A Pravfond, ou Fundo para o Apoio e Proteção dos Direitos dos Compatriotas no Estrangeiro, gastou milhões de euros a financiar sites de propaganda russa na Europa e pagou mesmo a defesa legal de traficantes e assassinos contratados por Moscovo.
O Fundo para o Apoio e Proteção dos Direitos dos Compatriotas no Estrangeiro (Pravfond), uma fundação ligada ao Kremlin, terá investido milhões de euros em propaganda russa em 48 países europeus.
A DR, estação pública dos Países Baixos, obteve documentos confidenciais de uma agência de informação europeia - que partilhou depois com um consórcio de outros meios de comunicação de vários países da Europa - e que mostram que a fundação não só financiava propaganda em sites como ajudou a pagar a defesa do traficante de armas condenado Viktor Bout e de Vadim Krasikov - condenado pelo homicídio do antigo comandante checheno Zelimkhan Khangoshvili em Berlim - tendo empregado vários antigos agentes dos serviços secretos como diretores das suas operações em países europeus.
Os documentos mostram ainda que os parceiros locais da Pravfond receberam milhões em subsídios estatais de vários governos europeus, levantando questões sobre segurança e utilização de fundos públicos, dias antes das eleições para o Parlamento Europeu.
Um dos líderes da organização russa é Vladimir Pozdorovkin, identificado por serviços de informação da Europa como um agente do SVR, os serviços secretos russos para o estrangeiro. É descrito como curador da Pravfond para as operações nos países nórdicos e bálticos.
A divisão do Médio Oriente, Moldova e Transnístria está entregue a Anatoly Sorokim, outro membro do SVR. Já o líder do Instituto da Diáspora Russa, designado em documentos oficiais como responsável pela implementação de projetos da Pravfond, é Sergey Panteleyev, que foi alvo de sanções dos países europeus por fazer parte de uma unidade das secretas militares russas especializadas em operações de guerra psicológica.
Sites que lutam contra a "russofobia"
A Pravfond foi fundada em 2012 por decreto presidencial e era apoiada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia e pela agência federal que gere a ajuda estrangeira, Rossotrudnichestvo, descrita pelo líder da Pravfond, Alexander Udaltsov, como um "elemento único do poder suave da Rússia".
Segundo o The Guardian, Udaltsov tem sido alvo de sanções europeias desde 2023, por "apoiar e implementar ações e políticas que comprometem e ameaçam a integridade territorial, a soberania e a independência da Ucrânia".
De acordo com a documentação a que o consórcio de jornalistas teve o, o fundo russo gastou centenas de milhares de euros na manutenção de vários sites que alegadamente lutam contra a "russofobia" e promovem a "defesa da língua russa" na Europa. Um dos sites financiados era o golos.eu, um portal que opera com endereço de Bruxelas e serve de veículo para comentadores criticarem o governo ucraniano, em particular o presidente Volodymyr Zelenskyy, bem como os seus assessores e conselheiros militares.
O Euromore, outro portal que se dedica a denunciar ameaças aos russos na Europa, também foi financiado pela Pravfond, com o objetivo de compensar o encerramento de plataformas internacionais como a RT e a Sputnik pelas autoridades europeias, devido à guerra na Ucrânia.
Questionada sobre as informações agora divulgadas sobre o fundo ligado ao Kremlin, Ursula von der Leyen propôs a criação de um "escudo europeu" para a democracia. Na Suécia, onde se encontrou na segunda-feira com o primeiro-ministro Ulf Kristersson e com a ministra da Energia, Ebba Busch, a presidente da Comissão Europeia e candidata à reeleição pelo Partido Popular Europeu foi crítica em relação às atividades da fundação russa, sublinhando a necessidade de defesa dos países europeus.