equil\u00edbrio entre os interesses econ\u00f3micos e pol\u00edticos.A n\u00edvel pol\u00edtico, o Egito tem mantido fortes la\u00e7os com a R\u00fassia, impulsionados por interesses estrat\u00e9gicos que incluem a coopera\u00e7\u00e3o em megaprojetos como a central nuclear de Dabaa e os neg\u00f3cios de armamento. Apesar desta proximidade, o Egito n\u00e3o deixou de aprofundar as suas rela\u00e7\u00f5es com o Ocidente, incluindo os Estados Unidos e a Uni\u00e3o Europeia.L\u00edbia: dividida e fr\u00e1gilA L\u00edbia registou uma diverg\u00eancia acentuada nas suas atitudes em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 guerra, em resultado da forte divis\u00e3o pol\u00edtica entre os governos oriental e ocidental. O governo oriental, liderado por Khalifa Haftar, manteve la\u00e7os estreitos com a R\u00fassia, aproveitando o apoio militar e pol\u00edtico que recebeu de Moscovo durante o conflito interno, enquanto o governo de Tripoli adotou uma posi\u00e7\u00e3o mais neutra, tentando evitar uma escalada internacional.A R\u00fassia procurou estabelecer a sua presen\u00e7a atrav\u00e9s do Grupo Wagner, que mais tarde se tornou o Corpo Africano, enquanto a Turquia intensificou o seu apoio ao governo de Tripoli.Do ponto de vista econ\u00f3mico, as exporta\u00e7\u00f5es de petr\u00f3leo da L\u00edbia foram afetadas pelas flutua\u00e7\u00f5es dos pre\u00e7os mundiais em consequ\u00eancia da crise ucraniana, causando interrup\u00e7\u00f5es na produ\u00e7\u00e3o e o encerramento de algumas instala\u00e7\u00f5es petrol\u00edferas devido a conflitos internos. A subida dos pre\u00e7os da energia tamb\u00e9m aumentou a concorr\u00eancia entre as pot\u00eancias internacionais pelos contratos petrol\u00edferos l\u00edbios, aprofundando as interven\u00e7\u00f5es estrangeiras. De um modo geral, a crise ucraniana refletiu a fragilidade da situa\u00e7\u00e3o pol\u00edtica na L\u00edbia, com o pa\u00eds a tornar-se uma arena para a concorr\u00eancia internacional.Arg\u00e9lia: parceria com a R\u00fassia sem hostilidade em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 Ucr\u00e2niaA Arg\u00e9lia tem mantido la\u00e7os estreitos com a R\u00fassia, com base numa parceria estrat\u00e9gica hist\u00f3rica que inclui a coopera\u00e7\u00e3o nos dom\u00ednios da defesa e da energia. Apesar das press\u00f5es ocidentais para condenar a invas\u00e3o russa da Ucr\u00e2nia, a Arg\u00e9lia tem mantido uma posi\u00e7\u00e3o neutral, sublinhando o seu direito de preservar os seus interesses soberanos. A R\u00fassia \u00e9 o maior fornecedor de armas da Arg\u00e9lia, sendo que as for\u00e7as armadas argelinas dependem fortemente da tecnologia militar russa, o que refor\u00e7a ainda mais a profundidade da alian\u00e7a estrat\u00e9gica entre os dois pa\u00edses.A Arg\u00e9lia tamb\u00e9m beneficiou do aumento dos pre\u00e7os da energia em resultado da crise ucraniana, que apoiou a sua economia e aumentou as suas reservas de tesouraria. Com a crescente procura europeia de g\u00e1s como alternativa \u00e0 energia russa, a Arg\u00e9lia utilizou o g\u00e1s como forma de press\u00e3o diplom\u00e1tica, expandindo as suas exporta\u00e7\u00f5es para It\u00e1lia e Espanha, capitalizando a sua posi\u00e7\u00e3o