Israel diz ter atingido 1600 alvos do Hezbollah no Líbano. Mais de 550 pessoas morreram, entre elas 50 crianças.
Os ataques israelitas no Líbano, na segunda-feira, mataram pelo menos 558 pessoas, incluindo mais de 90 mulheres e 50 crianças, segundo as autoridades libanesas. Foi a mais mortífera vaga de ataques desde a guerra de 2006 entre Israel e o Hezbollah.
Milhares de libaneses fugiram do sul do país e a principal autoestrada que sai da cidade portuária de Sidon, no sul do país, ficou repleta de carros em direção a Beirute, no maior êxodo desde 2006.
As forças armadas israelitas alertaram os residentes do sul e do leste do Líbano para a necessidade de abandonarem o local antes de intensificarem a sua campanha aérea.
Segundo o Ministério da Saúde do Líbano, os ataques mataram 492 pessoas, incluindo 35 crianças e 58 mulheres, e feriram 1.835 pessoas, um número impressionante num só dia, num país que recuperava ainda das explosões de pagers e walkie talkies da semana ada.
Numa mensagem gravada, o primeiro-mistro israelita, Benjamin Netanyahu, exortou os civis libaneses a atenderem aos apelos israelitas para saírem do país: "Levem este aviso a sério", sublinhou.
"Por favor, saiam do caminho do perigo agora”, disse Netanyahu. "Quando a nossa operação estiver concluída, podem regressar em segurança às vossas casas".
O porta-voz militar de Israel, o contra-almirante Daniel Hagari, disse que o exército fará "o que for necessário" para afastar o Hezbollah da fronteira do Líbano com Israel.
Hagari afirmou que os ataques aéreos generalizados de segunda-feira tinham infligido pesados danos ao Hezbollah. Mas não quis falar sobre pormenores da operação e salientou apenas que Israel estava preparado para lançar uma invasão terrestre do Líbano, se necessário.
Não estamos à procura de guerras. Estamos a tentar eliminar as ameaças", afirmou. "Faremos tudo o que for necessário para cumprir esta missão".
Hagari disse que o Hezbollah lançou cerca de 9.000 rockets e drones contra Israel desde outubro ado, incluindo 250 só na segunda-feira.
Israel diz ter atingidio 1.600 alvos
Segundo as forças israelitas, os aviões de guerra israelitas atingiram 1.600 alvos do Hezbollah na segunda-feira, destruindo mísseis de cruzeiro, rockets de longo e curto alcance e drones de ataque. Hagari precisou ainda que muito do armamento estava escondido em áreas residenciais, mostrando fotografias do que disse serem armas escondidas em casas particulares.
“O Hezbollah transformou o sul do Líbano numa zona de guerra”, disse numa conferência de imprensa.
Israel estima que o Hezbollah tenha cerca de 150.000 rockets e mísseis, incluindo mísseis guiados e projéteis de longo alcance capazes de atingir qualquer ponto de Israel.
Ao início da noite de segunda-feira, as forças israelitas afirmaram ter efetuado um ataque dirigido a Beirute, sem acrescentar detalhes. A agência noticiosa nacional do Líbano informou que três mísseis atingiram o bairro de Beir al-Abed, no sul de Beirute. A televisão Al-Manar, do Hezbollah, informou que seis pessoas ficaram feridas.
O Ministro da Saúde libanês, Firass Abiad, afirmou que os ataques anteriores atingiram hospitais, centros médicos e ambulâncias. O governo de Beirute ordenou o encerramento de escolas e universidades na maior parte do país e começou a preparar abrigos para os desalojados.
Alguns ataques atingiram áreas residenciais no sul e no leste do vale de Bekaa. Um deles atingiu uma área arborizada em Byblos, a mais de 130 quilómetros da fronteira a norte de Beirute.
Israel disse que estava a expandir os ataques aéreos para incluir áreas do vale ao longo da fronteira oriental do Líbano com a Síria. O Hezbollah tem uma presença estabelecida há muito tempo no vale, onde o grupo foi fundado em 1982 com a ajuda da Guarda Revolucionária do Irão, na sequência da invasão e ocupação do Líbano por Israel.
O chefe militar de Israel, tenente-general Herzi Halevi, disse que Israel estava a preparar as suas “próximas fases” de operações contra o Hezbollah e que os seus ataques aéreos eram “proativos”, visando as infraestruturas do Hezbollah construídas nos últimos 20 anos.
Halevi disse ainda que o objetivo era permitir que os israelitas deslocados regressassem às suas casas no norte de Israel.
Entretanto, o Hezbollah afirmou ter disparado dezenas de rockets contra Israel, incluindo contra bases militares. O Hezbollah também atacou, pelo segundo dia, as instalações da empresa de defesa Rafael, com sede em Haifa.
