{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/my-europe/2025/02/21/chumbada-mocao-de-censura-do-chega-ao-governo" }, "headline": "Chumbada mo\u00e7\u00e3o de censura do Chega ao Governo ", "description": "A mo\u00e7\u00e3o apresentada pelo Chega foi rejeitada pelo Parlamento sem grandes surpresas, sendo o partido proponente o \u00fanico que votou a favor.", "articleBody": "O Governo portugu\u00eas enfrentou esta sexta-feira a sua primeira mo\u00e7\u00e3o de censura, menos de 11 meses depois de tomar posse. A mo\u00e7\u00e3o apresentada pelo Chega foi rejeitada pelo Parlamento sem grandes surpresas. Apenas os deputados do Chega votaram a favor, tal como o deputado n\u00e3o inscrito Miguel Arruda, antigo membro do partido de Andr\u00e9 Ventura. 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Sendo que os filhos s\u00e3o licenciados em gest\u00e3o e istra\u00e7\u00e3o de empresas, o primeiro-ministro argumentou que decidiu criar \u201cuma entidade para o trabalho fora da advocacia, envolvendo tamb\u00e9m a fam\u00edlia\u201d, que servisse ou para preparar o futuro dos filhos ou para lhes ar a empresa caso voltasse \u00e0 pol\u00edtica.\u00a0\u00a0O chefe do executivo\u00a0frisou que, logo quando criou a empresa, decidiu que, se voltasse \u00e0 pol\u00edtica, depositaria a empresa nos seus filhos.\u00a0\u00a0Garantindo que o objetivo central da empresa \u00e9 o investimento vin\u00edcola na quinta que a fam\u00edlia\u00a0tem no Douro, o primeiro-ministro revelou que queria ar aos filhos um princ\u00edpio dos pais: \u201cN\u00e3o venderam nada do que receberam dos meus av\u00f3s. N\u00e3o vou vender nada do que recebi dos meus pais. E adoraria saber que os meus filhos n\u00e3o sentiam necessidade de vender nada dos bisav\u00f3s.\u201d\u00a0\u00a0Depois prosseguiu a enumerar uma longa lista de atividades do objeto social da empresa que vai da atividade de consultoria de gest\u00e3o \u00e0 explora\u00e7\u00e3o agr\u00edcola, ando pela reorganiza\u00e7\u00e3o de empresas, organiza\u00e7\u00e3o de eventos, consultoria sobre atividade seguradora, pol\u00edtica de marketing, gest\u00e3o e com\u00e9rcio de bens im\u00f3veis e a explora\u00e7\u00e3o agr\u00edcola e vitivin\u00edcola.\u00a0\u00a0\u00a0\u201cChamar a isto imobili\u00e1ria \u00e9 manifestamente despropositado, \u00e9 um tiro ao lado\u201d, atirou Montenegro, considerando que \u201cdeter direta ou indiretamente quota numa empresa n\u00e3o gera conflito de interesses\u201d e defendendo que \u201cos im\u00f3veis n\u00e3o t\u00eam qualquer\u00a0hip\u00f3tese\u00a0de enquadramento nas altera\u00e7\u00f5es\u00a0da lei dos solos\u201d.\u00a0\u00a0O primeiro-ministro falou ainda da fatura\u00e7\u00e3o e resultados l\u00edquidos que a empresa teve em cada ano, os clientes, considerando que \u201cn\u00e3o era obrigado\u201d a prestar estas informa\u00e7\u00f5es, alertando que at\u00e9 pode violar o \u201csigilo\u201d a que se vinculou. Indicou tamb\u00e9m que os lucros da empresa est\u00e3o totalmente destinados ao investimento e por isso n\u00e3o foram distribu\u00eddos em dividendos. A ideia \u00e9 investir numa start-up tecnol\u00f3gica e numa adega na quinta do Douro.\u00a0\u00a0\u201cAndr\u00e9 Ventura n\u00e3o sabe o que diz e acredita em tudo o que v\u00ea nos jornais\u201d acusa MontenegroAinda sobre a transmiss\u00e3o da sua quota, disse que antes de assumir a presid\u00eancia do PSD se \u201clibertou da responsabilidade\u201d pela empresa. \u201cEsta transmiss\u00e3o \u00e9 perfeitamente legal, embora ningu\u00e9m me impedisse de manter participa\u00e7\u00f5es\u201d, referiu, esclarecendo que na sua declara\u00e7\u00e3o de rendimentos est\u00e3o as participa\u00e7\u00f5es por causa do regime de comunh\u00e3o de adquiridos.\u00a0\u00a0\u201cO telefone \u00e9 o meu porque conta do registo\u201d, explicou, numa refer\u00eancia \u00e0s suspeitas levantadas pelo l\u00edder do Chega. \u201cAndr\u00e9 Ventura n\u00e3o sabe o que diz e acredita em tudo o que v\u00ea nos jornais\u201d, criticou. \u00a0\u00a0\u0022Sabem o meu patrim\u00f3nio e origem. Sabem onde moro. A partir de hoje sabem a minha estrat\u00e9gia pessoal e familiar. A partir de hoje s\u00f3 respondo a quem for t\u00e3o transparente como eu\u201d, rematou o primeiro-ministro.\u00a0\u00a0O primeiro pedido de esclarecimento surgiu da bancada do PSD, tendo Hugo Soares identificado os problemas do Chega, come\u00e7ando pelo caso de Miguel Arruda. \u201cDevemos sempre desconfiar dos desconfiados\u201d, atacou, afirmando que \u201celes conhecem-se a si pr\u00f3prios e julgam os outros pela sua pr\u00f3pria bitola\u201d.