geopol\u00edtica como fornecedor fi\u00e1vel de energia.Marrocos: neutralidade diplom\u00e1tica e ganhos econ\u00f3micosO Reino de Marrocos assumiu uma posi\u00e7\u00e3o cautelosa em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 guerra na Ucr\u00e2nia, apelando \u00e0 necessidade de respeitar o direito internacional e a soberania dos Estados, sem tomar explicitamente partido, o que lhe permitiu manter rela\u00e7\u00f5es flex\u00edveis tanto com Moscovo como com o Ocidente.\u00c0 medida que as cadeias de abastecimento globais s\u00e3o remodeladas, Marrocos aproveitou as oportunidades econ\u00f3micas emergentes para refor\u00e7ar as suas parcerias estrat\u00e9gicas com os pa\u00edses ocidentais, refor\u00e7ando a sua posi\u00e7\u00e3o como um centro de com\u00e9rcio e investimento no Norte de \u00c1frica.Num contexto mais amplo, as posi\u00e7\u00f5es dos pa\u00edses da regi\u00e3o sobre a guerra russo-ucraniana refletiram uma clara diverg\u00eancia, uma vez que cada pa\u00eds foi influenciado pelos seus interesses nacionais e pela complexidade das suas rela\u00e7\u00f5es internacionais. Apesar da crescente press\u00e3o global para que tomassem posi\u00e7\u00f5es claras, a maioria destes pa\u00edses estava interessada em manter um equil\u00edbrio delicado entre os seus interesses econ\u00f3micos e as suas estrat\u00e9gias de seguran\u00e7a.A maioria dos pa\u00edses da regi\u00e3o preferiu apelar para solu\u00e7\u00f5es diplom\u00e1ticas de modo a p\u00f4r termo ao conflito e limitar as suas repercuss\u00f5es na estabilidade regional e internacional.", "dateCreated": "2025-02-24T11:40:58+01:00", "dateModified": "2025-02-24T17:26:58+01:00", "datePublished": "2025-02-24T17:26:58+01:00", "image": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2Fstories%2F09%2F07%2F56%2F64%2F1440x810_cmsv2_f58b9c10-ec2c-5e7f-a974-881f97e1d840-9075664.jpg", "width": "1440px", "height": "810px", "caption": "Uma imagem do in\u00edcio da guerra mostra um soldado russo a correr durante a Batalha de Mariupol, a 29 de abril de 2022.", "thumbnail": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2Fstories%2F09%2F07%2F56%2F64%2F432x243_cmsv2_f58b9c10-ec2c-5e7f-a974-881f97e1d840-9075664.jpg", "publisher": { "@type": "Organization", "name": "euronews", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png" } }, "author": { "@type": "Person", "name": "Mohammed Saifeddine" }, "publisher": { "@type": "Organization", "name": "Euronews", "legalName": "Euronews", "url": "/", "logo": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png", "width": "403px", "height": "60px" }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] }, "articleSection": [ "Mundo" ], "isAccessibleForFree": "False", "hasPart": { "@type": "WebPageElement", "isAccessibleForFree": "False", "cssSelector": ".poool-content" } }, { "@type": "WebSite", "name": "Euronews.com", "url": "/", "potentialAction": { "@type": "SearchAction", "target": "/search?query={search_term_string}", "query-input": "required name=search_term_string" }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] } ] }
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Como é que os países do Médio Oriente e norte de África lidaram com a crise ucraniana?

