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Análise: Em Roma, os socialistas alertam para um "perigo real" nas eleições europeias

A perspetiva de uma extrema-direita insurreta ocupou o centro das atenções no congresso socialista de La Nuvola, nos arredores de Roma.
A perspetiva de uma extrema-direita insurreta ocupou o centro das atenções no congresso socialista de La Nuvola, nos arredores de Roma. Direitos de autor Alessandra Tarantino/Copyright 2024 The AP. All rights reserved
Direitos de autor Alessandra Tarantino/Copyright 2024 The AP. All rights reserved
De Jorge LiboreiroIsabel Marques da Silva
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Os socialistas alertaram para um "perigo real" nas eleições europeias, em referência à extrema-direita, no congresso em Roma (Itália), no sábado. Esta análise revela como é que o partido se quer posicionar para travar a tendências de crescimento dessa ideologia.

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O congresso do Partido dos Socialistas Europeus (PSE) destinava-se a exaltar as principais realizações da social-democracia nos últimos cinco anos, a fazer desfilar uma sucessão de líderes de alto nível e a designar um candidato principal para a campanha e para a presidência da Comissão Europeia.

O sortudo foi Nicolas Schmit, uma figura relativamente desconhecida que liderou a corrida interna sem ser contestado. As suas credenciais como comissário europeu para o Emprego e os Direitos Sociais foram suficientemente convincentes para lhe valerem uma eleição por aclamação.

"Camaradas, temos um projeto de esperança, de progresso, de justiça e de prosperidade partilhada. Estou pronto para liderar a nossa família política e defender as nossas ideias. Conto com o vosso apoio e podem contar com o meu", disse Schmit à audiência. 

Depois, referindo-se à recente vitória do centro-esquerda na Sardenha (ilha italiana), Schmit concluiu: "È vero, il vento sta cambiando! Andiamo a vincere queste elezioni!" ("É verdade, o vento está a mudar! Vamos ganhar estas eleições!").

Mas as proclamações efusivas e os discursos galvanizadores desmentem o sentimento de preocupação com o aumento da extrema-direita, que impregnou o congresso, desde os eventos paralelos até à grande apoteose no modernista centro de convenções de La Nuvola.

Praticamente todos os representantes que subiram ao palco, incluindo os chefes de governo convidados, aproveitaram a oportunidade para lançar um aviso sério sobre a ascensão do populismo de direita em toda a Europa, criando a impressão de um leitmotiv.

Os receios decorrem das sondagens que prevêem ganhos significativo para os grupos no Parlamento Europeu dessa ideologia: Conservadores e Reformistas Europeus (CRE) e Identidade e Democracia (ID). As suas opiniões de linha dura sobre a integração política, as alterações climáticas, a política de asilo, os direitos sociais, o Estado de direito e os assuntos externos os colocam diretamente em desacordo com os progressistas.

Por isso, não foi surpreendente que uma das primeiras coisas que Schmit fez após a sua aclamação tenha sido excluir - em termos inequívocos - qualquer cooperação com os grupos de CDR e ID após as eleições: "Nem agora, nem nunca", disse, suscitando aplausos.

Sabemos onde estamos. Estamos a manter a mesma posição. Quem se moveu nos últimos anos foi o PPE, que quebrou a aliança tradicional e começou a trabalhar com os populistas e a extrema-direita.
Iratxe Garcia
Líder da bancada do centro-esquerda, Parlamento Europeu

No entanto, os socialistas não estão exclusivamente preocupados com a ascensão destes dois grupos. O que realmente os preocupa é a mudança de atitude do Partido Popular Europeu (PPE), de centro-direita, a maior formação do Parlamento Europeu. Na sua opinião, o PPE está a afastar-se da sua posição de longa data de europeísmo pragmático e a abraçar, gradualmente, os discursos de extrema-direita para fins puramente eleitorais.

O governo de Roma é a prova incontestável desta transmutação: A Itália é atualmente governada por uma aliança entre os Fratelli d'Italia (CRE), a Lega (ID) e a Forza Italia (PPE), que os analistas descreveram como a formação mais dura direita da História do país, no pós-Segunda Guerra Mundial.

Os socialistas alertaram para o facto de que este esquema tripartido poderia muito bem ser reproduzido noutros países europeus, tornando impossível para os cidadãos discernir onde termina o centro-direita e onde começa o extrema-direita. A Finlândia e a Suécia já esbateram essa fronteira, enquanto que os Países Baixos, um país socialmente liberal, está a enfrentar o que seria o seu primeiro executivo liderado por um político de extrema-direita, Geert Wilders.

Iratxe García Pérez, a líder dos Socialistas e Democratas (S&D) no Parlamento Europeu, não teve papas na língua no congresso, atacando sucessivamente o PPE, com quem tem trabalhado em estreita colaboração, nos últimos cinco, anos para sustentar uma grande coligação que inclui também os liberais do Renovar a Europa.

"Sabemos onde estamos. Estamos a manter a mesma posição. Quem se moveu nos últimos anos foi o PPE, que quebrou a aliança tradicional e começou a trabalhar com os populistas e a extrema-direita", disse García Pérez, na sexta-feira, numa conferência de impensa.

"A Itália é um exemplo claro de como os conservadores estão a começar a normalizar a aliança com a extrema-direita. Este é um perigo real", acrescentou.

