A ONU alerta para a crescente catástrofe humanitária no Médio Oriente, após a entrada de tropas iseraelitas no Líbano por terra. O representante da Agência da ONU para os Refugiados no Líbano, Ivo Freijsen, diz que Europa poderá ser vista como refúgio, numa entrevista à Euronews.
(Este artigo foi atualizado para corrigir o valor de ajuda financeira pedida: de 25 para 425 milhões de dólares).
"Logisticamente, do ponto de vista da segurança, não é fácil ir para outro lugar, mas apenas fugir dentro do Líbano ou ir para a Síria. Caso contrário, as opções seriam ir para Chipre, para a Europa de barco", explicou Ivo Freijsen, Representante no Líbano da Agência da ONU para os Refugiados.
"Isso é logisticamente difícil e menos seguro. E, para muitos, também extremamente caro. Ouvi falar de preços ridicularmente elevados que agora é preciso pagar para entrar em um barco para a Europa", acrescentou.
A incursão israelita por terra, na terça-feira, segue-se a dez dias de ataques aéreos, que já criaram um milhão de deslocados no Líbano (cerca de 20 por cento da população do país), de acordo com as autoridades do país.
O Líbano abriga 1,5 milhões de refugiados sírios, tem uma situação política e económica muito frágil e um governo interino. Mas apesar da vizinha Síria estar devastada por uma guerra civil que começou em 2011, muitos sírios e os próprios libaneses procuram aí abrigo.
"O lado positivo é que o governo sírio está a facilitar as coisas em ternos de formalidades de entrada e é mais rápido atravessar a fronteira, as filas são menos longas", explicou o representante, estando esta agência e o Crescente Vermelho a tentar dar resposta desse lado da fronteira.
São precisos com urgência 425 milhões de dólares
Apesar da presença de muitas agências de ajuda humanitária no Líbano, cuja última grande guerra com Israel decorreu em 2006 (cerca de mil mortos, num mês), os recursos financeiros são escassos.
O apoio da comunidade internacional deve aumentar drasticamente para garantir serviços básicos e infraestruturas.
"Temos estado a preparar-nos para maior grau de assistência desde 7 de outubro do ano ado (ataque do Hamas a Israel), mas não temos o suficiente. Todos os nossos programas e os de muitas outras organizações precisam de dinheiro", referiu Ivo Freijsen.
"Lançamos um apelo, juntamente com o governo, no início desta semana, porque precisamos desesperadamente de 425 milhões de dólares, para uma série de setores em todas as agências", acrescentou.
A Comissão Europeia anunciou, no domingo, que disponibilizaria mais 10 milhões de euros em ajuda humanitária. A União Europeia tem defendido, repetidamente, a necessidade de declarar um cessar-fogo em Gaza, e agora no Líbano, mas mais pressão diplomática é crucial.
"Não temos influência nessa área. Como humanitários, só podemos indicar quais são as consequências de decisões que não estão a ser tomadas e das coisas não mudarem. E se for esse o caso, então precisamos nos preparar para uma catástrofe humanitária cada vez maior e mais precária", alertou o responsável humanitário.
E se o conflito se prolongar?
O exército israelita disse que a operação terrestre no Líbano tem como objetivo destruir a infraestrutura usada pelo Hezbollah para atacar seus cidadãos do outro lado da fronteira e que não plania uma operação mais ampla.
Mas o ataque do Irão com mísseis contra Israel, terça-feira, é mais um degrau na escalada do conflito. Para as agências de ajuda humanitária, a proximidade do Inverno poderá tornar as operações muito mais complexas.
"Há uma quantidade enorme de trabalho a ser feito para garantir que as pessoas tenham abrigo decente e outros itens básicosn tais como comida, água e assim por diante. Temos grandes desafios no setor de saúde, incluindo a mental . O Inverno vai ser um desafio, especialmente do ponto de vista dos abrigos, pelo que precisamos começar coletivamente a ponderar as consequências de longo prazo", alertou.