Uma imagem do início da guerra mostra um soldado russo a correr durante a Batalha de Mariupol, a 29 de abril de 2022.
Uma imagem do início da guerra mostra um soldado russo a correr durante a Batalha de Mariupol, a 29 de abril de 2022. Direitos de autor AP Photo
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De Mohammed Saifeddine
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Desde a eclosão da guerra russo-ucraniana em fevereiro de 2022, os países da região do Médio Oriente e Norte de África (MENA) têm reagido de forma diferente às repercussões do conflito, influenciados por fatores políticos, económicos e de segurança.

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Três anos após o início da guerra na Ucrânia, qual tem sido a política da Turquia, do Irão, da Arábia Saudita, do Catar, da Síria, do Egito, da Líbia, da Argélia e de Marrocos?

Turquia: o fio da mediação e as cordas dos interesses

Desde o início dos acontecimentos, a Turquia procurou desempenhar o papel de mediador no conflito, tirando partido das suas boas relações com a Rússia e a Ucrânia. Foi anfitriã de conversações de paz em Istambul e, juntamente com as Nações Unidas, mediou a Iniciativa dos Cereais do Mar Negro, que ajudou a aliviar a crise alimentar mundial.

Embora condenando a invasão russa, Ancara absteve-se de impor sanções a Moscovo, reforçando os seus laços comerciais e económicos com a Rússia. O comércio entre os dois países cresceu significativamente durante o conflito, tendo o presidente Recep Tayyip Erdogan sublinhado o seu empenhamento em aumentar as trocas bilaterais.

Por outro lado, a Turquia forneceu à Ucrânia drones Bayraktar, produzidos pela empresa turca Baykar. Desde o início dos acontecimentos, a Ucrânia tem utilizado esta arma contra os separatistas apoiados pela Rússia no Donbass e contra as forças russas. Vídeos documentaram a eficácia destas aeronaves na destruição de tanques e sistemas de defesa aérea russos. Numa tentativa de reforçar as suas capacidades de defesa, em junho de 2023, a Ucrânia anunciou planos para construir uma fábrica para produzir aviões Bayraktar no seu território, em cooperação com a empresa turca Baykar.

No entanto, a Turquia continuou a tentar ter um papel equilibrado na crise, sem se envolver numa escalada descontrolada em relação a qualquer um dos países, manifestando sempre a sua disponibilidade para a mediação.

Numa altura em que o presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, lançou uma nova iniciativa para pôr termo à guerra na Ucrânia, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, sublinhou que os esforços dos EUA estão em sintonia com os esforços de Ancara. Erdogan afirmou ainda que a Turquia tem estado ao lado da Ucrânia desde a anexação da Crimeia pela Rússia e que está a trabalhar para encontrar uma solução pacífica para a guerra.

Irão: entre a neutralidade declarada e uma parceria mais profunda

A diplomacia iraniana é inflexível ao declarar que não faz alianças neste conflito, afirmando que não apoia a invasão russa do território ucraniano. Ao mesmo tempo, está a desenvolver de forma constante as suas relações com a Rússia, como parte de uma estratégia que vê a expansão da NATO para leste como uma ameaça à segurança regional.

Nos últimos anos, durante a crise ucraniana, as relações entre Teerão e Moscovo reforçaram-se em várias áreas, incluindo a cooperação militar e técnica, culminando com a doAcordo de Parceria Estratégica Global (CSPA) em janeiro de 2025.

Além disso, o Irão tem sido continuamente acusado pelo Ocidente de fornecer à Rússiamísseis balísticos, o que Teerão tem negado, e drones Shahid, que apareceram no campo de operações com as forças russas sob o nome de "Giran". Desenvolvidos na Rússia, são eficazes no terreno e a Ucrânia tem anunciado repetidamente que alguns deles foram abatidos no teatro de operações.

No final, o Irão mantém uma posição oficial apartidária neste conflito, mas, na realidade, desenvolve cada vez mais relações com Moscovo que não são comparáveis às que mantém com Kiev.

Arábia Saudita e Catar: primeiro a energia, depois o equilíbrio

Tanto a Arábia Saudita como o Cataradotaram posições relativamente neutras em relação à guerra russo-ucraniana, sublinhando a necessidade de resolver o conflito por meios diplomáticos. Os dois países evitaram tomar partido, a fim de preservar os seus interesses económicos e estratégicos, tanto com a Rússia como com os países ocidentais, e, embora sublinhando o respeito pelo direito internacional e pela soberania dos Estados, evitaram emitir declarações incisivas ou escalar posições, o que lhes permitiu manter canais de comunicação abertos com Moscovo e Kiev.

Ambos os países beneficiaram do aumento dos preços da energia em consequência da crise, o que levou a um aumento significativo das receitas provenientes das exportações de petróleo e gás.

Delegações dos Estados Unidos e Rússia encontraram-se em Riade, em fevereiro.
Delegações dos Estados Unidos e Rússia encontraram-se em Riade, em fevereiro.AP Photo

Para a Arábia Saudita, este aumento impulsionou a sua economia e apoiou os seus planos de desenvolvimento, como a Visão 2030, que tem como objetivo diversificar as fontes de rendimento nacional. Permitiu-lhe igualmente reforçar os seus investimentos estrangeiros e aumentar as suas reservas financeiras.

