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Alguns especialistas em energia alertaram que os eventos clim\u00e1ticos extremos provocados pelas altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas podem representar uma s\u00e9ria amea\u00e7a aos 103 reatores nucleares da Uni\u00e3o Europeia (UE), que s\u00e3o respons\u00e1veis por cerca de um quarto da eletricidade gerada no bloco. Jan Haverkamp, especialista s\u00e9nior em energia nuclear e pol\u00edtica energ\u00e9tica da Greenpeace, diz que as possibilidades de a Europa assistir a um grande desastre como o de Fukushima s\u00e3o \u0022realistas\u0022 e \u0022devemos t\u00ea-las em considera\u00e7\u00e3o.\u0022 \u201cN\u00e3o estamos devidamente preparados\u201d, ressalvou em entrevista \u00e0 Euronews Next. Os riscos de apostar na energia nuclear para reduzir as emiss\u00f5es de carbono A comiss\u00e1ria europeia com a pasta da Energia, Kadri Simson, diz que a espinha dorsal do futuro sistema de energia livre de carbono da UE ser\u00e1 renov\u00e1vel, apoiada pela energia nuclear. \u201cA verdade \u00e9 que as energias renov\u00e1veis precisar\u00e3o ser complementadas com uma produ\u00e7\u00e3o est\u00e1vel de eletricidade de base. \u00c9 por isso que a energia nuclear \u00e9 [\u2026] uma solu\u00e7\u00e3o real\u201d, disse Simson em novembro, durante o 15\u00ba F\u00f3rum Europeu de Energia Nuclear. O desafio da estrat\u00e9gia de impulsionar a energia renov\u00e1vel com energia nuclear \u00e9 que depende da opera\u00e7\u00e3o cont\u00ednua de centrais nucleares antigas. Cinco dos seis cen\u00e1rios do \u201cEnergies of the Future Report\u201d \u2013 um estudo encomendado pelo governo franc\u00eas \u2013 indicam que, para fazer a transi\u00e7\u00e3o para um sistema de energia neutra at\u00e9 2050, as energias renov\u00e1veis precisariam depender de v\u00e1rias centrais nucleares existentes. A l\u00f3gica para usar centrais antigas \u00e9 que \u201cn\u00e3o podemos criar reatores suficientes antes desse per\u00edodo\u201d, explicou Haverkamp. A Autoridade de Seguran\u00e7a Nuclear de Fran\u00e7a (ASN) concorda. \u201cA taxa de constru\u00e7\u00e3o de novos reatores nucleares para alcan\u00e7ar o cen\u00e1rio proposto [...] seria dif\u00edcil de sustentar\u201d, afirmou a ASN num relat\u00f3rio de 2021. \u201cNos \u00faltimos 70 anos de uso da energia nuclear, ficou muito claro que a energia nuclear n\u00e3o cumpre as suas promessas, mas \u00e9 um grande problema, muito substancial para a dire\u00e7\u00e3o da prolifera\u00e7\u00e3o nuclear\u2026 e sobre a quest\u00e3o dos res\u00edduos radioativos, para o qual n\u00e3o temos solu\u00e7\u00e3o t\u00e9cnica aceit\u00e1vel\u201d, lembrou Haverkamp. As centrais nucleares antigas s\u00e3o seguras? A Autoridade de Seguran\u00e7a Nuclear diz que s\u00f3 se pode alcan\u00e7ar um \u201cbom n\u00edvel\u201d de seguran\u00e7a nuclear e prote\u00e7\u00e3o contra a radia\u00e7\u00e3o se os licenciados nucleares assumirem totalmente a responsabilidade por isso. Por