Pela primeira vez, o chefe do Pentágono não vai participar numa reunião do grupo que está a orquestrar o apoio militar à Ucrânia, disse uma fonte de Washington à Euronews.
O secretário da Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, não vai participar numa reunião dos ministros da Defesa do Grupo de o para a Defesa da Ucrânia (UDCG na sigla em inglês), em Bruxelas, esta quarta-feira. Uma ausência que vista como mais um sinal de que Washington está a recuar no apoio à Ucrânia na guerra contra a Rússia.
É a primeira vez, desde que os Estados Unidos criaram um grupo internacional para coordenar a ajuda militar à Ucrânia, há três anos, na sequência da invasão da Rússia, que o chefe do Pentágono não vai estar presente numa reunião dos ministros da Defesa deste grupo.
A ausência de Hegseth da reunião, que junta mais de 50 ministros da Defesa da NATO, foi confirmada à Euronews por um porta-voz do Ministério da Defesa dos Estados Unidos, que falou em conflitos de agenda.
O embaixador dos Estados Unidos na NATO, Matthew Whitaker, vai substituí-lo. Mas Hegseth deve participar na reunião de quinta-feira dos ministros da Defesa da NATO.
O UDCG foi criado pelo antecessor de Hegseth, Lloyd Austin, e mais de 50 países membros. Coletivamente forneceram à Ucrânia cerca de 126 mil milhões de dólares (111 mil milhões de euros) em armas e assistência militar, incluindo mais de 66,5 mil milhões de dólares (58 mil milhões de euros) dos Estados Unidos.
No entanto, desde que Donald Trump tomou posse como presidente dos Estados Unidos, em janeiro, não houve novos anúncios de ajuda militar norte-americana para a Ucrânia.
Hegseth entregou a liderança do UDCG à Alemanha e ao Reino Unido em fevereiro, dizendo que Washington ia deixar de ter funções nas reuniões mensais.
Entretanto, esta semana, os ministros da defesa da NATO devem finalizar as propostas para aumentar a despesa com a defesa de 2% para 5% do PIB, antes da cimeira dos líderes da NATO, que se vai realizar em Haia no fim de junho.
O presidente dos EUA apelou ao objetivo de 5%, uma exigência que foi apoiada pelo chefe da NATO, Mark Rutte. No entanto, nenhum dos 32 membros da NATO - incluindo os EUA - atinge atualmente esse nível.
O objetivo de 5% deverá ser dividido em 3,5% de despesas diretas com a defesa e 1,5% com aspectos "relacionados com a defesa", como a guerra cibernética e as infra-estruturas críticas.
3,5% dá-nos uma equivalência com os EUA", afirmou um responsável da NATO à Euronews.
O que constitui "despesas relacionadas com a defesa" terá de ser definido, segundo uma fonte familiarizada com o assunto, com alguns países da NATO a defenderem que aspectos como a "mobilidade militar", incluindo a construção de estradas, sejam considerados parte dessas despesas.
O calendário para os países atingirem o objetivo proposto de 5% também será discutido, disse a fonte.
O aumento planeado das despesas é uma resposta às exigências dos EUA de que o peso da segurança da Europa seja ado pelo continente.
Ucrânia em foco
A invasão da Ucrânia pela Rússia vai ser um dos principais temas da cimeira da NATO em Haia. Mas espera-se que seja muito diferente do evento do ano ado em Washington, no qual o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, esteve na vanguarda dos trabalhos, numa altura em que, sob a istração Biden, Kiev e Washington tinham uma relação próxima.
Zelenskyy disse esta semana que a Ucrânia foi convidada para a cimeira da NATO, mas não se sabe qual vai ser a natureza da participação do país, uma vez que não é membro da organização.
Algumas fontes disseram à Euronews que existe um consenso generalizado de que Zelenskyy deve estar presente na cimeira
"Será um desastre de relações públicas se ele não estiver presente", disse um responsável da NATO, sob a condição de anonimato.
Segundo outra fonte, o rei dos Países Baixos deve convidar Zelenskyy para um jantar dos líderes da NATO na noite de abertura.
Na segunda-feira, uma segunda ronda de conversações de paz diretas entre a Rússia e a Ucrânia, em pouco mais de duas semanas, não fez qualquer progresso no sentido de pôr fim ao conflito.
As discussões tiveram lugar um dia depois de uma série de surpreendentes ataques de longo alcance de ambos os lados, com a Ucrânia a lançar um devastador ataque de drones a bases aéreas russas e a Rússia a lançar o maior ataque de drones da guerra contra Kiev.
Responsáveis da NATO disseram à Euronews que estavam preocupados com os avanços russos, apesar dos ataques do exército ucraniano a alvos russos nos últimos dias.
Mais de uma centena de drones ucranianos atingiram bases aéreas estratégicas russas durante o fim de semana, destruindo ou danificando quase um terço dos bombardeiros do país, de acordo com Kiev.
"Foi um golpe de génio o que a Ucrânia conseguiu nos últimos dias", disse um responsável da NATO.
"Estamos todos otimistas em relação a isto. Eles eliminaram parte da capacidade (da Rússia) de matar crianças e atacar infraestruturas civis", acrescentou. .
Mas embora o ataque da Operação Teia de Aranha da Ucrânia à frota de bombardeiros russos seja considerado um grande revés para Moscovo, não altera fundamentalmente a situação no terreno.
"Não altera o campo de batalha. A realidade do campo de batalha é que a Rússia está a progredir quilómetro quadrado a quilómetro quadrado", disse o responsável da NATO.
"E esta operação, por maior que tenha sido, não está a impedir o facto de a Rússia estar a avançar e de a Ucrânia estar a ar por um momento muito difícil", continuou. "O sucesso retumbante de domingo não pode alterar este facto".