\u00a0\u00a0\u00a0Hugo Soares questionou ainda a \u201ccoer\u00eancia\u201d de Andr\u00e9 Ventura, acusando-o de apoiar Donald Trump que \u00e9 \u201cum grande magnata do imobili\u00e1rio\u201d.\u00a0 \u00a0\u00a0Falando ainda da \u201cmoralidade bacoca\u201d do Chega, apontou o dedo \u00e0 bancada onde diz que h\u00e1 \u201cdeputados que t\u00eam imobili\u00e1rias que discutem aqui a lei dos solos\u201d. \u201cO populismo n\u00e3o se combate com populismo, mas com compet\u00eancia\u201d, concluiu.\u00a0\u00a0\u00a0Nas interven\u00e7\u00f5es seguintes, v\u00e1rios\u00a0deputados do PSD foram tomando a palavra para perguntar \u00e0 bancada mais \u00e0 direita\u00a0do plen\u00e1rio se censuravam medidas do Governo como o aumento do Complemento Solid\u00e1rio para Idosos, a comparticipa\u00e7\u00e3o de medicamentos para os mais idosos, os aumentos para as for\u00e7as de seguran\u00e7a, e por a\u00ed fora. E todos repetiram o mesmo lema: \u201cO populismo combate-se com compet\u00eancia\u201d.\u00a0\u00a0Os restantes partidos, da esquerda \u00e0 direita, tamb\u00e9m acusaram o Chega de querer criar uma \u201cmanobra de divers\u00e3o\u201d.\u00a0Pelo\u00a0PS, Pedro Nuno Santos\u00a0confirmou\u00a0que o seu partido\u00a0ia\u00a0votar contra a mo\u00e7\u00e3o de censura por n\u00e3o quererem contribuir para uma \u201cmanobra de divers\u00e3o\u201d para \u201cdesviar a aten\u00e7\u00e3o de problemas graves, de pol\u00edcia, criminais, de falta de educa\u00e7\u00e3o\u201d do Chega.\u00a0\u00a0Rui Rocha, l\u00edder da Iniciativa Liberal, lembrou que, antes de avan\u00e7ar com a mo\u00e7\u00e3o de censura, o Chega \u201catravessava uma crise\u201d e estava \u00e0 \u201cbeira do precip\u00edcio\u201d. E elencou oito dirigentes do partido que tiveram ou t\u00eam problemas na justi\u00e7a, como Miguel Arruda ou Nuno Pardal.\u00a0\u00a0O l\u00edder parlamentar do CDS, Paulo N\u00fancio, tamb\u00e9m criticou Andr\u00e9 Ventura por fazer acusa\u00e7\u00f5es ao primeiro-ministro, quando devia \u201cretratar-se e pedir desculpa por tudo o que de grave tem acontecido no Chega nos \u00faltimos tempos\u201d.\u00a0\u00a0 Tamb\u00e9m o coordenador do Livre acusou de \u201csupremo descaramento um partido que\u00a0todos os dias, pinga a pinga, trazia esc\u00e2ndalos\u201d. Para Rui Tavares, o Chega fez da mo\u00e7\u00e3o de censura \u201ct\u00e1bua de salva\u00e7\u00e3o\u201d.\u00a0\u00a0\u00a0", "dateCreated": "2025-02-21T18:46:07+01:00", "dateModified": "2025-02-21T20:02:21+01:00", "datePublished": "2025-02-21T20:02:21+01:00", "image": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2Fstories%2F09%2F07%2F24%2F88%2F1440x810_cmsv2_ab4121d8-73c4-5021-8ef1-3a80b7b7fe1e-9072488.jpg", "width": "1440px", "height": "810px", "caption": "Chumbada mo\u00e7\u00e3o de censura do Chega ao Governo ", "thumbnail": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2Fstories%2F09%2F07%2F24%2F88%2F432x243_cmsv2_ab4121d8-73c4-5021-8ef1-3a80b7b7fe1e-9072488.jpg", "publisher": { "@type": "Organization", "name": "euronews", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png" } }, "author": { "@type": "Person", "familyName": "Mour\u00e3o Carvalho", "givenName": "Joana", "name": "Joana Mour\u00e3o Carvalho", "url": "/perfis/125", "worksFor": { "@type": "Organization", "name": "Euronews", "url": "/", "logo": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png", "width": "403px", "height": "60px" }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] }, "memberOf": { "@type": "Organization", "name": "Equipe de langue portugaise" } }, "publisher": { "@type": "Organization", "name": "Euronews", "legalName": "Euronews", "url": "/", "logo": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png", "width": "403px", "height": "60px" }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] }, "articleSection": [ "Not\u00edcias da Europa" ], "isAccessibleForFree": "False", "hasPart": { "@type": "WebPageElement", "isAccessibleForFree": "False", "cssSelector": ".poool-content" } }, { "@type": "WebSite", "name": "Euronews.com", "url": "/", "potentialAction": { "@type": "SearchAction", "target": "/search?query={search_term_string}", "query-input": "required name=search_term_string" }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] } ] }
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Chumbada moção de censura do Chega ao Governo