outras palavras, s\u00e3o os operadores das centrais, sob a supervis\u00e3o de reguladores nacionais independentes, os principais respons\u00e1veis pela seguran\u00e7a das suas instala\u00e7\u00f5es. A manuten\u00e7\u00e3o de uma central nuclear depende de uma s\u00e9rie de fatores, como o projeto e o hist\u00f3rico de supervis\u00e3o. Mas existem outros fatores que entram em jogo como erros humanos, terramotos, tsunamis, inc\u00eandios, inunda\u00e7\u00f5es, tornados ou at\u00e9 mesmo ataques terroristas. O desastre de Fukushima em 2011 envolveu uma central nuclear com mais de 40 anos e foi atribu\u00eddo, em parte, a falhas de projeto e a medidas de seguran\u00e7a inadequadas. As atualiza\u00e7\u00f5es em centrais nucleares antigas podem reduzir o risco em certos aspetos, garantiu Haverkamp, \u201cmas ainda h\u00e1 um risco: pode correr mal, simplesmente porque continuam a funcionar.\u201d Fran\u00e7a tem um dos melhores registos de seguran\u00e7a nuclear do mundo. No entanto, Bernard Doroszczuk, chefe da Autoridade de Seguran\u00e7a Nuclear, disse, no in\u00edcio deste ano, que \u00e9 preciso uma \u201crevis\u00e3o sist\u00e9mica\u201d, \u201ara examinar e justificar individualmente a capacidade dos reatores mais antigos continuarem a operar al\u00e9m de 50, ou mesmo 60 anos\u201d ao mesmo tempo que permitem tamb\u00e9m antecipar novos desafios colocados pelas altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas. Ainda esta semana, a gigante sa do setor el\u00e9trico EDF relatou defeitos \u0022n\u00e3o negligenci\u00e1veis\u0022 nos tubos de reafecimento de dois reatores nucleares no norte e no leste de Fran\u00e7a. As fendas, localizadas no circuito de emerg\u00eancia que injeta \u00e1gua para arrefecer o sistema em caso de emerg\u00eancia, n\u00e3o foram consideradas perigosas porque os reatores estavam em manuten\u00e7\u00e3o, mas a descoberta reacendeu os debates sobre as estrat\u00e9gias de Fran\u00e7a para supervisionar o parque nuclear. As pessoas que vivem perto de centrais nucleares est\u00e3o seguras? H\u00e1 outro elemento na seguran\u00e7a nuclear que \u00e9 particularmente importante: a densidade populacional \u00e0 volta das instala\u00e7\u00f5es nucleares. \u00c1reas habitadas por milh\u00f5es de pessoas s\u00e3o muito mais complexas de evacuar do que \u00e1reas quase desertas. Depois do desastre nuclear de Fukushima, em mar\u00e7o de 2011, Declan Butler, jornalista da revista cient\u00edfica Nature, juntou-se \u00e0 NASA e \u00e0 Universidade de Columbia num estudo a comparar as densidades populacionais \u00e0 volta de centrais nucleares em todo o mundo. Quando Butler publicou o estudo, dois ter\u00e7os do parque nuclear mundial tinham uma densidade populacional maior num raio de 30 quil\u00f3metros do que Fukushima, onde viviam 172 mil pessoas \u00e0 \u00e9poca do desastre. Especificamente, o estudo descobriu que as densidades populacionais \u00e0 volta de reatores nucleares s\u00e3o muito maiores na Europa do que em Fukushima. Em Fran\u00e7a, por