{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/my-europe/2021/12/16/como-funcionam-as-cimeiras-da-uniao-europeia" }, "headline": "Como funcionam as cimeiras da Uni\u00e3o Europeia?", "description": "Negocia\u00e7\u00f5es dif\u00edceis e compromissos fazem quase sempre parte das manchetes quando os l\u00edderes da Uni\u00e3o Europeia se re\u00fanem em Bruxelas para lidar com quest\u00f5es urgentes. Mas como funcionam afinal as cimeiras europeias. O que \u00e9 que se decide e porque \u00e9 que duram tanto tempo?", "articleBody": "Sempre que os chefes de Estado e de Governo da Uni\u00e3o Europeia (UE) se re\u00fanem em Bruxelas h\u00e1 muita agita\u00e7\u00e3o. Quer sejam um sucesso ou n\u00e3o, as cimeiras europeias tendem a ser elevadas a um estatuto lend\u00e1rio e a deixar uma marca na hist\u00f3ria do bloco dos 27 Estados-membros. Mas, porque \u00e9 que os l\u00edderes europeus se re\u00fanem numa cimeira? Como \u00e9 que estas funcionam, ou n\u00e3o? O que \u00e9 o Conselho Europeu? Uma cimeira europeia \u00e9 uma reuni\u00e3o do Conselho Europeu . Este \u00e9 composto pelo grupo de l\u00edderes que dirigem os Estados-membros da Uni\u00e3o Europeia. N\u00e3o deve ser confundido com o Conselho da Uni\u00e3o Europeia , que re\u00fane ministros nacionais e lida com mat\u00e9rias de legisla\u00e7\u00e3o e pol\u00edtica. Os 27 chefes de Estado e de Governo da UE re\u00fanem-se pelo menos quatro vezes por ano para decidir o rumo da pol\u00edtica europeia. N\u00e3o negoceiam nem adotam legisla\u00e7\u00e3o, mas definem a agenda pol\u00edtica. A pessoa que preside \u00e0s cimeiras desde 2009 \u00e9 o presidente do Conselho Europeu. Nos \u00faltimos tempos, a tarefa cabe ao antigo primeiro-ministro da B\u00e9lgica, Charles Michel. \u00c9 ele quem envia uma carta de convite formal para a cimeira, enumerando os problemas urgentes do bloco. Mais tarde preside \u00e0s negocia\u00e7\u00f5es para adotar as conclus\u00f5es, de onde sair\u00e1 uma declara\u00e7\u00e3o final acordada pelos 27 Estados-membros. Na verdade, grande parte do trabalho para uma cimeira europeia \u00e9 feito semanas antes, por funcion\u00e1rios europeus e diplomatas, antes de os grandes nomes chegarem a Bruxelas. Frequentemente, o rascunho das conclus\u00f5es acaba por chegar ao conhecimento dos pr\u00f3prios jornalistas antes da cimeira. Porque \u00e9 que se realizam cimeiras europeias? Na d\u00e9cada de 50, quando os l\u00edderes da Uni\u00e3o Europeia queriam discutir assuntos importantes para Comunidade Europeia do Carv\u00e3o e do A\u00e7o (CECA), faltava um calend\u00e1rio de reuni\u00f5es claro e os encontros eram improvisados. Foi o antigo presidente franc\u00eas Val\u00e9ry Giscard d\u2019Estaing que teve a ideia de criar um clube de l\u00edderes da Uni\u00e3o Europeia para conversar regularmente, em 1974. No ano seguinte, os l\u00edderes da Uni\u00e3o Europeia come\u00e7aram a reunir-se tr\u00eas vezes por ano. A raz\u00e3o de ser de uma reuni\u00e3o de todos os l\u00edderes era ter uma forma de lideran\u00e7a coletiva. Independentemente da dimens\u00e3o do Estado-membro, todos tinham um assento \u00e0 mesa. Atualmente, os l\u00edderes da UE re\u00fanem-se pelo menos duas vezes por semestre e o presidente do Conselho Europeu pode convocar cimeiras especiais sobre qualquer assunto particularmente urgente. As cimeiras europeias s\u00e3o essenciais para\u00a0se alcan\u00e7ar um acordo sobre quest\u00f5es que importam em todos os pa\u00edses da UE - seja a moeda do euro (temores de \u0022Grexit\u0022), uma nova parceria comercial com um antigo pa\u00eds da UE (\u0022Brexit\u0022) ou como lidar com as consequ\u00eancias de uma pandemia (Fundos de Recupera\u00e7\u00e3o COVID-19). Regra geral, as cimeiras s\u00e3o mais cr\u00edticas em per\u00edodos de crise. Motivo pelo qual muitas vezes degeneram em pontos de fric\u00e7\u00e3o e se prolongam no tempo. Porque \u00e9 que as cimeiras europeias duram tanto tempo? As cimeiras da Uni\u00e3o Europeia