Apesar da contínua pressão ocidental para aumentar a produção de petróleo a fim de compensar a escassez russa nos mercados mundiais, a Arábia Saudita comprometeu-se a respeitar os acordos OPEP+ que celebrou com a Rússia e outros países para manter a estabilidade do mercado e dos preços. Riade tem repetidamente sublinhado que as suas decisões em matéria de petróleo se baseiam em considerações puramente económicas e não políticas, salientando a necessidade de manter o equilíbrio entre a oferta e a procura nos mercados mundiais.

A política saudita em relação à crise ucraniana levou a que o Reino desempenhasse um papel proeminente ao acolher as primeiras reuniões de alto nível entre russos e americanosem Riade, na terceira semana de fevereiro de 2025, num esforço para contribuir para encontrar uma solução política para a crise e expandir a sua presença diplomática e cooperação com as duas grandes potências, impulsionada pelas boas relações com a Rússia e pelo novo impulso americano após o regresso de Donald Trump à Casa Branca.

O presidente russo, Vladimir Putin, e o emir do Catar, Tamim bin Hamad Al Thani, durante um encontro em Astana, no Cazaquistão, em outubro
O presidente russo, Vladimir Putin, e o emir do Catar, Tamim bin Hamad Al Thani, durante um encontro em Astana, no Cazaquistão, em outubroAP Photo

Por seu lado, o Catar manifestou a sua vontade de fornecer à Europa gás natural liquefeito a longo prazo, especialmente numa altura em que os países europeus procuram afastar-se da dependência do gás russo. No entanto, Doha deixou claro que o aumento das suas exportações para a Europa exigirá enormes investimentos em infraestruturas, incluindo a construção de novas instalações de liquefação e a expansão das capacidades de produção. O Catar tem também mantido fortes laços com a Rússianosetor da energia, sendo parceiro em grandes projetos de gás, como o projeto Yamal no Ártico.

Síria: o lado da Rússia e depois uma mudança radical

Desde o início do conflito na Ucrânia, o governo sírio de Bashar al-Assad apoiou abertamente a posição russa, sublinhando a sua estreita parceria estratégica com Moscovo. Declarou o seu apoio às ações da Rússia, argumentando que Moscovo estava a contrariar as tentativas do Ocidente de impor a sua hegemonia na arena internacional. Este apoio resulta dos fortes laços históricos entre os dois países, que se aprofundaram consideravelmente desde a intervenção militar da Rússia na Síria, em 2015, para salvar o regime de Assad do colapso durante a guerra civil.

No decurso da guerra, Damasco assumiu posições políticas de apoio a Moscovo nos fóruns internacionais, nomeadamente votando contra as resoluções de condenação da invasão russa nas Nações Unidas. Também apoiou a posição russa de que a expansão da NATO para leste constituía uma ameaça à segurança regional e internacional. Na frente diplomática, a Síriasecundou a narrativa russa sobre a guerra da Ucrânia através dos meios de comunicação oficiais, argumentando que o conflito era o resultado de políticas ocidentais hostis em relação a Moscovo.

Com a queda do regime de Assad no início de dezembro de 2024 e com Ahmad al-Sharaa a assumir a liderança do país, Damasco não deu qualquer sinal de apoio à Rússia na sua guerra na Ucrânia, mas a nova liderança síria declarou que queria boas relações com a Rússia e manteve a presença russa em duas bases na região costeira síria.

Egito: equilíbrio entre neutralidade e interesses

O Egito caracterizou-se por um delicado equilíbrio na forma como lidou com a guerra russo-ucraniana: apoiou as resoluções da ONU que condenavam a invasão russa, mas absteve-se de tomar medidas que pudessem afetar a sua relação estratégica com Moscovo. Esta atitude comedida deveu-se à posição económica sensível do Egito, que depende fortemente das importações de trigo da Rússia e da Ucrânia, o que o torna vulnerável às repercussões do conflito na segurança alimentar.

Trigo arde após bombardeamento russo a poucos quilómetros da fronteira entre a Ucrânia e a Rússia, na região de Kharkiv, Ucrânia, sexta-feira, 29 de julho.
Trigo arde após bombardeamento russo a poucos quilómetros da fronteira entre a Ucrânia e a Rússia, na região de Kharkiv, Ucrânia, sexta-feira, 29 de julho.AP Photo

Com a escalada dos preços mundiais do trigo, o Egito diversificou rapidamente as suas fontes de importação, recorrendo a países como a Índia, a França e a Roménia para garantir a estabilidade do seu abastecimento alimentar. Simultaneamente, reforçou as suas relações comerciais com a Rússia, tendo as trocas entre os dois países registado um crescimento sem precedentes, especialmente nos domínios da energia e dos cereais, o que demonstra a eficácia da diplomacia no equilíbrio entre os interesses económicos e políticos.