exemplo, Butler estimou que cerca de 930 mil pessoas viviam num raio de 30 quil\u00f3metros \u00e0 volta de Fessenheim, uma das v\u00e1rias centrais localizadas no nordeste do pa\u00eds, e 700 mil pessoas viviam ao redor da central de Bugey, 35 quil\u00f3metros a leste de Lyon, a terceira maior cidade de Fran\u00e7a. Ao tentar entender algumas incongru\u00eancias de seguran\u00e7a, Butler tamb\u00e9m se deparou com o conceito de \u201cal\u00e9m da base do projeto\u201d, uma no\u00e7\u00e3o que implica que alguns cen\u00e1rios catastr\u00f3ficos n\u00e3o s\u00e3o totalmente considerados no processo do projeto porque s\u00e3o considerados muito improv\u00e1veis. A central de Fukushima Daiichi, por exemplo, estava localizada numa \u00e1rea designada como tendo uma possibilidade relativamente baixa de ser afetada por um grande terremoto e tsunami no mapa de risco s\u00edsmico do Jap\u00e3o. O fato de a central n\u00e3o estar preparada para lidar com tais riscos ambientais dram\u00e1ticos deveu-se, por isso, em parte a conceito de \u0022al\u00e9m da base do projeto\u0022: o terremoto e o tsunami foram mais poderosos do que a central estava projetada para ar. Aprendemos alguma coisa com Chernobyl e Fukushima? Haverkamp disse que os esfor\u00e7os se concentraram principalmente na prepara\u00e7\u00e3o t\u00e9cnica para prevenir acidentes nucleares, mas n\u00e3o na prepara\u00e7\u00e3o para emerg\u00eancias ou na prepara\u00e7\u00e3o da popula\u00e7\u00e3o. \u201cCada pa\u00eds nuclear da UE, temo, n\u00e3o tem, neste momento, prepara\u00e7\u00e3o suficiente para o caso de ocorrer um acidente\u201d, acrescentou. \u201cE posso garantir que se tiv\u00e9ssemos um acidente na Europa, degeneraria novamente no caos, tal como aconteceu em Fukushima.\u201d Aprendemos muito com Fukushima, disse o acad\u00e9mico americano e especialista em medicina de desastres Irwin Redlener. \u201cO problema \u00e9 que falamos sobre as li\u00e7\u00f5es, mas depois n\u00e3o agimos sobre elas\u201d, ressalvou em entrevista \u00e0 Euronews Next. A humanidade melhorou na resposta a pequenas emerg\u00eancias como grandes inc\u00eandios em edif\u00edcios, pequenas tempestades e nev\u00f5es, mas quando se trata de desastres de grande escala - como incidentes nucleares - a nossa capacidade de resposta continua \u0022disfuncional\u0022, sublinhou Redlener, \u0022porque n\u00e3o estamos preparados.\u201d Somos v\u00edtimas de \u201catos aleat\u00f3rios de prepara\u00e7\u00e3o [...] sem um plano coeso\u201d. O que fazer no caso de um colapso nuclear? V\u00e1rias organiza\u00e7\u00f5es internacionais fornecem recursos que explicam o que fazer no caso de uma emerg\u00eancia nuclear. A Cruz Vermelha \u00e9 uma delas - e rever as recomenda\u00e7\u00f5es \u00e9 um uso sensato do seu tempo. Afinal, h\u00e1 duas coisas que impedem a prepara\u00e7\u00e3o global, disse Redlener. 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Lições de Chernobyl e Fukushima: a Europa está preparada para outro desastre nuclear?