t\u00eam a reputa\u00e7\u00e3o de come\u00e7ar \u00e0 hora do almo\u00e7o e de se prolongar at\u00e9 \u00e0s primeiras horas da manh\u00e3 do dia seguinte. Isto porque nem sempre \u00e9 f\u00e1cil chegar a um acordo entre os 27 l\u00edderes europeus. \u201enso que a hist\u00f3ria europeia est\u00e1 cheia de desacordos, negocia\u00e7\u00f5es e, no final, compromissos,\u201d disse, em 2015, o primeiro-ministro grego Alexis Tsipras , numa altura em que decorriam as negocia\u00e7\u00f5es sobre a crise da d\u00edvida grega. No final, foi um compromisso grego que p\u00f4s fim \u00e0 amea\u00e7a do \u0022Grexit\u0022 (sa\u00edda da Gr\u00e9cia da Uni\u00e3o Europeia), mas o mesmo trouxe medidas de austeridade dolorosas. Algumas decis\u00f5es requerem apenas consenso ou votos por maioria qualificada, mas outras requerem um acordo un\u00e2nime. Isso significa que apenas um pa\u00eds pode vetar as conclus\u00f5es dos outros. Em 2020, a Pol\u00f3nia e a Hungria amea\u00e7aram vetar o or\u00e7amento de 1,8 bili\u00f5es de euros do bloco comunit\u00e1rio por causa de preocupa\u00e7\u00f5es com um mecanismo que condicionaria a atribui\u00e7\u00e3o de fundos europeus ao respeito dos Estados-membros pelos valores europeus fundamentais. Um acordo de 11 horas acabaria por ser fechado com Vars\u00f3via e Budapeste, evitando uma crise potencial. No entanto, em 2011, quando o Reino Unido ainda era membro do clube europeu, o ent\u00e3o governo de David Cameron exerceu o poderoso poder de veto para uma reforma do Tratado da Uni\u00e3o Europeia durante a noite, para a frustra\u00e7\u00e3o dos seus pares. Os 26 Estados-membros restantes finalmente seguiram em frente sem os brit\u00e2nicos, com o primeiro-ministro Cameron dizendo que o acordo n\u00e3o era do interesse do Reino Unido. Todos sabemos como \u00e9 que a hist\u00f3ria acabou. A maior cimeira europeia de sempre Outras cimeiras ficaram para a hist\u00f3ria simplesmente por causa da dura\u00e7\u00e3o. Em julho de 2020, uma reuni\u00e3o gigantesca em Bruxelas durou mais de 80 horas, entre a noite de uma sexta-feira e a madrugada de uma ter\u00e7a-feira. As negocia\u00e7\u00f5es envolveram o mesmo or\u00e7amento e o Fundo de Recupera\u00e7\u00e3o p\u00f3s-pandemia que os h\u00fangaros e os polacos tentaram bloquear. A crise da d\u00edvida grega monopolizou as manchetes nas cimeiras da UE durante anos, at\u00e9 que, em 2015, se realizou outra cimeira tensa ensombrada pela amea\u00e7a de sa\u00edda da Gr\u00e9cia da Uni\u00e3o Europeia (\u0022Grexit\u0022). \u201cAinda n\u00e3o cheg\u00e1mos a um ponto em que eu poderia dizer que temos um acordo, mas vou trabalhar at\u00e9 o \u00faltimo minuto, at\u00e9 o \u00faltimo segundo, at\u00e9 o \u00faltimo milissegundo, para evitar o fracasso do projeto europeu,\u201d disse Jean-Claude Juncker, o antigo presidente da Comiss\u00e3o Europeia, em junho de 2015. Em julho, houve um referendo na Gr\u00e9cia que se traduziu na rejei\u00e7\u00e3o dos termos do resgate financeiro. Uma semana depois, ap\u00f3s 17 horas de negocia\u00e7\u00f5es em Bruxelas, o primeiro-ministro grego Alexis Tsipras cedia aos cortes e medidas de austeridade dolorosas. Mas o pr\u00e9mio principal vai para a cimeira de Nice, em dezembro de 2000, onde os l\u00edderes da UE conversaram durante 90 horas. O compromisso resultante foi o Tratado de Nice - uma tentativa de reformar as institui\u00e7\u00f5es da UE para permitir a expans\u00e3o para o leste, que aconteceria em 2004. Bra\u00e7o-de-ferro financeiro - pa\u00edses frugais e os outros Tamb\u00e9m houve momentos tensos entre os l\u00edderes, geralmente, quando se trata de dinheiro. Em 1979, quando a Uni\u00e3o Europeia ainda era a Comunidade Econ\u00f3mica Europeia (CEE), a primeira-ministra brit\u00e2nica Margaret Thatcher, conservadora, lan\u00e7ou farpas aos chefes de estado e de governo da CEE quando defendeu um desconto brit\u00e2nico, que impediria o Reino Unido de pagar mais no or\u00e7amento coletivo do que o que recebia do bolo comunit\u00e1rio. A mais famosa dessas palavras foi: \u201cquero meu dinheiro de volta.