Organizações de defesa dos direitos dos consumidores dizem que muitas companhias aéreas beneficiam de desconhecimento dos ageiros e acabam por não ressarci-los dos seus direitos. A situação poderá agravar-se este verão
Greves, retoma lenta e falta de pessoal estão a tornar as viagens aéreas na Europa num autêntico inferno de verão para milhares de ageiros.
As coisas parecem estar longe de abrandar, pelo menos no futuro próximo.
O belga Daniel Rottier foi uma das vítimas mais recentes da crise que se vive no setor. Em entrevista à Euronews, contou como a viagem que fez a Verona, Itália, no início de junho, se transformou num pesadelo.
Tudo começou a correr mal quando se preparava para voltar a casa, nos arredores de Bruxelas, e o voo de regresso foi cancelado, sem qualquer explicação, diz.
"A 7 de junho ficámos saber, por e-mail, que o voo de 8 de junho tinha sido anulado. A única solução proposta foi a possibilidade de apanhar um voo que saía a 10 de junho, dois dias depois. (...) Estávamos hospedados numa casa do Airbnb e pedimos à anfitriã se podíamos prolongar a estadia. Após algumas dificuldades conseguimos. Obviamente não com o mesmo preço que tínhamos inicialmente. (...) O voo era da Ryanair. Pedimos explicações. Tentámos comunicar com eles através de e-mail, por telefone, mas não tivemos qualquer resposta."
Desde que regressou, Daniel embarcou numa outra viagem, ainda mais tortuosa: lutar pelos seus direitos de ageiro. Algo que muitas pessoas não fazem, na maioria das vezes por simples desconhecimento.
Reuniu as faturas das despesas extra que teve de fazer (alojamento e alimentos) e preferiu entrar em o com uma organização belga de defesa dos direitos dos consumidores, apesar de poder fazer a reclamação individualmente.
Exige agora não só pagamento dos custos extra como também o direito a uma compensação.
Quais os seus direitos em caso de cancelamento de um voo?
De acordo com as regras europeias, se um voo for cancelado a companhia aérea deve:
- reembolsar o ageiro ou,
- apresentar um voo alternativo, mesmo que com outra companhia aérea, o mais o mais rápido possível ou
- apresentar um voo de regresso
Os ageiros também têm direito a assistência no aeroporto a título gratuito, enquanto aguardam por uma solução. Inclui: bebidas, refeições, alojamento (caso o voo alternativo não seja no mesmo dia), transporte de ida e volta para o local de alojamento e duas chamadas telefónicas, telex, mensagens de fax ou de correio eletrónico.
Caso isto não aconteça, a companhia aérea deve reembolsar os ageiros pelas despesas incorridas, de forma necessária e adequada.
Também há direito a uma indemnização, que pode variar entre os 250 e os 600 euros, caso tenha sido informado do cancelamento do voo com menos de 14 dias de antecedência em relação à data de partida prevista.
Steven Berger, da Organização de Consumidores Europeus (BEUC), diz que na maioria das vezes os ageiros não são devidamente alertados sobre estes direitos, para que os possam fazer valer, e lembra dois critérios a ter em conta: "em caso de tempestade ou de uma greve de pessoal do aeroporto, por exemplo, que são circunstâncias extraordinárias, não há direito a compensação. Em outras situações, há direito. O valor varia em função da distância dos voos."
Berger defende um sistema de compensação automática, para que as companhias aéreas não perpetuem o incumprimento e os ageiros sejam ressarcidos.´
Companhias aéreas beneficiam com o desconhecimento?
A Ryanair, por exemplo, diz que informa devidamente todos os ageiros sobre os seus direitos.
A companhia aérea manifestou-se sobre o assunto, num comunicado enviado à Euronews.
Organizações de defesa dos direitos dos consumidores dizem que não é bem assim, nem com esta nem com outras companhias aéreas.
O problema poderá agravar-se este verão até porque muitas transportadoras estão a cancelar voos.
Os ageiros são aconselhados a guardar todas as faturas e reclamar os direitos, custe o que custar.