Com o regresso da luz à Península Ibérica, o Euro verifica alguns dos factos falsos que circularam durante esta falha de eletricidade sem precedentes.
Alegações e teorias enganosas têm circulado na Internet depois de Espanha, Portugal e partes do sul de França terem sido atingidos por um corte de energia sem precedentes na segunda-feira.
Algumas destas falsas afirmações foram amplificadas nos principais meios de comunicação social, causando confusão e especulações infundadas sobre a causa do apagão, que deixou ageiros retidos em comboios e elevadores e obrigou as empresas a fechar as portas.
Numa declaração ao país, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, disse que estas situações de crise criam "as condições perfeitas para a desinformação e para os boatos", apelando à população para não espalhar "informações de fontes duvidosas".
O Euro verifica alguns destes relatos infundados.
Não há provas de que o apagão tenha sido causado por um ataque informático
Identificámos uma série de alegações de que a rede energética europeia sofreu um ciberataque às mãos da Rússia, de Marrocos ou da Coreia do Norte. Outras falsas teorias sugeriam um ataque terrorista.
O Centro Nacional de Criptologia de Espanha (INCIBE) - ligado ao Centro Nacional de Informações (CNI) - começou por investigar a possibilidade de um ciberataque na segunda-feira, enquanto o primeiro-ministro espanhol afirmou que todas as causas possíveis seriam investigadas.
Mas, na terça-feira, a Red Eléctrica, a operadora da rede espanhola (parcialmente estatal), descartou a possibilidade de um ataque informático, de erro humano ou de um fenómeno meteorológico.
O operador indicou como causa provável uma desconexão súbita entre duas centrais de produção de eletricidade no sudoeste da Península Ibérica.
Um porta-voz do Governo português também excluiu a hipótese de um ciberataque, invocando "um problema na rede de transporte de energia" em Espanha.
Da mesma forma, fontes da União Europeia distanciaram-se da especulação de um ataque informático. Em declarações aos jornalistas no exterior do Parlamento Europeu, em Bruxelas, na segunda-feira, a vice-presidente da Comissão Europeia, Teresa Ribera, disse que "não há nada que nos permita confirmar que houve algum tipo de boicote ou ciberataque".
Ursula von der Leyen não acusou a Rússia
Pouco depois do apagão, por volta das 12h33 (11h33 em Portugal) de segunda-feira, começou a circular uma falsa narrativa que afirmava que a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, tinha acusado a Rússia de um "ciberataque".
A porta-voz da Comissão Europeia, Paula Pinho, desvalorizou estas alegações, dizendo que a "declaração que circula na imprensa não é da presidente".
Paula Pinho acrescentou ainda que o episódio tinha mostrado "até onde pode ir a manipulação da informação".
O político antissistema Alvise Pérez, eleito eurodeputado o ano ado, foi um dos responsáveis pela divulgação da falsa declaração.
Alvise escreveu no Telegram: "De acordo com a CNN, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse numa conferência de imprensa que se trata de um 'ataque direto' à soberania europeia, sinalizando a Rússia".
Von der Leyen não participou na referida conferência de imprensa de segunda-feira e a declaração que divulgou nas redes sociais não especula de forma alguma sobre a causa do corte de energia.
Operador da rede eléctrica portuguesa nega culpar "fenómeno atmosférico raro"
Vários meios de comunicação social - incluindo a Reuters, a CNN e o Guardian - noticiaram na segunda-feira que o operador da rede elétrica portuguesa, a Redes Energéticas Nacionais (REN), tinha dito num comunicado que um "fenómeno atmosférico raro", nomeadamente variações extremas de temperatura no interior de Espanha, era o responsável pelo corte maciço.
Segundo o comunicado, as oscilações nas linhas de muito alta tensão (400 kV), um fenómeno conhecido como "vibração atmosférica induzida", teriam provocado "falhas de sincronização entre os sistemas elétricos".
As afirmações foram repetidas pelo primeiro-ministro português, Luís Montenegro, que disse na segunda-feira que o problema "teve origem em Espanha".
Mas a REN disse mais tarde que não tinha feito esta declaração, o que levou a Reuters e outros grandes meios de comunicação a retificar a sua informação.
"A REN confirma que não emitiu essa declaração", disse o porta-voz da REN, Bruno Silva, à AFP na terça-feira.
Não há provas de encobrimento
O partido de extrema-direita espanhol, Vox, acusou o Governo de Espanha de esconder as causas do corte de energia.
No Congresso espanhol, a porta-voz parlamentar do partido, Pepa Millán, afirmou que o Governo e o operador da rede "sabem perfeitamente o que aconteceu e não querem dizer (...) porque o Governo é o único responsável".
O ministro do Interior espanhol, Fernando Grande-Marlaska, respondeu, afirmando que o Governo espanhol tem sido "transparente" na informação que tem fornecido.
Na terça-feira, Sánchez disse que o Governo iria solicitar uma "investigação independente" para determinar as causas da falha de energia. Também se recusou a excluir qualquer hipótese, incluindo a de um ataque informático.
O Supremo Tribunal de Justiça de Espanha, a Audiência Nacional, está também a investigar se a falha de energia foi causada por uma "sabotagem informática nas infraestruturas críticas espanholas".