\u201d N\u00e3o seria a \u00faltima vez que a \u0022Dama de Ferro\u0022 entraria em confronto com os hom\u00f3logos europeus, com a disputa por fundos a prolongar-se durante cinco anos e acabando com uma vit\u00f3ria de Thatcher. Apesar de poderem mudar os atores, as batalhas por dinheiro continuam na atualidade. Enquanto os l\u00edderes da UE lutavam por um Fundo de Recupera\u00e7\u00e3o da pandemia de Covid-19, o volume de doa\u00e7\u00f5es e o respeito pelo Estado de Direito tornaram-se nos principais pontos de fric\u00e7\u00e3o. Os chamados \u0022 Frugal Four \u0022 - \u00c1ustria, Su\u00e9cia, Dinamarca e Pa\u00edses Baixos -\u00a0 anunciaram uma contraproposta frugal, descartando a ideia de d\u00edvidas conjuntas e de aumentos de longo prazo no or\u00e7amento da UE. Quando os l\u00edderes finalmente chegaram a um acordo ap\u00f3s quatro dias de negocia\u00e7\u00f5es, o presidente franc\u00eas Emmanuel Macron saudou o acordo como um \u0022dia hist\u00f3rico para a Europa\u0022. A ent\u00e3o chanceler alem\u00e3, Angela Merkel, disse, na altura, que \u0022eventos extraordin\u00e1rios\u0022 exigem \u0022novos m\u00e9todos extraordin\u00e1rios\u0022, enquanto o presidente do Governo de Espanha, Pedro S\u00e1nchez, comparou o pacote de recupera\u00e7\u00e3o ao Plano Marshall do p\u00f3s-guerra na Europa. No entanto, a Hungria e a Pol\u00f3nia continuaram insatisfeitas com os termos do acordo, acabando por procurar a orienta\u00e7\u00e3o do Tribunal de Justi\u00e7a Europeu sobre a quest\u00e3o legal de vincular os fundos da UE ao respeito pelos valores europeus. \u0022O sinal de um acordo europeu bem-sucedido \u00e9 que ningu\u00e9m o ama,\u0022 disse Rebecca Christie, investigadora do think tank Bruegel, em Bruxelas, sobre o acordo datado de julho de 2020. Por isso, quando se trata de cimeiras da UE, embora muitas vezes sejam descritas nos t\u00edtulos das not\u00edcias como batalhas \u00e9picas entre diferentes l\u00edderes nacionais, com vencedores e perdedores, \u00e9 o compromisso que est\u00e1 sempre em jogo. ", "dateCreated": "2021-12-16T10:03:58+01:00", "dateModified": "2021-12-16T19:00:40+01:00", "datePublished": "2021-12-16T18:59:42+01:00", "image": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2Fstories%2F06%2F30%2F94%2F20%2F1440x810_cmsv2_bfeec870-fb84-5930-aadb-186ca148cbe5-6309420.jpg", "width": "1440px", "height": "810px", "caption": "Negocia\u00e7\u00f5es dif\u00edceis e compromissos fazem quase sempre parte das manchetes quando os l\u00edderes da Uni\u00e3o Europeia se re\u00fanem em Bruxelas para lidar com quest\u00f5es urgentes. Mas como funcionam afinal as cimeiras europeias. O que \u00e9 que se decide e porque \u00e9 que duram tanto tempo?", "thumbnail": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2Fstories%2F06%2F30%2F94%2F20%2F432x243_cmsv2_bfeec870-fb84-5930-aadb-186ca148cbe5-6309420.jpg", "publisher": { "@type": "Organization", "name": "euronews", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png" } }, "author": { "@type": "Organization", "name": "Euronews", "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ], "url": "/" }, "publisher": { "@type": "Organization", "name": "Euronews", "legalName": "Euronews", "url": "/", "logo": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png", "width": "403px", "height": "60px" }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] }, "articleSection": [ "S\u00e9rie: a minha Europa", "Not\u00edcias da Europa", "Decifrar a Europa" ], "isAccessibleForFree": "False", "hasPart": { "@type": "WebPageElement", "isAccessibleForFree": "False", "cssSelector": ".poool-content" } }, { "@type": "WebSite", "name": "Euronews.com", "url": "/", "potentialAction": { "@type": "SearchAction", "target": "/search?query={search_term_string}", "query-input": "required name=search_term_string" }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] } ] }
PUBLICIDADE

