A União Europeia quer reforçar a defesa face à agressão da Rússia à Ucrânia e às crescentes exigências dos EUA de um maior apoio financeiro europeu à NATO.
Desde a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, a UE tem disponibilizado muito armamento e apoio logístico. Mas o conflito colocou em evidência as dificuldades em aumentar a produção de munições e armas no seio do bloco.
Em março de 2024, a Comissão Europeia propôs um Programa Europeu para a Indústria da Defesa, que prevê a atribuição de 1,5 mil milhões de euros do orçamento da UE para a defesa entre 2025 e 2027.
O dinheiro deverá impulsionar a defesa, a tecnologia e a indústria, mas é escasso quando comparado com os 500 mil milhões de euros de investimento no setor, que os peritos dizem ser necessário na próxima década.
"Historicamente, a maior parte das despesas neste setor provém dos orçamentos nacionais que financiam as suas forças armadas nacionais. Há certamente muita gente por aqui que diz que talvez seja mais eficiente se nos juntarmos de alguma forma a nível da UE", diz Jack Schickler, que cobre esta área política para a Euronews.
Dirigentes, altos funcionários e analistas propam várias ideias para obter o enorme montante de fundos necessários. Uma delas consiste em repetir o esforço feito após a pandemia de Covid-19 e voltar a emitir dívida conjunta. Mas os países frugais são contra a ideia das chamadas euro-obrigações de defesa e estão a pensar em alternativas.
"O financiamento a nível europeu deve ser feito de forma solidária. E creio que as euro-obrigações são uma opção. Mas penso que também podemos falar de outras coisas", defende Tobias Cremer, um eurodeputado socialista alemão que faz parte da subcomissão de segurança e defesa do Parlamento Europeu.
"Por exemplo, um dos problemas é que há muito dinheiro privado que poderia ser canalizado para isso e, neste momento, existem muitas barreiras para os investidores privados, que não podem investir mesmo que queiram", acrescenta, apontando a necessidade de analisar o possível papel do Banco Europeu de Investimento.
A ideia de gastar mais na defesa também divide os cidadãos europeus, como ouvimos de pessoas comuns em Bruxelas. "Acho que temos de deixar de dar dinheiro à Ucrânia. Penso que é melhor defender os nossos países agora para o futuro", disse um entrevistado.
"Preferia não gastar dinheiro com isso, mas estamos numa situação na Europa em que temos de o fazer, não só para a nossa própria proteção, mas também para proteger a Ucrânia. Se não protegermos a Ucrânia, não protegemos a Europa", disse outro.
As contribuições para a NATO poderão quase duplicar
Também serão necessárias mais verbas se os objetivos das contribuições dos países para a NATO aumentarem dos atuais 2% do PIB para cerca de 3,5% do PIB, como defende o novo Secretário-Geral da aliança, Mark Rutte. Isto poderia significar que a UE teria de angariar, no seu todo, cerca de 200 mil milhões de euros por ano.
Atualmente, apenas a Polónia, a Estónia, a Letónia e a Grécia gastam 3% ou mais. A Alemanha e a França, as maiores potências da UE, atingiram o objetivo de 2%. Mas outras grandes economias, como a Itália e a Espanha, ainda não atingiram esse nível de despesas.
"Os governos estão muito apertados de dinheiro neste momento. Além disso, há uma série de barreiras à despesa da UE com a defesa. Alguns dos seus membros são declaradamente neutros e existem restrições legais à sua capacidade de, por exemplo, comprar armas ou munições", afirma Jack Schicker.
Uma estratégia mais eurocêntrica também corre o risco de criar uma fratura no seio da aliança da NATO se membros como os EUA ou o Reino Unido forem excluídos das novas aquisições.
Cremer defende o aumento do objetivo de 2% para reforçar o pilar europeu da NATO, mas acrescenta que "para além de gastarmos mais, também temos de o fazer de forma mais eficiente".
A UE está a tomar medidas sem precedentes para fazer face ao real potencial de guerra. Pela primeira vez, tem um comissário europeu dedicado à indústria da defesa, o lituano Andrius Kubilius. Pretende também utilizar parte dos ativos congelados da Rússia para apoiar a Ucrânia, mas resta saber até que ponto tem condições e unidade para ser uma potência militar global.
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Jornalista: Isabel Marques da Silva
Produção de conteúdos: Pilar Montero López
Produção de vídeo: Zacharia Vigneron
Grafismo: Loredana Dumitru
Coordenação editorial: Ana Lázaro Bosch e Jeremy Fleming-Jones