O suspeito foi identificado graças às imagens das câmaras de vigilância instaladas no interior e exterior da mesquita de Khadidja em La Grand-Combe. Centenas de pessoas juntaram-se em Paris no domingo para chorar a morte do jovem maliano assassinado com dezenas de facadas.
O homem suspeito de ter esfaqueado até à morte um muçulmano que rezava numa mesquita no sul de França, na sexta-feira, entregou-se, no domingo, numa esquadra da polícia de Pistoia, em Itália, anunciou esta segunda-feira um procurador francês.
“Isto é muito gratificante para mim, enquanto procurador. Perante a eficácia das medidas adotadas, o suspeito não teve outra opção senão entregar-se e foi a melhor coisa que podia ter feito”, afirmou à AFP Abdelkrim Grini, procurador da cidade de Alès, no sul de França, responsável pelo caso.
O suspeito, Olivier H., foi identificado graças às imagens das câmaras de vigilância instaladas no interior e exterior da mesquita de Khadidja em La Grand-Combe, adianta a Info.
Ao contrário da vítima, o homem “não frequentava [a mesquita] de todo e nunca lá tinha estado antes”, declarou o procurador.
Olivier H. não era conhecido das autoridades. “Era alguém que não tinha nenhuma atividade particular” e ‘que estava fora do radar’, informou o magistrado.
O ministro do Interior de França, Bruno Retailleau, referiu que “mais de 70 investigadores” estavam a trabalhar em permanência para encontrar o suspeito.
Segundo o procurador de Alès, a vítima e o agressor estavam “sozinhos no interior da mesquita” quando o crime ocorreu. Os dois homens estavam “ocupados a rezar quando um deles esfaqueou o outro várias dezenas de vezes e fugiu”, explicou Grini, referindo que a vítima foi alvo de “40 ou 50 facadas”.
O corpo da vítima só foi descoberto “por volta das 11h00, 11h30”, “quando os outros fiéis chegaram para as orações de sexta-feira na mesquita”, acrescentou o procurador.
Protesto contra a islamofobia
Centenas de pessoas reuniram-se numa manifestação anti-islamofobia na Place de la République, em Paris, no domingo, para prestar homenagem ao jovem maliano brutalmente assassinado com dezenas de facadas.
A marcha de solidariedade reuniu organizações não governamentais, representantes políticos e líderes religiosos que denunciaram o que descreveram como uma atmosfera islamofóbica em França.
"Temos um sistema, temos um Estado que tem medo, e é esse medo que estamos a enfrentar de frente", disse a ativista Assa Traoré.
Os manifestantes foram vistos a segurar cartazes com as mensagens: "A islamofobia mata, o Estado é cúmplice" e "Justiça para Aboubakar", o jovem morto na sexta-feira.
O diretor-geral da ONG SOS Racismo, Valentin Stel, manifestou a sua preocupação com uma tendência crescente que tem observado nos últimos anos.
"Há anos que assistimos a discursos de ódio", afirmou. "Discursos de ódio dirigidos à comunidade muçulmana em França, dizendo que não são totalmente ses ou que a sua lealdade é questionável".
Na sexta-feira, por volta das 8h30, um jovem identificado como Aboubakar Cissé, foi mortalmente esfaqueado por outro homem depois de ter acabado de limpar a mesquita na antiga cidade mineira de La Grand Combe.
O agressor, um homem nascido em França em 2004, de origem bósnia, que vivia na zona, gravou a cena com o seu telemóvel. As imagens das câmaras de segurança também o mostraram a gritar insultos contra Alá, segundo a imprensa local. Os dois homens estavam sozinhos na mesquita.
Os líderes ses condenaram o crime, com o primeiro-ministro François Bayrou a descrever o ataque como islamofóbico.
"Estamos solidários com a família da vítima e com os fiéis chocados", afirmou Bayrou. "Os recursos do Estado estão a ser mobilizados para garantir que o assassino seja apanhado e punido".
Entretanto, o presidente francês Emmanuel Macron sublinhou que "o racismo e o ódio baseados na religião nunca terão lugar em França".
"A liberdade religiosa é inviolável", acrescentou.
O ministro da Justiça, Gerald Darmanin, classificou o esfaqueamento como um "assassinato desprezível" que "fere os corações de todos os crentes, de todos os muçulmanos em França".
A Grande Mesquita de Paris apelou às autoridades para que investigassem os motivos por detrás do ataque, pedindo às autoridades judiciais que especificassem se o ataque pode ser classificado como um "ato terrorista". Também pediram para registar a sua "escala e gravidade (...) para a segurança de todos".