Tecnologia permite ver pormenores como os organismos biológicos que colonizaram os artefactos quando estes estavam no fundo do mar
Todos os anos cerca de cem mil turistas visitam as ilhas italianas Tremiti, poucas dezenas de quilómetros a sudeste da "bota". Mas muitos perdem uma das atrações mais interessantes: os sítios arqueológicos subaquáticos.
Uma equipa de investigadores, dirigida por Fabio Bruno, professor adjunto na Universidade de Calábria, tem como missão desvendar estes tesouros escondidos, que não estão íveis a todos. É necessário fazer mergulho para contemplar o património cultural subaquático.
Bruno salienta, então, que "é fundamental utilizar tecnologias multimédia que permitam ao público em geral conhecer estes locais e compreender a sua importância".
"CREAMARE" é o nome do projeto europeu que o professor lidera. A equipa inclui arqueólogos, historiadores e especialistas em tecnologia informática.
O seu objetivo é, através de um modelo 3D altamente detalhado, tornar íveis sítios arqueológicos subaquáticos, como os destroços do navio "Lombardo".
O barco a vapor do século XIX foi muito importante no movimento italiano do Ressurgimento. Afundou-se e perdeu-se há mais de 160 anos. Os destroços só foram descobertos no início dos anos 2000.
Os investigadores utilizam o método da fotogrametria: tiram uma série de fotografias com uma câmara protegida por uma caixa, que são depois usadas para gerar o modelo 3D.
Assim, a tecnologia ajuda a aproximar o público destes pedaços de história e cultura escondidos no fundo do mar.
Ver artefactos ao pormenor sem lhes tocar
Os museus estão a utilizar cada vez mais as novas tecnologias para melhorar as exposições. É o caso da Superintendência Nacional do Património Cultural Subaquático, em Taranto, cidade na costa sul de Itália.
A repartição, liderada pela arqueóloga Barbara Davidde, tem uma nova coleção de cerâmica coríntia, do século VII a.C., que foi descoberta a 780 metros de profundidade no Mar Adriático.
Um grande ecrã interativo permite aos visitantes examinar modelos fotogramétricos destes artefactos.
É ainda possível visitar um sítio arqueológico na exposição graças à realidade virtual, o que Davidde acredita ser muito valioso. "Quando experienciamos a exploração subaquática, mesmo virtual, tiramos mais prazer da visita e recordamos melhor o que vimos e o que aprendemos", sublinha.
Turismo como solução, e não problema
As experiências tecnológicas imersivas podem ajudar a promover um turismo mais ecológico.
Em Malta, por exemplo, os turistas enchem os grandes hotéis, os cruzeiros e a vibrante vida noturna, muitas vezes perdendo as maravilhas naturais do país.
Um dos monumentos históricos a não deixar ar são os templos megalíticos de Ħaġar Qim, que remontam há 5 mil anos. Aqui pode ver em ação o projeto europeu "CORALLO", liderado por Alan Deidun, embaixador de Malta para os Oceanos.
Robôs androides, óculos de realidade virtual e outras ferramentas interativas no museu despertam o interesse dos turistas pela biodiversidade marinha e pelo ecoturismo.
O projeto trabalha ainda com grupos locais que organizam atividades marinhas amigas do ambiente, em locais naturais protegidos. A "Get Out and Kayak" está entre esses parceiros.
Arthur Quintano, cofundador da associação, acredita no ecoturismo. "Queremos que as pessoas naveguem no mar, com pouca ou nenhuma pegada de carbono. Para nós, é importante ensinar a respeitar o mar", esclarece.
Efetivamente, os turistas podem ser parte da solução, e não do problema.
“Acredito muito na ligação com a natureza, em ajudá-la, fazendo coisas simples como recolher lixo do mar", conta uma turista a bordo de um caiaque da organização.