Chefes da diplomacia russa e arménia encontraram-se em Moscovo para tentar dar os rumo à resolução de um conflito que se arrasta há décadas.
O ministro russo dos Negócios Estrangeiros reuniu-se esta terça-feira, em Moscovo, com o seu homólogo arménio para conversações bilaterais acerca dos últimos desenvolvimentos no conflito entre a Arménia e o Azerbaijão.
O encontro decorre no contexto de mais um episódio de tensão entre Yerevan e Baku, depois de o primeiro-ministro arménio ter reiterado a intenção de abandonar a Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC).
Semelhante à NATO, a OTSC é uma aliança militar criada em 1992, após a dissolução da União Soviética, e chefiada pela Rússia, com o objetivo de reforçar a segurança no leste europeu e de responder a possíveis ameaças aos países membros. Além da Rússia, integram esta aliança a Arménia, a Bielorrússia, o Cazaquistão, o Quirguistão e o Tajiquistão.
“Estamos prontos para dar o apoio necessário à normalização das relações entre a Arménia e o Azerbaijão em todas as direções, tendo em vista o desenvolvimento dos acordos trilaterais alcançados pelos líderes dos três países em 2020 e 2022. Consideramos que estes acordos continuam a ser relevantes, especialmente à luz da atual situação na região”, disse o chefe da diplomacia russa.
Sergey Lavrov sublinhou as "relações estratégicas de parceria e aliança" tanto com a Arménia como com o Azerbaijão. "Estamos interessados nessa cooperação, ao contrário dos países distantes do Cáucaso Meridional, que têm uma agenda completamente diferente, com o objetivo de manter a tensão na região durante o máximo de tempo possível, na esperança de poderem promover os seus interesses geopolíticos de forma mais eficaz no quadro dessa tensão", acrescentou.
Na conferência conjunta entre os dois líderes, o ministro arménio dos Negócios Estrangeiros pediu sensatez. "Esperamos que, no futuro, a Rússia tenha em conta todos os aspetos do que está a acontecer, evitando interpretações unilaterais, a que, infelizmente, temos assistido recentemente, nos últimos dias", declarou.
As declarações de Ararat Mirzoyan surgem numa altura em que o primeiro-ministro da Arménia, Nikol Pashinian, afirmou que também pretendia estabelecer laços mais estreitos com os Estados Unidos e a União Europeia.
Mais de 30 anos de hostilidades
As relações entre a Arménia e o Azerbaijão têm sido bastante tensas há mais de três décadas, desde que as duas antigas repúblicas soviéticas começaram a travar uma guerra sangrenta no final da década de 1980 por causa de reivindicações territoriais. O conflito é o mais longo entre os dois países.
Em 2020, após 30 anos de esforços diplomáticos falhados, o Azerbaijão lançou uma operação militar que descreveu como “antiterrorista” e que reivindicou algumas partes do enclave de Nagorno-Karabakh.
A guerra de seis semanas, conhecida como a Segunda Guerra de Karabakh, terminou com um cessar-fogo mediado por Moscovo, tendo sido enviadas tropas russas para garantir o acordo.
No entanto, três anos mais tarde, Baku ou a controlar totalmente o Nagorno-Karabakh, quando mais de 100 mil arménios fugiram à medida que as forças de Baku avançavam.
As autoridades arménias acusam as forças de manutenção da paz de Moscovo, que foram enviadas para o Nagorno-Karabakh após a guerra de 2020, de não terem conseguido travar o ataque do Azerbaijão, uma acusação que o Kremlin negou.
Em vez disso, a Rússia acusou o governo arménio de ser pró-ocidental. As acusações sobre a Segunda Guerra de Karabakh têm vindo a afetar as relações entre a Arménia e a Rússia, que são aliados de longa data.