{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/green/2024/07/30/cientistas-estudam-beneficios-das-alforrecas" }, "headline": "Cientistas estudam benef\u00edcios das alforrecas", "description": "As alforrecas est\u00e3o a proliferar e amea\u00e7ar os ecossistemas, mas tamb\u00e9m podem ter benef\u00edcios. V\u00e1rios investigadores est\u00e3o a estudar novos usos para estas criaturas gelatinosas, como medicamentos, cosm\u00e9ticos, despoluidores e at\u00e9 para a gastronomia.", "articleBody": "Kerteminde \u00e9 uma cidade portu\u00e1ria no centro da Dinamarca, \u00e9 ref\u00fagio para a vida marinha. Mas os cientistas da Universidade do Sul da Dinamarca (SDU) est\u00e3o intrigados pelo aumento das alforrecas (tamb\u00e9m conhecidas por medusas)Os cientistas mergulham nas \u00e1guas, observam estas esp\u00e9cies gelatinosas e recolhem amostras. 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Mas h\u00e1 ainda um entrave.\u201c\u00c9 necess\u00e1rio uma autoriza\u00e7\u00e3o da Autoridade Europeia para a Seguran\u00e7a dos Alimentos para garantir que fornecemos um produto seguro aos consumidores\u201d, explica Antonella Leone.A sustentabilidade \u00e9 fundamentalAntonella Leone diz que ainda h\u00e1 falta de conhecimento sobre estas criaturas gelatinosas. Uma lacuna que pode ser preenchida pelas investiga\u00e7\u00f5es que est\u00e3o a ser feitas em todo o planeta.A investigadora tamb\u00e9m alerta que remover as alforrecas dos oceanos sem que estas sejam entendidas pode colocar o ecossistema numa situa\u00e7\u00e3o delicada, causando mais danos do que benef\u00edcios ao meio ambiente marinho.\u0022Espero que possamos continuar a estudar esses organismos em profundidade no seu ambiente natural. 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Cientistas estudam benefícios das alforrecas

Em parceria comthe European Commission
Cientistas estudam benefícios das alforrecas
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De Denis Loctier
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As alforrecas estão a proliferar e ameaçar os ecossistemas, mas também podem ter benefícios. Vários investigadores estão a estudar novos usos para estas criaturas gelatinosas, como medicamentos, cosméticos, despoluidores e até para a gastronomia.

Kerteminde é uma cidade portuária no centro da Dinamarca, é refúgio para a vida marinha. Mas os cientistas da Universidade do Sul da Dinamarca (SDU) estão intrigados pelo aumento das alforrecas (também conhecidas por medusas)

Os cientistas mergulham nas águas, observam estas espécies gelatinosas e recolhem amostras. Também monitorizam temperaturas da água, salinidade e outros fatores para entender melhor a razão de haver tantas alforrecas.

As alforrecas que estão a estudar não são conhecidas por picar os banhistas. Mas têm uma biomassa tão densa que prejudica outras espécies.

Um problema global

Em todo o mundo, as alforrecas picam turistas, entopem redes de pesca e bloqueiam as canalizações de água. Há até receios de que se expandam tanto que possam vir a substituir todas as outras espécies marinhas.

Mas Jamileh Javidpour, que estuda alforrecas há mais de 20 anos, diz que ainda não sabemos o suficiente para fazer este tipo de previsões.

"Há cenários apocalípticos sobre a proliferação de alforrecas e há histórias parcialmente verdadeiras, porque a presença de alforrecas pode afetar todo o ecossistema", explica Jamileh Javidpour, que também é professora de biologia na SDU.

"No entanto, mudanças em toda a população exigem uma visão holística: qual é o efeito de  nas outras populações que estão ligadas a este participante na teia alimentar?”, diz a professora, sublinhando que este tipo de abordagem ainda não existe.

Projeto GoJelly

Estas alforrecas parecem prosperar devido à sobrepesca, porque a pesca em excesso remove os predadores e competidores. Outro fator é o escoamento agrícola, que retira o oxigénio da água, algo que não afeta esta espécie.

Embora a proliferação de alforrecas possa ser problemática, os investigadores acreditam que se pode encontrar um uso sustentável para este plâncton gelatinoso.

