"Será interessante ver o seu resultado eleitoral no próximo domingo", afirmou um eurodeputado do Rassemblement National, de França.
O partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) poderá juntar-se ao grupo Patriotas pela Europa no Parlamento Europeu após as eleições federais alemãs de 23 de fevereiro.
Várias fontes confirmaram à Euronews que a ideia está a ser discutida no seio do grupo, mas que ainda não existe um calendário para as conversações.
O Patriotas pela Europa (PfE) é, atualmente, o terceiro maior grupo político do Parlamento Europeu, com 86 deputados de 13 Estados-membros da UE, incluindo alguns do Rassemblement National de França, do Liga de Itália e do Fidesz da Hungria.
Uma das suas principais figuras, o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, apoiou o partido no momento em que se encontrou com a co-líder da AfD, Alice Weidel, em Budapeste, na semana ada.
"É absolutamente claro que a AfD é o futuro", referiu Orbán na altura, sublinhando as convergências com o seu partido Fidesz, que integra os Patriotas pela Europa, especialmente no que se refere à política migratória.
Como Orbán e outros líderes enfatizaram durante umencontro do referido grupo político na semana ada, em Madrid, o seu plano a por unir todos os partidos europeus que têm uma perspetiva semelhante, vencer eleições nacionais e aumentar a sua presença nos governos da UE - de modo a que tal acabe por se tornar "o novo normal em Bruxelas".
AfD cada vez mais próxima dos Patriotas pela Europa
"Existe um caminho claro e imparável para a unidade entre as forças conservadoras, patrióticas e soberanistas", afirmou o eurodeputado espanhol Hermann Tertsch, do Patriotas pela Europa, em declarações à Euronews. "Mesmo que ninguém possa prever quando é que isso vai acontecer, as coisas estão a avançar muito mais depressa do que anteriomente."
"Muitas das reservas [dentro dos Patriotas sobre a entrada da AfD] já não existem", acrescentou, porque se tem registado "um processo muito positivo dentro do partido".
Outro indício de uma possível cooperação futura veio de Estrasburgo, na semana ada, onde os chefes das delegações da AfD e do Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ) revelaram que iriam apresentar uma "nova iniciativa" numa conferência de imprensa conjunta, mas cancelaram o evento à última hora.
Na anterior legislatura, a AfD fazia parte do grupo Identidade e Democracia (ID), juntamente com muitos dos partidos que fazem agora parte dos Patriotas pela Europa, como a Liga, o Rassemblement National (RN) e o FPÖ.
Mas a delegação alemã foi expulsado grupo pouco antes das eleições europeias de junho, depois de o seu candidato principal, Maximilian Krah, ter sido forçado a abandonar a liderança do partido devido a alegações de espionagem, corrupção e comentários controversos sobre o grupo paramilitar nazi Waffen-SS.
Um dos partidos mais críticos foi o Rassemblement National de França, que considerou que alguns membros da AfD tinham ultraado sérios limites ao declararem que nem todos os membros das SS eram criminosos e ao discutirem planos para expulsar do país os alemães recentemente naturalizados.
O partido francês ainda parece ser o principal opositor à entrada da AfD no grupo, com uma fonte do Rassemblement National a dizer à Euronews, sob condição de anonimato: "Penso que ainda existe um bloqueio com a AfD."
"Se a AfD quer exercer responsabilidades políticas na Alemanha e na UE, tem de limpar as suas próprias fileiras", referiu à Euronews um eurodeputado do partido francês, também sob condição de anonimato.
No entanto, a porta poderá abrir-se num futuro próximo, especialmente porque o controverso Maximilian Krah foi excluído da delegação da AfD (agora está entre os deputados não-inscritos) e considerando que os planos de "remigração" deste partido não incluem os cidadãos alemães de origem estrangeira.
"Cabe à AfD provar, no futuro, que aprendeu as lições do que anteriormente considerámos inaceitável", mencionou o eurodeputado, acrescentando que "será interessante ver o resultado eleitoral da AfD nas eleições alemãs".
A posição do RN face a este tema seria crucial, uma vez que detém a maior delegação integrante dos Patriotas pela Europa e é necessária unanimidade, no seio do grupo, para aceitar novos membros, como salientou um porta-voz dos Patriotas.
Uma questão de dinheiro
Depois de ter sido expulsa do ID, a AfD obteve 15,90% dos votos nas eleições europeias, enviando, consequentemente, 15 eurodeputados para Estrasburgo. O partido alemão formou, então, um novo grupo no Parlamento Europeu: o Europa das Nações Soberanas (ESN), que conta atualmente com apenas 26 deputados de oito países, o que faz dele o grupo mais pequeno do hemiciclo.
Para formar um grupo, são necessários pelo menos 23 eurodeputados de sete Estados-Membros, pelo que o ESN não sobreviverá a uma saída da AfD, a força dominante no grupo.
Mas embora a adesão ao Patriotas pela Europa aumente a influência da AfD nos debates políticos europeus, pode ser contraproducente para os seus eurodeputados.
Isto porque ser a principal delegação de um grupo político implica mais financiamento por parte do Parlamento e mais tempo de intervenção nas sessões plenárias.
Manter-se como a maior delegação dentro do pequeno grupo ESN daria aos membros da AfD mais oportunidades para intervir em plenário e garantiria mais financiamento do que caso se torne, apenas, uma das muitas delegações integrantes de um grupo maior como o Patriotas pela Europa, revelou uma fonte à Euronews.
A delegação da AfD não se mostrou disponível para comentar o assunto.