A guerra na Ucrânia, fenómenos climáticos extremos e fendas em reatores nucleares ses preocupam especialistas.
A guerra na Ucrânia, fenómenos climáticos extremos e fendas em reatores nucleares ses preocupam especialistas. Direitos de autor Canva - Euronews
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De Camille Bello
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Especialistas têm dúvidas de que a União Europeia esteja à altura de dar resposta em caso de uma tragédia nuclear

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Há precisamente 12 anos, um grande terremoto e um tsunami provocaram o segundo pior desastre nuclear da história na Central Nuclear de Fukushima Daiichi, no Japão.

O aniversário do episódio catastrófico que deslocou 160 mil pessoas e custou ao governo japonês mais de 176 mil milhões de euros deveria ser suficiente para lembrar a ameaça potencial de um desastre nuclear, mas alguns acontecimentos recentes também fizeram disparar os alarmes na Europa.

A invasão russa da Ucrânia afetou continuamente a rede elétrica do país, causando apagões na central nuclear de Zaporíjia, a maior da Europa, onde a energia é necessária para evitar o sobreaquecimento dos reatores, como aconteceu no desastre nuclear de Chernobyl, em 1986.

Enquanto isso, os outros reatores nucleares da Europa estão a envelhecer - foram construídos, em média, há 36,6 anos atrás - e inspeções recentes em França deram conta da presença de fendas em vários deles.

Alguns especialistas em energia alertaram que os eventos climáticos extremos provocados pelas alterações climáticas podem representar uma séria ameaça aos 103 reatores nucleares da União Europeia (UE), que são responsáveis por cerca de um quarto da eletricidade gerada no bloco.

Jan Haverkamp, especialista sénior em energia nuclear e política energética da Greenpeace, diz que as possibilidades de a Europa assistir a um grande desastre como o de Fukushima são "realistas" e "devemos tê-las em consideração."

“Não estamos devidamente preparados”, ressalvou em entrevista à Euronews Next.

Os riscos de apostar na energia nuclear para reduzir as emissões de carbono

A comissária europeia com a pasta da Energia, Kadri Simson, diz que a espinha dorsal do futuro sistema de energia livre de carbono da UE será renovável, apoiada pela energia nuclear.

“A verdade é que as energias renováveis precisarão ser complementadas com uma produção estável de eletricidade de base. É por isso que a energia nuclear é […] uma solução real”, disse Simson em novembro, durante o 15º Fórum Europeu de Energia Nuclear.

O desafio da estratégia de impulsionar a energia renovável com energia nuclear é que depende da operação contínua de centrais nucleares antigas.

Cinco dos seis cenários do “Energies of the Future Report” – um estudo encomendado pelo governo francês – indicam que, para fazer a transição para um sistema de energia neutra até 2050, as energias renováveis precisariam depender de várias centrais nucleares existentes.

A lógica para usar centrais antigas é que “não podemos criar reatores suficientes antes desse período”, explicou Haverkamp.

A Autoridade de Segurança Nuclear de França (ASN) concorda.

“A taxa de construção de novos reatores nucleares para alcançar o cenário proposto [...] seria difícil de sustentar”, afirmou a ASN num relatório de 2021.

“Nos últimos 70 anos de uso da energia nuclear, ficou muito claro que a energia nuclear não cumpre as suas promessas, mas é um grande problema, muito substancial para a direção da proliferação nuclear… e sobre a questão dos resíduos radioativos, para o qual não temos solução técnica aceitável”, lembrou Haverkamp.

As centrais nucleares antigas são seguras?

A Autoridade de Segurança Nuclear diz que só se pode alcançar um “bom nível” de segurança nuclear e proteção contra a radiação se os licenciados nucleares assumirem totalmente a responsabilidade por isso. Por outras palavras, são os operadores das centrais, sob a supervisão de reguladores nacionais independentes, os principais responsáveis pela segurança das suas instalações.

A manutenção de uma central nuclear depende de uma série de fatores, como o projeto e o histórico de supervisão. Mas existem outros fatores que entram em jogo como erros humanos, terramotos, tsunamis, incêndios, inundações, tornados ou até mesmo ataques terroristas.

O desastre de Fukushima em 2011 envolveu uma central nuclear com mais de 40 anos e foi atribuído, em parte, a falhas de projeto e a medidas de segurança inadequadas.

As atualizações em centrais nucleares antigas podem reduzir o risco em certos aspetos, garantiu Haverkamp, “mas ainda há um risco: pode correr mal, simplesmente porque continuam a funcionar.”

França tem um dos melhores registos de segurança nuclear do mundo. No entanto, Bernard Doroszczuk, chefe da Autoridade de Segurança Nuclear, disse, no início deste ano, que é preciso uma “revisão sistémica”, “para examinar e justificar individualmente a capacidade dos reatores mais antigos continuarem a operar além de 50, ou mesmo 60 anos” ao mesmo tempo que permitem também antecipar novos desafios colocados pelas alterações climáticas.

Ainda esta semana, a gigante sa do setor elétrico EDF relatou defeitos "não negligenciáveis" nos tubos de reafecimento de dois reatores nucleares no norte e no leste de França.

