Maria Grazia Cucinotta foi a protagonista do filme “O Carteiro”, de 1994, que ganhou um Óscar, e é também conhecida por ter sido a rapariga James Bond na sequela “The World is Not Enough”.
Cucinotta também participou em várias séries norte-americanas, como Os Sopranos. A atriz nasceu na Sicília, viveu em Los Angeles oito anos e agora está na China, onde está a produzir o filme “The is always a reason”.
A Euronews foi ter com a produtora em Roma – uma entrevista para falar de como a Itália evoluiu nos últimos anos, tendo como pano de fundo as eleições italianas marcadas para finais deste mês de fevereiro.
Euronews: O seu nome incarnou a típica beleza italiana no mundo. Quando se identificou pela primeira vez com esse “ser italiana”?
Maria Grazia Cucinotta: A primeira vez que senti essa responsabilidade foi na noite dos óscares, com o filme “O Carteiro”. Senti-me, pela primeira vez, não apenas orgulhosa, mas feliz por ser italiana. Apercebi-me que o mundo adora a Itália, as mulheres italianas, tudo o que representa “Made in Italy”, a cultura e a poesia. A minha imagem resume tudo isso.
Euronews: O que vos incomoda de Itália?
Maria Grazia Cucinotta: Incomoda-me os italianos não saberem promover-se. Nestes últimos 15 ou 16 anos falou-se mal de Itália nos jornais por causa de um homem, Berlusconi, claro. Os italianos não são responsáveis, ao contrário. Muitos acordam todos os dias cedo e trabalham, fazem sacrifícios para fazer avançar a imagem do “Made in Italy”.
Euronews: Viveu quase dez anos nos Estados Unidos, trabalhou como produtora de filmes. Como interpreta as diferenças na organização laboral e na área da produção filmatográfica?
Maria Grazia Cucinotta: É totalmente diferente. Os que chegam ao topo (nos estados Unidos) são realmente aqueles que merecem. É maravilhoso, é tudo o que as pessoas sonham: serem recompensadas pelo seu valor, pelo que fazem. Se essa recompensa não chega, é a deceção certa. A itália devia tornar-se num país onde as pessoas valem pelo seu mérito e sabem trabalhar em grupo.
Euronews: Olhemos agora para o seu ado. Uma vez que foi manequim, acha que a moda é uma forma de relançar a imagem e a economia italiana?
Maria Grazia Cucinotta: A moda é a protagonista absoluta. Somos famosos no mundo inteiro por causa da moda, do “Made in Italy”.
Euronews: E o cinema? Que papel poderá ter?
Maria Grazia Cucinotta: O cinema teve um papel importante no ado. Os mestres italianos foram uma referência para o mundo do cinema. Infelizmente não fomos bem promovidos. No ado, os nossos filmes foram distribuídos por todo o lado, as nossas estrelas conhecidas mundo inteiro, hoje, issó é muito raro. Eu tive sorte porque o filme “O Carteiro” foi distribuído em todo o mundo e tornou-me conhecida, mas a maior parte dos nossos filmes, mesmo os mais bonitos, não são distribuídos nos estrangeiro. É uma pena não apenas para os atores, mas também para a cultura italiana. Quando um filme circula, trata-se também da promoção de um território, do turismo, uma forma de melhor conhecer e apreciar a cultura de Itália.
Euronews: É casada e mãe de uma menina. Sabemos que a família é muito importante para si. Como encara o casamento homosexual e a adoção por casais homosexuais?
Maria Grazia Cucinotta: Desde os 12 ou 15 anos que sou madrinha de todos os movimentos contra a homofobia. A liberdade de escolha deve ser atribuída a todos os seres humanos. Sou a favor de casais “gay” que se amam e que querem adotar uma criança para lhe dar amor.
Euronews: No que toca aos direitos civis e luta contra a discriminação, a Itália está bem posicionada ou tem muito a progredir?
Maria Grazia Cucinotta: Há sempre algo mais a fazer, evidentemente. Os preconceitos com frequência derrotam a inteligência. É preciso fazer desaparecer essa nuvem das cabeças das pessoas e fazê-las compreender que cada um tem o direito de viver como quer, desde que não faça mal aos outros. Assim que dois aultos decidem viver juntos, devem poder fazê-lo e ter a liberdade de se amarem.
Euronews: Em 2005 produziu o filme “The Invisible Children”, onde conta sete histórias de sete crianças injustiçadas e violentadas em diferentes locais do mundo. Pensa que ao defendermos os direitos das crianças estamos a defender o nosso futuro?
Maria Grazia Cucinotta: Defender os direitos das crianças, para mim, é a base da vida e assim deve ser para todos, porque a infância é um dos mais belos momentos da nossa vida. A infância não deve ser problemática, deve ser sorrisos. Trata-se de construir a base da sua vida. Não as devemos proteger apenas porque elas representam o futuro, mas porque se trata de um ser vivo que constrói as bases da sua vida.
Euronews: O que mais deseja para o futuro?
Maria Grazia Cucinotta: Para o futuro, gostaria de ter uma varinha mágica e mudar tudo o que não está bem no mundo. Se nos unirmos, essa varinha mágica pode mesmo aparecer.
Euronews: Está determinada?
Maria Grazia Cucinotta: Estou determinada, sim. Especialmete quando olho para trás. Quando regresso à Sicília e estou em casa da minha mãe e olho pela janela, e vejo de onde vim e onde estou, sinto-me a pessoa mais feliz do mundo. Não o esquecerei jamais. Cada dia da minha vida, quando acordo e olho ao meu redor, digo para mim: “não estás a sonhar”…