Como funcionam as cimeiras da União Europeia?

Como funcionam as cimeiras da União Europeia?
Direitos de autor Francois Lenoir/AP
Direitos de autor Francois Lenoir/AP
De Euronews
Publicado a Últimas notícias
Partilhe esta notíciaComentários
Partilhe esta notíciaClose Button

Negociações difíceis e compromissos fazem quase sempre parte das manchetes quando os líderes da União Europeia se reúnem em Bruxelas para lidar com questões urgentes. Mas como funcionam afinal as cimeiras europeias. O que é que se decide e porque é que duram tanto tempo?

PUBLICIDADE

Sempre que os chefes de Estado e de Governo da União Europeia (UE) se reúnem em Bruxelas há muita agitação.

Quer sejam um sucesso ou não, as cimeiras europeias tendem a ser elevadas a um estatuto lendário e a deixar uma marca na história do bloco dos 27 Estados-membros.

Mas, porque é que os líderes europeus se reúnem numa cimeira?

Como é que estas funcionam, ou não?

O que é o Conselho Europeu?

Uma cimeira europeia é uma reunião do Conselho Europeu. Este é composto pelo grupo de líderes que dirigem os Estados-membros da União Europeia.

Não deve ser confundido com o Conselho da União Europeia, que reúne ministros nacionais e lida com matérias de legislação e política.

Os 27 chefes de Estado e de Governo da UE reúnem-se pelo menos quatro vezes por ano para decidir o rumo da política europeia.

Não negoceiam nem adotam legislação, mas definem a agenda política.

A pessoa que preside às cimeiras desde 2009 é o presidente do Conselho Europeu.

Nos últimos tempos, a tarefa cabe ao antigo primeiro-ministro da Bélgica, Charles Michel.

É ele quem envia uma carta de convite formal para a cimeira, enumerando os problemas urgentes do bloco.

Mais tarde preside às negociações para adotar as conclusões, de onde sairá uma declaração final acordada pelos 27 Estados-membros.

Na verdade, grande parte do trabalho para uma cimeira europeia é feito semanas antes, por funcionários europeus e diplomatas, antes de os grandes nomes chegarem a Bruxelas.