Por exemplo, as alforrecas podem fornecer uma fonte alternativa de colagénio para cosméticos. Também conseguem capturar partículas de microplástico, o que pode ajudar a limpar os oceanos.

Jamileh Javidpour coordenou o projeto GoJelly, financiado pela União Europeia, que desenvolveu um método para usar muco das alforrecas, natural ou sintético, para filtrar águas residuais antes de estas chegarem ao oceano.

"Eles absorvem partículas de forma muito ativa e capturam essas partículas, e embalam-nas num filtro biológico de muco", diz Javidpour. "E esse é um padrão que podemos aprender da natureza para desenvolver soluções naturais."

Fertilizante natural

Os investigadores do Instituto de Ciências da Produção Alimentar em Lecce (CNR-ISPA), em Itália, estão a investigar a forma de transformar as alforrecas em fertilizante vegetal.

Começam por congelá-las e depois usam secagem a vácuo para convertê-las em pó branco. O resultado é um pó, que contém aminoácidos, minerais e outros nutrientes que podem ser rapidamente absorvidos pelas plantas.

A investigação mostra que as plantas crescem melhor com nutrientes das alforrecas em comparação com um substrato que apenas contenha sais.

"Esta (planta) está mais exuberante em comparação com a amostra de controlo”, mostra a investigadora Stefania de Domenico, mostrando a diferença no crescimento das plantas fertilizadas com alforrecas.

As alforrecas também podem ajudar a curar doenças. Embora ainda esteja na fase inicial da investigação, os cientistas descobriram que compostos bioativos destas espécies podem induzir a morte de células cancerígenas da mama, em condições experimentais.

"Observamos que podem reduzir a proliferação de células cancerígenas, sem ter efeito sobre células não cancerígenas", segundo Antonella Leone, investigadora no CNR-ISPA.

Sopa de marisco com alforrecas

Na Ásia, é comum comer-se alforreca. Na Europa, também começam a ser feitas as primeiras experiências gastronómicas.

O chef Fabiano Viva trabalha num restaurante de Lecce  que faz parte de um projeto europeu que explora as alforrecas como alimento. O chef Viva acredita que os apreciadores de marisco vão gostar de alforrecas cozidas, porque têm um saber intenso a mar.

"As alforrecas muitas vezes não são bem vistas porque podem picar e ferir. As pessoas pensam que também podem ser prejudiciais para comer”, diz Fabiano Viva. “Vamos desmistificar este mito: (algumas) alforrecas não são prejudiciais de todo. Na verdade, são simplesmente deliciosas!"

O cozinheiro dá vários exemplos da utilização de alforreca na cozinha, como na sopa de marisco ou nas saladas

Para que este tipo de pratos seja possível,  Antonella Leone liderou um grupo de investigadores que desenvolveram um método seguro para preservar alforrecas sem usar sais de alumínio. Estes sais são comuns na Ásia, mas considerados prejudiciais na Europa.

Estes investigadores também colaboraram com chefs para criar um livro de receitas com receitas com alforrecas. Mas há ainda um entrave.

“É necessário uma autorização da Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos para garantir que fornecemos um produto seguro aos consumidores”, explica Antonella Leone.

A sustentabilidade é fundamental

Antonella Leone diz que ainda há falta de conhecimento sobre estas criaturas gelatinosas. Uma lacuna que pode ser preenchida pelas investigações que estão a ser feitas em todo o planeta.

A investigadora também alerta que remover as alforrecas dos oceanos sem que estas sejam entendidas pode colocar o ecossistema numa situação delicada, causando mais danos do que benefícios ao meio ambiente marinho.

"Espero que possamos continuar a estudar esses organismos em profundidade no seu ambiente natural. Se houver a possibilidade de usar qualquer composto que possa ser útil para os humanos, isso deve ser feito de forma sustentável", diz Antonella Leone  

Vários especialistas concordam. A melhor forma de manter a vida marinha saudável é abordar as causas fundamentais dos seus problemas: como as mudanças climáticas, a poluição e a sobrepesca.

As alforrecas têm sido parte dos ecossistemas marinhos nos últimos 500 milhões de anos. Com o equilíbrio adequado, vão manter um lugar na harmonia natural dos nossos oceanos.

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