Chumbada moção de censura do Chega ao Governo
Chumbada moção de censura do Chega ao Governo Direitos de autor AP Photo
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De Joana Mourão Carvalho
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A moção apresentada pelo Chega foi rejeitada pelo Parlamento sem grandes surpresas, sendo o partido proponente o único que votou a favor.

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O Governo português enfrentou esta sexta-feira a sua primeira moção de censura, menos de 11 meses depois de tomar posse. A moção apresentada pelo Chega foi rejeitada pelo Parlamento sem grandes surpresas. Apenas os deputados do Chega votaram a favor, tal como o deputado não inscrito Miguel Arruda, antigo membro do partido de André Ventura.

O P absteve-se, com os restantes a optarem pelo voto contra.

Na origem desta iniciativa, está uma notícia do Correio da Manhã, publicada no último sábado, que dava conta que a família do primeiro-ministro Luís Montenegro é dona de uma empresa que tem como uma das atividades a compra e venda de imóveis. André Ventura convocou uma conferência de imprensa para domingo e fez um ultimato ao primeiro-ministro: caso não fossem dadas explicações sobre a empresa nas 24 horas seguintes, o Chega apresentaria uma moção de censura ao Governo.  

Em causa está a empresa Spinumviva, que foi criada em janeiro de 2021 e tem um vasto objeto social, com quatro códigos de atividade económica (CAE). O principal é o de atividades de consultoria para os negócios e gestão. Os restantes três são de compra e venda de bens imobiliários, viticultura e outras atividades de consultoria, científicas, técnicas e similares.  