A nível político, o Egito tem mantido fortes laços com a Rússia, impulsionados por interesses estratégicos que incluem a cooperação em megaprojetos como a central nuclear de Dabaa e os negócios de armamento. Apesar desta proximidade, o Egito não deixou de aprofundar as suas relações com o Ocidente, incluindo os Estados Unidos e a União Europeia.

Líbia: dividida e frágil

A Líbia registou uma divergência acentuada nas suas atitudes em relação à guerra, em resultado da forte divisão política entre os governos oriental e ocidental. O governo oriental, liderado por Khalifa Haftar, manteve laços estreitos com a Rússia, aproveitando o apoio militar e político que recebeu de Moscovo durante o conflito interno, enquanto o governo de Tripoli adotou uma posição mais neutra, tentando evitar uma escalada internacional.

A Rússia procurou estabelecer a sua presença através do Grupo Wagner, que mais tarde se tornou o Corpo Africano, enquanto a Turquia intensificou o seu apoio ao governo de Tripoli.

Do ponto de vista económico, as exportações de petróleo da Líbia foram afetadas pelas flutuações dos preços mundiais em consequência da crise ucraniana, causando interrupções na produção e o encerramento de algumasinstalações petrolíferas devido a conflitos internos. A subida dos preços da energia também aumentou a concorrência entre as potências internacionais pelos contratos petrolíferos líbios, aprofundando as intervenções estrangeiras. De um modo geral, a crise ucraniana refletiu a fragilidade da situação política na Líbia, com o país a tornar-se uma arena para a concorrência internacional.

Argélia: parceria com a Rússia sem hostilidade em relação à Ucrânia

A Argélia tem mantido laços estreitos com a Rússia, com base numa parceria estratégica histórica que inclui a cooperação nos domínios da defesa e da energia. Apesar das pressões ocidentais para condenar a invasão russa da Ucrânia, a Argélia tem mantido uma posição neutral, sublinhando o seu direito de preservar os seus interesses soberanos. A Rússia é o maior fornecedor de armas da Argélia, sendo que as forças armadas argelinas dependem fortemente da tecnologia militar russa, o que reforça ainda mais a profundidade da aliança estratégica entre os dois países.

Soldados ucranianos usam um obus para lançar ataques perto de Bakhmut.
Soldados ucranianos usam um obus para lançar ataques perto de Bakhmut.AP Photo

A Argélia também beneficiou do aumento dos preços da energia em resultado da crise ucraniana, que apoiou a sua economia e aumentou as suas reservas de tesouraria. Com a crescente procura europeia de gás como alternativa à energia russa, a Argélia utilizou o gás como forma de pressão diplomática, expandindo as suas exportações para Itália e Espanha, capitalizando a sua posição geopolítica como fornecedor fiável de energia.

Marrocos: neutralidade diplomática e ganhos económicos

O Reino de Marrocos assumiu uma posição cautelosa em relação à guerra na Ucrânia, apelando à necessidade de respeitar o direito internacional e a soberania dos Estados, sem tomar explicitamente partido, o que lhe permitiu manter relações flexíveis tanto com Moscovo como com o Ocidente.

À medida que as cadeias de abastecimento globais são remodeladas, Marrocos aproveitou as oportunidades económicas emergentes para reforçar as suas parcerias estratégicas com os países ocidentais, reforçando a sua posição como um centro de comércio e investimento no Norte de África.

Num contexto mais amplo, as posições dos países da região sobre a guerra russo-ucraniana refletiram uma clara divergência, uma vez que cada país foi influenciado pelos seus interesses nacionais e pela complexidade das suas relações internacionais. Apesar da crescente pressão global para que tomassem posições claras, a maioria destes países estava interessada em manter um equilíbrio delicado entre os seus interesses económicos e as suas estratégias de segurança.

A maioria dos países da região preferiu apelar para soluções diplomáticas de modo a pôr termo ao conflito e limitar as suas repercussões na estabilidade regional e internacional.

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