Pyongyang e Seul estão numa retórica cada vez mais acesa à medida que Kim Jong-un alarga a sua cooperação militar com a Rússia.
O lixo transportado por um balão norte-coreano caiu sobre o complexo presidencial no centro de Seul, pela segunda vez, na quinta-feira, o que suscita preocupações quanto à vulnerabilidade das principais localizações sul-coreanas.
De acordo com o serviço de segurança presidencial da Coreia do Sul, não foram encontrados quaisquer objetos perigosos nos resíduos libertados, quando um dos balões norte-coreanos caiu sobre o complexo presidencial na manhã de quinta-feira.
O incidente ocorre depois de as Coreias rivais terem intensificado as ameaças e a retórica uma contra a outra, com o Norte a alegar que o Sul sobrevoou Pyongyang com drones no início do mês, para espalhar panfletos de propaganda.
Desde finais de maio, a Coreia do Norte tem enviado para o espaço aéreo sul-coreano milhares de balões carregados com resíduos de plástico e papel, mas sem materiais perigosos, num regresso às táticas psicológicas da era da Guerra Fria. O lixo que caiu sobre o complexo presidencial sul-coreano em julho também não continha artigos perigosos.
Não se sabe se o presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol, se encontrava no complexo quando o último balão largou a respetiva carga. O líder sul-coreano encontrou-se com esta quinta-feira com o presidente polaco, Andrzej Duda, como previsto.
A imprensa sul-coreana noticiou que, na quinta-feira, foram encontrados panfletos norte-coreanos a criticar Yoon e a sua mulher Kim Keon-hee, no bairro de Yongsan, em Seul, onde se situa o gabinete presidencial de Yoon.
Os meios de comunicação social publicaram fotografias de alguns dos panfletos que descreviam a mulher do presidente como uma Maria Antonieta dos tempos modernos.
Segundo os meios de comunicação locais, foi a primeira vez que foram encontrados panfletos norte-coreanos na Coreia do Sul desde o início da campanha de balões, há cerca de cinco meses.
O serviço de segurança presidencial sul-coreano ainda não confirmou especificamente os relatos, mas o Estado-Maior da Coreia do Sul instou a Coreia do Norte a deixar de lançar "folhetos grosseiros" difamando o Presidente - e avisou que Pyongyang será inteiramente responsável por quaisquer consequências.
No entanto, os especialistas dizem que é pouco provável que a Coreia do Norte possua a tecnologia sofisticada que seria necessária para lançar balões sobre alvos específicos.
"Quer os balões tenham GPS ou não, o que importa é lançá-los em grande número e que estes atinjam a altitude certa com base na direção e velocidade do vento, de modo a poderem viajar com esses ventos", disse Lee Choon-geun, investigador honorário do Instituto de Política Científica e Tecnológica da Coreia do Sul.
"Embora alguns meios de comunicação social digam que a precisão dos balões melhorou, essa melhoria não se deve ao facto de os terem equipado com algum tipo de sistema de orientação, mas sim ao facto de ser a estação do ano em que os ventos sopram para sul".
Coreia do Norte ameaça com represálias
A Coreia do Norte acusou a Coreia do Sul de utilizar drones para lançar panfletos de propaganda sobre Pyongyang três vezes no último mês, e ameaçou com represálias se tal voltasse a acontecer.
Seul recusou-se a confirmar se a acusação tem fundamento, mas avisou que a Coreia do Norte enfrentaria o fim do seu regime, se a segurança dos cidadãos sul-coreanos fosse ameaçada.
A Coreia do Norte afirmou que as suas atividades com balões eram uma retaliação contra as ações de ativistas sul-coreanos, que lançaram panfletos anti-Kim, em direção a Pyongyang, presos aos seus próprios balões.
A Coreia do Sul respondeu aos balões de lixo reiniciando as emissões de propaganda a partir de altifalantes colocados nas zonas fronteiriças, o que levou a Coreia do Norte a ligar novamente os seus próprios altifalantes na linha da frente.
Nos últimos tempos, Kim Jong-un tem vindo a aumentar o ritmo dos seus testes de armamento e alargou, consideravelmente, a cooperação militar aberta do seu país com a Rússia.
Autoridades norte-americanas e sul-coreanas disseram na quarta-feira que cerca de 3.000 soldados norte-coreanos estão agora a treinar em vários locais na Rússia. De acordo com a Coreia do Sul, Pyongyang tem como objetivo enviar um total de 10.000 soldados para a Rússia para apoiar a invasão em curso da Ucrânia, que esgotou as forças russas.
A Coreia do Sul receia que a Rússia possa recompensar a Coreia do Norte pela sua contribuição com sofisticadas contribuições tecnológicas para os seus programas nuclear e de mísseis balísticos, ambos dirigidos contra a Coreia do Sul e os EUA.