A Spinumviva foi constituída por Luís Montenegro, a mulher e os dois filhos. A sede da empresa é a morada da família, em Espinho. Quando a família criou a empresa, Montenegro era o sócio-gerente e detinha a quota maior (62,5%), mas deixou a empresa um mês depois de ter sido eleito presidente do PSD (2022) e a sua quota foi distribuída pela mulher, que ficou como sócia maioritária, e pelos dois filhos.  

Primeiro-ministro envolvido em possível conflito de interesses

Na base desta polémica estará um potencial conflito de interesses, dado que a empresa em questão tem no seu objeto social a compra e venda de imóveis e poderá beneficiar da alteração à “Lei dos Solos”, aprovada pelo Governo.   

A recente introdução da chamada “Lei dos Solos” estabelece um novo regime para a reclassificação de terrenos rústicos em urbanos, simplificando o processo e permitindo a transformação de terrenos não edificados em áreas íveis de urbanização, desde que cumpram um conjunto de requisitos.  

Nos últimos dias, André Ventura foi acusado de querer desviar as atenções dos casos do Chega ao apresentar uma moção de censura ao Governo que já se sabia que seria chumbada à partida, dada a demarcação do Partido Socialista desta iniciativa.  

Como partido proponente da moção de censura, o Chega fez a primeira intervenção para a abertura do debate, tendo André Ventura declarado que a razão desta moção de censura é “a incapacidade, a falta de transparência e a obstinação de um primeiro-ministro em não responder a quem tem que responder”.  

André Ventura acusa PSD de manter "espírito de promiscuidade"

André Ventura acusou também o executivo de ter olhado “para o lado” e ter continuado “a fazer tudo o que de errado PS tinha feito”, e de manter o “espírito de promiscuidade”.  

“Substituímos apenas o cartão rosa pelo cartão laranja”, disse, acusando o Governo de parecer mais uma “agência da Remax” do que uma “agência que governa Portugal”.  

Ventura exigiu que o primeiro-ministro esclarecesse várias questões, como “quando e por que razão” constituiu a empresa, quando cedeu a quota, “sabendo que não pode transmitir património dentro do seu património”, e ainda quem são os clientes desta empresa.  

André Ventura alegou ainda que o número de telefone da empresa é o número do primeiro-ministro e que a empresa paga quatro mil euros de renda, quando tem sede em casa de Luís Montenegro.  

O líder do Chega mencionou também os casos do ministro Adjunto e da Coesão Territorial de Portugal Manuel Castro Almeida, da ministra da Justiça, Rita Júdice, e da ministra do Trabalho, Rosário Palma Ramalho — todos têm ou tiveram empresas do ramo imobiliário —, exigindo a sua demissão.  

Ventura atacou ainda o líder do PS, acusando Pedro Nuno Santos de não falar neste debate porque no PS “há a mesma falta de vergonha” que há no Governo.  

Defendendo que o "escrutínio democrático e justo", é "legítimo e saudável", Luís Montenegro começou por explicar que criou a empresa porque teve "solicitações" fora da advocacia, área em que se formou. Sendo que os filhos são licenciados em gestão e istração de empresas, o primeiro-ministro argumentou que decidiu criar “uma entidade para o trabalho fora da advocacia, envolvendo também a família”, que servisse ou para preparar o futuro dos filhos ou para lhes ar a empresa caso voltasse à política.  

O chefe do executivo frisou que, logo quando criou a empresa, decidiu que, se voltasse à política, depositaria a empresa nos seus filhos.  

Garantindo que o objetivo central da empresa é o investimento vinícola na quinta que a família tem no Douro, o primeiro-ministro revelou que queria ar aos filhos um princípio dos pais: “Não venderam nada do que receberam dos meus avós. Não vou vender nada do que recebi dos meus pais. E adoraria saber que os meus filhos não sentiam necessidade de vender nada dos bisavós.”  