Frequentemente, o rascunho das conclusões acaba por chegar ao conhecimento dos próprios jornalistas antes da cimeira.

Porque é que se realizam cimeiras europeias?

Na década de 50, quando os líderes da União Europeia queriam discutir assuntos importantes para Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA), faltava um calendário de reuniões claro e os encontros eram improvisados.

Foi o antigo presidente francês Valéry Giscard d’Estaing que teve a ideia de criar um clube de líderes da União Europeia para conversar regularmente, em 1974.

No ano seguinte, os líderes da União Europeia começaram a reunir-se três vezes por ano.

© CE/ CE
Almoço no Palácio do Eliseu: Joop Den Uyl, Harold Wilson, Valéry Giscard d'Estaing© CE/ CE

A razão de ser de uma reunião de todos os líderes era ter uma forma de liderança coletiva. Independentemente da dimensão do Estado-membro, todos tinham um assento à mesa.

Atualmente, os líderes da UE reúnem-se pelo menos duas vezes por semestre e o presidente do Conselho Europeu pode convocar cimeiras especiais sobre qualquer assunto particularmente urgente.

As cimeiras europeias são essenciais para se alcançar um acordo sobre questões que importam em todos os países da UE - seja a moeda do euro (temores de "Grexit"), uma nova parceria comercial com um antigo país da UE ("Brexit") ou como lidar com as consequências de uma pandemia (Fundos de Recuperação COVID-19).

Regra geral, as cimeiras são mais críticas em períodos de crise. Motivo pelo qual muitas vezes degeneram em pontos de fricção e se prolongam no tempo.

Porque é que as cimeiras europeias duram tanto tempo?

As cimeiras da União Europeia têm a reputação de começar à hora do almoço e de se prolongar até às primeiras horas da manhã do dia seguinte.

Isto porque nem sempre é fácil chegar a um acordo entre os 27 líderes europeus.

“Penso que a história europeia está cheia de desacordos, negociações e, no final, compromissos,” disse, em 2015, o primeiro-ministro grego Alexis Tsipras, numa altura em que decorriam as negociações sobre a crise da dívida grega.

No final, foi um compromisso grego que pôs fim à ameaça do "Grexit" (saída da Grécia da União Europeia), mas o mesmo trouxe medidas de austeridade dolorosas.

Geert Vanden Wijngaert/AP
12 de fevereiro de 2015 - Primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, faz uma pausa antes de responder a perguntas durante uma conferência de imprensa no rescaldo de uma cimeira.Geert Vanden Wijngaert/AP

Algumas decisões requerem apenas consenso ou votos por maioria qualificada, mas outras requerem um acordo unânime. Isso significa que apenas um país pode vetar as conclusões dos outros.

Em 2020, a Polónia e a Hungria ameaçaram vetar o orçamento de 1,8 biliões de euros do bloco comunitário por causa de preocupações com um mecanismo que condicionaria a atribuição de fundos europeus ao respeito dos Estados-membros pelos valores europeus fundamentais.

Um acordo de 11 horas acabaria por ser fechado com Varsóvia e Budapeste, evitando uma crise potencial.

No entanto, em 2011, quando o Reino Unido ainda era membro do clube europeu, o então governo de David Cameron exerceu o poderoso poder de veto para uma reforma do Tratado da União Europeia durante a noite, para a frustração dos seus pares.

Os 26 Estados-membros restantes finalmente seguiram em frente sem os britânicos, com o primeiro-ministro Cameron dizendo que o acordo não era do interesse do Reino Unido.

Todos sabemos como é que a história acabou.

A maior cimeira europeia de sempre

Outras cimeiras ficaram para a história simplesmente por causa da duração.

Em julho de 2020, uma reunião gigantesca em Bruxelas durou mais de 80 horas, entre a noite de uma sexta-feira e a madrugada de uma terça-feira.

As negociações envolveram o mesmo orçamento e o Fundo de Recuperação pós-pandemia que os húngaros e os polacos tentaram bloquear.

