A nova vaga de violência no Sudão do Sul multiplicou o número de refugiados. O Uganda, onde a política de acolhimento é inovadora, é o destino principal.
Conflitos étnicos, violações, pilhagens – a nova vaga de violência noSudão do Sulmultiplicou o número de refugiados. Em setembro, ultraava-se a fasquia de um milhão. Só desde julho, quase 250 mil habitantes abandonaram as suas casas. O Uganda é o país que acolhe mais sul-sudaneses, cerca de um terço do total de refugiados. O Aid Zone foi conhecer uma política de acolhimento quea ONU considera inovadora.
A política de acolhimento de refugiados do Uganda é uma das mais avançadas do mundo. É o Alto Comissariado da ONU (ACNUR) que o salienta, apontando a liberdade de movimentos que os recém-chegados têm, assim como o direito a trabalhar e a receber uma porção de terreno para se instalarem.
A formação profissional é também prioritária. Fomos conhecer o centro de Nyumanzi, gerido pelo Conselho Norueguês para os Refugiados (NRC) com o apoio da União Europeia.
“O curso de padaria tem uma duração de seis meses. O primeiro grupo que tivemos tinha 31 alunos. Metade deles já arranjou trabalho e os outros estão prestes a encontrar”, afirma o monitor Jackson Aliga.
Yarkon fugiu do Sudão do Sul com os seus quatro filhos. Trouxe ainda outras quatro crianças da sua família. “Quero abrir o meu próprio negócio para poder sustentar a minha família”, diz-nos.
### “Todos os meus filhos têm roupa e sapatos”
O centro oferece oito cursos profissionais tendo em conta as necessidades da comunidade local e do mercado ugandês. “Nós trabalhamos no sentido de tentar encaixar os refugiados nos mercados locais. Colocamos também os nossos alunos em o com os organismos financeiros que existem nesta zona, seja instituições dedicadas ao microcrédito ou bancos”, explica Hosana Adisu, da NRC.
Ouganda : l'aide aux réfugiés bénéficie à l'économie locale https://t.co/jMi7mOZLN4
— Africanews Français (@africanewsfr) 29 octobre 2016
Cada estudante recebe apoio financeiro e logístico ao longo dos seis meses que se sucedem à formação. Daruka e outras quatro alunas abriram uma padaria junto à comunidade de acolhimento de Adjumani. “A partir do momento em que comecei a trabalhar, as coisas melhoraram imediatamente. Todos os meus filhos têm roupa e sapatos. Se for preciso comprar material escolar, eu posso pagar. Não tem nada com a ver com a altura em que cheguei do Sudão do Sul”, insiste Daruka.
Afluência massiva obriga a repensar o sistema
Os conflitos no Sudão do Sul estão a gerar fugas em massa. Nos últimos meses, foram criadas à pressa novas comunidades de acolhimento. O centro de Elegu situa-se num dos mais movimentados pontos de entrada no Uganda. Os refugiados trazem histórias de morte e violência. “Hoje em dia, recebemos entre 100 e 180 pessoas por dia. No pico das chegadas, a meio de julho, acolhíamos diariamente entre três mil a quatro mil”, aponta Gerald Edema, funcionário público ugandês.
A afluência massiva de refugiados está a entupir os centros de acolhimento. O tempo de permanência estimado, antes da atribuição de um lugar numa comunidade, é de uma semana. Mas há quem e meses agora à espera de uma resposta.
Segundo Quentin Le Gallo, do gabinete de Ajuda Humanitária da UE, “se esta situação continuar, se continuarem a chegar mais pessoas, o sistema terá de ser adaptado porque não há lugar para todos”. A solução, refere, terá de ar por uma maior “disponibilização de terras, uma vez que cada refugiado que chega tem direito a um terreno”. Mas, sublinha, “as parcelas serão mais pequenas…”.