De acordo com uma coligação de ONGs, as delegações nacionais da União Europeia levaram para a conferência da ONU sobre o clima representantes dos combustíveis fósseis
Os representantes dos interesses dos combustíveis fósseis têm uma forte presença na COP29. De acordo com um relatório da Kick Polluters Out Coalition, uma coligação de 450 ONGs, 1.770 lobistas deslocaram-se a Baku para a conferência das Nações Unidas sobre o clima. Os governos da União Europeia levaram consigo 113 destes representantes.
"A Grécia liderou com 24, a Itália com 22", explica Marcella Via, do Corporate Europe Observatory (membro da coligação), seguida da Suécia (17) e da Bélgica (13).
A Grécia e a Itália são os países que mais compram gás azeri. Por isso, não é de estranhar que tenham tantos lobistas dos combustíveis fósseis".
(A Euronews ou ambos os países, mas não recebeu qualquer comentário até ao momento da redação deste artigo).
Roma e Atenas estão a contar com o corredor de gás do Sul da Europa, que liga o Azerbaijão à Europa através da Turquia. Este gasoduto poderia ser alargado para transportar gás do Médio Oriente, da Ásia Central e do Mediterrâneo Oriental. A estrutura deverá ter capacidade para transportar pelo menos 10 mil milhões de metros cúbicos de gás por ano.
A sociedade civil também está a denunciar a conclusão de acordos comerciais na COP29. Logo no segundo dia da conferência internacional, o relatório menciona um acordo entre a Italgas e a SOCAR (State Oil Company of Azerbaijan Republic), a empresa nacional de petróleo e gás do Azerbaijão.
Por outro lado, o documento assinala que a Comissão Europeia não conta com nenhum lobista do setor na sua delegação, ao contrário do ano anterior. Na sua audição, no início de novembro, o Comissário Europeu para a Ação Climática "foi pressionado pela sociedade civil para não trazer nenhum lobista dos combustíveis fósseis", sublinha Marcella Via.
Na sua audição perante os eurodeputados, o comissário neerlandês afirmou que "apoiaria a política de luta contra os conflitos de interesses nas negociações das Nações Unidas sobre o clima. E nós esperamos que ele cumpra a sua palavra", acrescentou.
Uma grande delegação
1.770 lobistas deslocaram-se à capital azeri, em representação de empresas como a Chevron, a ExxonMobil, a BP, a Shell, a Eni e a TotalEnergies. São menos do que no ano ado, quando havia quase 2.500 representantes de interesses na COP28. Mas as ONGs salientam que a percentagem de representantes de grupos de interesses continua a ser elevada.
A coligação de ONGs refere que os lobistas são mais numerosos do que as delegações nacionais presentes em Baku, com exceção do Azerbaijão (país anfitrião), do Brasil (que acolherá a próxima COP) e da Turquia.
Os lobistas dos combustíveis fósseis receberam mais es para a COP29 do que todos os delegados dos 10 países mais vulneráveis ao clima juntos.