European socialists gathered at La Nuvola, in Rome, to elect their lead candidate for the EU elections.
European socialists gathered at La Nuvola, in Rome, to elect their lead candidate for the EU elections.Alessandra Tarantino/Copyright 2022 The AP. All rights reserved

Um dos eventos paralelos do congresso foi o debate intitulado "Compreender o populismo de direita e o que fazer com ele", que analisou o fenómeno durante mais de duas horas, na sede do Partito Democratico (PD). 

A nossa principal tarefa enquanto socialistas e democratas é combater o populismo, atacando as suas causas profundas. O populismo é alimentado pelo medo.
António Costa
Primeiro-ministro, Portugal

O presidente do PSE, Stefan Löfven, também reiterou a mensagem, no seu discurso inaugural, instando todos a considerarem o legado de Benito Mussolini (ditador fascista italiano) como um lembrete de que "a política tem de ser sempre sobre as pessoas e nunca sobre a arrogância ou o ganho pessoal".

"Normalizar a extrema-direita é, na prática, pôr em perigo tudo o que construímos juntos", disse Löfven, numa indireta para o PPE e os liberais.

"Não se pode ser pró-europeu e democrático e, ao mesmo tempo, fazer acordos com partidos que são fundamentalmente anti-UE", acrescentou. Nunca iremos cooperar com a CRE e a ID. Nunca iremos cooperar com a Alternative für Deutschland, o PiS, o Vox. Nunca iremos cooperar com líderes extremistas", disse.

Quem deu as respostas às crises?

No meio desta paisagem política em mudança, poderá a social-democracia encontrar o seu lugar? Esta foi a outra face da questão que os socialistas tentaram explicar no congresso.

As suas respostas convergiram num retumbante "sim, pode", enquanto percorriam um catálogo detalhado das recentes realizações políticas, incluindo uma diretiva para garantir que os salários mínimos sejam fixados em níveis adequados, novas regras para garantir o equilíbrio de género nos conselhos de istração das empresas, apoio fiscal às famílias vulneráveis para fazer face à crise energética, o programa de 100 mil milhões de euros para financiar esquemas de trabalho a tempo reduzido durante os confinamentos da Covid-19 e a aquisição conjunta de vacinas.

Graças à  defesa clássica dos direitos laborais, da tributação justa, dos serviços públicos e do crescimento inclusivo, os participantes afirmaram que a social-democracia pode e deve ser a resposta certa para as preocupações e queixas que estão a impulsionar a ascensão generalizada dos partidos de extrema-direita.

No entanto, o congresso não explicou por que razão as iniciativas socialistas destinadas a atenuar as desigualdades económicas e as dificuldades da classe trabalhadora não conseguiram conter o mal-estar popular. Em vez disso, os líderes culparam a extrema-direita por polarizar o debate político, dividir as sociedades e anunciar projetos irrealizáveis e irresponsáveis.

"A nossa principal tarefa enquanto socialistas e democratas é combater o populismo, atacando as suas causas profundas. O populismo é alimentado pelo medo", afirmou António Costa, primeiro-ministro de Portugal.

"Temos de dar aos nossos cidadãos confiança, segurança e certeza para construirmos a Europa que queremos", acrescentou, "uma Europa social, democrática e sustentável".

O seu homólogo espanhol, Pedro Sánchez, cuja presença foi muito aplaudida, rejeitou os pessimistas e disse que a social-democracia tinha sido a inspiração das principais respostas políticas dadas às crises dos últimos anos, provando que a ideologia ainda é adequada ao século XXI.

"Mais uma vez, foram as ideias sociais-democratas que nos salvaram. Foi o Estado social e a solidariedade entre as pessoas que nos permitiram ultraar esses terríveis desafios e seguir em frente", disse Sánchez. "Agora, os mesmos que diziam que não tínhamos futuro estão a tentar recuperar um ado que nunca existiu", acrescentou.

Mas os argumentos dos socialistas tinham uma falha fácil de detetar: a pessoa que liderou estas políticas transformadoras na Comissão Europeia não é uma socialista, mas uma conservadora.

Foi Ursula von der Leyen que introduziu o Pacto Ecológico Europeu, o fundo de recuperação de 750 mil milhões de euros, a aquisição conjunta de vacinas e de gás natural, os regulamentos de emergência para amortecer as faturas da energia dos consumidores (que atingiram níveis recorde), leis inovadoras para controlar o poder das grandes empresas de tecnologia, reprimir os conteúdos ilegais e garantir que o desenvolvimento da Inteligência Artificial segue padrões éticos centrados no ser humano.

O nome de Von der Leyen esteve ausente do congresso pela razão essencial de que ela é a candidata principal do PPE, o que significa que terá de enfrentar o seu subalterno, Nicolas Schmit. A corrida será profundamente desigual, uma vez que a presidente se baseou nas suas políticas para promover uma narrativa de legado e sublinhar a necessidade de uma liderança forte e comprovada em tempos de crise perpétua.

"Tenho muita estima pela Sra. von der Leyen. Conheço-a há muito tempo", disse Schmit no final do congresso. "Agora somos ambos candidatos. Estamos numa corrida e esperamos debater e, depois, todos podem ter a sua opinião".

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