{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/my-europe/2020/12/11/europa-ve-nascer-uma-nova-pobreza" }, "headline": "Europa v\u00ea nascer uma \u0022nova pobreza\u0022 ", "description": "A crise gerada pela covid-19 atirou v\u00e1rias fam\u00edlias europeias de classe m\u00e9dia para as estat\u00edsticas do desemprego e as filas das institui\u00e7\u00f5es de solidariedade. A Euronews foi conhecer dois casos, em Espanha e na \u00c1ustria, onde \u0022novos pobres\u0022 emergem.", "articleBody": "Barcelona, uma cidade pr\u00f3spera para neg\u00f3cios e turismo, onde h\u00e1 riqueza e bem-estar. Mas a covid-19 revelou a outra face da moeda: pessoas subitamente expostas \u00e0s dificuldades e \u00e0 fome. A crise econ\u00f3mica est\u00e1 a levar mais pessoas \u00e0s filas de espera em frente \u00e0s institui\u00e7\u00f5es sociais que distribuem alimentos. 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Europa vê nascer uma "nova pobreza"

Europa vê nascer uma "nova pobreza"
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De Hans von der BrelieCristina Giner & Euronews
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A crise gerada pela covid-19 atirou várias famílias europeias de classe média para as estatísticas do desemprego e as filas das instituições de solidariedade. A Euronews foi conhecer dois casos, em Espanha e na Áustria, onde "novos pobres" emergem.

Barcelona, uma cidade próspera para negócios e turismo, onde há riqueza e bem-estar. Mas a covid-19 revelou a outra face da moeda: pessoas subitamente expostas às dificuldades e à fome.

A crise económica está a levar mais pessoas às filas de espera em frente às instituições sociais que distribuem alimentos. O impacto faz-se já sentir na classe média, com pessoas a enfrentar pela primeira vez uma situação de vulnerabilidade financeira. Em Espanha, emerge já uma "nova pobreza".

Creio que nunca tinham ido pedir comida a uma ONG, à Cáritas, e agora vão. É muito duro vermo-nos nessa situação, mas temos de o fazer, temos de comer todos os dias. Não há outra opção
Cristina Moisé
Beneficiária de apoio social

Antonio Ruiz Lázaro, conhecido por Toni, e a mulher, Cristina, têm três filhos. A covid levou ao encerramento da casa de petiscos que geriam. Incapazes de pagar as contas, foram expulsos do próprio apartamento. Para conseguir ter o que comer, a família tem de pedir ajuda.

A associação "De Veí a Veí" recolhe alimentos nas lojas locais e entrega-os às pessoas necessitadas. Antonio é hoje um dos beneficiários da ajuda da instituição.

"Nunca me vi assim na minha vida. De outra forma, como é que ia ter três filhos? Eu estava a ir bem. A minha vida deu uma reviravolta para pior. ei a pedir comida. No início, sente-se vergonha, honestamente", conta o pai da família.

Em setembro, quando foram expulsos de casa, a autarquia deu-lhes um confortável apartamento turístico como abrigo temporário. Podem ficar aqui até ao Verão.

A mulher de Toni, Cristina, conta que há muitas famílias em Espanha a ar pela primeira vez por uma situação de pobreza.

"Creio que nunca tinham ido pedir comida a uma ONG, à Cáritas, e agora vão. É muito duro vermo-nos nessa situação, mas temos de o fazer, temos de comer todos os dias. Não há outra opção. E graças a eles, graças ao facto de estarem lá e existirem, temos ajuda. Sem esse apoio, teríamos de ir procurar no lixo ou roubar".

As dificuldades em garantir a subsistência da família levam Antonio a lamentar a falta de apoios do Estado.

"Éramos uma família normal, não éramos ricos, mas dava para viver. Neste momento, a única coisa que temos são 400 euros que a minha mulher recebe da assistente social, para tudo. Recebemos comida. Candidatámo-nos ao Rendimento Básico Universal, mas ainda não chegou. Nem sequer recebo subsídio de desemprego, nada. A criança pede uma camisola e não podemos comprar-lhe nada".

De alguma forma ignorámos a importância da "economia submersa" que existia e agora deixou de existir. Como é uma economia invisível, a pobreza ou a riqueza [que daí advêm] são invisíveis
Rafael Martínez
Diretor da associação "De Veí a Veí"

Na hora de ir buscar a pequena Lia à escola, é confrontado com os estilhaços perto daquele que foi o sonho de uma vida. O bar de petiscos que geria acumulou dívidas e viu as portas fechadas pela covid. Antonio acabou por ter de vender o estabelecimento.

"Era um estabelecimento feito por mim, ao meu gosto. Queria que isto não me magoasse, mas com a escola em frente ao bar, sou obrigado a vê-lo várias vezes. É algo que criei para cumprir um sonho, correu mal e isso dói", revela

Estima-se que, com a covid-19, possa haver mais um milhão e cem mil pessoas, em Espanha, a viver na pobreza.