Casa Branca não esconde preocupação
A porta-voz do presidente Joe Biden sublinhou na segunda-feira que a Casa Branca está preocupada com o que está a acontecer entre Israel e o Hezbollah no Líbano e insistiu que conseguir um acordo de cessar-fogo entre Israel e Gaza é fundamental para aliviar as tensões na região.
“É do interesse de todos resolver o problema de forma rápida e diplomática”, disse Karine Jean-Pierre aos jornalistas que viajaram com Biden para Nova Iorque, onde o presidente norte-americano fará o seu último discurso na Assembleia Geral da ONU esta terça-feira.
Um funcionário do Departamento de Estado dos EUA, que falou aos jornalistas sob condição de anonimato para discutir os esforços diplomáticos, disse que os EUA e vários outros países estavam interessados em apresentar uma "saída" tanto para Israel como para o Hezbollah para reduzir as tensões e evitar uma guerra total.
Os EUA têm “ideias concretas” para restabelecer a calma que apresentarão aos seus aliados e parceiros na Assembleia Geral da ONU desta semana, disse a mesma fonte, que não quis detalhar as “ideias concretas” porque disse que ainda não tinham sido apresentadas aos aliados e parceiros para o que descreveu como um "teste de stress" quanto à sua probabilidade de sucesso.
Entretanto, as forças de manutenção da paz da ONU no sul do Líbano, perto da fronteira israelita, pararam as patrulhas e têm permanecido nas bases, “dado o volume da troca de fogo”, disse um porta-voz da ONU. Stéphane Dujarric disse aos jornalistas que o secretário-geral da ONU, António Guterres, estava “alarmado” com a escalada da violência e o elevado número de vítimas civis registadas no Líbano.
O número de mortos na segunda-feira ultraou em muito o da explosão no porto de Beirute em 2020, que matou pelo menos 218 pessoas e feriu mais de 6.000.
Retaliações em crescendo
O Ministério da Saúde libanês pediu aos hospitais do Sul do Líbano e do Vale de Bekaa que adiassem as cirurgias não urgentes para tratar as pessoas feridas pela “agressão crescente de Israel ao Líbano”.
Na segunda-feira, os residentes receberam mensagens de texto com a frase: “Se estiver num edifício onde se encontram armas para o Hezbollah, afaste-se da aldeia até nova ordem”, noticiaram os meios de comunicação libaneses.
O Ministro da Informação libanês, Ziad Makary, disse que o seu gabinete em Beirute tinha recebido uma mensagem gravada a pedir às pessoas para abandonarem o edifício.
“Isto surge no âmbito da guerra psicológica implementada pelo inimigo”, disse Makary, e instou as pessoas "a não darem ao assunto mais atenção do que merece".
Israel acusou o Hezbollah de transformar comunidades inteiras no sul do país em bases de militantes, com lançadores de rockets escondidos e outras infraestruturas. Isto poderá levar os militares israelitas a empreenderem uma campanha de bombardeamento especialmente pesada, mesmo que não se desloquem forças terrestres.
Um ataque aéreo israelita a um subúrbio de Beirute, na sexta-feira, matou um importante comandante militar do Hezbollah e mais de uma dúzia de combatentes, bem como dezenas de civis, incluindo mulheres e crianças.
Também na semana ada, milhares de dispositivos de comunicação, utilizados principalmente por membros do Hezbollah, explodiram em diferentes partes do Líbano, matando 39 pessoas e ferindo cerca de 3.000, muitas das quais civis.
O Líbano culpou Israel, mas Telavive não confirmou nem negou a responsabilidade. O Hezbollah começou a disparar contra Israel um dia após o ataque de 7 de outubro, numa tentativa, segundo o Hezbollah, de imobilizar as forças israelitas para ajudar os combatentes palestinianos em Gaza. Israel retaliou com ataques aéreos e o conflito tem-se intensificado desde então.
O Hezbollah afirmou que continuará a atacar até que chegue a um cessar-fogo em Gaza, que parece cada vez mais difícil de alcançar, com a guerra a aproximar-se do primeiro aniversário.
Militantes liderados pelo Hamas invadiram o sul de Israel a 7 de outubro do ano ado, matando cerca de 1.200 pessoas, na sua maioria civis, e raptando cerca de 250. Cerca de 100 reféns continuam detidos em Gaza, um terço dos quais se acredita estarem mortos, depois de a maioria dos restantes ter sido libertada durante um cessar-fogo de uma semana em novembro ado.
A ofensiva israelita matou mais de 41.000 palestinianos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, que não faz distinção entre civis e combatentes. De acordo com a mesma fonte, as mulheres e as crianças representam cerca de metade dos mortos. Israel afirma que matou mais de 17.000 militantes, sem fornecer provas.