AP Photo - Olivier Hoslet/AP
11 de dezembro de 2020 - Presidente francês Emmanuel Macron depois de uma maratona negocial numa cimeira da União Europeia em Bruxelas.AP Photo - Olivier Hoslet/AP

A crise da dívida grega monopolizou as manchetes nas cimeiras da UE durante anos, até que, em 2015, se realizou outra cimeira tensa ensombrada pela ameaça de saída da Grécia da União Europeia ("Grexit").

“Ainda não chegámos a um ponto em que eu poderia dizer que temos um acordo, mas vou trabalhar até o último minuto, até o último segundo, até o último milissegundo, para evitar o fracasso do projeto europeu,” disse Jean-Claude Juncker, o antigo presidente da Comissão Europeia, em junho de 2015.

Em julho, houve um referendo na Grécia que se traduziu na rejeição dos termos do resgate financeiro.

Uma semana depois, após 17 horas de negociações em Bruxelas, o primeiro-ministro grego Alexis Tsipras cedia aos cortes e medidas de austeridade dolorosas.

Mas o prémio principal vai para a cimeira de Nice, em dezembro de 2000, onde os líderes da UE conversaram durante 90 horas. O compromisso resultante foi o Tratado de Nice - uma tentativa de reformar as instituições da UE para permitir a expansão para o leste, que aconteceria em 2004.

Braço-de-ferro financeiro - países frugais e os outros

Também houve momentos tensos entre os líderes, geralmente, quando se trata de dinheiro.

Em 1979, quando a União Europeia ainda era a Comunidade Económica Europeia (CEE), a primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, conservadora, lançou farpas aos chefes de estado e de governo da CEE quando defendeu um desconto britânico, que impediria o Reino Unido de pagar mais no orçamento coletivo do que o que recebia do bolo comunitário.

A mais famosa dessas palavras foi: “quero meu dinheiro de volta.”

Não seria a última vez que a "Dama de Ferro" entraria em confronto com os homólogos europeus, com a disputa por fundos a prolongar-se durante cinco anos e acabando com uma vitória de Thatcher.

AP Photo - AP/AP1984
25 de junho de 1984 - Primeira-ministra britânica Margaret Thatcher participa numa cimeira de líderes europeus em Fontainebleau, França.AP Photo - AP/AP1984

Apesar de poderem mudar os atores, as batalhas por dinheiro continuam na atualidade.

Enquanto os líderes da UE lutavam por um Fundo de Recuperação da pandemia de Covid-19, o volume de doações e o respeito pelo Estado de Direito tornaram-se nos principais pontos de fricção.

Os chamados "Frugal Four" - Áustria, Suécia, Dinamarca e Países Baixos -  anunciaram uma contraproposta frugal, descartando a ideia de dívidas conjuntas e de aumentos de longo prazo no orçamento da UE.

Quando os líderes finalmente chegaram a um acordo após quatro dias de negociações, o presidente francês Emmanuel Macron saudou o acordo como um "dia histórico para a Europa".

A então chanceler alemã, Angela Merkel, disse, na altura, que "eventos extraordinários" exigem "novos métodos extraordinários", enquanto o presidente do Governo de Espanha, Pedro Sánchez, comparou o pacote de recuperação ao Plano Marshall do pós-guerra na Europa.

No entanto, a Hungria e a Polónia continuaram insatisfeitas com os termos do acordo, acabando por procurar a orientação do Tribunal de Justiça Europeu sobre a questão legal de vincular os fundos da UE ao respeito pelos valores europeus.

"O sinal de um acordo europeu bem-sucedido é que ninguém o ama," disse Rebecca Christie, investigadora do think tank Bruegel, em Bruxelas, sobre o acordo datado de julho de 2020.

Por isso, quando se trata de cimeiras da UE, embora muitas vezes sejam descritas nos títulos das notícias como batalhas épicas entre diferentes líderes nacionais, com vencedores e perdedores, é o compromisso que está sempre em jogo.

Ir para os atalhos de ibilidade
Partilhe esta notíciaComentários

Notícias relacionadas

Crianças ucranianas deportadas para a Rússia enfrentam um futuro incerto

Investimento chinês em infraestruturas europeias preocupa UE

Não há como parar as contas de gás da Europa