As fendas, localizadas no circuito de emergência que injeta água para arrefecer o sistema em caso de emergência, não foram consideradas perigosas porque os reatores estavam em manutenção, mas a descoberta reacendeu os debates sobre as estratégias de França para supervisionar o parque nuclear.

As pessoas que vivem perto de centrais nucleares estão seguras?

Há outro elemento na segurança nuclear que é particularmente importante: a densidade populacional à volta das instalações nucleares. Áreas habitadas por milhões de pessoas são muito mais complexas de evacuar do que áreas quase desertas.

Depois do desastre nuclear de Fukushima, em março de 2011, Declan Butler, jornalista da revista científica Nature, juntou-se à NASA e à Universidade de Columbia num estudo a comparar as densidades populacionais à volta de centrais nucleares em todo o mundo.

Quando Butler publicou o estudo, dois terços do parque nuclear mundial tinham uma densidade populacional maior num raio de 30 quilómetros do que Fukushima, onde viviam 172 mil pessoas à época do desastre.

Especificamente, o estudo descobriu que as densidades populacionais à volta de reatores nucleares são muito maiores na Europa do que em Fukushima.

Em França, por exemplo, Butler estimou que cerca de 930 mil pessoas viviam num raio de 30 quilómetros à volta de Fessenheim, uma das várias centrais localizadas no nordeste do país, e 700 mil pessoas viviam ao redor da central de Bugey, 35 quilómetros a leste de Lyon, a terceira maior cidade de França.

Ao tentar entender algumas incongruências de segurança, Butler também se deparou com o conceito de “além da base do projeto”, uma noção que implica que alguns cenários catastróficos não são totalmente considerados no processo do projeto porque são considerados muito improváveis.

A central de Fukushima Daiichi, por exemplo, estava localizada numa área designada como tendo uma possibilidade relativamente baixa de ser afetada por um grande terremoto e tsunami no mapa de risco sísmico do Japão. O fato de a central não estar preparada para lidar com tais riscos ambientais dramáticos deveu-se, por isso, em parte a conceito de "além da base do projeto": o terremoto e o tsunami foram mais poderosos do que a central estava projetada para ar.

Aprendemos alguma coisa com Chernobyl e Fukushima?

Haverkamp disse que os esforços se concentraram principalmente na preparação técnica para prevenir acidentes nucleares, mas não na preparação para emergências ou na preparação da população.

“Cada país nuclear da UE, temo, não tem, neste momento, preparação suficiente para o caso de ocorrer um acidente”, acrescentou.

“E posso garantir que se tivéssemos um acidente na Europa, degeneraria novamente no caos, tal como aconteceu em Fukushima.”

Aprendemos muito com Fukushima, disse o académico americano e especialista em medicina de desastres Irwin Redlener.

“O problema é que falamos sobre as lições, mas depois não agimos sobre elas”, ressalvou em entrevista à Euronews Next.

A humanidade melhorou na resposta a pequenas emergências como grandes incêndios em edifícios, pequenas tempestades e nevões, mas quando se trata de desastres de grande escala - como incidentes nucleares - a nossa capacidade de resposta continua "disfuncional", sublinhou Redlener, "porque não estamos preparados.”

Somos vítimas de “atos aleatórios de preparação [...] sem um plano coeso”.

O que fazer no caso de um colapso nuclear?

Várias organizações internacionais fornecem recursos que explicam o que fazer no caso de uma emergência nuclear. A Cruz Vermelha é uma delas - e rever as recomendações é um uso sensato do seu tempo.

Afinal, há duas coisas que impedem a preparação global, disse Redlener. A primeira é o que chama de “ilusão de segurança” e a outra são os “cidadãos desinteressados e desinformados.”

A ilusão de segurança ou “teatro de preparação”, insistiu, é a fantasia de que “de alguma forma sabemos o que estamos a fazer, ou que sabemos o que faremos” diante de um evento tão catastrófico.

Mas há uma série de coisas simples que podemos fazer após um incidente nuclear que poderiam “salvar as nossas vidas se as soubéssemos”, acrescentou.

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