Depois prosseguiu a enumerar uma longa lista de atividades do objeto social da empresa que vai da atividade de consultoria de gestão à exploração agrícola, ando pela reorganização de empresas, organização de eventos, consultoria sobre atividade seguradora, política de marketing, gestão e comércio de bens imóveis e a exploração agrícola e vitivinícola.   

“Chamar a isto imobiliária é manifestamente despropositado, é um tiro ao lado”, atirou Montenegro, considerando que “deter direta ou indiretamente quota numa empresa não gera conflito de interesses” e defendendo que “os imóveis não têm qualquer hipótese de enquadramento nas alterações da lei dos solos”.  

O primeiro-ministro falou ainda da faturação e resultados líquidos que a empresa teve em cada ano, os clientes, considerando que “não era obrigado” a prestar estas informações, alertando que até pode violar o “sigilo” a que se vinculou. Indicou também que os lucros da empresa estão totalmente destinados ao investimento e por isso não foram distribuídos em dividendos. A ideia é investir numa start-up tecnológica e numa adega na quinta do Douro.  

“André Ventura não sabe o que diz e acredita em tudo o que vê nos jornais” acusa Montenegro

Ainda sobre a transmissão da sua quota, disse que antes de assumir a presidência do PSD se “libertou da responsabilidade” pela empresa. “Esta transmissão é perfeitamente legal, embora ninguém me impedisse de manter participações”, referiu, esclarecendo que na sua declaração de rendimentos estão as participações por causa do regime de comunhão de adquiridos.  

“O telefone é o meu porque conta do registo”, explicou, numa referência às suspeitas levantadas pelo líder do Chega. “André Ventura não sabe o que diz e acredita em tudo o que vê nos jornais”, criticou.   

"Sabem o meu património e origem. Sabem onde moro. A partir de hoje sabem a minha estratégia pessoal e familiar. A partir de hoje só respondo a quem for tão transparente como eu”, rematou o primeiro-ministro.  

O primeiro pedido de esclarecimento surgiu da bancada do PSD, tendo Hugo Soares identificado os problemas do Chega, começando pelo caso de Miguel Arruda. “Devemos sempre desconfiar dos desconfiados”, atacou, afirmando que “eles conhecem-se a si próprios e julgam os outros pela sua própria bitola”.   

Hugo Soares questionou ainda a “coerência” de André Ventura, acusando-o de apoiar Donald Trump que é “um grande magnata do imobiliário”.    

Falando ainda da “moralidade bacoca” do Chega, apontou o dedo à bancada onde diz que há “deputados que têm imobiliárias que discutem aqui a lei dos solos”. “O populismo não se combate com populismo, mas com competência”, concluiu.   

Nas intervenções seguintes, vários deputados do PSD foram tomando a palavra para perguntar à bancada mais à direita do plenário se censuravam medidas do Governo como o aumento do Complemento Solidário para Idosos, a comparticipação de medicamentos para os mais idosos, os aumentos para as forças de segurança, e por aí fora. E todos repetiram o mesmo lema: “O populismo combate-se com competência”.  

Os restantes partidos, da esquerda à direita, também acusaram o Chega de querer criar uma “manobra de diversão”. Pelo PS, Pedro Nuno Santos confirmou que o seu partido ia votar contra a moção de censura por não quererem contribuir para uma “manobra de diversão” para “desviar a atenção de problemas graves, de polícia, criminais, de falta de educação” do Chega.  

Rui Rocha, líder da Iniciativa Liberal, lembrou que, antes de avançar com a moção de censura, o Chega “atravessava uma crise” e estava à “beira do precipício”. E elencou oito dirigentes do partido que tiveram ou têm problemas na justiça, como Miguel Arruda ou Nuno Pardal.  

O líder parlamentar do CDS, Paulo Núncio, também criticou André Ventura por fazer acusações ao primeiro-ministro, quando devia “retratar-se e pedir desculpa por tudo o que de grave tem acontecido no Chega nos últimos tempos”.  

Também o coordenador do Livre acusou de “supremo descaramento um partido que todos os dias, pinga a pinga, trazia escândalos”. Para Rui Tavares, o Chega fez da moção de censura “tábua de salvação”.   

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