Para o diretor da associação De Veí a Veí, Rafael Martínez, há uma razão para o país a ser duramente atingido pela pandemia.

"De alguma forma ignorámos a importância da "economia submersa" que existia e agora deixou de existir. Como é uma economia invisível, a pobreza ou a riqueza [que daí advêm] são invisíveis. Antes da pandemia, entregávamos duas toneladas e meia [de alimentos] por mês, a cerca de 130-140 pessoas. Agora, nestes oito meses já entregamos mais de 100 toneladas".

Regina, um rosto da crise do setor hoteleiro

Também Viena é uma cidade de riqueza e bem-estar. Mas a covid-19 revelou a outra face da moeda: pessoas subitamente expostas às dificuldades e à fome.

Se o texto soar familiar é porque a "nova pobreza da covid" está a atingir países de toda a Europa.

Na Volkshilfe, uma Organização Não-Governamental (ONG) austríaca, as prateleiras do armazém, na capital, não demoram a ficar vazias.

Mais de uma dúzia de cabazes alimentares são entregues à associação para sem-abrigo North-Light, em Viena.

A crise gerada pelo coronavírus também destruiu vidas, na Áustria, o sexto país mais rico da União Europeia, onde pessoas que antes tinham alguns meios estão de repente nas ruas.

A crise do coronavírus é como uma lupa que mostra de perto as fraturas de uma sociedade
Tanja Wehsely
Diretora da associação Volkshilfe

Regina, natural da Alemanha, é uma dessas pessoas. Costumava trabalhar em hotéis por toda a Europa e estava em Espanha, este verão, quando recebeu uma oferta de emprego para a época de inverno, na Áustria, que aceitou. Após a chegada, o seu emprego foi cancelado, por causa da covid. Hoje, Regina e os dois cães vivem num abrigo da Volkshilfe.

"Aluguei um quarto numa pensão barata, fiquei lá quatro semanas. Depois percebi que o dinheiro estava a acabar, os cães tinham fome, eu tinha fome... Aqui recebo algo para comer e beber. Sem isso, teria de mendigar nas ruas. Nunca estive numa situação como esta. Não se pode avançar, não se pode voltar atrás. E o meu destino é apenas um em milhares ou milhões. O que vai acontecer comigo?", questiona.

Partilhar uma refeição quente com os sem-abrigo é uma experiência nova para Regina.

Candidatou-se ao subsídio de desemprego, mas, de acordo com a lei austríaca, faltam-lhe 127 dias de trabalho para ter direito a recebê-lo. Parece ser difícil ter em conta os dias de trabalho no estrangeiro.

As pessoas que trabalham no abrigo são para Regina uma segunda família.

A ideia é reforçada por Claudia, que trabalha na associação. "Acima de tudo, o que fazemos é construir relações. Como numa família".

Quando, em finais de setembro, a Alemanha restringiu as viagens, a crise tornou-se numa verdadeira catástrofe e é por isso que todos os meus colegas estão bastante relutantes em contratar pessoas, porque ninguém sabe se vai haver um novo confinamento
Michaela Reitterer
Presidente da Associação Hoteleira Austríaca

A "nova pobreza" gerada pela covid está a sufocar grupos mais vulneráveis da população, como famílias monoparentais, trabalhadores independentes, pequenos empresários e trabalhadores sazonais.

Para a diretora da Volkshilfe, Tanja Wehsely, "a crise do coronavírus é como uma lupa que mostra de perto as fraturas de uma sociedade. Temos cerca de 70% mais pessoas a vir ter connosco, a pedir ajuda urgente, para receber comida. Há pessoas em fila de espera que nunca pensaram antes que um dia iam precisar dos cabazes de alimentos para as suas famílias".

As atuais restrições sanitárias estão a dificultar ainda mais a procura de trabalho. Após 47 pedidos de entrevista não atendidos, a presidente da Associação Hoteleira Austríaca, Michaela Reitterer, chamou Regina para uma entrevista.

"Quando, em finais de setembro, a Alemanha restringiu as viagens, a crise tornou-se numa verdadeira catástrofe e é por isso que todos os meus colegas estão bastante relutantes em contratar pessoas, porque ninguém sabe se vai haver um novo confinamento. e isso é o que é triste para a Regina".

A esperança é lançada como uma escada que ainda não tem onde se apoiar. "Prometi-lhe que a ajudava com os meus os pessoais e que lhe arranjava um trabalho algures na Áustria", afirma.

Bruxelas desbloqueou recentemente a chamada “bazuca europeia”, mais de 1,8 biliões de euros para os Estados-membros, dos quais 750 mil milhões se destinam a fazer face à pandemia. Mas enquanto a recuperação não chega, os europeus vão ter de continuar a contar com a solidariedade que chega da porta ao lado.

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