Há muitas histórias complicadas entre os milhares de residentes no "Cañada Real". A Euronews conta-lhe a de Saída Chadou e da filha doente de três anos
O bairro de lata "Cañada Real", nos arredores de Madrid, está já há dois meses sem eletricidade. Apenas o sol tem aquecido o dia e as velas iluminado a noite aos milhares de residentes desta comunidade marginal da capital espanhola conhecida como o maior bairro de lata de Espanha.
Saída Chadou integra a população com cerca de oito mil residentes da "Cañada Real", tem uma filha de três anos a sofrer de uma doença grave nos pulmões que a torna dependente de assistência médica e, sobretudo, de energia elétrica.
"É uma desgraça total. Sinto uma impotência, uma revolta. A vida dela agora depende da eletricidade. Quando lhe custa a respirar tem de se ligar a um aparelho para a ajudar", contou Saída Chadou à Euronews.
Saída vive há 25 anos em Espanha. Queixa-se da falta de ajuda dos serviços sociais espanhóis.
Da última vez que pediu ajuda na segurança social, Saída foi remetida para outros serviços públicos.
"Da última vez, disseram-me: 'Já sei o que se a, não é preciso que voltes outra vez. Se a rapariga ficar doente, vais ao hospital'", recordou-nos esta residente necessitada sobretudo de eletricidade numa povoação clandestina descrita como um dos maiores bairros de lata da Europa.
Fundado no verão de 1978, a 14 quilómetros das Portas do Sol, em Madrid, o bairro "Cañada Real" estende-se por uma língua de terra de 16 quilómetros, a leste do centro de Madrid .
Há estimativas informais para a existência de mais de 40 mil pessoas a residir neste bairro de lata. As organização não governamentais que têm trabalhado no apoio social aos residentes calculam pelo menos 8.000 habitantes e o número das entidades oficiais fica-se pelos 7.283, incluindo 2.548 menores, noticiava em 2017 o jornal El País.
A coordenadora dos serviços sociais do Programa de Intervenção com Famílias na "Cañada Real" de Merinas falou à Euronews de um "problema de exclusão urbanística e de falta de o a serviços".
"É um bairro linear e muitos dos setores de 'Cañada Real' não têm nem saneamento próximo às habitações", contou-nos Laura Gil Benito.
Desde o início dos cortes de energia, a polícia tem efetuado rusgas no bairro. O governo regional de Madrid alega que o aumento de plantações de marijuana pode estar na base da sobrecarga energética que provoca os cortes de luz no bairro.
Seja qual for a causa, pessoas como Saída, apenas pedem a eletricidade ligada, mas esta mãe de uma menina doente sente que todos lhe viram as costas quando ela mais precisa.
O correspondente da Euronews em Madrid, lembra-nos que "em 2017, os governos de Espanha e de Madrid acordaram no papel encontrar soluções para a vida dos residentes no bairro de 'Canãda Real'".
"Três anos depois, mesmo as mais básicas necessidades dos residentes continuam por ser satisfeitas", conclui o jornalista Carlos Marlasca.